{"id":151549,"date":"2019-04-18T01:00:28","date_gmt":"2019-04-18T04:00:28","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=151549"},"modified":"2019-04-17T21:55:51","modified_gmt":"2019-04-18T00:55:51","slug":"exportacoes-impulsionam-desmatamento-no-brasil-e-indonesia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/04\/18\/151549-exportacoes-impulsionam-desmatamento-no-brasil-e-indonesia.html","title":{"rendered":"Exporta\u00e7\u00f5es impulsionam desmatamento no Brasil e Indon\u00e9sia"},"content":{"rendered":"
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Planta\u00e7\u00e3o de palmeiras para produ\u00e7\u00e3o de \u00f3leo na Mal\u00e1sia, um dos maiores produtores mundiais<\/figcaption><\/figure>\n

A margarina que o cientista Martin Persson passa\u00a0em seus sandu\u00edches todas as manh\u00e3s n\u00e3o lhe tira o sono \u00e0 noite \u2013 mas deixa uma leve sensa\u00e7\u00e3o de culpa.<\/p>\n

Persson, pesquisador da Universidade Chalmers, na Su\u00e9cia, \u00e9 vegano, mas ele sabe que seu inocente\u00a0caf\u00e9 da manh\u00e3 ajuda a destruir\u00a0florestas a cerca de dez mil quil\u00f4metros de dist\u00e2ncia.<\/p>\n

H\u00e1 muito se sabe que o \u00f3leo de palma presente na margarina e outros alimentos cotidianos, assim como\u00a0a\u00a0carne bovina e a soja,\u00a0impulsionam o desmatamento em pa\u00edses como o Brasil e a Indon\u00e9sia.<\/p>\n

Mas agora, Persson e uma equipe internacional de pesquisadores calcularam quanto a demanda externa por commodities impulsiona essa destrui\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

O estudo, publicado na semana passada, descobriu que de 29% a 39% do di\u00f3xido de carbono liberado pelo desmatamento \u00e9 causado pelo com\u00e9rcio internacional, que\u00a0leva\u00a0agricultores a derrubar florestas para abrir\u00a0espa\u00e7o para planta\u00e7\u00f5es, pastagens e cultivos que produzam bens frequentemente consumidos no exterior.<\/p>\n

Os autores escreveram que, em muitos pa\u00edses ricos, as emiss\u00f5es “embutidas” nas importa\u00e7\u00f5es \u2013 relacionadas ao desmatamento \u2013 s\u00e3o maiores at\u00e9 do que as geradas pela agricultura local.<\/p>\n

“Os respons\u00e1veis n\u00e3o s\u00e3o somente\u00a0os consumidores dos pa\u00edses onde ocorre o desmatamento \u2013 isso tamb\u00e9m\u00a0\u00e9 causado por consumidores em outros lugares”, diz Ruth Delzeit, chefe de meio ambiente e recursos naturais do instituto de estudos econ\u00f4micos IfW, de Kiel.<\/p>\n

Isso \u00e9 importante para contabilizar as emiss\u00f5es de CO2 e decidir a quem atribu\u00ed-las. “A\u00a0ONU atribui\u00a0as emiss\u00f5es aos pa\u00edses onde elas s\u00e3o produzidas”, comenta Jonas Busch, economista-chefe do Earth Innovation Institute, que luta contra o desmatamento e pela seguran\u00e7a alimentar em pa\u00edses como\u00a0Brasil, Col\u00f4mbia e Indon\u00e9sia.<\/p>\n

Na Alemanha, por exemplo, isso significa que as emiss\u00f5es de uvas cultivadas localmente s\u00e3o computadas como alem\u00e3s \u2013 mas n\u00e3o as emiss\u00f5es da margarina feita com o \u00f3leo de palma importado da Indon\u00e9sia.<\/p>\n

\"Infografik<\/p>\n

A destrui\u00e7\u00e3o das florestas e matas da Terra, que retiram e armazenam o CO2 da atmosfera, \u00e9 um grande obst\u00e1culo na luta para conter as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas. O problema se agrava ainda mais, dizem os especialistas, atrav\u00e9s de cadeias de fornecimento e produ\u00e7\u00e3o complexas, que distanciam os consumidores dos danos decorrentes da fabrica\u00e7\u00e3o dos produtos.<\/p>\n

