{"id":150993,"date":"2019-03-19T01:00:41","date_gmt":"2019-03-19T04:00:41","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=150993"},"modified":"2019-03-18T21:27:52","modified_gmt":"2019-03-19T00:27:52","slug":"por-que-o-brasil-deveria-se-importar-com-a-morte-de-abelhas","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/03\/19\/150993-por-que-o-brasil-deveria-se-importar-com-a-morte-de-abelhas.html","title":{"rendered":"Por que o Brasil deveria se importar com a morte de abelhas"},"content":{"rendered":"
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A morte de abelhas n\u00e3o \u00e9 um fen\u00f4meno recente: \u00e9\u00a0observada por pesquisadores ao menos desde a d\u00e9cada passada.\u00a0No entanto, nos \u00faltimos meses, a mortandade alcan\u00e7ou n\u00fameros alarmantes no Brasil.<\/p>\n
“A morte de abelhas n\u00e3o \u00e9 s\u00f3 um risco para o Brasil, mas para o mundo todo. Quando se pensa em abelhas, se pensa em mel. O principal produto\u00a0delas, por\u00e9m, \u00e9 a poliniza\u00e7\u00e3o”, afirma F\u00e1bia Pereira, pesquisadora da\u00a0Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecu\u00e1ria (Embrapa)\u00a0na \u00e1rea de Apicultura.<\/p>\n
Apenas nos \u00faltimos tr\u00eas meses, 500 milh\u00f5es de abelhas foram encontradas\u00a0mortas por apicultores no pa\u00eds, segundo um\u00a0levantamento\u00a0feito pela ONG Rep\u00f3rter Brasil em parceria com a Ag\u00eancia P\u00fablica. A grande maioria dos casos foi registrada\u00a0no Rio Grande Sul, seguido por Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e S\u00e3o Paulo.<\/p>\n
Al\u00e9m da morte em massa de colmeias em api\u00e1rios, cinco esp\u00e9cies nativas de abelhas est\u00e3o amea\u00e7adas de extin\u00e7\u00e3o \u2013 tr\u00eas delas habitam a Mata Atl\u00e2ntica, uma o Cerrado e outra o pampa ga\u00facho. N\u00e3o h\u00e1 dados, por\u00e9m, sobre a mortandade em comunidades selvagens.<\/p>\n
As abelhas s\u00e3o respons\u00e1veis pela poliniza\u00e7\u00e3o de cerca de 70% das plantas cultivadas para alimenta\u00e7\u00e3o, principalmente frutas e verduras. Sua morte coloca em risco a agricultura e, consequentemente, a pr\u00f3pria\u00a0seguran\u00e7a alimentar. Sem elas, o ser humano enfrentaria uma mudan\u00e7a dr\u00e1stica na sua dieta, que ficaria restrita apenas a culturas autopoliniz\u00e1veis, como feij\u00e3o, arroz, soja, milho, batata e esp\u00e9cies de cereais.<\/p>\n
Al\u00e9m da agricultura, as abelhas s\u00e3o ainda agentes fundamentais para a poliniza\u00e7\u00e3o de florestas nativas. Seu desaparecimento poderia desencadear a morte de ecossistemas inteiros. “Se o homem parasse de fazer qualquer outra interven\u00e7\u00e3o ambiental, e as abelhas apenas sumissem, haveria um desaparecimento da mata correspondente a entre 30% e 90% do que temos hoje, provocando um processo de extin\u00e7\u00e3o em cadeia at\u00e9 chegar em n\u00f3s que estamos no topo”, ressalta Pereira.<\/p>\n
