{"id":151381,"date":"2019-04-09T01:02:31","date_gmt":"2019-04-09T04:02:31","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=151381"},"modified":"2019-04-08T22:45:32","modified_gmt":"2019-04-09T01:45:32","slug":"em-alerta-devido-a-barragem-cidade-convive-com-panico","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/04\/09\/151381-em-alerta-devido-a-barragem-cidade-convive-com-panico.html","title":{"rendered":"Em alerta devido a barragem, cidade convive com p\u00e2nico"},"content":{"rendered":"
\"Sinaliza\u00c3\u00a7\u00c3\u00a3o
Alerta permanente em Bar\u00e3o de Cocais<\/figcaption><\/figure>\n

Em Bar\u00e3o de Cocais, as sirenes de ambul\u00e2ncias e viaturas da pol\u00edcia est\u00e3o proibidas. A recomenda\u00e7\u00e3o \u00e9 que esses ve\u00edculos, mesmo em situa\u00e7\u00e3o de emerg\u00eancia, fa\u00e7am o percurso em sil\u00eancio para n\u00e3o ativar o p\u00e2nico nos moradores.<\/p>\n

Desde que a cidade mineira de 32 mil habitantes entrou em n\u00edvel m\u00e1ximo de alerta devido ao\u00a0risco iminente de colapso\u00a0de uma barragem de rejeitos da Vale, qualquer ru\u00eddo mais alto faz as pessoas na rua perguntarem umas \u00e0s outras: “Ser\u00e1 que a barragem rompeu?”<\/p>\n

Ivanilde Coelho, 44 anos, n\u00e3o consegue mais dormir. A casa onde mora na parte urbana da cidade, \u00e0s margens do rio S\u00e3o Jo\u00e3o, seria destru\u00edda em caso de rompimento. Hipertensa, ela diz estar em depress\u00e3o e quer se mudar dali. “N\u00e3o tem como viver assim, nesse medo, sem dormir, sem comer direito”, diz no quintal de sua casa, onde o pequeno sal\u00e3o de beleza praticamente n\u00e3o \u00e9 mais visitado por clientes.<\/p>\n

\"Mulher
Ivanilde Coelho: “N\u00e3o tem como viver assim”<\/figcaption><\/figure>\n

O filho dela, Matusal\u00e9m, passa as noites monitorando o volume das \u00e1guas do rio em companhia de vizinhos. A vig\u00edlia informal acontece h\u00e1 dois meses, ap\u00f3s o alarme ter soado na cidade pela primeira vez, em 8 de fevereiro. Fazia poucos dias que uma avalanche de rejeitos no complexo da Vale em Brumadinho havia deixado mais de 300 mortos.<\/p>\n

Desde que foi obrigado a sair de sua casa de madrugada quando a sirene de alerta tocou, Ad\u00e3o vive em um quarto de hotel. A comunidade rural onde morava, Socorro, foi evacuada por completo.<\/p>\n

Fundada h\u00e1 300 anos, a vila est\u00e1 a menos de dois quil\u00f4metros da barragem problem\u00e1tica da Vale em Bar\u00e3o de Cocais, dentro da Zona de Autossalvamento, em que a responsabilidade do resgate \u00e9 da mineradora. Em caso de rompimento, a comunidade seria atingida em seis minutos.<\/p>\n

“Eu vivo triste. L\u00e1 em Socorro a gente plantava de tudo, tinha cria\u00e7\u00e3o, andava tranquilamente. Aqui a gente n\u00e3o tem nada para fazer, fica o dia todo esperando algo acontecer, esperando a Vale dar alguma not\u00edcia”, conta Ad\u00e3o, sentado no ch\u00e3o em frente ao hotel.<\/p>\n

Ao todo, 454 pessoas da Zona de Autossalvamento foram retiradas de suas casas. Mais de 6 mil moram atualmente na chamada Zona de Seguran\u00e7a Secund\u00e1ria, faixa na parte central da cidade que seria afetada pelos rejeitos.<\/p>\n

“A gente realmente n\u00e3o sabe. A gente n\u00e3o tem uma consultoria independente, tem que acreditar no que a Vale diz. Eu realmente acho que corremos perigo. Talvez n\u00e3o seja agora, mas as chances de rompimento s\u00e3o reais”, responde o prefeito D\u00e9cio Geraldo dos Santos sobre a seriedade da situa\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Vigil\u00e2ncia e falta de planejamento<\/strong><\/p>\n

Dentro de uma sala de uma universidade pr\u00f3xima ao centro da cidade, representantes da Vale e da Defesa Civil acompanham as imagens geradas por tr\u00eas c\u00e2meras posicionadas na barragem que apresenta risco, chamada de Sul Superior, localizada na mina do Gongo Soco.<\/p>\n

“A Defesa Civil trabalha num regime de plant\u00e3o. Aumentamos a equipe pra atender a popula\u00e7\u00e3o e tirar d\u00favidas sobre os pontos que podem ser atingidos e as rotas de fuga”, diz o coordenador Jos\u00e9 Fl\u00e1vio Rodrigues Junior.<\/p>\n

Inativa desde 2008, a Sul Superior armazena 9 milh\u00f5es de metros c\u00fabicos de rejeitos, segundo a Defesa Civil. Com seu rompimento, uma barragem menor, com 1 milh\u00e3o de metros c\u00fabicos, tamb\u00e9m seria abalada. A mineradora afirma que n\u00e3o h\u00e1 funcion\u00e1rios no local. Questionada pela DW Brasil, a Vale n\u00e3o detalhou quais equipamentos usa para monitorar a estrutura – al\u00e9m das c\u00e2meras.<\/p>\n

