{"id":150675,"date":"2019-02-27T12:00:00","date_gmt":"2019-02-27T15:00:00","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=150675"},"modified":"2019-02-26T23:30:32","modified_gmt":"2019-02-27T02:30:32","slug":"risco-de-rompimento-de-barragens-de-rejeitos-aumenta-com-queda-no-preco-dos-minerios","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/02\/27\/150675-risco-de-rompimento-de-barragens-de-rejeitos-aumenta-com-queda-no-preco-dos-minerios.html","title":{"rendered":"Risco de rompimento de barragens de rejeitos aumenta com queda no pre\u00e7o dos min\u00e9rios"},"content":{"rendered":"
\"Risco
Estudo aponta que, em per\u00edodos de baixa na cota\u00e7\u00e3o dessas commodities, mais desastres em minera\u00e7\u00e3o acontecem devido a cortes nos custos operacionais (foto: Ponte ferrovi\u00e1ria que desabou ap\u00f3s desastre em Brumadinho (MG)\/Wikimedia Commons)<\/figcaption><\/figure>\n

A volatilidade de pre\u00e7os \u00e9 uma caracter\u00edstica intr\u00ednseca \u00e0s\u00a0commodities<\/i>, como os min\u00e9rios de ferro. Nas \u00faltimas cinco d\u00e9cadas, por exemplo, esses produtos passaram por diversos ciclos de valoriza\u00e7\u00e3o seguidos por per\u00edodos de desvaloriza\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Um estudo feito por pesquisadores canadenses, com base na an\u00e1lise de 143 desastres em minera\u00e7\u00e3o reportados no mundo entre 1968 e 2009, apontou que h\u00e1 uma correla\u00e7\u00e3o entre os ciclos de alta e de baixa dos pre\u00e7os dos min\u00e9rios no mercado internacional com rompimentos de barragens de rejeitos.<\/p>\n

A explica\u00e7\u00e3o dos pesquisadores para essa correla\u00e7\u00e3o \u00e9 que, em per\u00edodos de eleva\u00e7\u00e3o dos pre\u00e7os dos min\u00e9rios, normalmente os procedimentos de licenciamento e de execu\u00e7\u00e3o da constru\u00e7\u00e3o de barragens de rejeitos s\u00e3o acelerados em raz\u00e3o da press\u00e3o das mineradoras para aproveitar essa fase de bonan\u00e7a. J\u00e1 em per\u00edodos subsequentes de queda no pre\u00e7o dos min\u00e9rios, h\u00e1 uma press\u00e3o, tamb\u00e9m por parte das empresas, para reduzir os custos operacionais, como os de manuten\u00e7\u00e3o e de seguran\u00e7a dessas obras. Em raz\u00e3o disso, h\u00e1 um aumento do risco de rompimentos de barragens nessa fase de baixa de pre\u00e7os tanto em intervalo de tempo como em n\u00famero.<\/p>\n

\u201cFicou muito claro nesse estudo que h\u00e1 uma correla\u00e7\u00e3o entre o ciclo de baixa de pre\u00e7o de min\u00e9rios, como o cobre, com um aumento no n\u00famero de rompimentos de barragens de rejeitos\u201d, disse\u00a0Bruno Milanez<\/b>, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), durante um semin\u00e1rio promovido pelo Instituto de Estudos Avan\u00e7ados da Universidade de S\u00e3o Paulo (IEA-USP), no dia 14 de fevereiro, sobre os desastres de Mariana e Brumadinho.<\/p>\n

O evento fez parte das atividades do Projeto Tem\u00e1tico “Governan\u00e7a Ambiental da Macrometr\u00f3pole Paulista face \u00e0 variabilidade clim\u00e1tica<\/b>” (MacroAmb), apoiado pela FAPESP.<\/p>\n

\u201cApesar de estar em uma regi\u00e3o que n\u00e3o \u00e9 coincidente com a macrometr\u00f3pole, Brumadinho traz uma tem\u00e1tica que \u00e9 fundamental, que \u00e9 a discuss\u00e3o sobre a minera\u00e7\u00e3o e seus efeitos sobre a sociedade quando n\u00e3o h\u00e1 responsabiliza\u00e7\u00e3o e adequa\u00e7\u00e3o a normas legais e de seguran\u00e7a\u201d, disse Pedro Roberto Jacobi, professor do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP e coordenador do projeto, \u00e0\u00a0Ag\u00eancia FAPESP<\/b>.<\/p>\n

