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A Bayer foi condenada nesta quarta-feira (27\/03) por um j\u00fari nos Estados Unidos a pagar mais de 80 milh\u00f5es de d\u00f3lares em danos a um morador do estado da Calif\u00f3rnia que alega que o herbicida Roundup, produzido pela Monsanto, contribuiu para que ele desenvolvesse c\u00e2ncer.<\/p>\n
O caso pode influenciar milhares de outros processos\u00a0contra a companhia nos EUA. Adquirida pela Bayer no ano passado por 63 bilh\u00f5es de d\u00f3lares, a Monsanto enfrenta 11.200 casos similares na Justi\u00e7a americana envolvendo o Roundup.<\/p>\n
O j\u00fari ordenou que a Bayer pague a Edwin Hardeman, de 70 anos, uma quantia de 5 milh\u00f5es de d\u00f3lares em compensa\u00e7\u00f5es, 75 milh\u00f5es de d\u00f3lares como puni\u00e7\u00e3o e 200 mil d\u00f3lares por despesas m\u00e9dicas depois de concluir que o Roundup foi fabricado defeituosamente, que a Monsanto n\u00e3o fez advert\u00eancias sobre o risco apresentado pelo herbicida e que a companhia agiu de forma negligente.<\/p>\n
Ao longo de anos, Hardeman usou produtos da marca\u00a0 para tratar carvalhos envenenados, ervas e outras plantas em sua propriedade em S\u00e3o Francisco. Segundo ele, o uso do produto levou ao desenvolvimento de um linfoma n\u00e3o-Hodgkin,\u00a0um tipo de c\u00e2ncer\u00a0que afeta as c\u00e9lulas do sistema imunol\u00f3gico.<\/p>\n
O principal ingrediente da marca\u00a0\u00e9 o herbicida glifosato, amplamente utilizado ao redor do mundo, apesar de ter sido classificado pela Organiza\u00e7\u00e3o Mundial da Sa\u00fade (OMS) como “provavelmente cancer\u00edgeno”\u00a0em 2015.<\/p>\n
Em uma primeira fase do julgamento, o mesmo j\u00fari havia conclu\u00eddo que o Roundup foi um “fator substancial”\u00a0entre as causas do c\u00e2ncer de Hardeman. Na segunda fase, realizada nesta quarta, as advogadas de Hardeman apresentaram documentos internos que, segundo elas, provam o esfor\u00e7o da empresa para influenciar cientistas e \u00f3rg\u00e3os reguladores sobre a suposta seguran\u00e7a do produto.<\/p>\n
Aimee Wagstaff e Jennifer Moore, advogadas de Hardeman, comemoraram o veredito. Para elas, a decis\u00e3o \u00e9 hist\u00f3rica e envia uma mensagem clara de que a Monsanto precisa mudar suas pr\u00e1ticas comerciais.<\/p>\n
“Ficou claro pelas a\u00e7\u00f5es da Monsanto que a empresa n\u00e3o se importa se o Roundup causa c\u00e2ncer, e,\u00a0em vez disso,\u00a0se foca em manipular a opini\u00e3o p\u00fablica e descreditar quem quer que demonstre preocupa\u00e7\u00f5es genu\u00ednas e leg\u00edtimas sobre o Roundup”, afirmaram.\u00a0“O fato de que nenhum funcion\u00e1rio da Monsanto tenha vindo ao julgamento defender a seguran\u00e7a do Roundup ou as a\u00e7\u00f5es da empresa diz muito a respeito\u201d.<\/p>\n
Hardeman disse a jornalistas estar comovido com o desfecho do caso. “Ainda n\u00e3o caiu a ficha”, disse.<\/p>\n
A Bayer afirmou que, embora simpatize com a situa\u00e7\u00e3o de Hardeman, vai recorrer.<\/p>\n
“Estamos desapontados com a decis\u00e3o do j\u00fari, mas esse veredito n\u00e3o tira o peso de mais de quatro d\u00e9cadas de pesquisa extensiva e as conclus\u00f5es de \u00f3rg\u00e3os reguladores ao redor do mundo que apoiam a seguran\u00e7a de herbicidas baseados em glifosato e que eles n\u00e3o s\u00e3o cancer\u00edgenos”, disse a empresa em comunicado.<\/p>\n
“O veredito nesse julgamento n\u00e3o tem impacto em casos\u00a0e julgamentos futuros, pois cada um \u00e9 moldado por suas pr\u00f3prias circunst\u00e2ncias factuais e jur\u00eddicas”, acrescentou a Bayer.<\/p>\n
Apesar de a OMS ter classificado o glifosato como provavelmente cancer\u00edgeno, ag\u00eancias reguladoras como a Autoridade Europeia para a Seguran\u00e7a dos Alimentos (EFSA, na sigla em ingl\u00eas), a Ag\u00eancia Europeia dos Produtos Qu\u00edmicos (ECHA) e a Ag\u00eancia de Prote\u00e7\u00e3o Ambiental dos EUA (EPA) n\u00e3o seguiram a decis\u00e3o.<\/p>\n
A Bayer nega que o herbicida cause c\u00e2ncer e questiona as conclus\u00f5es da OMS.<\/p>\n
No ano passado, a Monsanto tamb\u00e9m perdeu um caso contra um funcion\u00e1rio de uma escola da Calif\u00f3rnia que sofria de linfoma n\u00e3o-Hodgkin e processou a empresa por conta dos herbicidas Roundup e Ranger Pro, ambos baseados em glifosato. A Monsanto recebeu ordem de pagar 289 milh\u00f5es\u00a0de d\u00f3lares a Dewayne Johnson, mas a penalidade foi reduzida para 78,5 milh\u00f5es. A Bayer tamb\u00e9m entrou com recurso.<\/p>\n
No continente europeu, o glifosato tamb\u00e9m suscita pol\u00eamica. Depois de dois anos de debate acirrado, a\u00a0Uni\u00e3o Europeia decidiu\u00a0em 2017 renovar a permiss\u00e3o de uso do glifosato por mais cinco anos, citando a aprova\u00e7\u00e3o do composto pela EFSA. Mas a independ\u00eancia de um\u00a0relat\u00f3rio da EFSA foi questionada ap\u00f3s not\u00edcias na m\u00eddia sugerirem que trechos haviam sido copiados e colados de an\u00e1lises feitas pela pr\u00f3pria Monsanto.<\/p>\n
No Brasil, o glifosato \u00e9\u00a0amplamente empregado pelo agroneg\u00f3cio, principalmente nos plantios de soja e milho transg\u00eanicos. A Ag\u00eancia Nacional de Vigil\u00e2ncia Sanit\u00e1ria (Anvisa) afirma que a subst\u00e2ncia n\u00e3o causa c\u00e2ncer, muta\u00e7\u00f5es, e n\u00e3o \u00e9 t\u00f3xica para reprodu\u00e7\u00e3o ou provoca\u00a0malforma\u00e7\u00e3o no feto.<\/p>\n
Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
J\u00fari nos EUA decide que empresa dever\u00e1 indenizar v\u00edtima por n\u00e3o alertar sobre o risco apresentado pelo herbicida Roundup, amplamente utilizado ao redor do mundo mas, segundo a OMS, potencialmente cancer\u00edgeno.<\/p>\n