Com longo hist\u00f3rico de explora\u00e7\u00e3o de ouro, a retirada de min\u00e9rio de ferro no Gongo Soco come\u00e7ou no fim de 1980. Adquirida pela Vale em 2000, as atividades no local seguiram at\u00e9 2016, quando o min\u00e9rio de ferro acabou.<\/p>\n

A empresa tamb\u00e9m n\u00e3o respondeu se ser\u00e1 poss\u00edvel restaurar as estruturas no local para que a barragem volte a ser segura. Na avalia\u00e7\u00e3o de Carlos Barreira Martinez, pesquisador da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), essa opera\u00e7\u00e3o custaria muito dinheiro \u00e0 Vale.<\/p>\n

“Eles devem propor que a barragem seja desmontada ao longo do tempo, gradualmente, com retirada da \u00e1gua do rejeito e dep\u00f3sito desse material em pilhas”, avalia. O tempo de descomissionamento pode levar de tr\u00eas a cinco anos, segundo a estimativa de Martinez.<\/p>\n

Um plano de fechamento da mina ainda \u00e9 desconhecido. Quando recebeu autoriza\u00e7\u00e3o para explorar o min\u00e9rio em Bar\u00e3o de Cocais, a Vale n\u00e3o precisou apresentar qual solu\u00e7\u00e3o daria depois que as atividades acabassem, segundo pesquisa cient\u00edfica publicada em 2008 pela Ufop (Universidade Federal de Ouro Preto).<\/p>\n

\"homem
Jos\u00e9 Fl\u00e1vio Rodrigues Junior aponta os locais que seriam atingidos por um rompimento da barragem<\/figcaption><\/figure>\n

Martinez se surpreende com o que considera uma\u00a0“inabilidade enorme” da empresa. “Existe alguma coisa acontecendo l\u00e1 que fez com que eles entrassem em p\u00e2nico”, pontua.\u00a0“\u00c9 estranho que a maior mineradora do mundo n\u00e3o saiba lidar com uma situa\u00e7\u00e3o de risco”, comenta sobre o cen\u00e1rio em Bar\u00e3o de Cocais, Macacos e Ouro Preto, cidades onde outras barragens da Vale tamb\u00e9m est\u00e3o em n\u00edvel m\u00e1ximo de alerta.<\/p>\n

Medo e incerteza<\/strong><\/p>\n

Para os moradores de Bar\u00e3o de Cocais, faltam informa\u00e7\u00f5es claras sobre a situa\u00e7\u00e3o. Eles querem saber quais medidas est\u00e3o sendo tomadas e por quanto tempo viver\u00e3o em alerta permanente.<\/p>\n

“\u00c9 como um vulc\u00e3o prestes a entrar em erup\u00e7\u00e3o. As\u00a0pessoas est\u00e3o doentes: depress\u00e3o, hipertens\u00e3o, s\u00edndrome do p\u00e2nico. Mesmo as crian\u00e7as que moram longe da \u00e1rea de inunda\u00e7\u00e3o ficam preocupadas com os parentes que est\u00e3o dentro da \u00e1rea da mancha”, relata o prefeito.<\/p>\n

No centro da cidade, que seria atingido por rejeitos, o com\u00e9rcio est\u00e1 mais vazio. “As pessoas t\u00eam medo de andar por aqui”, comenta o dono de uma oficina mec\u00e2nica. O promotor de Justi\u00e7a Cl\u00e1udio Daniel Fonseca de Almeida estuda como responsabilizar a Vale pelos impactos econ\u00f4micos sentidos pelos moradores.<\/p>\n

“Vamos propor o pagamento de um valor emergencial para a popula\u00e7\u00e3o inteira nos mesmos moldes de Brumadinho”, explicou \u00e0 DW Brasil. O promotor divide o tempo entre o atendimento \u00e0 popula\u00e7\u00e3o e a organiza\u00e7\u00e3o da nova sede do Minist\u00e9rio P\u00fablico – o \u00f3rg\u00e3o, assim como todo o F\u00f3rum Municipal, teve que abandonar o pr\u00e9dio oficial pelo risco trazido pela barragem.<\/p>\n

Em frente \u00e0 igreja matriz, que abriga obras de Aleijadinho, carros de som est\u00e3o a postos dia e noite. Vir\u00e3o deles o aviso para que os moradores sigam a rota de fuga em caso de rompimento. Os motoristas contratados n\u00e3o sabem at\u00e9 quando estar\u00e3o ali, de prontid\u00e3o.<\/p>\n

“Nossa cidade agora ficou marcada por causa dessa barragem. Ningu\u00e9m mais quer vir aqui. O pior \u00e9 pra gente que fica e n\u00e3o sabe se isso tudo um dia ter\u00e1 fim”, diz um dos aposentados do grupo que frequenta diariamente o coreto em frente \u00e0 matriz.<\/p>\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Em Bar\u00e3o de Cocais, em Minas Gerais, o risco de um desastre similar ao de Brumadinho \u00e9 iminente. Moradores dizem que \u00e9 como viver ao p\u00e9 de um vulc\u00e3o prestes a entrar em erup\u00e7\u00e3o – sem que se saiba ao certo por onde fugir. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":151383,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[2403,4029,1675],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/151381"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=151381"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/151381\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":151382,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/151381\/revisions\/151382"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/151383"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=151381"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=151381"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=151381"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}