Os pesquisadores da UFJF aplicaram o modelo de correla\u00e7\u00e3o do ciclo de pre\u00e7o dos min\u00e9rios com desastres em minera\u00e7\u00e3o, desenvolvido pelos pesquisadores canadenses, em um estudo de caso do rompimento da barragem de Fund\u00e3o, da mineradora Samarco, em Mariana (MG), ocorrido em novembro de 2015.<\/p>\n

\u201cConstatamos que esse modelo se aplicou perfeitamente bem para explicar, do ponto de vista da economia mineral, o rompimento da barragem de Fund\u00e3o\u201d, afirmou Milanez.<\/p>\n

Os pesquisadores constataram que o pedido de licenciamento ambiental para constru\u00e7\u00e3o da barragem foi feito pela Samarco em 2006, no in\u00edcio de um ciclo de alta de pre\u00e7o dos min\u00e9rios. Em menos de um ano, em 2007, a empresa obteve as licen\u00e7as pr\u00e9vias e de instala\u00e7\u00e3o e, em 2008, a licen\u00e7a de opera\u00e7\u00e3o da barragem.<\/p>\n

\u201cObservamos que a empresa levou menos de dois anos para apresentar o estudo de impacto ambiental e obter a licen\u00e7a de opera\u00e7\u00e3o da barragem, um per\u00edodo bastante r\u00e1pido\u201d, afirmou Milanez.<\/p>\n

O rompimento da barragem ocorreu justamente no per\u00edodo de baixa da cota\u00e7\u00e3o de min\u00e9rios no mercado internacional. Os pesquisadores tamb\u00e9m identificaram que a partir de 2012, quando iniciou o \u00faltimo ciclo de queda de pre\u00e7o dos min\u00e9rios, o n\u00famero de acidentes de trabalho registrados e relatados pela empresa come\u00e7ou a aumentar. \u201cIsso remete \u00e0 hip\u00f3tese de que, nesse per\u00edodo, ocorreram problemas de gest\u00e3o de seguran\u00e7a na empresa\u201d, estimou Milanez.<\/p>\n

Segundo o pesquisador, um inqu\u00e9rito da Pol\u00edcia Civil de Minas Gerais, divulgado em 2016, concluiu que a causa do rompimento da barragem de Fund\u00e3o foi a liquefa\u00e7\u00e3o \u2013 quando um material r\u00edgido, no caso o rejeito de min\u00e9rio, passa a se comportar como um fluido em raz\u00e3o da \u00e1gua presente nele. Esse processo tamb\u00e9m \u00e9 apontado como a poss\u00edvel causa do rompimento da barragem de Brumadinho.<\/p>\n

Entre os fatores que contribu\u00edram para o processo de liquefa\u00e7\u00e3o da barragem de Fund\u00e3o o inqu\u00e9rito apontou falhas no monitoramento cont\u00ednuo do n\u00edvel da \u00e1gua e da press\u00e3o dos poros junto aos rejeitos. Indicou ainda que o monitoramento foi deficiente em virtude do n\u00famero reduzido de equipamentos instalados.<\/p>\n

\u201cO inqu\u00e9rito apontou uma s\u00e9rie de problemas operacionais na parte de seguran\u00e7a e de monitoramento da barragem\u201d, afirmou Milanez.<\/p>\n

J\u00e1 no caso do rompimento da barragem 1 da Vale, em Brumadinho, ainda n\u00e3o est\u00e1 clara a correla\u00e7\u00e3o entre a varia\u00e7\u00e3o de pre\u00e7os dos min\u00e9rios com o desastre. Isso porque, de acordo com o pesquisador, ao contr\u00e1rio da Samarco, que possui uma \u00fanica mina, a Vale tem muito mais empreendimentos. Isso torna a an\u00e1lise mais complexa e os dados mais dif\u00edceis de serem obtidos.<\/p>\n

\u201cO que se sabe at\u00e9 agora \u00e9 que a empresa vinha se recuperando de um alto endividamento e passou por um grande processo de expans\u00e3o\u201d, afirmou Milanez. \u201cCome\u00e7ou a fazer uma s\u00e9rie de desinvestimentos para tentar saldar suas d\u00edvidas, estava pagando altos dividendos aos acionistas para recuperar seu valor de mercado e, ao mesmo tempo, a barragem vinha apresentando problemas em seu monitoramento\u201d, disse.<\/p>\n

Procurada pela reportagem, a Vale afirmou n\u00e3o estar \u201cconcedendo entrevistas individuais no momento, mas conversando com a imprensa por meio de coletivas, dado que a empresa est\u00e1 100% focada no atendimento aos atingidos pelo rompimento da barragem\u201d.<\/p>\n