{"id":150689,"date":"2019-02-27T01:00:06","date_gmt":"2019-02-27T04:00:06","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=150689"},"modified":"2019-02-26T23:57:19","modified_gmt":"2019-02-27T02:57:19","slug":"finalmente-sabemos-o-que-matou-a-vida-marinha-na-mais-mortal-extincao-em-massa-da-historia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/02\/27\/150689-finalmente-sabemos-o-que-matou-a-vida-marinha-na-mais-mortal-extincao-em-massa-da-historia.html","title":{"rendered":"Finalmente sabemos o que matou a vida marinha na mais mortal extin\u00e7\u00e3o em massa da hist\u00f3ria"},"content":{"rendered":"

<\/p>\n

Muito antes dos dinossauros dominarem a Terra, nosso planeta estava repleto de plantas e animais. Essa vida primitiva foi varrida da face do planeta ap\u00f3s uma s\u00e9rie de erup\u00e7\u00f5es vulc\u00e2nicas maci\u00e7as na Sib\u00e9ria. A maior extin\u00e7\u00e3o em massa da hist\u00f3ria da Terra marcou o fim do per\u00edodo Permiano, cerca de 252 milh\u00f5es de anos atr\u00e1s. F\u00f3sseis em rochas ancestrais do leito marinho exibem um ecossistema marinho diversificado e pr\u00f3spero que desapareceu.<\/span><\/p>\n

Cerca de 96% das esp\u00e9cies marinhas foram exterminadas durante este per\u00edodo, conhecido como a \u201cGrande Agonia\u201d. Durante os milh\u00f5es de anos que se seguiram, a vida teve que se multiplicar e diversificar novamente em nosso planeta. Mas o que pode ter causado tamanha destrui\u00e7\u00e3o ao tornar os oceanos do planeta in\u00f3spitos? A alta acidez da \u00e1gua, envenenamento por metal e sulfeto, uma completa falta de oxig\u00eanio, ou simplesmente temperaturas mais altas?<\/p>\n

Uma nova pesquisa, realizada por pesquisadores da Universidade de Washington e da Universidade de Stanford, nos EUA, combinou modelos de condi\u00e7\u00f5es oce\u00e2nicas e metabolismo animal com dados laboratoriais publicados e registros paleoceanogr\u00e1ficos para mostrar que a extin\u00e7\u00e3o em massa do Permiano nos oceanos foi causada por um velho conhecido da ci\u00eancia: o aquecimento global. O aumento das temperaturas do planeta naquele per\u00edodo teve efeito na vida marinha ao deixar os animais incapazes de respirar.<\/p>\n

\u00c0 medida que as temperaturas do planeta aumentavam e o metabolismo dos animais marinhos acelerava, as \u00e1guas mais quentes n\u00e3o conseguiam manter oxig\u00eanio suficiente para que eles sobrevivessem. \u201cEsta \u00e9 a primeira vez que fizemos uma previs\u00e3o mecanicista sobre o que causou a extin\u00e7\u00e3o que pode ser diretamente testada com o registro f\u00f3ssil, o que nos permite fazer previs\u00f5es sobre causas de extin\u00e7\u00e3o no futuro\u201d, aponta o autor principal do estudo Justin Penn, doutorando em oceanografia da Universidade de Washington, em mat\u00e9ria publicada no site da institui\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

<\/span>Mudan\u00e7as dram\u00e1ticas<\/h2>\n

Os pesquisadores utilizaram um modelo clim\u00e1tico que simulou a Terra durante o Permiano, quando as massas de terra do planeta foram combinadas no supercontinente de Pangea. Antes que as erup\u00e7\u00f5es vulc\u00e2nicas em andamento na Sib\u00e9ria criassem um planeta de gases de efeito estufa, os oceanos tinham temperaturas e n\u00edveis de oxig\u00eanio similares aos de hoje. Os pesquisadores ent\u00e3o elevaram os gases do efeito estufa no modelo para o n\u00edvel necess\u00e1rio para elevar a temperatura dos oceanos tropicais na superf\u00edcie em cerca de 10 graus Celsius, correspondendo \u00e0s condi\u00e7\u00f5es da \u00e9poca.<\/p>\n

