{"id":150693,"date":"2019-02-28T01:00:56","date_gmt":"2019-02-28T04:00:56","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=150693"},"modified":"2019-02-27T22:08:07","modified_gmt":"2019-02-28T01:08:07","slug":"assim-o-brasil-vai-matando-mais-um-rio","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/02\/28\/150693-assim-o-brasil-vai-matando-mais-um-rio.html","title":{"rendered":"Assim o Brasil vai matando mais um rio"},"content":{"rendered":"
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Um pouco mais de 200 quil\u00f4metros depois de brotar de suas nascentes, o Paraopeba se transformou num rio t\u00f3xico. Ferro, cobre, mangan\u00eas e cromo s\u00e3o encontrados na \u00e1gua numa concentra\u00e7\u00e3o muito maior do que a lei permite – e do que a sa\u00fade humana tolera.<\/p>\n
A conclus\u00e3o vem ap\u00f3s uma s\u00e9rie de an\u00e1lises de laborat\u00f3rio feitas a pedido da Funda\u00e7\u00e3o SOS Mata Atl\u00e2ntica, ONG que organizou uma expedi\u00e7\u00e3o com pesquisadores pela \u00e1rea afetada com rejeitos da barragem da Vale em Brumadinho, trag\u00e9dia ocorrida h\u00e1 um m\u00eas.<\/p>\n
De t\u00e3o preocupantes, alguns resultados surpreenderam a equipe. “Nos primeiros trechos onde fizemos coleta de \u00e1gua, o rio estava t\u00e3o morto, t\u00e3o degradado, que nem bact\u00e9rias sobreviveram. Isso n\u00e3o aconteceu nem no rio Doce”, afirma\u00a0Malu Ribeiro, especialista em Recursos H\u00eddricos da funda\u00e7\u00e3o.<\/p>\n
Em 2015, o rio Doce recebeu uma grande carga dos 55 milh\u00f5es de metros c\u00fabicos\u00a0de rejeitos que vazaram da barragem de Fund\u00e3o, em Mariana, da mineradora Samarco, Vale e BHP Billiton. Tr\u00eas anos e dois meses depois, foi a vez de o rio Paraopeba ser impactado por uma cat\u00e1strofe semelhante, ao receber parte dos 12 milh\u00f5es de metros c\u00fabicos de rejeitos. Ambas as bacias hidrogr\u00e1ficas nascem no estado de Minas Gerais e abastecem popula\u00e7\u00f5es em grandes cidades.<\/p>\n
Segundo Ribeiro, os metais pesquisados foram encontrados ao longo de toda a extens\u00e3o do Paraopeba impactada pelos rejeitos da Vale – cerca de 305 quil\u00f4metros, de Brumadinho a Felixl\u00e2ndia.<\/p>\n
Dos 22 pontos de coleta da \u00e1gua, todos apresentaram \u00edndice de qualidade ruim (10) e p\u00e9ssimo (12). A an\u00e1lise, que segue a legisla\u00e7\u00e3o vigente no pais, investigou 16 par\u00e2metros, que incluem temperatura da \u00e1gua, oxig\u00eanio dissolvido e presen\u00e7a de coliformes, peixes e larvas, para citar alguns exemplo.<\/p>\n
“O rio Paraopeba perdeu a condi\u00e7\u00e3o de ser fonte de abastecimento de \u00e1gua. Os rejeitos da minera\u00e7\u00e3o tonaram suas \u00e1guas impr\u00f3prias e indispon\u00edveis para usos em uma extens\u00e3o de 305 quil\u00f4metros”, afirma o relat\u00f3rio, divulgado nesta ter\u00e7a-feira (27\/02).<\/p>\n
Segundo as companhias de abastecimento que retiravam \u00e1gua do rio para consumo humano, as capta\u00e7\u00f5es est\u00e3o suspensas.<\/p>\n
Para os pesquisadores, os metais ferro, cobre, mangan\u00eas e cromo identificados no Paraopeba t\u00eam, sem d\u00favida, origem na mina de rejeitos que rompeu. Metais t\u00f3xicos foram localizados, como chumbo e merc\u00fario, mas a sua fonte n\u00e3o foi confirmada.<\/p>\n
Estudos cient\u00edficos comprovam que, para ter uma vida saud\u00e1vel, o ser humano precisa de doses pequenas de alguns metais como cobre, ferro, mangan\u00eas e zinco – os chamados micronutrientes.<\/p>\n
Por outro lado, a ingesta\u0303o direta desses metais dissolvidos na a\u0301gua ou acumulados nos peixes, por exemplo, provoca distu\u0301rbios no metabolismo.<\/p>\n
Como est\u00e3o em n\u00edveis muito elevados no Paraopeba depois do rompimento da barragem, esses elementos causam problemas para os ecossistemas, para os animais e seres humanos.<\/p>\n