Essa mortandade tem ainda potencial para impactar a economia brasileira. O pa\u00eds \u00e9 o oitavo produtor mundial de mel e, em 2017, as exporta\u00e7\u00f5es totalizaram 121 milh\u00f5es de d\u00f3lares. A diminui\u00e7\u00e3o na produ\u00e7\u00e3o diante da redu\u00e7\u00e3o do n\u00famero de colmeias resultaria numa queda nas vendas. Al\u00e9m disso, em caso de mortes causadas por agrot\u00f3xicos, res\u00edduos destas subst\u00e2ncias possivelmente poderiam ser encontrados no mel, o que levaria compradores estrangeiros a rejeitarem o produto brasileiro.<\/p>\n
“A exporta\u00e7\u00e3o para a Europa \u00e9 muito exigente, e qualquer res\u00edduo \u00e9 detectado. O mel que foi produzido nos \u00faltimos meses est\u00e1 contaminado. No exterior, ningu\u00e9m vai quer\u00ea-lo, e n\u00e3o h\u00e1 um mercado interno suficiente para a quantidade produzida. Isso vai desestimular a apicultura”, afirma o engenheiro agr\u00f4nomo Aroni Sattler, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).<\/p>\n
N\u00fameros alarmantes<\/strong><\/p>\n A morte de abelhas come\u00e7ou a chamar a aten\u00e7\u00e3o mundial a partir da identifica\u00e7\u00e3o do Dist\u00farbio do Colapso das Col\u00f4nias (CCD), em 2006 nos Estados Unidos, quando um forte surto dizimou milhares de colmeias. Na Europa, fen\u00f4menos semelhantes est\u00e3o sendo observados desde o fim da d\u00e9cada de 1990. Pesquisadores descobriram que, al\u00e9m das doen\u00e7as e da redu\u00e7\u00e3o do habitat das esp\u00e9cies, os agrot\u00f3xicos s\u00e3o um dos fatores que desencadeia essa mortandade.<\/p>\n Al\u00e9m da toxicidade elevada\u00a0de alguns defensivos agr\u00edcolas, contribui para esse cen\u00e1rio o uso incorreto destas subst\u00e2ncias. Elas s\u00e3o aplicadas durante o dia, quando as abelhas est\u00e3o fora das colmeias, sem seguir par\u00e2metros de seguran\u00e7a e sem comunicar apicultores para que possam deixar as caixas fechadas.<\/p>\n No atual caso brasileiro, pesticidas \u00e0 base de neonicotinoides e de fipronil foram os principais agentes causadores das mortes. “O hist\u00f3rico da mortandades agudas que temos constatado deixa muito clara\u00a0a sua rela\u00e7\u00e3o com o uso de agrot\u00f3xicos”, ressalta Sattler, especialista em apicultura.<\/p>\n No Rio Grande do Sul, onde mais de 400 milh\u00f5es de abelhas morreram s\u00f3 no primeiro trimestre, 80% das mortes foram causadas pelo fipronil, inseticida usado amplamente em lavouras de monoculturas, mas tamb\u00e9m em pequenas propriedades rurais. A subst\u00e2ncia \u00e9 ainda muito popular no exterm\u00ednio de formigas e em rem\u00e9dios veterin\u00e1rios para controle de insetos, como pulgas. Em Santa Catarina, resqu\u00edcios do pesticida foram detectados em colmeias mortas entre o fim do ano passado e in\u00edcio deste.<\/p>\n “Precisamos come\u00e7ar a questionar o modelo agr\u00edcola atual. Os efeitos da expans\u00e3o do monocultivo baseado\u00a0em agrot\u00f3xicos est\u00e3o comprovados. Os Estados Unidos tinham 6 milh\u00f5es de colmeias na d\u00e9cada de 1940, e hoje est\u00e3o com cerca de 2,5 milh\u00f5es”, destaca Sattler.<\/p>\n Press\u00e3o popular<\/strong><\/p>\n Na Europa, a morte abelhas \u00e9 h\u00e1 alguns anos um tema presente na m\u00eddia e na pol\u00edtica. Em 2017,\u00a0um estudo chamou aten\u00e7\u00e3o da opini\u00e3o p\u00fablica alem\u00e3 ao revelar que as popula\u00e7\u00f5es de insetos voadores haviam recuado 75% ao longo de 25 anos no pa\u00eds. A pesquisa desencadeou um debate sobre a quest\u00e3o.