O modelo reproduziu as mudan\u00e7as dram\u00e1ticas resultantes nos oceanos, que perderam cerca de 80% de seu oxig\u00eanio. Aproximadamente metade do fundo oce\u00e2nico, principalmente em profundidades maiores, ficou completamente sem oxig\u00eanio.<\/p>\n

Para analisar os efeitos sobre as esp\u00e9cies marinhas, os pesquisadores consideraram as diferentes sensibilidades de oxig\u00eanio e temperatura de 61 esp\u00e9cies marinhas modernas \u2013 incluindo crust\u00e1ceos, peixes, moluscos, corais e tubar\u00f5es \u2013 usando medi\u00e7\u00f5es de laborat\u00f3rio publicadas \u2013 acredita-se que a toler\u00e2ncia dos animais modernos \u00e0 alta temperatura e ao baixo oxig\u00eanio seja similar aos animais Permianos, porque eles evolu\u00edram sob condi\u00e7\u00f5es ambientais similares.<\/p>\n

Os pesquisadores combinaram as caracter\u00edsticas das esp\u00e9cies com as simula\u00e7\u00f5es paleoclim\u00e1ticas para prever a geografia da extin\u00e7\u00e3o. \u201cMuito poucos organismos marinhos permaneceram nos mesmos habitats em que viviam \u2013 ou fugiram ou morreram\u201d, afirma na mat\u00e9ria da UW Curtis Deutsch, professor de oceanografia da universidade.<\/span><\/p>\n

Extin\u00e7\u00e3o extensa<\/h2>\n

O modelo mostra que os mais atingidos foram organismos encontrados longe dos tr\u00f3picos, mais sens\u00edveis ao oxig\u00eanio. Muitas esp\u00e9cies que viviam nos tr\u00f3picos tamb\u00e9m foram extintas no modelo, mas ele prev\u00ea que as esp\u00e9cies de alta latitude, especialmente aquelas com altas demandas de oxig\u00eanio, foram quase completamente eliminadas.<\/span><\/p>\n

Para testar essa previs\u00e3o, os coautores Jonathan Payne e Erik Sperling, de Stanford, analisaram as distribui\u00e7\u00f5es f\u00f3sseis no final do Permiano, no Paleobiology Database, um arquivo virtual de cole\u00e7\u00f5es de f\u00f3sseis publicadas. O registro f\u00f3ssil mostra onde as esp\u00e9cies estavam antes da extin\u00e7\u00e3o e se foram eliminadas completamente ou restritas a uma fra\u00e7\u00e3o de seu antigo habitat.<\/p>\n

O registro f\u00f3ssil confirma que as esp\u00e9cies distantes do equador sofreram mais durante o evento. \u201cA assinatura desse mecanismo de morte, o aquecimento do clima e a perda de oxig\u00eanio, \u00e9 esse padr\u00e3o geogr\u00e1fico que \u00e9 previsto pelo modelo e depois descoberto nos f\u00f3sseis. A concord\u00e2ncia entre os dois indica que esse mecanismo de aquecimento clim\u00e1tico e a perda de oxig\u00eanio foi a principal causa da extin\u00e7\u00e3o\u201d, revela Penn na mat\u00e9ria da UW.<\/span><\/p>\n

<\/span>Acelera\u00e7\u00e3o do metabolismo<\/h2>\n

Estudos anteriores, liderados por Deutsch, mostram um paradoxo para a vida marinha: \u00e0 medida que os oceanos se aquecem, o metabolismo dos animais marinhos acelera, o que significa que eles precisam de mais oxig\u00eanio, ao mesmo tempo em que, quanto mais quente a \u00e1gua, menos oxig\u00eanio ela possui. Esses estudos anteriores mostram como oceanos mais quentes afastam os animais dos tr\u00f3picos.<\/p>\n

