{"id":150696,"date":"2019-02-28T01:00:02","date_gmt":"2019-02-28T04:00:02","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=150696"},"modified":"2019-02-27T22:13:30","modified_gmt":"2019-02-28T01:13:30","slug":"um-stradivarius-pode-medir-as-mudancas-climaticas","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/02\/28\/150696-um-stradivarius-pode-medir-as-mudancas-climaticas.html","title":{"rendered":"Um Stradivarius pode medir as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas?"},"content":{"rendered":"
\"Aobre
Fabricado em 1700, violino feito por Antonio Stradivari foi estimado em 1,5 milh\u00f5es de d\u00f3lares<\/figcaption><\/figure>\n

No s\u00e9culo 17, Antonio Stradivari viajou durante dois dias da sua cidade natal, Cremona, \u00e0 floresta de Paneveggio, no norte da It\u00e1lia, para encontrar a madeira perfeita para confeccionar seus instrumentos, que se tornariam mundialmente famosos.<\/p>\n

Apreciado por sua excepcional qualidade de som, um Stradivarius original pode chegar a valer milh\u00f5es de d\u00f3lares. E, mais de 300 anos depois da morte do luthier \u2013 profissional especializado na fabrica\u00e7\u00e3o e no reparo de instrumentos de corda com caixa de resson\u00e2ncia e espelho, como guitarra e violino \u2013 mais famoso do mundo, as con\u00edferas dessa floresta ainda s\u00e3o usadas para construir violinos, violoncelos, baixos e pianos.<\/p>\n

Mas a famosa madeira musical est\u00e1 sentindo os efeitos das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas sob a forma de fen\u00f4menos meteorol\u00f3gicos mais extremos, explica o guarda florestal local Paolo Kovacs, enquanto manobra sua camionete com tra\u00e7\u00e3o nas quatro rodas sobre um estreito caminho nas montanhas do id\u00edlico Vale de Fiemme.<\/p>\n

Em outubro do ano passado, tempestades extraordinariamente violentas arrancaram mais de 14 milh\u00f5es de \u00e1rvores em toda a \u00e1rea da cadeia montanhosa das Dolomitas, no leste dos Alpes, onde fica a floresta de Paneveggio.<\/p>\n

“S\u00e3o quase todas\u00a0abete rosso<\/em>\u00a0(abeto vermelho, em tradu\u00e7\u00e3o livre)”, descreve Kovacs, referindo-se ao nome italiano dos acres de pinheiros que cascadearam montanha abaixo. “Eles t\u00eam ra\u00edzes relativamente curtas. Por isso, caem com mais facilidade”, afirma.<\/p>\n

Apenas uma \u00e1rvore de 25 metros de altura sobreviveu \u00e0 tempestade nessa zona espec\u00edfica. “Esse tem cerca de 150 anos”, diz Kovacs, apontando para o pinheiro. “\u00c9 quase um milagre ele ainda estar aqui. Talvez ele tenha sido coberto por outras \u00e1rvores, ou ele tem ra\u00edzes longas, o que \u00e9 incomum”, especula.<\/p>\n

A mais de 250 quil\u00f4metros dali, numa oficina na pequena cidade de Cremona, onde Stradivari viveu e trabalhou, o mestre luthier Stefano Conia passa a unha do polegar pelos aros de um peda\u00e7o de madeira. Essas aberturas ac\u00fasticas est\u00e3o excepcionalmente pr\u00f3ximas, a uma dist\u00e2ncia de cerca de meio cent\u00edmetros, e s\u00e3o quase id\u00eanticas.<\/p>\n

“Escute”, pede. “\u00c9 assim que tem que ser. Esse ser\u00e1 um excelente violino”, prognostica o mestre de 73 anos, que constr\u00f3i violinos h\u00e1 45 anos e diz que esse tipo de uniformidade \u00e9 o que faz a con\u00edfera europeia ser t\u00e3o adequada para a fabrica\u00e7\u00e3o de instrumentos.<\/p>\n

\"Oficina
Of\u00edcio centen\u00e1rio do luthier inclui busca pelo peda\u00e7o perfeito de madeira<\/figcaption><\/figure>\n

Mas n\u00e3o \u00e9 toda \u00e1rvore derrubada que \u00e9 selecionada. Para cada \u00e1rvore que acaba sendo usada, 20 ou 30 s\u00e3o consideradas inadequadas.<\/p>\n

Conia \u00e9 um entre 156 luthiers que trabalham no que se tornou a capital dos instrumentos de alta qualidade feitos \u00e0 m\u00e3o. A extensa hist\u00f3ria do of\u00edcio e sua proximidade com a floresta atraem pessoas do mundo inteiro, ansiosas para aprender a arte de fabricar violinos, para a regi\u00e3o.<\/p>\n