<\/p>\n Atualmente na Alemanha\u00a0a iniciativa popular “Salvem as abelhas” quer for\u00e7ar o governo da Baviera a buscar solu\u00e7\u00f5es para a diminui\u00e7\u00e3o da biodiversidade. A proposta prev\u00ea o incentivo \u00e0 agricultura org\u00e2nica, prote\u00e7\u00e3o de matas ciliares, a amplia\u00e7\u00e3o da liga\u00e7\u00e3o de habitats naturais e o banimento de agrot\u00f3xicos.<\/p>\n A press\u00e3o popular e de ativistas ambientais foi fundamental para a Uni\u00e3o Europeia (UE) aprovar no ano passado a proibi\u00e7\u00e3o de tr\u00eas subst\u00e2ncias neonicotinoides\u00a0\u2013 clotianidina, imidacloprida e tiametoxam,\u00a0que danificam o\u00a0sistema nervoso central\u00a0de insetos, como\u00a0as abelhas. J\u00e1 a Fran\u00e7a foi mais al\u00e9m e baniu cinco inseticidas desta categoria de derivados da nicotina.<\/p>\n J\u00e1 o fipronil teve seu uso restrito na Europa. Proibida\u00a0completamente na Fran\u00e7a desde 2004 e, posteriormente, em v\u00e1rios pa\u00edses europeus, a aplica\u00e7\u00e3o do pesticida na Uni\u00e3o Europeia foi limitada em 2013 a cultivos em estufas e de alho-por\u00f3, cebola, cebolinha e couve. A subst\u00e2ncia tamb\u00e9m \u00e9 banida da ind\u00fastria aliment\u00edcia do bloco, podendo ser usada apenas para combater pulgas, piolhos e carrapatos de animais dom\u00e9sticos.<\/p>\n A Europa patina, por\u00e9m, ainda no banimento do\u00a0glifosato, outro defensivo agr\u00edcola que, segundo uma pesquisa divulgada no ano passado, \u00e9 prejudicial \u00e0s abelhas.<\/p>\n Enquanto pa\u00edses europeus est\u00e3o reavaliando e restringindo o uso de agrot\u00f3xicos, o Brasil nos \u00faltimos meses tem incentivado a libera\u00e7\u00e3o de defensivos agr\u00edcolas. Em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s abelhas, o tema continua\u00a0negligenciado, ainda mais diante do impacto que a extin\u00e7\u00e3o destas esp\u00e9cies pode ter.<\/p>\n “Apesar de todos os esfor\u00e7os, ainda n\u00e3o conseguimos sensibilizar suficientemente o p\u00fablico em geral e o pr\u00f3prio governo sobre a import\u00e2ncia de trabalharmos na prote\u00e7\u00e3o das abelhas. J\u00e1 foram realizados eventos sobre o assunto, reuni\u00f5es explicando a import\u00e2ncia das abelhas e com sugest\u00f5es de pol\u00edticas p\u00fablicas, mas ainda precisamos avan\u00e7ar nas a\u00e7\u00f5es efetivas”, ressalta Pereira.<\/p>\n Satller tem opini\u00e3o semelhante. “A situa\u00e7\u00e3o \u00e9 bastante grave, mas ainda d\u00e1 para reverter”, afirma o pesquisador, que defende o questionamento do atual modelo do agroneg\u00f3cio no pa\u00eds e a restri\u00e7\u00e3o do uso indiscriminado de agrot\u00f3xicos.<\/p>\n Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Pa\u00eds enfrenta mortandade de colmeias em v\u00e1rios estados. Diminui\u00e7\u00e3o das esp\u00e9cies tem impactos na agricultura, meio ambiente e economia. Mas tema ainda \u00e9 negligenciado.<\/p>\n