{"id":150862,"date":"2019-03-12T12:00:00","date_gmt":"2019-03-12T15:00:00","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=150862"},"modified":"2019-03-11T21:03:13","modified_gmt":"2019-03-12T00:03:13","slug":"por-que-as-chuvas-continuam-matando-tantas-pessoas-no-brasil","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/03\/12\/150862-por-que-as-chuvas-continuam-matando-tantas-pessoas-no-brasil.html","title":{"rendered":"Por que as chuvas continuam matando tantas pessoas no Brasil?"},"content":{"rendered":"
\"Pessoas
Na Vila Itaim, zona leste de S\u00e3o Paulo, os moradores j\u00e1 conviviam com \u00e1reas alagadas muito antes das chuvas deste domingo<\/figcaption><\/figure>\n

Ao menos 12 pessoas morreram na regi\u00e3o metropolitana de S\u00e3o Paulo com os desdobramentos das\u00a0chuvas\u00a0que ca\u00edram desde a noite deste domingo (11). Segundo especialista ouvido pela BBC News Brasil, a forma de ocupa\u00e7\u00e3o da cidade e a aus\u00eancia de obras de drenagem contribuem para que trag\u00e9dias como esta sejam frequentes nos in\u00edcios de ano.<\/p>\n

O urbanista Gilson Lameira \u00e9 professor da cadeira de infraestrutura urbana da Universidade Federal do ABC (UFABC) – o campus da institui\u00e7\u00e3o em Santo Andr\u00e9 ficou ilhado.<\/p>\n

Segundo ele, n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel afirmar que cat\u00e1strofes como esta estejam relacionadas com as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas: historicamente, a regi\u00e3o metropolitana de S\u00e3o Paulo \u00e9 um local com grande n\u00edvel de chuvas. “Estatisticamente, estas taxas de chuvas n\u00e3o s\u00e3o novidades. As chuvas nessa regi\u00e3o j\u00e1 foram at\u00e9 maiores. Diminu\u00edram nos \u00faltimos 15 anos, e agora parecem estar voltando ao patamar anterior”, diz ele.<\/p>\n

Em um balan\u00e7o apresentado na manh\u00e3 desta segunda-feira, a Prefeitura de S\u00e3o Paulo disse que a regi\u00e3o recebeu, desde o dia 1\u00ba de mar\u00e7o, mais de 90% do volume de chuvas esperado para todo o m\u00eas de mar\u00e7o. Foram 160,8 mil\u00edmetros de chuva – esperava-se, para mar\u00e7o, um volume total de chuvas da de 177,4 mil\u00edmetros.<\/p>\n

S\u00f3 entre as 19h de domingo e as 7h de segunda-feira, a capital paulistana acumulou 57,8 mil\u00edmetros, o que corresponde a quase um ter\u00e7o do esperado para todo o m\u00eas.<\/p>\n

\"M\u00c3\u00b3veis
Pessoas perderam os m\u00f3veis em v\u00e1rios pontos da grande S\u00e3o Paulo neste s\u00e1bado<\/figcaption><\/figure>\n

A chuva forte provocou mortes na capital e em outros cinco munic\u00edpios da regi\u00e3o metropolitana. Segundo o Corpo de Bombeiros paulista, seis pessoas foram v\u00edtimas de afogamentos e outras cinco morreram em deslizamentos de terra – o 12\u00ba \u00f3bito ocorreu quando um carro caiu dentro de um c\u00f3rrego em Santo Andr\u00e9.<\/p>\n

O maior n\u00famero de mortes foi em Ribeir\u00e3o Pires, munic\u00edpio de 121 mil habitantes que faz divisa com bairros da Zona Leste de S\u00e3o Paulo. Quatro pessoas perderam a vida no local, em deslizamentos de terra.<\/p>\n

Em S\u00e3o Caetano do Sul, no ABC Paulista, tr\u00eas pessoas morreram afogadas; e outras tr\u00eas morreram desta forma em Santo Andr\u00e9. Embu das Artes, S\u00e3o Bernardo do Campo e S\u00e3o Paulo tamb\u00e9m registraram uma morte por afogamento cada.<\/p>\n

As quatro mortes ocorridas em Ribeir\u00e3o Pires foram de pessoas que estavam em uma casa no bairro de Est\u00e2ncia das Rosas, que desabou. Al\u00e9m das mortes, mais duas pessoas ficaram feridas.<\/p>\n

\"Rua
No pior momento das cheias, foram 52 pontos de alagamento em toda a cidade, dizem os bombeiros<\/figcaption><\/figure>\n

O Corpo dos Bombeiros tamb\u00e9m recebeu 601 chamadas para atender a ocorr\u00eancias ao longo da madrugada de segunda-feira.<\/p>\n

Os danos n\u00e3o se resumem \u00e0s vidas perdidas.<\/p>\n

No pior momento das enchentes, a cidade registrou 52 pontos de alagamento – muitos deles com interrup\u00e7\u00e3o do tr\u00e2nsito, o que provocou a maior lentid\u00e3o do tr\u00e1fego do ano na cidade at\u00e9 agora.<\/p>\n