Para estimar as pegadas de carbono do desmatamento por pa\u00eds e mercadoria, a equipe de pesquisa na Su\u00e9cia combinou dados do fluxo de com\u00e9rcio com imagens de sat\u00e9lite de mudan\u00e7as no uso da terra entre 2010 e 2014. Eles n\u00e3o consideraram a perda florestal de atividades n\u00e3o agr\u00edcolas \u2013 como minera\u00e7\u00e3o, urbaniza\u00e7\u00e3o ou inc\u00eandios florestais naturais \u2013, que causam cerca de 40% do desmatamento.<\/p>\n

Na \u00c1frica, eles descobriram que quase todas as emiss\u00f5es relacionadas \u00e0 destrui\u00e7\u00e3o das florestas permaneceram dentro do continente. Mas, na \u00c1sia e na Am\u00e9rica Latina, quantidades consider\u00e1veis do CO2 liberado atrav\u00e9s da queima e corte de \u00e1rvores foram, na pr\u00e1tica,\u00a0exportadas para a Europa, Am\u00e9rica do Norte e Oriente M\u00e9dio.<\/p>\n

De quem \u00e9 a responsabilidade?<\/strong><\/p>\n

As diferentes formas\u00a0de contagem de emiss\u00f5es, ou no\u00a0lugar onde o CO2 \u00e9 emitido ou\u00a0onde os produtos cuja produ\u00e7\u00e3o o liberam s\u00e3o consumidos, levanta quest\u00f5es dif\u00edceis sobre de quem \u00e9 a responsabilidade.<\/p>\n

“Voc\u00ea poderia dizer que a Uni\u00e3o Europeia [UE] \u00e9 apenas uma pequena parte do problema”, afirmou Persson, referindo-se \u00e0 alta parcela de consumo que n\u00e3o deixou as regi\u00f5es tropicais, mas que foi consumida domesticamente.<\/p>\n

A maior parte das emiss\u00f5es de desmatamento teve origem apenas em quatro commodities: madeira, carne bovina, soja e \u00f3leo de palma. Na Indon\u00e9sia e no Brasil, respectivamente\u00a0o quarto e o quinto pa\u00eds mais populoso do mundo, o \u00f3leo de palma e a carne bovina t\u00eam enormes mercados dom\u00e9sticos.<\/p>\n

Mesmo assim, a\u00a0contribui\u00e7\u00e3o europeia \u00e9 significativa, ressalva\u00a0Persson. “Na UE, queremos reduzir nosso pr\u00f3prio impacto nas mudan\u00e7as clim\u00e1ticas \u2013 e essa \u00e9 uma parte importante do\u00a0impacto causado por n\u00f3s”.<\/p>\n

Em clara discord\u00e2ncia com a contagem tradicional do di\u00f3xido de carbono, os pesquisadores estimaram que cerca de um sexto do CO2 liberado por uma t\u00edpica dieta europeia pode ser ligada ao desmatamento em regi\u00f5es tropicais, por meio de produtos importados.<\/p>\n

“Foi uma surpresa para mim”, comenta Persson. “Sim, importamos muita comida, mas a maioria dos alimentos que consumimos na UE \u00e9 produzida internamente.”<\/p>\n

O Brasil exportou um recorde de 1,64 milh\u00e3o de toneladas de carne bovina em 2018, segundo dados da Associa\u00e7\u00e3o Brasileira das Ind\u00fastrias Exportadoras de Carne (Abiec), um aumento de 11% comparado com 1,48 milh\u00e3o de toneladas exportadas em 2017.<\/p>\n

A Indon\u00e9sia \u00e9 a maior produtora mundial de \u00f3leo de palma, que est\u00e1 presente cada vez mais em produtos do cotidiano, como margarina, barras de chocolate, nutella, sabonetes e shampoo.<\/p>\n

“O \u00f3leo de palma \u00e9 uma das mais importantes commodities de exporta\u00e7\u00e3o, ent\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel rastrear os efeitos do desmatamento desse com\u00e9rcio, e isso tem um grande impacto na Indon\u00e9sia”, diz o cientista\u00a0Ahmad Dermawan, do Centro Internacional de Pesquisa Florestal (Cifor). .<\/p>\n

Al\u00e9m de emitir CO2, a queima e a derrubada das florestas tamb\u00e9m podem causar deslocamento de pessoas, perda de habitat e inunda\u00e7\u00f5es. No Brasil, terras ind\u00edgenas est\u00e3o amea\u00e7adas por lavouras. Na Indon\u00e9sia e na Mal\u00e1sia, mais de 100 mil orangotangos foram mortos desde 1999, de acordo com um estudo publicado no ano passado.<\/p>\n

