{"id":150648,"date":"2019-02-26T01:00:22","date_gmt":"2019-02-26T04:00:22","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=150648"},"modified":"2019-02-25T22:27:32","modified_gmt":"2019-02-26T01:27:32","slug":"tragedia-da-vale-em-brumadinho-completa-um-mes-com-vitimas-ainda-debaixo-da-lama","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/02\/26\/150648-tragedia-da-vale-em-brumadinho-completa-um-mes-com-vitimas-ainda-debaixo-da-lama.html","title":{"rendered":"Trag\u00e9dia da Vale em Brumadinho completa um m\u00eas com v\u00edtimas ainda debaixo da lama"},"content":{"rendered":"
\"Bombeiros
Bombeiros buscam desaparecidos no meio da lama<\/figcaption><\/figure>\n

Pela \u00faltima vez, Edson Albanez retorna aos escombros do s\u00edtio onde morou por 30 anos. Atr\u00e1s do port\u00e3o de ferro que ficou intacto, montes de lama e destro\u00e7os est\u00e3o sobre tudo o que existia ali \u2013 casa, piscina, animais de estima\u00e7\u00e3o, ve\u00edculo, documentos, recorda\u00e7\u00f5es de uma vida.<\/p>\n

O terreno fica a menos de um quilometro do ponto de colapso da barragem da Vale em Brumadinho, Minas Gerais. Quando a estrutura rompeu, h\u00e1 um m\u00eas (25\/01), o tsunami de rejeitos da minera\u00e7\u00e3o destruiu, sem aviso, o que encontrou pela frente a uma velocidade de 70 km\/h.<\/p>\n

A esposa de Albanez, Sirlei de Brito Ribeiro, n\u00e3o conseguiu fugir a tempo \u2013 os dois funcion\u00e1rios da casa que trabalhavam no local sobreviveram. Ela era Secret\u00e1ria de Desenvolvimento Social da cidade, seu corpo\u00a0foi encontrado cinco dias depois.<\/p>\n

“Aos 64 anos, tenho que recome\u00e7ar minha vida de um jeito que nunca imaginei. Sem a minha esposa, sem o meu ambiente. Perdi tudo”, diz Albanez, que trabalhou na Vale, sua vizinha de terreno, por 22 anos. No momento da cat\u00e1strofe, ele estava numa reuni\u00e3o em Belo Horizonte.<\/p>\n

Perto dali, homens e mulheres do Corpo de Bombeiros continuam as buscas no grande vale de lama que se formou depois da enxurrada de rejeitos. Um m\u00eas depois da trag\u00e9dia, as equipes usam m\u00e1quinas pesadas na tentativa de localizar 139 desaparecidos. At\u00e9 o momento, foram encontrados e reconhecidos 171 corpos de v\u00edtimas. Nos \u00faltimas dias, os bombeiros t\u00eam recuperado apenas fragmentos \u2013 h\u00e1 mais de 150 que aguardam resultado de an\u00e1lise de DNA.<\/p>\n

A equipe de resgate, que chegou a contar com 470 militares por dia, hoje atua com 138. Eles vasculham cerca de 269 hectares com apoio de helic\u00f3pteros, tratores anf\u00edbios e escavadeiras para atender a dois objetivos: recuperar os corpos e restabelecer a normalidade na comunidade.<\/p>\n

Maria Aparecida dos Santos, 44 anos, diz viver os dias mais anormais da sua vida. Ela atribui \u00e0 Vale a culpa pelo sofrimento e humilha\u00e7\u00e3o. “A minha revolta nunca vai passar. Eu n\u00e3o me conformo com aquela sirene: a gente ouviu tanto ela tocar nos treinamentos de emerg\u00eancia e no dia do desastre ela n\u00e3o soou”, diz Santos, que era funcion\u00e1ria de uma fazenda que foi devastada, onde tamb\u00e9m morava.<\/p>\n

Desde ent\u00e3o, a fam\u00edlia de Santos ocupa um dos 470 quartos de hot\u00e9is pagos pela Vale para os desabrigados. Outras 74 casas foram alugadas em Brumadinho e em Belo Horizonte, respondeu a empresa \u00e0 DW Brasil.<\/p>\n

Tudo o que Santos tem agora foi doado: das roupas ao dinheiro para comprar rem\u00e9dios. Sem casa e sem emprego, a fam\u00edlia dela ainda n\u00e3o recebeu qualquer apoio financeiro da Vale.<\/p>\n

No dia do rompimento da barragem, ela chegou dez minutos antes em casa para esquentar o almo\u00e7o para a filha, que estava sozinha. Depois de ouvir um estrondo e sentir uma “ventania”, Santos correu quando notou que um mar de lama se aproximava.<\/p>\n

Ela gritou pela filha, pegou o celular e pediu a Ana Clara, de nove anos: “N\u00e3o olhe para tr\u00e1s”. Os chinelos que usavam foram engolidos pela lama.”Quando o n\u00edvel parou de subir, liguei para meu marido e avisei que a lama estava descendo. Consegui salvar umas 25 vidas”, conta.<\/p>\n

