{"id":151727,"date":"2019-04-29T01:00:19","date_gmt":"2019-04-29T04:00:19","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=151727"},"modified":"2019-04-28T22:20:35","modified_gmt":"2019-04-29T01:20:35","slug":"a-luta-dos-guerreiros-wao-contra-as-petroleiras-na-amazonia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/04\/29\/151727-a-luta-dos-guerreiros-wao-contra-as-petroleiras-na-amazonia.html","title":{"rendered":"A luta dos guerreiros wao contra as petroleiras na Amaz\u00f4nia"},"content":{"rendered":"
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Ind\u00edgenas waorani do Equador navegam pelo rio Curaray, na prov\u00edncia de Pastaza, Equador, em 14 de abril de 2019<\/figcaption><\/figure>\n
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As lan\u00e7as e os dardos envenenados est\u00e3o \u00e0 m\u00e3o, sempre prontos contra os invasores. Mas, desta vez, o povo ind\u00edgena Waorani do Equador, que vive na floresta amaz\u00f4nica, luta para que os ju\u00edzes “kowori” (estranhos) impe\u00e7am a temida chegada das companhias petrol\u00edferas.<\/p>\n

Ca\u00e7adores por tradi\u00e7\u00e3o, os waorani (ou huaorani) veem a si pr\u00f3prios como guardi\u00e3es da floresta. Como povo guerreiro, fizeram valer suas armas ancestrais na defesa de seus c\u00f3digos de honra, mas, sobretudo, do territ\u00f3rio pouco explorado que habitam na Amaz\u00f4nia.<\/p>\n<\/div>\n

“Voc\u00ea quer que petroleiras entrem para matar a selva, acabar com territ\u00f3rio limpo, com \u00e1gua limpa?”.<\/p>\n

Com a ajuda de uma int\u00e9rprete, Debanca, uma dirigente que usa um penacho e o rosto pintado de vermelho, responde com perguntas uma equipe da AFP que chegou at\u00e9 a remota aldeia de Nemompare.<\/p>\n

L\u00e1, pelo menos 50 waos vivem em cabanas e casas de madeira na beira do rio Curaray. A maioria anda seminua em meio ao verde e \u00e0 sombra de \u00e1rvores gigantes que dominam o entorno. Outros vestem bermuda e camiseta.<\/p>\n

Seu assentamento est\u00e1 a 40 minutos de avi\u00e3o de Shell, o povoado que adotou o nome da multinacional europeia que operou na prov\u00edncia de Pastaza e \u00e9 s\u00edmbolo da penetra\u00e7\u00e3o da atividade petroleira na Amaz\u00f4nia.<\/p>\n

Com o apoio de outros waos, os ind\u00edgenas de Nemompare e seus arredores foram \u00e0 Justi\u00e7a para impedir a entrada das petroleiras e tiveram sucesso.<\/p>\n

Um tribunal de Puyo, capital de Pastaza, decretou nesta sexta-feira a suspens\u00e3o tempor\u00e1ria da entrada das petroleiras no territ\u00f3rio.<\/p>\n

Os ju\u00edzes determinaram que ocorreu a viola\u00e7\u00e3o do direito constitucional \u00e0 autodetermina\u00e7\u00e3o dos povos e \u00e0 consulta pr\u00e9via, livre e informada sobre os planos de explora\u00e7\u00e3o de recursos n\u00e3o renov\u00e1veis em suas terras.<\/p>\n

A corte determinou que o Estado realize uma nova consulta, aplicando os padr\u00f5es fixados pela Corte Interamericana dos Direitos Humanos (Corte IDH), com sede em San Jos\u00e9.<\/p>\n

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Ind\u00edgenas waorani do Equador cantam na cachoeira sagrada Teata, perto do povoado Nemompare, na beira do rio Curaray, na prov\u00edncia de Pastaza, Equador, em 14 de abril de 2019<\/figcaption><\/figure>\n

– Lan\u00e7as, machetes e machados –<\/p>\n

Em Nemompare, os wao armazenam a \u00e1gua da chuva em enormes tanques para seu consumo, se abastecem de energia com pain\u00e9is solares e dormem em redes.<\/p>\n

Embora tenham aprendido a escrever com os kowori, n\u00e3o usam papel: agarram-se ao wao terere, sua l\u00edngua, para sobreviver.<\/p>\n

