{"id":150597,"date":"2019-02-23T01:00:24","date_gmt":"2019-02-23T04:00:24","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=150597"},"modified":"2019-02-22T23:23:39","modified_gmt":"2019-02-23T02:23:39","slug":"como-a-poluicao-do-ar-pode-prejudicar-a-saude-do-seu-intestino","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/02\/23\/150597-como-a-poluicao-do-ar-pode-prejudicar-a-saude-do-seu-intestino.html","title":{"rendered":"Como a polui\u00e7\u00e3o do ar pode prejudicar a sa\u00fade do seu intestino"},"content":{"rendered":"
\"carros\"
Acredita-se que a polui\u00e7\u00e3o do ar proveniente de fontes como a fuma\u00e7a do carro pode alterar o microbioma intestinal, levando \u00e0 inflama\u00e7\u00e3o.<\/figcaption><\/figure>\n

O microbioma intestinal \u00e9 composto de bilh\u00f5es de bact\u00e9rias. Cientistas t\u00eam tentado entender como elas afetam nossa sa\u00fade, aumentam o risco de doen\u00e7as e interagem com os \u00f3rg\u00e3os e sistemas vitais do corpo, incluindo o c\u00e9rebro. H\u00e1 um longo caminho \u00e0 frente.<\/p>\n

Embora n\u00e3o se entenda exatamente o que \u00e9 um microbioma intestinal saud\u00e1vel, sabe-se que fatores ambientais, como a dieta, podem modific\u00e1-lo. Uma teoria que ganha for\u00e7a \u00e9 de que a polui\u00e7\u00e3o atmosf\u00e9rica \u00e9 outro desses fatores e que ela pode provocar doen\u00e7as – uma m\u00e1 not\u00edcia para o intestino, j\u00e1 que a qualidade do ar vem piorando ao redor do mundo.<\/p>\n

Se boa parte de nossa sa\u00fade \u00e9 mapeada ainda no in\u00edcio de nossas vidas, o mesmo n\u00e3o ocorre com nosso intestino, afirma Marie Pedersen, professora associada da Universidade de Copenhague. “O microbioma \u00e9 din\u00e2mico e pode mudar ao longo da vida devido a exposi\u00e7\u00f5es (a diferentes agentes). H\u00e1 muita intera\u00e7\u00e3o entre o intestino e ao que estamos expostos”, explica.<\/p>\n

Essas exposi\u00e7\u00f5es influenciam o desencadeamento das doen\u00e7as inflamat\u00f3rias intestinais (DII), que incluem a doen\u00e7a de Crohn e a colite ulcerativa, ambas ainda sem cura. Elas ocorrem quando o sistema imunol\u00f3gico n\u00e3o funciona adequadamente, e o pr\u00f3prio corpo \u00e9 visto como um agente a ser combatido – processo que causa \u00falceras e inflama\u00e7\u00f5es no intestino.<\/p>\n

“Imagine ter uma ferida que nunca cicatriza, s\u00f3 que do lado de dentro do corpo. Toda vez que voc\u00ea come ou bebe, \u00e9 como esfregar sal na ferida”, exemplifica Jaina Shah, gerente de publica\u00e7\u00f5es e informa\u00e7\u00f5es da organiza\u00e7\u00e3o Chron’s and Colitis, do Reino Unido.<\/p>\n

A colite ulcerativa \u00e9 localizada e afeta o intestino grosso, enquanto a doen\u00e7a de Crohn pode afetar qualquer parte do intestino. Ambas as condi\u00e7\u00f5es podem impactar quase todo o corpo, incluindo horm\u00f4nios, digest\u00e3o, n\u00edveis de energia e sa\u00fade mental. Eles exigem medica\u00e7\u00e3o ao longo da vida e, em muitos casos, cirurgias de grande porte.<\/p>\n

“Crohn e colite s\u00e3o causados pela heran\u00e7a gen\u00e9tica do indiv\u00edduo, somada a uma rea\u00e7\u00e3o anormal do sistema imunol\u00f3gico a certas bact\u00e9rias no intestino, provavelmente desencadeada por algo no ambiente”, explica Shah.<\/p>\n

Gatilhos ambientais<\/h2>\n

Esses gatilhos ambientais incluem a dieta e o estresse. Al\u00e9m deles, a hip\u00f3tese da higiene argumenta que viver em ambientes ass\u00e9pticos prejudica o desenvolvimento do sistema imunol\u00f3gico.<\/p>\n

Tanto genes quanto fatores ambientais podem prejudicar o intestino de forma semelhante, de acordo com Gilaad Kaplan, professor associado da Universidade de Calgary e autor de v\u00e1rios estudos sobre a rela\u00e7\u00e3o entre o intestino e a polui\u00e7\u00e3o do ar.<\/p>\n