Em alguns trechos, a concentra\u00e7\u00e3o de cobre ultrapassa em 400 vezes o n\u00edvel seguro fixado pela lei. Ingerido em grandes quantidades, o metal pode danificar rins, inibir a produ\u00e7\u00e3o de urina e causar anemia. O cromo, por sua vez, pode causar muta\u00e7\u00f5es e at\u00e9 morte.<\/p>\n
“A diferen\u00e7a entre o rem\u00e9dio e o veneno \u00e9 a dosagem”, pontua Marta Marcondes, professora da USCS (Universidade Municipal de S\u00e3o Caetano do Sul), numa refer\u00eancia a Paracelso, m\u00e9dico do s\u00e9culo 16.<\/p>\n
No laborat\u00f3rio da universidade, Marcondes conduziu diversos testes com o material coletado de Brumadinho a Felixl\u00e2ndia. “O mangan\u00eas, por exemplo, \u00e9 um elemento que est\u00e1 na natureza, precisamos dele no corpo. Mas, se ingerido em grande quantidade, ele vai se alojar em tecidos que v\u00e3o ocasionar algum tipo de les\u00e3o”, comenta.<\/p>\n
Al\u00e9m dos metais e da qualidade da \u00e1gua, Marcondes investigou a presen\u00e7a de bact\u00e9rias. Segundo a pesquisadora, a avalanche de rejeitos, ao varrer zonas que continham fossas e cria\u00e7\u00f5es de animais, arrastou para o rio organismos que podem tamb\u00e9m provocar danos \u00e0 sa\u00fade humana.<\/p>\n
“Isso \u00e9 um efeito preocupante. As pessoas do entorno, que j\u00e1 est\u00e3o debilitadas, podem sofrer um processo infeccioso causado por essas bact\u00e9rias”, comenta Marcondes. “Segundo nossas an\u00e1lises, pelos menos oito esp\u00e9cies encontradas s\u00e3o resistentes a antibi\u00f3ticos\u201d, comenta sobre os resultados preliminares.<\/p>\n
De posse dessas informa\u00e7\u00f5es, produzidas de forma independente pela SOS Mata Atl\u00e2ntica, Malu Ribeiro espera que os dados sejam usados na tomada de decis\u00f5es sobre a recupera\u00e7\u00e3o da bacia hidrogr\u00e1fica do Paraopeba.<\/p>\n
“A gente espera tamb\u00e9m que a legisla\u00e7\u00e3o ambiental brasileira n\u00e3o seja fragilizada. A fragiliza\u00e7\u00e3o das leis pode potencializar situa\u00e7\u00f5es como essa a que estamos assistindo em Minas Gerais”, afirma.<\/p>\n
Para Marta Marcondes, os resultados deveriam funcionar como um alerta. “N\u00e3o se pode manter a popula\u00e7\u00e3o afetada na ignor\u00e2ncia”, alerta. Com base na experi\u00eancia em an\u00e1lises de din\u00e2mica de rios ao longo dos \u00faltimos 15 anos, ela faz uma previs\u00e3o. “Os rejeitos que escorrem pelo Paraopeba, mais cedo ou mais tarde, chegar\u00e3o ao S\u00e3o Francisco”. Com mais de 2800 quil\u00f4metros de extens\u00e3o e 18 milh\u00f5es de moradores no entorno de sua bacia, o rio \u00e9 um dos mais importantes do pa\u00eds.<\/p>\n
Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
O rompimento da barragem em Brumadinho tornou o Paraopeba um rio t\u00f3xico por mais de 300 km. Nova an\u00e1lise mostra que em alguns pontos, de t\u00e3o degradado, nem bact\u00e9rias sobrevivem. Danos podem chegar ao S\u00e3o Francisco. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":150694,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[1421,261,1733],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/150693"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=150693"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/150693\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":150695,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/150693\/revisions\/150695"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/150694"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=150693"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=150693"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=150693"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}