{"id":150654,"date":"2019-02-26T12:00:39","date_gmt":"2019-02-26T15:00:39","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=150654"},"modified":"2019-02-25T22:37:50","modified_gmt":"2019-02-26T01:37:50","slug":"os-mirabolantes-planos-do-japao-para-fazer-mineracao-no-fundo-do-mar","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/02\/26\/150654-os-mirabolantes-planos-do-japao-para-fazer-mineracao-no-fundo-do-mar.html","title":{"rendered":"Os mirabolantes planos do Jap\u00e3o para fazer minera\u00e7\u00e3o no fundo do mar"},"content":{"rendered":"
\"Fonte
Cada dep\u00f3sito pode conter milh\u00f5es de toneladas de min\u00e9rio met\u00e1lico<\/figcaption><\/figure>\n

Na costa de Okinawa, a milhares de metros abaixo de um trecho de terra entre as ilhas Ryuku, no sul do Jap\u00e3o, est\u00e3o resqu\u00edcios de uma cadeia de fontes hidrotermais extintas, espalhadas pelo fundo do oceano.<\/p>\n

Os minerais encontrados ali v\u00eam atraindo aten\u00e7\u00f5es de todo o mundo devido ao crescente interesse pela minera\u00e7\u00e3o em \u00e1guas profundas.<\/p>\n

Acredita-se que apenas um desses dep\u00f3sitos contenha zinco suficiente para suprir a demanda do Jap\u00e3o por um ano. Para um pa\u00eds que importa a grande maioria de seus recursos minerais, os dep\u00f3sitos de sulfetos no fundo do mar s\u00e3o vistos como uma fonte dom\u00e9stica potencial. Mas h\u00e1 um pre\u00e7o alto: realizar minera\u00e7\u00e3o nesses locais, at\u00e9 ent\u00e3o intocados pelos humanos, poderia representar um grande risco ambiental.<\/p>\n

Esses dep\u00f3sitos ricos em minerais – conhecidos como sulfetos maci\u00e7os no fundo do mar – marcam o ponto em que a \u00e1gua escaldante surgia de fissuras semelhantes a chamin\u00e9s na crosta no leito oce\u00e2nico, perto das divis\u00f5es entre as placas tect\u00f4nicas. Elas se formam quando a \u00e1gua fria do mar penetra atrav\u00e9s de rachaduras na crosta, aquecendo e liberando minerais das rochas \u00e0 medida em que passa. Esse aquecimento faz com que a \u00e1gua retorne \u00e0 superf\u00edcie devido ao aumento de press\u00e3o, normalmente de forma “explosiva”.<\/p>\n

Descobertas apenas em 1977, essas fontes hidrotermais abrigam formas de vida extraordinariamente diversas enquanto est\u00e3o ativas. Os vermes tubulares com mais de dois metros de altura, com pontas vermelhas v\u00edvidas, caranguejos e peixes brancos mortais, e incont\u00e1veis esp\u00e9cies de microorganismos s\u00e3o adaptados \u00e0s condi\u00e7\u00f5es quentes e escuras de vida nesses locais.<\/p>\n

Mas essas rachaduras n\u00e3o duram para sempre. Ao longo de milhares de anos, as for\u00e7as tect\u00f4nicas empurram essas fendas para longe dos limites das placas. Assim, acabam se tornando menos e menos ativas.<\/p>\n

Perto desses locais dormentes, os dep\u00f3sitos minerais – incluindo cobre, zinco, chumbo, ouro e prata – permanecem no fundo do mar. Um \u00fanico dep\u00f3sito pode conter milh\u00f5es de toneladas de min\u00e9rio met\u00e1lico.<\/p>\n

Para o Jap\u00e3o, esses grandes dep\u00f3sitos s\u00e3o vistos como um recurso potencial para suprir a demanda do pa\u00eds por metais b\u00e1sicos. O governo japon\u00eas iniciou um projeto de pesquisa para buscar esses dep\u00f3sitos em 2013. Mas, apesar de seu grande tamanho, encontr\u00e1-los pode ser dif\u00edcil.<\/p>\n