O novo estudo combina as condi\u00e7\u00f5es do oceano em mudan\u00e7a com as necessidades metab\u00f3licas de v\u00e1rios animais em diferentes temperaturas. Os resultados mostram que os efeitos mais severos da priva\u00e7\u00e3o de oxig\u00eanio s\u00e3o para esp\u00e9cies que vivem perto dos p\u00f3los.<\/span><\/p>\n

Os metabolismos dos organismos tropicais j\u00e1 estavam adaptados a condi\u00e7\u00f5es razoavelmente quentes e de baixo oxig\u00eanio, portanto eles poderiam se afastar dos tr\u00f3picos e encontrar as mesmas condi\u00e7\u00f5es em outro lugar. Por outro lado, um organismo adaptado para um ambiente frio e rico em oxig\u00eanio n\u00e3o encontraria mais essas condi\u00e7\u00f5es, j\u00e1 que elas deixaram de existir nos oceanos da \u00e9poca.<\/p>\n

As chamadas \u201czonas mortas\u201d, completamente desprovidas de oxig\u00eanio, estavam abaixo das profundidades onde as esp\u00e9cies estavam vivendo, e tiveram um papel menor nas taxas de sobreviv\u00eancia.<\/span><\/p>\n

<\/span>Os pesquisadores acabaram descobrindo que n\u00e3o foi necess\u00e1ria a total falta de oxig\u00eanio para a grande extin\u00e7\u00e3o. \u201cDescobriu-se que o tamanho das zonas mortas realmente n\u00e3o parece ser a chave para a extin\u00e7\u00e3o. Muitas vezes pensamos em anoxia, a completa falta de oxig\u00eanio, como a condi\u00e7\u00e3o que voc\u00ea precisa para obter um (ambiente) inabit\u00e1vel de forma generalizada. Mas quando voc\u00ea olha para a toler\u00e2ncia ao baixo oxig\u00eanio, a maioria dos organismos pode ser exclu\u00edda da \u00e1gua do mar em n\u00edveis de oxig\u00eanio que n\u00e3o est\u00e3o nem perto de an\u00f3xicos\u201d, diz Deutsch.<\/p>\n

Sinais que se repetem<\/h2>\n

O aquecimento, que leva \u00e0 insufici\u00eancia de oxig\u00eanio, explica mais da metade das perdas na diversidade marinha. Os autores dizem que outras mudan\u00e7as, como a acidifica\u00e7\u00e3o ou mudan\u00e7as na produtividade de organismos fotossint\u00e9ticos, provavelmente agiram como causas adicionais.<\/p>\n

\u00c9 inevit\u00e1vel chegar \u00e0 conclus\u00e3o que a situa\u00e7\u00e3o no final do Permiano, com o aumento dos gases de efeito estufa na atmosfera que criam temperaturas mais quentes na Terra, \u00e9 bastante semelhante \u00e0 atual.<\/span><\/p>\n

Nos \u00faltimos 20 anos, era aceito que os fatores que levaram \u00e0 extin\u00e7\u00e3o em massa do per\u00edodo Permiano aconteceram repentinamente e sem aviso pr\u00e9vio. Mas de acordo com uma equipe de pesquisa da Universidade Friedrich-Alexander Erlangen-N\u00fcrnberg e do Museum f\u00fcr Naturkunde, na Alemanha, publicada no ano passado, isso est\u00e1 longe da realidade. Eles descobriram sinais de alerta 700.000 anos antes do evento.<\/span><\/p>\n

Os pesquisadores afirmam que v\u00e1rias esp\u00e9cies de amon\u00f3ides \u2013 moluscos marinhos tamb\u00e9m conhecidos como amonitas \u2013 foram mortas na \u00e9poca e as esp\u00e9cies que sobreviveram ficaram cada vez menores e menos complexas. Havia outros sinais tamb\u00e9m \u2013 e eles s\u00e3o chocantemente familiares. \u201cH\u00e1 muitas evid\u00eancias de aquecimento global severo, acidifica\u00e7\u00e3o dos oceanos e falta de oxig\u00eanio\u201d, disse o principal autor do estudo, Wolfgang Kie\u00dfling, da FAU, em\u00a0mat\u00e9ria publicada no site Science Alert.<\/p>\n