\"Edson
Edson Albanez caminha sob os escombros da sua casa<\/figcaption><\/figure>\n

Sebasti\u00e3o Oliveira, 65 anos, estava a salvo, mas correu na dire\u00e7\u00e3o dos rejeitos quando ouviu gritos. Conseguiu salvar uma jovem que estava atolada e\u00a0que ele nunca mais viu. Refugiado na casa da filha, \u2013 o s\u00edtio onde morava como caseiro est\u00e1 isolado \u2013 ele s\u00f3 conseguiu acesso ao local por estar na companhia da Defesa Civil.<\/p>\n

A Vale ainda n\u00e3o consegue explicar as causas do desmoronamento da barragem. Um comit\u00ea independente foi criado para investigar o caso. Desde o epis\u00f3dio, um clima de inseguran\u00e7a ronda cidades com barragens do tipo: moradores em Bar\u00e3o dos Cocais, Nova Lima e Ouro Preto foram evacuados em “car\u00e1ter preventivo”, como alega a mineradora. Segundo a empresa, 744 pessoas tiveram que deixar suas casas nesses munic\u00edpios.<\/p>\n

Diferente da experi\u00eancia de Mariana, onde\u00a0em 2015\u00a0o colapso da barragem de Fund\u00e3o matou 19 pessoas, destruiu vilarejos e contaminou o rio Doce at\u00e9 chegar ao Atl\u00e2ntico, a Vale se apressa para compensar em dinheiro as v\u00edtimas em Brumadinho.<\/p>\n

Uma doa\u00e7\u00e3o de R$ 100 mil \u00e9 feita a familiares das pessoas mortas ap\u00f3s um registro de representantes das v\u00edtimas junto \u00e0 empresa. Para moradores, produtores rurais e comerciantes atingidos, a Vale se prop\u00f4s a doar R$ 15 mil ou R$ 50 mil, segundo os crit\u00e9rios da empresa.<\/p>\n

A mineradora vai pagar ainda um sal\u00e1rio m\u00ednimo para todos os moradores de Brumadinho por um per\u00edodo de um ano. O acordo foi assinado com diferentes \u00f3rg\u00e3os p\u00fablicos numa audi\u00eancia no Tribunal de Justi\u00e7a de Minas Gerais.<\/p>\n

Paralelamente, promotores e defensores p\u00fablicos atuam numa a\u00e7\u00e3o coletiva contra a Vale em busca de indeniza\u00e7\u00e3o para todos os afetados. “A gente quer chegar numa solu\u00e7\u00e3o constru\u00edda com a participa\u00e7\u00e3o das pessoas, com uma repara\u00e7\u00e3o justa e integral e\u00a0o mais r\u00e1pido poss\u00edvel”, comentou Ant\u00f4nio Lopes de Carvalho, defensor p\u00fablico no estado.<\/p>\n

Na unidade de extra\u00e7\u00e3o de min\u00e9rio da Vale em Brumadinho, as atividades est\u00e3o suspensas. Os funcion\u00e1rios que sobreviveram ir\u00e3o receber os sal\u00e1rios at\u00e9 o fim de 2019. Depois disso, tudo \u00e9 incerto.<\/p>\n

A movimenta\u00e7\u00e3o no \u00e1rea pr\u00f3xima \u00e0 antiga barragem \u00e9 intensa para a repara\u00e7\u00e3o de estradas e conten\u00e7\u00e3o dos rejeitos. A mancha de contamina\u00e7\u00e3o continua escorrendo do local pelo c\u00f3rrego do Feij\u00e3o at\u00e9 o rio Paraopeba, importante fonte de \u00e1gua para a regi\u00e3o. A estimativa do Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos H\u00eddricos \u00e9 que os rejeitos tenham percorrido, at\u00e9 agora, 150 quil\u00f4metros pelo rio. As multas aplicadas pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renov\u00e1veis) ultrapassam R$ 250 milh\u00f5es.<\/p>\n

“Eu n\u00e3o tinha mais for\u00e7a, mas consegui escapar por causa da minha filha”, relembra Maria Aparecida dos Santos. “Mas a trag\u00e9dia est\u00e1 a\u00ed, correndo pelo rio, e tem ainda tanta gente naquela lama. Eu acho que a cidade acabou. Mas eu vou ficar at\u00e9 o fim dos dias na Terra lutando por justi\u00e7a”, declara Santos, que espera not\u00edcias de amigos e vizinhos que ainda n\u00e3o foram encontrados.<\/p>\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Enquanto sobreviventes tentam recome\u00e7ar a vida em Brumadinho, mais de 700 pessoas foram evacuadas em outras cidades devido a risco apresentado por barragens da Vale. Em menor n\u00famero, bombeiros seguem buscas por corpos. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":150649,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[4029,331],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/150648"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=150648"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/150648\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":150650,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/150648\/revisions\/150650"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/150649"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=150648"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=150648"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=150648"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}