O pr\u00f3prio Conia vem da Hungria. Giorgio Grisales \u2013 outro luthier que possui oficina pr\u00f3pria \u2013 mudou-se para a \u00e1rea vindo de Medell\u00edn, na Col\u00f4mbia, nos anos 1970, para seguir os passos de Stradivari. E, num canto da oficina de Stradivari, um jovem japon\u00eas trabalha molda um longo peda\u00e7o de madeira para construir o espelho (pesco\u00e7o) de um violoncelo.<\/p>\n

Enquanto alguns temem que a tradi\u00e7\u00e3o centen\u00e1ria esteja amea\u00e7ada pelas mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, Sandro Asinari, vice-presidente da Associa\u00e7\u00e3o de Fabricantes de Violino de Cremona, n\u00e3o est\u00e1 preocupado. Pelo menos n\u00e3o com os danos causados pela tempestade de outubro passado.<\/p>\n

“A floresta \u00e9 enorme”, constata. “Sei que muitas \u00e1rvores foram danificadas, mas tamb\u00e9m sem que os guardas florestais locais est\u00e3o trabalhando duro para salvar aquelas que se romperam. A associa\u00e7\u00e3o contratou uma madeireira local para coletar \u00e1rvores ca\u00eddas e serr\u00e1-las em peda\u00e7os, para que elas possam ser usadas para fazer instrumentos. Al\u00e9m disso, est\u00e3o plantando novas \u00e1rvores no momento. Estou muito otimista”, acrescenta Asinari.<\/p>\n

Ainda assim, o guarda florestal Kovacs afirma que plantar \u00e1rvores n\u00e3o vai ajudar os fabricantes de instrumentos no curto prazo. Um abeto precisa ter pelo menos 150 anos antes de se tornar um violino. Para fazer um violoncelo ou um baixo, a \u00e1rvore precisa ser ainda mais antiga.<\/p>\n

Al\u00e9m disso, Kovacs se preocupa com a mudan\u00e7a nos padr\u00f5es meteorol\u00f3gicos que ele atribui \u00e0s mudan\u00e7as clim\u00e1ticas. A tempestade de outubro que atingiu as Dolomitas foi fora do comum. “Esta veio do sudeste, do Mar Adri\u00e1tico”, lembra, explicando que o vento normalmente vem do nordeste dos Alpes.<\/p>\n

O sistema meteorol\u00f3gico se assemelhou \u00e0 maneira como furac\u00f5es se formam no litoral leste dos Estados Unidos: “Foi mais quente que o normal, mais forte que o normal e trouxe mais chuvas que o normal”, descreve.<\/p>\n

\"Com
Mais de 14 milh\u00f5es de \u00e1rvores ca\u00edram ap\u00f3s tempestade na floresta de Paneveggio, em 2018<\/figcaption><\/figure>\n

O ano passado foi\u00a0o mais quente\u00a0na It\u00e1lia desde que os registros come\u00e7aram em 1800. As temperaturas tamb\u00e9m foram 1,5 grau mais quentes do que a m\u00e9dia registrada entre 1961 e 1990. A temperatura m\u00e9dia no pa\u00eds subiu 0,1 grau\u00a0Celsius a mais do que no restante da Europa, apesar de n\u00e3o estar claro porque a It\u00e1lia est\u00e1 se aquecendo mais.<\/p>\n

Os efeitos est\u00e3o sendo sentidos em todo o pa\u00eds, n\u00e3o apenas na floresta musical de Paneveggio. Na mesma \u00e9poca em que as tempestades atingiram a prov\u00edncia norte de Trento, a Sic\u00edlia, no extremo sul, viveu pesadas chuvas e inunda\u00e7\u00f5es que mataram dez pessoas.<\/p>\n

“Acho que temos que nos acostumar”, conforma-se Kovacs. “A temperatura geral da atmosfera est\u00e1 aumentando \u2013 assim, o tempo fica mais extremo. \u00c9 isso que vimos por aqui”, conta.<\/p>\n

Apesar da aparente falta de preocupa\u00e7\u00e3o de Asinari, ele diz que a associa\u00e7\u00e3o que preside est\u00e1 planejando garantir o futuro do of\u00edcio em meio \u00e0s mudan\u00e7as clim\u00e1ticas.<\/p>\n

“Estamos comprando \u00e1reas da floresta para control\u00e1-las melhor no futuro”, diz, sobre a floresta de Paneveggio, de propriedade do Estado. “Estamos confiantes de que nossa tradi\u00e7\u00e3o durar\u00e1 pelos pr\u00f3ximos 400 anos.”<\/p>\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Floresta de onde vem a madeira para manufatura dos instrumentos de cordas mundialmente famosos \u00e9 usada h\u00e1 300 anos. Mas aquecimento global pode estar amea\u00e7ando o of\u00edcio. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":150697,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[157,46],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/150696"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=150696"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/150696\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":150698,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/150696\/revisions\/150698"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/150697"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=150696"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=150696"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=150696"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}