Estamos vendo os mesmos sinais agora que antecederam a maior extin\u00e7\u00e3o em massa do nosso planeta<\/p>\n

H\u00e1 outro trabalho que sugere uma constru\u00e7\u00e3o para o evento do per\u00edodo Permiano-Tri\u00e1ssico. Um documento de 2015 encontrou, em uma an\u00e1lise do registro geoqu\u00edmico, que houve deteriora\u00e7\u00e3o ambiental progressiva que levou ao evento em si. Outro artigo de 2015 encontrou altos n\u00edveis de atividade de magma antes, durante e ap\u00f3s o evento. Outros pesquisadores descobriram que, nos \u00faltimos milh\u00f5es de anos do per\u00edodo Permiano, os tamanhos de braqui\u00f3podes estavam diminuindo em terra; no mar, os protozo\u00e1rios chamados radiol\u00e1rios tamb\u00e9m estavam em decl\u00ednio.<\/p>\n

Estes sinais tamb\u00e9m s\u00e3o encontrados atualmente. H\u00e1 evid\u00eancias de que animais marinhos podem estar encolhendo hoje em dia. Em 2017, pesquisadores revelaram que o tamanho do Brevoortia patronus, um peixe que vive no Oceano Atl\u00e2ntico, diminuiu 15% nos \u00faltimos 65 anos, provavelmente como resultado direto da mudan\u00e7a clim\u00e1tica.<\/p>\n

Estas pesquisas se juntam a um corpo crescente de evid\u00eancias e cientistas alertando que estamos \u00e0 beira do sexto evento de extin\u00e7\u00e3o em massa da Terra. \u201cO aumento da taxa de extin\u00e7\u00e3o em todos os habitats que estamos atualmente observando \u00e9 atribu\u00edvel \u00e0 influ\u00eancia direta dos seres humanos, como a destrui\u00e7\u00e3o do habitat, a pesca excessiva e a polui\u00e7\u00e3o. No entanto, o nanismo de esp\u00e9cies animais nos oceanos, em particular, pode ser claramente atribu\u00eddo \u00e0 mudan\u00e7a clim\u00e1tica. Devemos levar esses sinais muito a s\u00e9rio\u201d, sugere Kie\u00dfling.<\/span><\/p>\n

Os pesquisadores do modelo que aponta o aquecimento global como causa da extin\u00e7\u00e3o do per\u00edodo Permiano fazem um alerta para nossa atual situa\u00e7\u00e3o. \u201cSob um cen\u00e1rio de emiss\u00f5es, em 2100 o aquecimento no oceano superior ter\u00e1 atingido 20% do aquecimento no final do Permiano, e no ano 2300 atingir\u00e1 entre 35 e 50%. Este estudo destaca o potencial para uma extin\u00e7\u00e3o em massa decorrente de um mecanismo similar sob mudan\u00e7as clim\u00e1ticas antropog\u00eanicas\u201d, aponta Penn. [Science Alert<\/a>,\u00a0Eurekalert<\/a>,\u00a0Universidade de Washington<\/a>]<\/p>\n

Fonte: Hypescience<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Muito antes dos dinossauros dominarem a Terra, nosso planeta estava repleto de plantas e animais. Essa vida primitiva foi varrida da face do planeta ap\u00f3s uma s\u00e9rie de erup\u00e7\u00f5es vulc\u00e2nicas maci\u00e7as na Sib\u00e9ria. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":150691,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[61,46,1142],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/150689"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=150689"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/150689\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":150692,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/150689\/revisions\/150692"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/150691"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=150689"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=150689"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=150689"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}