“N\u00e3o temos ferramentas de explora\u00e7\u00e3o suficientes para detectar onde est\u00e3o esses dep\u00f3sitos”, explica por e-mail \u00e0 BBC Future Paul Lusty, da British Geological Survey.<\/p>\n

“\u00c0 medida que envelhecem, tamb\u00e9m \u00e9 prov\u00e1vel que sejam alterados e cobertos por sedimentos. Assim, ficam enterrados no fundo do mar, passando desapercebidos”, acrescenta.<\/p>\n

As condi\u00e7\u00f5es no fundo do mar tamb\u00e9m representam um desafio \u00e0 parte. A explora\u00e7\u00e3o pode ocorrer em profundidades de at\u00e9 3 mil metros e as correntes no fundo do oceano podem ser irregulares.<\/p>\n

Assim como o desafio de descobrir onde est\u00e3o os dep\u00f3sitos, desvendar o qu\u00e3o grande eles s\u00e3o \u00e9 crucial. Eles podem se estender por dezenas a centenas de metros. Determinar seu tamanho ajuda a entender sua capacidade em termos de recursos minerais.<\/p>\n

\"Animais
Fontes hidrotermais profundas abrigam formas de vida extraordinariamente diversas<\/figcaption><\/figure>\n

Ondas ac\u00fasticas<\/h2>\n

Os pesquisadores est\u00e3o desenvolvendo novas t\u00e9cnicas para responder a essas perguntas. Algumas das mais promissoras envolvem m\u00e9todos ac\u00fasticos, diz Eiichi Asakawa, gerente-geral do departamento de pesquisa e desenvolvimento da JGI, uma empresa de levantamento geof\u00edsico sediada em T\u00f3quio. Essas t\u00e9cnicas consistem na gera\u00e7\u00e3o de ondas ac\u00fasticas, que se propagam debaixo d’\u00e1gua at\u00e9 o fundo do mar. Na superf\u00edcie dura do dep\u00f3sito mineral, as ondas s\u00e3o parcialmente refletidas.<\/p>\n

“Detectamos as ondas refletidas muito detalhadas e muito fracas pelo hidrofone. Analisamos os dados de reflex\u00e3o para obter as imagens do subsolo”, diz Asakawa. “Nosso sistema \u00e9 muito novo. \u00c9 talvez o \u00fanico desse tipo no mundo.”<\/p>\n

A JGI usou esses m\u00e9todos para trabalhar com a Ag\u00eancia Japonesa de Ci\u00eancia e Tecnologia da Terra Marinha em um projeto de tecnologia de \u00faltima gera\u00e7\u00e3o para explora\u00e7\u00e3o de recursos oce\u00e2nicos desde 2014.<\/p>\n

Outros pesquisadores v\u00eam usando principalmente m\u00e9todos eletromagn\u00e9ticos para identificar dep\u00f3sitos minerais. A Corpora\u00e7\u00e3o Nacional de Petr\u00f3leo, G\u00e1s e Metais do Jap\u00e3o usou essas t\u00e9cnicas para encontrar seis grandes dep\u00f3sitos onde a minera\u00e7\u00e3o seria vantajosa. Em 2017, um desses dep\u00f3sitos foi escavado em um teste piloto, permitindo a extra\u00e7\u00e3o de grandes quantidades de min\u00e9rio de at\u00e9 1,6 mil metros do fundo do mar para a superf\u00edcie pela primeira vez. O pr\u00f3ximo passo seria ver se isso poderia funcionar em escala comercial.<\/p>\n

Mas esse tipo de atividade traz riscos ambientais substanciais. Um dos principais problemas \u00e9 o baixo n\u00edvel de conhecimento do meio ambiente e dos ecossistemas que temos no fundo do mar, diz Conn Nugent , diretor do projeto de minera\u00e7\u00e3o do leito marinho no Pew Trust. Apesar de d\u00e9cadas de pesquisa, a maior parte do fundo do oceano ainda n\u00e3o foi mapeada. Al\u00e9m disso, pouco se sabe sobre os ecossistemas presentes ali.<\/p>\n