“Mais de 200 genes s\u00e3o conhecidos por tornar algu\u00e9m suscet\u00edvel \u00e0s DII. Esses genes est\u00e3o relacionados \u00e0 parede intestinal e alguns est\u00e3o relacionados com a forma como o sistema imunol\u00f3gico combate as bact\u00e9rias ruins nessa \u00e1rea”, afirma Kaplan.<\/p>\n

“A barreira intestinal protege contra muta\u00e7\u00f5es gen\u00e9ticas, mas a exposi\u00e7\u00e3o ambiental pode danificar essa barreira. Se um gene danifica o sistema imunol\u00f3gico, isso pode provocar doen\u00e7as”, acrescenta.<\/p>\n

Padr\u00f5es na ocorr\u00eancia de DII t\u00eam ajudado pesquisadores a entender a influ\u00eancia da polui\u00e7\u00e3o atmosf\u00e9rica nessa condi\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Dados mostram, por exemplo, que a incid\u00eancia dessas doen\u00e7as \u00e9 maior em zonas urbanas que do que em rurais e que na\u00e7\u00f5es mais desenvolvidas t\u00eam taxas mais altas de DII. Uma an\u00e1lise constatou que as taxas mais altas estavam na Europa e na Am\u00e9rica do Norte, enquanto que o n\u00famero de casos em pa\u00edses recentemente industrializados na \u00c1frica, \u00c1sia e Am\u00e9rica do Sul tem aumentado continuamente.<\/p>\n

\"chamin\u00c3\u00a9s
O bioma intestinal muda ao longo da nossa vida, o que significa que ele pode ser afetado pelas mudan\u00e7as do nosso ambiente<\/figcaption><\/figure>\n

Hoje se acredita que a polui\u00e7\u00e3o atmosf\u00e9rica altera o microbioma intestinal, provocando resposta imune e inflama\u00e7\u00e3o que levam ao desenvolvimento das DII.<\/p>\n

Em 2005, Kaplan participou de uma aula sobre o mecanismo de como a polui\u00e7\u00e3o do ar impacta o cora\u00e7\u00e3o e percebeu que havia cruzamentos com as DII, sua \u00e1rea de atua\u00e7\u00e3o. “A primeira parte da minha pesquisa foi analisar dados para ver se havia mais casos de DII em \u00e1reas com mais polui\u00e7\u00e3o”, explica Kaplan.<\/p>\n

Ele analisou dados de mais de 900 casos de DII no Reino Unido, abrangendo tr\u00eas anos. Embora n\u00e3o tenha encontrado uma associa\u00e7\u00e3o entre os casos diagnosticados recentemente de DII e os n\u00edveis de polui\u00e7\u00e3o do ar em geral, ele descobriu que a doen\u00e7a de Crohn era mais encontrada em jovens com maior exposi\u00e7\u00e3o ao di\u00f3xido de nitrog\u00eanio.<\/p>\n

Kaplan tamb\u00e9m encontrou liga\u00e7\u00f5es semelhantes entre polui\u00e7\u00e3o do ar e apendicite e dor abdominal.<\/p>\n

O fator complicador desses estudos, no entanto, \u00e9 que as pessoas talvez n\u00e3o tenham vivido por muito tempo em \u00e1reas de alta polui\u00e7\u00e3o. Al\u00e9m disso, a correla\u00e7\u00e3o n\u00e3o prova que um conjunto de dados \u00e9 causa de outro, por isso \u00e9 importante explorar mecanismos por tr\u00e1s das informa\u00e7\u00f5es, diz Kaplan.<\/p>\n

Mortalidade<\/h2>\n

A polui\u00e7\u00e3o atmosf\u00e9rica \u00e9 composta de v\u00e1rias subst\u00e2ncias, incluindo mon\u00f3xido de carbono, \u00f3xido de nitrog\u00eanio (produzido por ve\u00edculos a diesel), oz\u00f4nio, di\u00f3xido de enxofre e part\u00edculas (de poeira, p\u00f3len, fuligem e fuma\u00e7a).<\/p>\n

A polui\u00e7\u00e3o \u00e9 uma das principais causas de doen\u00e7a e mortalidade e tem sido associada a muitas condi\u00e7\u00f5es de sa\u00fade, incluindo doen\u00e7as pulmonares, ataques card\u00edacos, derrames, mal de Alzheimer, diabetes e asma. No entanto, os cientistas ainda n\u00e3o sabem quais s\u00e3o os poluentes espec\u00edficos respons\u00e1veis.<\/p>\n

