{"id":151508,"date":"2019-04-15T11:59:49","date_gmt":"2019-04-15T14:59:49","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=151508"},"modified":"2019-04-14T20:52:09","modified_gmt":"2019-04-14T23:52:09","slug":"poluicao-do-ar-afeta-o-crescimento-de-arvores-em-sao-paulo","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/04\/15\/151508-poluicao-do-ar-afeta-o-crescimento-de-arvores-em-sao-paulo.html","title":{"rendered":"Polui\u00e7\u00e3o do ar afeta o crescimento de \u00e1rvores em S\u00e3o Paulo"},"content":{"rendered":"
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Pesquisadores da USP constataram que n\u00edveis elevados de metais pesados e de part\u00edculas em suspens\u00e3o na atmosfera restringem o desenvolvimento da tipuana, uma das esp\u00e9cies mais comuns na cidade (foto: Joanbanjo \/ Wikimedia Commons)<\/figcaption><\/figure>\n

Al\u00e9m de causar graves efeitos \u00e0 sa\u00fade humana, a polui\u00e7\u00e3o do ar tamb\u00e9m afeta um dos elementos que ajudam a atenuar esse problema ambiental nas cidades: as \u00e1rvores.<\/p>\n

Usando como modelo a tipuana (Tipuana tipu<\/i>) \u2013 uma das esp\u00e9cies de \u00e1rvores mais comuns em S\u00e3o Paulo \u2013, pesquisadores da Universidade de S\u00e3o Paulo (USP) mostraram que os poluentes atmosf\u00e9ricos restringem o desenvolvimento dessas plantas, interferindo tamb\u00e9m nos servi\u00e7os ambientais por elas prestados.<\/p>\n

Entre esses servi\u00e7os est\u00e3o filtrar a polui\u00e7\u00e3o do ar ao acumular metais em suas cascas e no tronco, assimilar di\u00f3xido de carbono, reduzir o efeito de ilha de calor, ao atenuar a radia\u00e7\u00e3o solar, e mitigar o escoamento da \u00e1gua da chuva, controlando a umidade.<\/p>\n

Resultados do estudo,\u00a0apoiado pela FAPESP, foram publicados na revista\u00a0Science of the Total Environment<\/i>.<\/p>\n

\u201cObservamos que, nos anos em que as concentra\u00e7\u00f5es de material particulado na atmosfera foram maiores, por exemplo, as \u00e1rvores cresceram menos. Com isso, essas plantas v\u00e3o demorar mais para oferecer servi\u00e7os ecossist\u00eamicos importantes para redu\u00e7\u00e3o da polui\u00e7\u00e3o atmosf\u00e9rica e para mitiga\u00e7\u00e3o e adapta\u00e7\u00e3o das cidades \u00e0s mudan\u00e7as clim\u00e1ticas\u201d, disse\u00a0Giuliano Maselli Locosselli, p\u00f3s-doutorando no Instituto de Bioci\u00eancias (IB) da USP com\u00a0Bolsa da FAPESP\u00a0e primeiro autor do estudo.<\/p>\n

A fim de avaliar o impacto da polui\u00e7\u00e3o do ar e tamb\u00e9m do clima no crescimento de \u00e1rvores em S\u00e3o Paulo, os pesquisadores analisaram amostras de 41 tipuanas localizadas em diferentes dist\u00e2ncias do polo industrial de Capuava, em Mau\u00e1. Uma das \u00e1reas mais industrializadas da Regi\u00e3o Metropolitana de S\u00e3o Paulo, o bairro \u00e9 composto por \u00e1reas residenciais e comerciais e um polo industrial formado por refinarias de petr\u00f3leo e f\u00e1bricas de cimento e fertilizantes, por onde circula uma grande quantidade de caminh\u00f5es e carros.<\/p>\n

Com aux\u00edlio de um instrumento semelhante \u00e0 broca de uma furadeira, mas com o interior oco, chamado sonda Pressler, foram extra\u00eddas amostras cil\u00edndricas das cascas e dos an\u00e9is de crescimento \u2013 c\u00edrculos conc\u00eantricos na parte interna do tronco \u2013 na altura do peito das plantas, a 1,3 metro do solo.<\/p>\n

Ao analisar a composi\u00e7\u00e3o qu\u00edmica das cascas e o tamanho dos an\u00e9is de crescimento, os pesquisadores conseguiram medir a varia\u00e7\u00e3o dos n\u00edveis de polui\u00e7\u00e3o do ar por diversos elementos qu\u00edmicos a que as plantas foram expostas durante o desenvolvimento e como esse fator influenciou seu crescimento.<\/p>\n

\u201cA tipuana \u00e9 uma \u00f3tima marcadora e representa muito bem os n\u00edveis de polui\u00e7\u00e3o do ar por metais pesados e outros elementos qu\u00edmicos nas cidades\u201d, disse Locosselli.<\/p>\n

A casca da tipuana ret\u00e9m o material particulado em suspens\u00e3o no ar, que se deposita passivamente nessa parte externa do tronco da \u00e1rvore ao longo dos anos. J\u00e1 os an\u00e9is de crescimento indicam como a polui\u00e7\u00e3o se refletiu em cada ano de vida da planta. An\u00e9is muito grandes ou largos indicam anos de crescimento bom \u2013 quando os n\u00edveis de polui\u00e7\u00e3o foram menores \u2013, enquanto an\u00e9is de crescimento menores ou mais estreitos apontam anos de crescimento ruim \u2013 quando os n\u00edveis de polui\u00e7\u00e3o foram maiores.<\/p>\n