“A maioria dos locais que poderia ser alvo de minera\u00e7\u00e3o em \u00e1guas profundas ainda n\u00e3o \u00e9 inteiramente conhecida”, diz Nugent. “Ent\u00e3o, ainda somos muito ignorantes sobre esse assunto”.<\/p>\n

\"Peixes\"
Com poucos estudos conclu\u00eddos, temos muito pouca compreens\u00e3o dos potenciais custos ambientais da minera\u00e7\u00e3o de fontes hidrotermais em \u00e1guas profundas<\/figcaption><\/figure>\n

Sem um conhecimento b\u00e1sico substancial da vida nessas antigas fendas, entender as consequ\u00eancias ambientais da minera\u00e7\u00e3o de dep\u00f3sitos de sulfetos maci\u00e7os no fundo do mar torna-se quase imposs\u00edvel. Mesmo que minerar fendas extintas n\u00e3o atrapalhe os ecossistemas nas proximidades das ativas, os pr\u00f3prios locais de minera\u00e7\u00e3o poderiam abrigar formas de vida \u00fanicas.<\/p>\n

“Dep\u00f3sitos extintos ainda ser\u00e3o habitados por seus pr\u00f3prios ecossistemas, que poderiam ser potencialmente desequilibrados”, diz Lusty. “H\u00e1 uma aus\u00eancia substancial de estudos de base adequados sobre organismos e comunidades, e incerteza sobre os m\u00e9todos de minera\u00e7\u00e3o que ser\u00e3o empregados bem como sobre a magnitude e a dura\u00e7\u00e3o de seus impactos nos ecossistemas das profundezas do oceano.”<\/p>\n

Para projetos de prospec\u00e7\u00e3o em \u00e1guas internacionais, a Autoridade Internacional do Leito Marinho est\u00e1 elaborando regulamentos ambientais sobre a minera\u00e7\u00e3o em \u00e1guas profundas. A Nugent vem assessorando a entidade sobre essas regula\u00e7\u00f5es. Dada a falta de conhecimento desses locais de minera\u00e7\u00e3o em potencial, a melhor abordagem \u00e9 a precau\u00e7\u00e3o, diz Lusty.<\/p>\n

“A resposta necess\u00e1ria para essa ignor\u00e2ncia \u00e9 isolar quantidades significativas – e queremos dizer 30-50% – da \u00e1rea total do contrato como zonas sem minera\u00e7\u00e3o”, diz Nugent.<\/p>\n

Plumas t\u00f3xicas<\/h2>\n

Quando as diretrizes do ISA eventualmente entrarem em vigor, regulamenta\u00e7\u00f5es como essas v\u00e3o poder ser aplicadas em \u00e1guas internacionais, que formam a maior parte do oceano. Mas al\u00e9m do alto-mar, dentro das zonas econ\u00f4micas exclusivas dos oceanos que cercam os pa\u00edses costeiros, as na\u00e7\u00f5es operariam por suas pr\u00f3prias regras.<\/p>\n

O potencial impacto da minera\u00e7\u00e3o em \u00e1guas profundas \u00e9 amplo, criando plumas de sedimentos que se estendem por centenas de quil\u00f4metros . As plumas s\u00e3o criadas pela desestabiliza\u00e7\u00e3o do fundo do mar, e acredita-se que estejam entre os maiores danos da minera\u00e7\u00e3o de \u00e1guas profundas. As plumas podem conter materiais t\u00f3xicos, ou podem simplesmente sufocar a vida do que cobrem. A natureza turbulenta das correntes do fundo do mar torna dif\u00edcil prever como as plumas v\u00e3o se espalhar.<\/p>\n

Al\u00e9m das plumas, se a atividade de minera\u00e7\u00e3o continuar 24 horas por dia, haveria outras formas de perturbar a vida selvagem.<\/p>\n