“A maioria dos pesquisadores usa dados de locais de monitoramento fixos, que est\u00e3o em quase todas as cidades. No entanto, eles ficam limitados a estudar alguns poluentes que representam todos os outros”, diz Kaplan.<\/p>\n

“O di\u00f3xido de nitrog\u00eanio \u00e9 o principal poluente do tr\u00e2nsito, ent\u00e3o estudamos essa subst\u00e2ncia e a atribu\u00edmos \u00e0 ocorr\u00eancia de doen\u00e7as. \u00c9 como no caso da nicotina do cigarro: ela \u00e9 o alvo de estudos, embora seja composta de v\u00e1rios outros produtos qu\u00edmicos. \u00c9 um desafio restringir a fonte exata.”<\/p>\n

\"camundongos\"
Pesquisas recentes descobriram que camundongos alimentados com material particulado apresentaram sinais de express\u00e3o g\u00eanica imune alterada<\/figcaption><\/figure>\n

Est\u00e1 bem estabelecido que respirar o ar contaminado pela fuma\u00e7a do cigarro tamb\u00e9m \u00e9 um fator de risco para o desenvolvimento da doen\u00e7a de Crohn – o fator de risco ambiental mais estudado para as DII. H\u00e1, no entanto, quest\u00f5es ainda n\u00e3o respondidas neste campo de pesquisa.<\/p>\n

Uma das mais intrigantes \u00e9 por que fumar tem, na verdade, efeito protetor contra a colite ulcerativa.<\/p>\n

Os poluentes chegam no corpo tanto pela respira\u00e7\u00e3o quanto pela ingest\u00e3o de alimentos contaminados com material particulado. Kaplan e seus colegas mostraram que a exposi\u00e7\u00e3o ao material particulado pode desencadear doen\u00e7as gastrointestinais. Em laborat\u00f3rio, camundongos os inalaram por at\u00e9 14 dias e se alimentaram de ra\u00e7\u00e3o contaminada por 35 dias.<\/p>\n

Exposi\u00e7\u00e3o cont\u00ednua<\/h2>\n

Os pesquisadores queriam simular a exposi\u00e7\u00e3o cont\u00ednua a altos n\u00edveis de material particulado e a comida contaminada, usando 18 mcg m3 (microgramas por metro c\u00fabico de ar) por dia. N\u00edveis de material particulado em cidades podem variar de 20 a mil em picos de concentra\u00e7\u00e3o, o que significa que a dose total inalada \u00e9 maior que 20 mil em 24 horas.<\/p>\n

Eles descobriram que os camundongos que inalaram o material por um curto per\u00edodo de tempo sofreram altera\u00e7\u00e3o no gene imunol\u00f3gico, inflama\u00e7\u00e3o, tiveram aumento da resposta imune no intestino delgado e da permeabilidade do intestino. Os impactos da permeabilidade do intestino na barreira de revestimento da parede intestinal s\u00e3o considerados uma das causas das DII.<\/p>\n

“O revestimento do intestino \u00e9 projetado para servir como uma barreira, mantendo as bact\u00e9rias ruins fora do corpo e permitindo que as boas fa\u00e7am seu trabalho”, diz Kaplan. “Se algo afeta a integridade do revestimento da parede, isso provoca pequenos buracos, por onde micr\u00f3bios patog\u00eanicos entram, o que pode desencadear a resposta imune”.<\/p>\n

Os camundongos expostos por 35 dias mostraram sinais de inflama\u00e7\u00e3o no c\u00f3lon e altera\u00e7\u00f5es no microbioma intestinal.<\/p>\n

\"Mirtilos\"
Poluentes tamb\u00e9m podem ser ingeridos por meio de alimentos contaminados<\/figcaption><\/figure>\n

Mas a polui\u00e7\u00e3o pode n\u00e3o apenas desempenhar um papel no desencadeamento das DII, mas tamb\u00e9m alterar a natureza da doen\u00e7a atrav\u00e9s das mudan\u00e7as que ela provoca no microbioma intestinal. Em outro estudo, Kaplan comparou casos de apendicite n\u00e3o-perfurada e perfurada em 13 cidades, e descobriu que a apendicite perfurada, que \u00e9 mais perigosa, estava ligada a uma maior exposi\u00e7\u00e3o \u00e0 polui\u00e7\u00e3o do ar. Ele concluiu que a exposi\u00e7\u00e3o \u00e0 polui\u00e7\u00e3o pode modificar o tipo de doen\u00e7a intestinal.<\/p>\n