Consumo crescente<\/strong><\/p>\n

Os especialistas temem que o desmatamento e a destrui\u00e7\u00e3o associada a ele continuem aumentando \u00e0 medida que pa\u00edses emergentes se tornem mais ricos. A \u00cdndia j\u00e1 \u00e9 o maior importador de produtos oleaginosos indon\u00e9sios. A alta do ano passado nas exporta\u00e7\u00f5es brasileiras de carne bovina, por sua vez, foi impulsionada por um aumento de 53% na demanda chinesa entre 2017 e 2018, segundo dados da Abiec.<\/p>\n

“Podemos ver que as exporta\u00e7\u00f5es para a \u00cdndia e a China aumentar\u00e3o maci\u00e7amente no futuro [\u00e0 medida que crescerem] sua renda per capita”, informa Delzeit. “Eles se aproximam das dietas ocidentais,\u00a0o que inclui o aumento do consumo de carne.”<\/p>\n

Isso tem efeitos\u00a0para as na\u00e7\u00f5es mais ricas, que podem argumentar que sua contribui\u00e7\u00e3o para o desmatamento \u00e9 proporcionalmente pequena.<\/p>\n

“A UE e os EUA estabeleceram um padr\u00e3o global que est\u00e1 sendo absorvido cada vez mais na China, na \u00cdndia e em outros mercados emergentes”, diz David Kaimowitz, diretor de recursos naturais e mudan\u00e7as clim\u00e1ticas da Funda\u00e7\u00e3o Ford. “Se eles veem empresas ou pa\u00edses que importam muito desmatamento em seus produtos sendo criticados publicamente ou responsabilizados, isso n\u00e3o \u00e9 passado para as suas pr\u00f3prias pol\u00edticas.”<\/p>\n

Os mercados de \u00f3leo de palma, soja e carne bovina s\u00e3o dominados\u00a0por um pequeno grupo de multinacionais, algumas delas com sede na Europa e na Am\u00e9rica do Norte. “Se a UE puder pression\u00e1-las a mudar suas pr\u00e1ticas de produ\u00e7\u00e3o, isso pode ter efeitos em outros pa\u00edses”, afirma Persson.<\/p>\n

Mas uma recente decis\u00e3o da UE de classificar o \u00f3leo de palma em biocombust\u00edveis como insustent\u00e1vel, em parte devido a preocupa\u00e7\u00f5es da opini\u00e3o p\u00fablica sobre o desmatamento, provocou temores de uma guerra comercial entre o bloco europeu e os dois maiores exportadores de \u00f3leo de palma do mundo, a Indon\u00e9sia e a Mal\u00e1sia.<\/p>\n

Esses pa\u00edses acusaram a UE de protecionismo por reprovarem o \u00f3leo de palma sem abordar as preocupa\u00e7\u00f5es associadas ao cultivo de \u00f3leos vegetais menos eficientes, como a colza.<\/p>\n

O\u00a0ministro da\u00a0Coordena\u00e7\u00e3o da Economia da Indon\u00e9sia, Darmin Nasution, disse neste m\u00eas em Bruxelas ser ir\u00f4nico\u00a0que a UE, que derrubou uma parcela muito maior de suas florestas, estivesse dando conselhos de gest\u00e3o florestal a pa\u00edses ricos em \u00e1rvores. Ele tamb\u00e9m apontou a contribui\u00e7\u00e3o do \u00f3leo de palma para o al\u00edvio da pobreza.<\/p>\n

“O foco da perspectiva europeia \u00e9 o desmatamento, a mudan\u00e7a do uso da terra e assim por diante”, observa Dermawan. “Mas, da perspectiva da Indon\u00e9sia, trata-se de pequenos agricultores, desenvolvimento e meios de subsist\u00eancia. Isso tamb\u00e9m deve ser discutido e contextualizado.”<\/p>\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Estudo afirma que um ter\u00e7o do CO2 liberado pelo desmatamento est\u00e1 ligado \u00e0s exporta\u00e7\u00f5es de commodities, como carne bovina, \u00f3leo de palma e soja, e questionam atual m\u00e9todo de atribui\u00e7\u00e3o de emiss\u00f5es aos pa\u00edses. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":151550,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[54,452,372],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/151549"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=151549"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/151549\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":151551,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/151549\/revisions\/151551"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/151550"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=151549"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=151549"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=151549"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}