As an\u00e1lises dos an\u00e9is de crescimento das tipuanas revelaram que as \u00e1rvores com idade m\u00e9dia de 36 anos cresceram mais r\u00e1pido nas partes mais quentes de Capuava e sob maiores concentra\u00e7\u00f5es de f\u00f3sforo no ar. Em contrapartida, as \u00e1rvores mais pr\u00f3ximas \u00e0s vias de tr\u00e1fego e expostas a concentra\u00e7\u00f5es mais altas de alum\u00ednio, b\u00e1rio e zinco, geradas pelo desgaste de pe\u00e7as de autom\u00f3veis, apresentaram menor crescimento ao longo dos anos.<\/p>\n

O material particulado com tamanho de at\u00e9 10 micr\u00f4metros (PM10), emitido pelo polo industrial, tamb\u00e9m reduziu em at\u00e9 37% a taxa de crescimento do di\u00e2metro das \u00e1rvores mais pr\u00f3ximas \u00e0 \u00e1rea.<\/p>\n

\u201cConstatamos que as \u00e1rvores expostas mais diretamente \u00e0 polui\u00e7\u00e3o do polo industrial apresentaram um crescimento menor de di\u00e2metro do caule ao longo de seu desenvolvimento em compara\u00e7\u00e3o com as plantas com exposi\u00e7\u00e3o m\u00e9dia e baixa\u201d, afirmou Locosselli. \u201cSob condi\u00e7\u00f5es normais de crescimento, o di\u00e2metro de uma tipuana, na altura do peito, pode chegar a um metro\u201d, disse Locosselli.<\/p>\n

Os resultados das an\u00e1lises da composi\u00e7\u00e3o qu\u00edmica das amostras das cascas foram corroborados por dados obtidos por meio de s\u00e9ries temporais de emiss\u00f5es de material particulado na regi\u00e3o de Capuava por cerca de 20 anos, elaboradas pela Companhia Ambiental do Estado de S\u00e3o Paulo (Cetesb).<\/p>\n

A concentra\u00e7\u00e3o m\u00e9dia de PM10 foi respons\u00e1vel por 41% da variabilidade do crescimento anual das \u00e1rvores. As concentra\u00e7\u00f5es mais altas desses poluentes durante os meses mais secos \u2013 entre abril e setembro \u2013 reduziram ainda mais as taxas de crescimento das plantas, constataram os pesquisadores.<\/p>\n

\u201cO di\u00e2metro do caule das \u00e1rvores com crescimento normal aumenta muito rapidamente, j\u00e1 o das \u00e1rvores com crescimento mais lento varia muito pouco\u201d, comparou Locosselli. \u201cA magnitude de servi\u00e7os ambientais oferecidos por uma \u00e1rvore de grande porte chega a ser 70 vezes maior do que o de uma \u00e1rvore de pequeno porte.”<\/p>\n

Efeitos em \u00e1rvores<\/b><\/p>\n

De acordo com os autores do estudo, os metais pesados e o material particulado influenciam o desenvolvimento das \u00e1rvores ao mudar as propriedades \u00f3pticas da superf\u00edcie das folhas. Dessa forma, aumentam a temperatura e reduzem a disponibilidade de luz para a fotoss\u00edntese da planta. Al\u00e9m disso, podem reduzir as trocas gasosas das \u00e1rvores ao se acumular nos est\u00f4matos foliares \u2013 um conjunto de c\u00e9lulas nas folhas da planta que permitem a troca de gases com o ambiente e a transpira\u00e7\u00e3o do vegetal.<\/p>\n

\u201cPretendemos avaliar se a polui\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m afeta a longevidade dessas \u00e1rvores. Como esse fator restringe diversos sistemas fisiol\u00f3gicos, impedindo que a planta cres\u00e7a, \u00e9 prov\u00e1vel que tamb\u00e9m a torne mais vulner\u00e1vel a efeitos que levem \u00e0 senesc\u00eancia\u201d, disse\u00a0Marcos Buckeridge<\/b>, professor do IB-USP e respons\u00e1vel pelo projeto.<\/p>\n

O pesquisador considera que os efeitos da polui\u00e7\u00e3o podem se estender a outras esp\u00e9cies de \u00e1rvores da mesma fam\u00edlia da tipuana encontradas em S\u00e3o Paulo, como a sibipiruna (Caesalpinia pluviosa<\/i>) e o pau-ferro (Caesalpinia leiostachya<\/i>).<\/p>\n

\u201cMedidas para diminuir a polui\u00e7\u00e3o do ar, como o uso de biocombust\u00edveis, a eletrifica\u00e7\u00e3o dos meios de transporte e o desenvolvimento de materiais para diminuir a emiss\u00e3o de metais pesados, poderiam favorecer a manuten\u00e7\u00e3o e melhorar os servi\u00e7os ecossist\u00eamicos prestados por essas \u00e1rvores \u00e0s cidades\u201d, disse Buckeridge.<\/p>\n

O artigo\u00a0The role of air pollution and climate on the growth of urban trees<\/i>\u00a0(doi: 10.1016\/j.scitotenv.2019.02.291), de Giuliano Maselli Locosselli, Evelyn Pereira de Camargo, Tiana Carla Lopes Moreira, EnzoTodesco, Maria de F\u00e1tima Andrade, Carmen Diva Saldiva de Andr\u00e9, Paulo Afonso de Andr\u00e9, Julio M. Singer, Luciana Schwandner Ferreira, Paulo Hil\u00e1rio Nascimento Saldiva e Marcos Silveira Buckeridge, pode ser lido\u00a0em\u00a0www.sciencedirect.com\/science\/article\/pii\/S0048969719307892<\/a><\/b>.
\n<\/a><\/p>\n

Fonte: FAPESP<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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