{"id":151183,"date":"2019-03-29T12:00:43","date_gmt":"2019-03-29T15:00:43","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=151183"},"modified":"2019-03-28T22:20:57","modified_gmt":"2019-03-29T01:20:57","slug":"mudanca-climatica-pode-piorar-a-qualidade-das-pastagens","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/03\/29\/151183-mudanca-climatica-pode-piorar-a-qualidade-das-pastagens.html","title":{"rendered":"Mudan\u00e7a clim\u00e1tica pode piorar a qualidade das pastagens"},"content":{"rendered":"

\"\"<\/a><\/p>\n

O aumento das temperaturas m\u00e9dias esperado para as pr\u00f3ximas d\u00e9cadas, de no m\u00ednimo 2 \u00baC, pode ter um impacto inesperado no bolso dos pecuaristas. Novos estudos sugerem que um dos efeitos da mudan\u00e7a no clima ser\u00e1 a redu\u00e7\u00e3o na qualidade da pastagem, que se tornar\u00e1 menos proteica, mais fibrosa e, portanto, de digest\u00e3o mais demorada.<\/p>\n

Como consequ\u00eancia, disseram os pesquisadores, o gado precisar\u00e1 consumir mais alimento para alcan\u00e7ar o peso de abate e passar\u00e1 a produzir mais metano, um potente g\u00e1s causador do efeito estufa.<\/p>\n

As conclus\u00f5es t\u00eam como base experimentos feitos pela equipe de\u00a0Carlos Alberto Martinez y Huaman, professor do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ci\u00eancias e Letras de Ribeir\u00e3o Preto (FFCLRP), da Universidade de S\u00e3o Paulo (USP). Participaram do estudo pesquisadores do Instituto de Bot\u00e2nica de S\u00e3o Paulo, da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Jaboticabal e do Instituto Federal Goiano, campus Rio Verde.<\/p>\n

“Buscamos entender como as pastagens forrageiras responder\u00e3o fisiol\u00f3gica e produtivamente \u00e0s condi\u00e7\u00f5es futuras do clima, que envolvem aumento na temperatura m\u00e9dia e na concentra\u00e7\u00e3o de di\u00f3xido de carbono (CO2), al\u00e9m de redu\u00e7\u00e3o da disponibilidade de \u00e1gua\u201d, disse Martinez \u00e0\u00a0Ag\u00eancia FAPESP.<\/p>\n

As principais esp\u00e9cies vegetais cultivadas s\u00e3o classificadas em C3 e C4, nomenclatura relacionada \u00e0 via usada pela planta para fixar carbono na fotoss\u00edntese. Soja e feij\u00e3o, por exemplo, usam a via C3. Gram\u00edneas tropicais, como cana-de-a\u00e7\u00facar, milho e forrageiras, desenvolveram um sistema complementar \u00e0 C3 chamado de via C4.<\/p>\n

Na tentativa de determinar com precis\u00e3o as mudan\u00e7as fisiol\u00f3gicas que as forrageiras dever\u00e3o sofrer no futuro, Martinez evitou realizar experimentos em estufas \u2013 locais considerados limitados para fazer as simula\u00e7\u00f5es necess\u00e1rias.<\/p>\n

Como explicou o pesquisador, as plantas em estufas s\u00e3o cultivadas em vasos e, desse modo, t\u00eam o crescimento das ra\u00edzes limitado. Consequentemente, crescem menos do que em campo aberto. Outras vari\u00e1veis imposs\u00edveis de serem reproduzidas na estufa s\u00e3o a intensidade e a varia\u00e7\u00e3o da luminosidade e da temperatura, causadas pela a\u00e7\u00e3o do vento sobre as folhas, al\u00e9m da profundidade do solo, no qual as ra\u00edzes podem penetrar \u00e0 procura de \u00e1gua.<\/p>\n

\u201cPara alguns experimentos, o modelo de vasos \u00e9 v\u00e1lido, mas para simula\u00e7\u00f5es de clima futuro tamb\u00e9m s\u00e3o necess\u00e1rios experimentos de campo. Conseguimos aquecer as plantas ao ar livre com aquecedores infravermelhos. Al\u00e9m disso, enriquecemos o ar com CO2 em ambiente aberto, gra\u00e7as a uma infraestrutura denominada Trop-T-FACE, instalada em campo com\u00a0apoio\u00a0do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudan\u00e7as Clim\u00e1ticas Globais\u201d, disse Martinez.<\/p>\n

Os experimentos foram realizados em campo aberto, onde as plantas est\u00e3o submetidas a condi\u00e7\u00f5es normais de temperatura, luminosidade, vento e umidade e o solo \u00e9 profundo, podendo as ra\u00edzes se estender em busca de \u00e1gua.<\/p>\n

A esp\u00e9cie empregada foi o capim-momba\u00e7a (Panicum maximum<\/i>), uma forrageira tropical de origem africana que realiza fotoss\u00edntese pela via C4. Amplamente usado no Brasil como pasto, por sua alta qualidade nutricional, o capim-momba\u00e7a \u00e9 comum em S\u00e3o Paulo e em outros estados.<\/p>\n

“Colocamos aquecedores infravermelhos em 16 canteiros, aquecendo as plantas 2 \u00baC acima da temperatura ambiente. Os equipamentos s\u00e3o capazes de detectar a temperatura ambiente a cada 15 segundos, ajustando os valores de acordo com a necessidade”, disse\u00a0Eduardo Habermann, bolsista da FAPESP e primeiro autor dos trabalhos publicados nas revistas\u00a0Physiologia Plantarum<\/i>\u00a0e\u00a0PLOS ONE<\/i>.<\/p>\n