Sentada perto do fogo, no centro de uma cabana, Wi\u00f1a Omaca ilustra os \u00e2nimos de resist\u00eancia de seu povo. “N\u00e3o s\u00f3 ‘tapaa’ (lan\u00e7as), est\u00e3o prontas ‘campa’ e ‘aweka’ (machetes e machados)”.<\/p>\n

Ningu\u00e9m se antecipa a falar de guerra, mas os wao podem transformar sua casa em um territ\u00f3rio hostil para as petroleiras.<\/p>\n

“Que fique claro: defendemos nossa selva, nossa cultura e nosso direito com nossa vida”, diz Nemonte Nenquimo, presidente do Conselho Waorani de Pastaza (Conconawep) e promotora da demanda.<\/p>\n

Com 4.800 membros, os waorani s\u00e3o donos de 800.000 hectares de selva em Pastaza, Napo e Orellana, uma pequena parte da bacia amaz\u00f4nica equatoriana. A lei reconhece a jurisdi\u00e7\u00e3o ind\u00edgena, mas mant\u00e9m o poder do Estado sobre o subsolo.<\/p>\n

H\u00e1 um m\u00eas, o Conconawep apresentou uma demanda para que se exclua parte do territ\u00f3rio wao de uma futura licita\u00e7\u00e3o. Para eles, est\u00e3o em jogo 180.000 hectares que representam menos de 1% da superf\u00edcie do Equador.<\/p>\n

O governo afirma ter autoriza\u00e7\u00e3o para chamar as petroleiras, gra\u00e7as a uma consulta realizada em 2012. No entanto, por meio de sua int\u00e9rprete, os ind\u00edgenas indicam que funcion\u00e1rios do governo chegaram, ent\u00e3o, de avi\u00e3o e obtiveram o aval com enganos, comida e refrigerantes.<\/p>\n

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Ind\u00edgenas waorani no povoado Nemompare, na beira do rio Curaray, na prov\u00edncia de Pastaza, Equador, em 14 de abril de 2019<\/figcaption><\/figure>\n

– Mais v\u00edtimas que guerreiros –<\/p>\n

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Por enquanto, a luta est\u00e1 nos tribunais, mas a hist\u00f3ria dos wao est\u00e1 atravessada por epis\u00f3dios violentos que fazem temer sua rea\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Por exemplo, seus dois cl\u00e3s n\u00f4mades, taromenane e tagaeri, em isolamento volunt\u00e1rio, enfrentaram a morte nas profundezas da selva.<\/p>\n<\/div>\n

“N\u00e3o tiveram uma rela\u00e7\u00e3o amistosa”, segundo Miguel \u00c1ngel Cabodevilla, autor do livro “Os Huaorani na hist\u00f3ria dos povos do Oriente”.<\/p>\n

Em 2013, os wao que est\u00e3o em contato com o exterior se vingaram dos taromenane pela morte de dois idosos. Houve entre 20 e 30 falecidos, segundo os l\u00edderes nativos. As autoridades reconheceram a matan\u00e7a, mas nunca tiveram acesso aos corpos.<\/p>\n

Tamb\u00e9m feriram com lan\u00e7as os madeireiros que os atacaram a tiros e invadiram suas terras.<\/p>\n

Mas a “viol\u00eancia principal foi exercida contra eles, quase desde sempre, e com maior agressividade”, enfatiza Cabodevilla.<\/p>\n

“Roubaram suas terras, perseguiram-nos e os mataram, escravizaram-nos e, agora, desfruta-se de seus bens no subsolo sem nenhuma compensa\u00e7\u00e3o adequada”, diz \u00e0 AFP.<\/p>\n

Por isso, muitos wao expressam desconfian\u00e7a ap\u00f3s anos de maus-tratos e de manipula\u00e7\u00e3o de governos, petroleiros, seringueiros e madeireiros, que, al\u00e9m disso, derivaram em brigas e divis\u00f5es internas.<\/p>\n

Peke Tokare, um “pekenani” (idoso s\u00e1bio), aponta para a estampa de sua camiseta para resumir o lema waorani: “Monito ome goronte enamai”, que significa “nosso territ\u00f3rio n\u00e3o se vende”.<\/p>\n

Fonte: AFP<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

As lan\u00e7as e os dardos envenenados est\u00e3o \u00e0 m\u00e3o, sempre prontos contra os invasores. Mas, desta vez, o povo ind\u00edgena Waorani do Equador, que vive na floresta amaz\u00f4nica, luta para que os ju\u00edzes “kowori” (estranhos) impe\u00e7am a temida chegada das companhias petrol\u00edferas.<\/p>\n

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