Al\u00e9m disso, uma f\u00e1brica de caminh\u00f5es da Mercedes-Benz em S\u00e3o Bernardo do Campo foi atingida por alagamentos e interrompeu a produ\u00e7\u00e3o nesta segunda-feira. Em nota, a empresa disse que est\u00e1 “trabalhando para realizar os procedimentos de limpeza e manuten\u00e7\u00f5es necess\u00e1rias para que a f\u00e1brica volte a operar o mais r\u00e1pido poss\u00edvel”.<\/p>\n

‘A \u00e1gua n\u00e3o est\u00e1 aparecendo em nenhum lugar ex\u00f3tico’<\/h2>\n

\"Rua<\/p>\n

Lameira diz que um dos motivos da persist\u00eancia do problema \u00e9 a falta de acesso \u00e0 moradia e ao espa\u00e7o urbano. “H\u00e1 uma lei (estadual) do ano de 1970, a lei de mananciais, que pro\u00edbe a ocupa\u00e7\u00e3o de \u00e1reas alagadi\u00e7as. \u00c9 uma lei boa, rigorosa, e n\u00e3o obstante h\u00e1 dois milh\u00f5es de pessoas morando nestas \u00e1reas na regi\u00e3o metropolitana de S\u00e3o Paulo”, diz ele.<\/p>\n

“N\u00e3o h\u00e1 que se falar em ‘falta de planejamento’, nesse caso”, diz ele. Ou seja: h\u00e1 regras para o uso do solo em S\u00e3o Paulo, mas elas n\u00e3o s\u00e3o seguidas porque os moradores simplesmente n\u00e3o t\u00eam alternativas, diz o professor.<\/p>\n

“A \u00e1gua n\u00e3o est\u00e1 aparecendo em nenhum lugar ex\u00f3tico. A gente \u00e9 que ocupou o lugar onde a \u00e1gua sempre esteve”, diz o professor. “Cem anos atr\u00e1s, a t\u00e9cnica que foi usada para ocupar estes lugares funcionava bem. Mas o pr\u00f3prio crescimento da metr\u00f3pole tornou essa forma de lidar com a \u00e1gua obsoleta”, diz ele.<\/p>\n

\"Homem<\/p>\n

Mas quais s\u00e3o as t\u00e9cnicas? Lameiras d\u00e1 o exemplo dos “piscin\u00f5es”, que s\u00e3o grandes tanques de conten\u00e7\u00e3o de \u00e1gua feitos para reter o excesso de volume dos rios. Quando o rio enche, uma parte do excedente de \u00e1gua acaba nestes reservat\u00f3rios, ao inv\u00e9s de alagar as ruas ao redor. S\u00f3 na cidade de S\u00e3o Paulo s\u00e3o 22 deles – h\u00e1 outros nos munic\u00edpios do ABC Paulista.<\/p>\n

No caso do ABC Paulista, os piscin\u00f5es constru\u00eddos nos anos 1990 deveriam ter sido acompanhados por um conjunto de grandes dutos subterr\u00e2neos que escoariam o excesso de \u00e1gua para fora da cidade, num processo conhecido como “revers\u00e3o do curso” dos rios, diz Lameira – mas, na \u00e9poca, optou-se por n\u00e3o fazer estes dutos. Agora, diz o professor, dificilmente haveria condi\u00e7\u00f5es para constru\u00ed-los.<\/p>\n

Em 17 de fevereiro, quatro crian\u00e7as morreram em dois desabamentos em Mau\u00e1, na regi\u00e3o do ABC, ap\u00f3s um temporal. As v\u00edtimas, de 1, 4, 7 e 8 anos, foram todas soterradas.<\/p>\n

Outras capitais e grandes centros urbanos do pa\u00eds tamb\u00e9m sofrem com a quest\u00e3o. No in\u00edcio de fevereiro, uma tempestade que atingiu o Rio de Janeiro deixou ao menos seis mortos na Rocinha (Zona Sul), no Vidigal (Zona Sul) e em Barra de Guaratiba (Zona Oeste).<\/p>\n

Mais de um m\u00eas de alagamento<\/h2>\n

Pelo menos sete ruas dos bairros localizados em S\u00e3o Miguel Paulista, distrito da zona leste de S\u00e3o Paulo, est\u00e3o embaixo d’\u00e1gua h\u00e1 mais de um m\u00eas. O mau cheiro causado pelo excesso de lixo e animais mortos embrulha o est\u00f4mago at\u00e9 mesmo dentro das casas. Quem vive no local n\u00e3o consegue sair de casa sem afundar o p\u00e9 na \u00e1gua suja do rio Tiet\u00ea.<\/p>\n

Nesta semana, a reportagem da BBC News Brasil\u00a0visitou o local\u00a0e conversou com dezenas de moradores, que relataram ter contra\u00eddo v\u00e1rias doen\u00e7as diferentes – como leptospirose, dengue e hepatite – por conta da \u00e1gua represada no bairro em per\u00edodos chuvosos h\u00e1 pelo menos dez anos. Entre os sintomas manifestados, est\u00e3o infec\u00e7\u00f5es, febre, diarreia e v\u00f4mito.<\/p>\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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