\u201cO experimento foi realizado em novembro de 2016, per\u00edodo de grande calor. A temperatura ambiente estava em 38 \u00baC e, nos canteiros, chegou a 40 \u00baC\u201d, disse Habermann.<\/p>\n

Ao longo do experimento, os pesquisadores aferiram as condi\u00e7\u00f5es de trocas gasosas das plantas com a atmosfera, as condi\u00e7\u00f5es da fotoss\u00edntese, a fluoresc\u00eancia da clorofila, a produ\u00e7\u00e3o de folhagem (biomassa) e a qualidade nutricional do pasto.<\/p>\n

“Vimos que, em condi\u00e7\u00f5es de seca, as plantas tentam economizar a \u00e1gua do solo. O controle \u00e9 feito pelos est\u00f4matos, pequenas estruturas presentes nas folhas, que se abrem para absorver o CO2. Mas, ao faz\u00ea-lo, perdem \u00e1gua. Com pouca \u00e1gua no solo, a raiz se ressente. A planta fecha os est\u00f4matos e transpira menos. O efeito da economia de \u00e1gua \u00e9 a redu\u00e7\u00e3o da fotoss\u00edntese, com a consequente piora na qualidade da planta”, disse Habermann.<\/p>\n

Al\u00e9m do apoio da FAPESP, o trabalho tamb\u00e9m contou com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient\u00edfico e Tecnol\u00f3gico (CNPq) e da Ag\u00eancia Nacional de \u00c1guas (ANA).<\/p>\n

Folhas mais fibrosas<\/p>\n

Outras respostas do capim-momba\u00e7a ao estresse h\u00eddrico, detectadas pelo estudo, foram o aumento na quantidade de fibras das folhas e a redu\u00e7\u00e3o no teor de prote\u00edna bruta \u2013 fatores que representam perda de qualidade nutricional.<\/p>\n

Os pesquisadores estimam que, nas condi\u00e7\u00f5es futuras de temperatura, o aumento na quantidade de fibras resultar\u00e1 em uma digest\u00e3o mais dif\u00edcil e demorada para o gado. A consequ\u00eancia direta ser\u00e1 a produ\u00e7\u00e3o de maior quantidade de metano pelos animais.<\/p>\n

“O gado precisar\u00e1 consumir mais pasto at\u00e9 atingir o peso de abate. Para manter o mesmo n\u00edvel de produ\u00e7\u00e3o, os pecuaristas precisar\u00e3o complementar a alimenta\u00e7\u00e3o do plantel e regar as pastagens, com impacto significativo nos custos de produ\u00e7\u00e3o\u201d, disse Martinez.<\/p>\n

Outra alternativa, nem sempre poss\u00edvel, \u00e9 a expans\u00e3o das \u00e1reas de pastagem, o que pode favorecer o desmatamento ou fazer com que o produtor abra m\u00e3o de outros cultivos.<\/p>\n

A equipe tamb\u00e9m realizou experimentos com plantas C3, como a leguminosa estilosantes campo grande (uma mistura das esp\u00e9cies\u00a0Stylosanthes capitata<\/i>\u00a0e\u00a0Stylosanthes macrocephala<\/i>), forrageira rica em prote\u00edna e que executa a fun\u00e7\u00e3o de capturar o nitrog\u00eanio da atmosfera e fix\u00e1-lo biologicamente no solo, reduzindo os investimentos em insumos agr\u00edcolas, contribuindo para a redu\u00e7\u00e3o dos impactos ambientais e possibilitando maior ganho de peso aos animais.<\/p>\n

\u201cOs experimentos de mudan\u00e7as clim\u00e1ticas realizados com a leguminosa C3 deram o mesmo resultado. A qualidade nutricional \u00e9 reduzida\u201d, disse Martinez.<\/p>\n

O artigo\u00a0Increasing atmospheric CO2 and canopy temperature induces anatomical and physiological changes in leaves of the C4 forage species Panicum maximum<\/i>\u00a0(https:\/\/doi.org\/10.1371\/journal.pone.0212506), de Eduardo Habermann, Juca Abramo Barrera San Martin, Daniele Ribeiro Contin, Vitor Potenza Bossan, Anelize Barboza, Marcia Regina Braga, Milton Groppo e Carlos Alberto Martinez, est\u00e1 publicado em:\u00a0https:\/\/journals.plos.org\/plosone\/article?id=10.1371\/journal.pone.0212506<\/a><\/b>.<\/p>\n

O artigo\u00a0Warming and water deficit impact leaf photosynthesis and decrease forage quality and digestibility of a C4 tropical grass<\/i>(https:\/\/doi.org\/10.1111\/ppl.12891), de Eduardo Habermann, Eduardo Augusto Dias de Oliveira, Daniele Ribeiro Contin, Gustavo Delvecchio, Dilier Olivera Viciedo, Marcela Aparecida de Moraes, Renato de Mello Prado, K\u00e1tia Aparecida de Pinho Costa, Marcia Regina Braga e Carlos Alberto Martinez, est\u00e1 publicado em:\u00a0https:\/\/onlinelibrary.wiley.com\/doi\/10.1111\/ppl.12891<\/b><\/a>.<\/p>\n

Fonte: FAPESP<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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