“Se voc\u00ea vivesse em uma \u00e1rea com boa qualidade do ar, voc\u00ea poderia ter tido uma apendicite moderada. A polui\u00e7\u00e3o do ar pode agrav\u00e1-la para uma apendicite perfurada”, conclui.<\/p>\n

Kaplan acredita que isto tamb\u00e9m ocorre com outros dist\u00farbios relacionados ao intestino, mas s\u00e3o necess\u00e1rias pesquisas para testar essa hip\u00f3tese. As pesquisas tamb\u00e9m n\u00e3o explicaram por que as DII s\u00e3o mais comuns em \u00e1reas urbanas; e, embora seja evidente que a urbaniza\u00e7\u00e3o desempenhe um papel, n\u00e3o se sabe quais caracter\u00edsticas subjacentes da urbaniza\u00e7\u00e3o causam as DII.<\/p>\n

“Essas condi\u00e7\u00f5es n\u00e3o eram encontradas na \u00faltima gera\u00e7\u00e3o nesses pa\u00edses. Conhe\u00e7o gastroenterologistas que n\u00e3o tinham visto DII at\u00e9 muito recentemente, e agora veem casos diariamente”, comenta Simon Travis, professor cl\u00ednico e gastroenterologista consultor do John Radcliffe Hospital, em Oxford, cujo trabalho envolve a pesquisa das DII em pa\u00edses recentemente industrializados.<\/p>\n

Mas esta n\u00e3o \u00e9 a hist\u00f3ria toda. Alguns trabalhos associaram o aumento das DII \u00e0 revolu\u00e7\u00e3o industrial, uma vez que a doen\u00e7a de Crohn foi identificada nos anos 1930, durante o advento da era automobil\u00edstica. No entanto, os primeiros casos de colite ulcerativa surgiram no final do s\u00e9culo 19.<\/p>\n

“H\u00e1 algo na industrializa\u00e7\u00e3o, mas tamb\u00e9m temos que refletir sobre por que em algumas regi\u00f5es do mundo at\u00e9 mais polu\u00eddas, como na China urbana e na R\u00fassia, por exemplo, as DII s\u00e3o incomuns at\u00e9 hoje”, pondera Travis.<\/p>\n

Ele descobriu que essas doen\u00e7as ocorrem nas principais cidades da \u00cdndia, como D\u00e9li e Mumbai, mas s\u00e3o raras em outras cidades. Ainda assim, ele est\u00e1 convencido de que as DII s\u00e3o doen\u00e7as da urbaniza\u00e7\u00e3o, de uma forma ou de outra.<\/p>\n

Nas circunst\u00e2ncias atuais, o consenso \u00e9 que a polui\u00e7\u00e3o do ar n\u00e3o \u00e9 uma das principais causas da doen\u00e7a intestinal, mas pode ser um dos v\u00e1rios fatores desencadeantes.<\/p>\n

\"microrganismos\"
Embora a polui\u00e7\u00e3o do ar possa n\u00e3o ser a \u00fanica causa da s\u00edndrome do intestino irrit\u00e1vel (SII), \u00e9 um dos fatores desencadeantes<\/figcaption><\/figure>\n

“As DII s\u00e3o complexas e multicausais, e uma s\u00e9rie de fatores ambientais influenciam seu desenvolvimento, incluindo a exposi\u00e7\u00e3o a antibi\u00f3ticos na inf\u00e2ncia, amamenta\u00e7\u00e3o e exposi\u00e7\u00e3o \u00e0 fuma\u00e7a do cigarro”, afirma Kaplan.<\/p>\n

Segundo o pesquisador, esses fatores v\u00e3o se acumulando no corpo at\u00e9 ele desmoronar: “\u00c9 dif\u00edcil dizer que h\u00e1 um \u00fanico respons\u00e1vel pela avalanche, j\u00e1 que cada um contribui em certo n\u00edvel”.<\/p>\n

“Alterar o microbioma intestinal \u00e9 uma das principais causas da colite ulcerativa e da doen\u00e7a de Crohn. Muitas coisas causam isso. A polui\u00e7\u00e3o do ar \u00e9 uma delas, mas sem a qual ainda ver\u00edamos casos da doen\u00e7a”, acrescenta.<\/p>\n

Mais pesquisas devem se concentrar em pa\u00edses rec\u00e9m-industrializados, argumenta Travis.<\/p>\n

“Se buscarmos as causas das DII, elas provavelmente ser\u00e3o encontradas em \u00e1reas do mundo onde as condi\u00e7\u00f5es est\u00e3o evoluindo e ocorrendo, porque no Ocidente, especialmente na Am\u00e9rica do Norte, as condi\u00e7\u00f5es j\u00e1 evolu\u00edram quase completamente.”<\/p>\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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