“Sabemos que at\u00e9 mesmo a presen\u00e7a de barcos na superf\u00edcie criar\u00e1 luz [noturna] para as aves e aumentar\u00e1 potencialmente o ru\u00eddo de navega\u00e7\u00e3o, o que \u00e9 um problema para alguns mam\u00edferos marinhos e peixes”, diz Kirsten Thompson, ecologista da Universidade de Exeter, no Reino Unido, que estudou os impactos potenciais da minera\u00e7\u00e3o em \u00e1guas profundas.<\/p>\n

“H\u00e1 uma s\u00e9rie de coisas que podemos prever que podem estar associadas a esses tipos de atividades de minera\u00e7\u00e3o, mas n\u00e3o sabemos realmente em que escala. Essa \u00e9 a quest\u00e3o”.<\/p>\n

\"Fontes
Explora\u00e7\u00e3o de fontes hidrotermais apresenta muitos desafios<\/figcaption><\/figure>\n

No entanto, os impactos ambientais no fundo do mar podem ser compensados por um benef\u00edcio muito importante, diz Lusty. Eles poderiam ser uma fonte de metais mais eficiente em termos de carbono do que aqueles encontrados em terra. A qualidade dos min\u00e9rios de cobre das minas terrestres, por exemplo, caiu 25% em 10 anos. Um min\u00e9rio de menor qualidade – essencialmente com menos cobre por quilograma de min\u00e9rio – significa que \u00e9 preciso mais energia e mais emiss\u00f5es de carbono para extrai-lo.<\/p>\n

“Esses dep\u00f3sitos [do fundo do mar] s\u00e3o, \u00e0s vezes, muito mais ricos em metais do que os dep\u00f3sitos compar\u00e1veis que estamos explorando atualmente em terra”, diz Lusty. “Portanto, menos min\u00e9rio deve ser necess\u00e1rio para produzir a mesma quantidade de metais – e menos minera\u00e7\u00e3o, tritura\u00e7\u00e3o e moagem significam menor consumo de energia.”<\/p>\n

Metais como o cobre est\u00e3o em alta demanda, principalmente para a constru\u00e7\u00e3o da infra-estrutura de energia renov\u00e1vel, como energia solar e e\u00f3lica. Algumas das maiores minas terrestres de cobre est\u00e3o produzindo min\u00e9rio com cerca de 0,7% de cobre, enquanto sulfetos maci\u00e7os no fundo do mar tem um n\u00edvel de concentra\u00e7\u00e3o muito maior.<\/p>\n

“Extrair recursos de metais oce\u00e2nicos pode interferir no meio ambiente, mas esses metais parecem vitais para muitas tecnologias que s\u00e3o essenciais para atingir os Objetivos Globais de Desenvolvimento Sustent\u00e1vel [UN] para acabar com a pobreza, proteger o planeta e garantir prosperidade para todos”, diz Lusty.<\/p>\n

Encontrar um caminho entre o fornecimento de mat\u00e9rias-primas para tecnologias de energia renov\u00e1vel e a prote\u00e7\u00e3o de \u00e1guas profundas \u00e9 “um equil\u00edbrio dif\u00edcil de alcan\u00e7ar”, diz Thompson. “Sabemos que precisamos ter um futuro descarbonizado, mas tamb\u00e9m sabemos que n\u00e3o podemos sustentar o uso desses recursos no ritmo atual.”<\/p>\n

Mas um foco na reciclagem de minerais e materiais que j\u00e1 temos em circula\u00e7\u00e3o pode ser a solu\u00e7\u00e3o, argumenta Thompson.<\/p>\n

“Podemos fazer isso de uma forma mais sustent\u00e1vel, procurando aumentar nossas taxas de reciclagem e realmente pressionando pelo desenvolvimento de novos tipos de tecnologia que n\u00e3o necessitem tanto desses recursos”, diz ela.<\/p>\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Na costa de Okinawa, a milhares de metros abaixo de um trecho de terra entre as ilhas Ryuku, no sul do Jap\u00e3o, est\u00e3o resqu\u00edcios de uma cadeia de fontes hidrotermais extintas, espalhadas pelo fundo do oceano. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":150655,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[929,389,311,93],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/150654"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=150654"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/150654\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":150656,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/150654\/revisions\/150656"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/150655"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=150654"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=150654"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=150654"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}