{"id":151786,"date":"2019-05-03T01:00:18","date_gmt":"2019-05-03T04:00:18","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=151786"},"modified":"2019-05-02T22:36:36","modified_gmt":"2019-05-03T01:36:36","slug":"como-abacate-e-kale-se-tornaram-tao-populares","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/05\/03\/151786-como-abacate-e-kale-se-tornaram-tao-populares.html","title":{"rendered":"Como abacate e kale se tornaram t\u00e3o populares"},"content":{"rendered":"
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O abacate \u00e9 um dos alimentos favoritos da gera\u00e7\u00e3o millennial<\/figcaption><\/figure>\n

Torrada com abacate. Suco de kale. Smoothie de goji berry. Salada de quinoa.<\/p>\n

Se os alimentos fossem celebridades, estes seriam apenas alguns que desfilaram pelo tapete vermelho nos \u00faltimos anos.<\/p>\n

Mas por que apenas algumas frutas, verduras e legumes entram para a lista VIP da ind\u00fastria aliment\u00edcia – de produtos altamente desejados com a capacidade de gerar lucro e influenciar os h\u00e1bitos alimentares de bilh\u00f5es de pessoas?<\/p>\n

Por que o kale e o abacate tiveram uma ascens\u00e3o mete\u00f3rica em termos de popularidade e est\u00e3o sob os holofotes, enquanto a cenoura ou o coitado do nabo seguem marginalizados?<\/p>\n

A resposta \u00e9 complicada e complexa.<\/p>\n

Como o abacate conquistou o mundo<\/h2>\n

Vamos come\u00e7ar com o abacate – o queridinho da gera\u00e7\u00e3o millennial. Hoje em dia, ele \u00e9 encontrado com frequ\u00eancia nos card\u00e1pios, principalmente na vers\u00e3o “torrada com abacate”, a pre\u00e7os inflacionados.<\/p>\n

A fruta se tornou t\u00e3o conhecida e conquistou tantos f\u00e3s que \u00e9 dif\u00edcil encontrar uma empresa que n\u00e3o esteja tentando lucrar com a sua fama.<\/p>\n

A companhia brit\u00e2nica Virgin Trains, por exemplo, come\u00e7ou uma campanha de marketing no ano passado chamada “#Avocard”. Depois que os cart\u00f5es de trem esgotaram, a companhia decidiu oferecer desconto aos clientes com idade entre 26 e 30 anos que comparecessem \u00e0 esta\u00e7\u00e3o segurando um abacate.<\/p>\n

Embora a rea\u00e7\u00e3o dos millennials tenha sido polarizada – alguns acharam a promo\u00e7\u00e3o paternalista -, n\u00e3o h\u00e1 como negar que esta gera\u00e7\u00e3o consome muito abacate. Basta observar a foto dos pratos que circulam pelas redes sociais.<\/p>\n

Os seres humanos comem abacate h\u00e1 milhares de anos, mas os jovens na faixa dos 20 e 30 anos fizeram a demanda pela fruta disparar.<\/p>\n

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O card\u00e1pio deste restaurante ostenta muitos alimentos na moda, incluindo a\u00e7a\u00ed, quinoa e, claro, abacate<\/figcaption><\/figure>\n

Segundo o International Trade Centre, as importa\u00e7\u00f5es globais de abacate atingiram US$ 4,82 bilh\u00f5es em 2016, com as importa\u00e7\u00f5es crescendo 21% entre 2012 e 2016.<\/p>\n

Um cirurgi\u00e3o pl\u00e1stico de Londres contou em 2017 que havia atendido tantos pacientes que se machucaram cortando a fruta, que sua equipe come\u00e7ou a chamar esse tipo de les\u00e3o de “m\u00e3o de abacate”.<\/p>\n

Por outro lado, h\u00e1 quem considere a torrada com abacate bastante cara em cidades como Londres – representando uma frivolidade e um exemplo da raz\u00e3o pela qual tantos millennials n\u00e3o conseguiriam sustentar sua moradia.<\/p>\n

H\u00e1 muitos fatores que influenciam a prefer\u00eancia de um alimento entre os consumidores: imagens pr\u00e9-produzidas e suculentas do prato no Instagram, por exemplo, ou propagandas financiadas por organiza\u00e7\u00f5es que apoiam certas ind\u00fastrias aliment\u00edcias.<\/p>\n

Hist\u00f3rias longas e elaboradas tamb\u00e9m exercem um fasc\u00ednio em torno de certos alimentos, especialmente em pa\u00edses que est\u00e3o distantes da origem do mesmo.<\/p>\n

Jessica Loyer, pesquisadora em valores de alimentos da Universidade de Adelaide, no sul da Austr\u00e1lia, cita como exemplo o a\u00e7a\u00ed e as sementes de chia, considerados “superalimentos”.<\/p>\n

“Muitos desses alimentos podem ter hist\u00f3rico de consumo (em pa\u00edses em desenvolvimento)”, diz ela.<\/p>\n

Outro exemplo \u00e9 a raiz de maca, do Peru, que \u00e9 triturada para ser transformada em um suplemento em p\u00f3. Ela \u00e9 conhecida pelo alto teor de vitaminas e minerais, al\u00e9m de propriedades para aumento de fertilidade e energia.<\/p>\n

Uma comunidade nos Andes aprecia tanto esta raiz que construiu uma est\u00e1tua de 5 metros de altura em sua homenagem na pra\u00e7a da cidade.<\/p>\n

Loyer sinaliza, no entanto, que podem surgir alguns problemas quando um alimento atinge o auge da fama, especialmente se for proveniente de um pa\u00eds em desenvolvimento e estiver na moda em pa\u00edses desenvolvidos.<\/p>\n

“Tem um lado bom e ruim”, avalia.<\/p>\n

“\u00c9 claro que os benef\u00edcios (econ\u00f4micos) n\u00e3o s\u00e3o distribu\u00eddos de maneira uniforme, mas geram empregos. E, naturalmente, isso significa tamb\u00e9m que h\u00e1 oportunidades de explora\u00e7\u00e3o nessas regi\u00f5es, assim como de explora\u00e7\u00e3o do direito \u00e0 terra de pessoas marginalizadas… [e] certamente tem consequ\u00eancias para a biodiversidade.”<\/p>\n

Xavier Equihua \u00e9 diretor-executivo da Organiza\u00e7\u00e3o Mundial do Abacate, com sede em Washington, nos EUA. Seu objetivo \u00e9 impulsionar o consumo da fruta na Europa.<\/p>\n

Segundo ele, o abacate \u00e9 um alimento f\u00e1cil de vender: \u00e9 delicioso e nutritivo, al\u00e9m de ser um substituto importante para vegetarianos e veganos. As fotos de pratos com a fruta publicadas por celebridades nas redes sociais tamb\u00e9m d\u00e3o um empurr\u00e3ozinho nas vendas.<\/p>\n

As pessoas na China, onde o abacate tamb\u00e9m est\u00e1 ganhando popularidade, podem ver “Kim Kardashian passando m\u00e1scara de abacate no cabelo em sua conta no Instagram. Ou ficar sabendo que a atriz Miley Cyrus tatuou um abacate no bra\u00e7o”.<\/p>\n

O reinado do kale<\/h2>\n

Se o abacate \u00e9 uma celebridade no mundo das frutas, ent\u00e3o seu equivalente no universo das verduras tem que ser o kale, tamb\u00e9m conhecido como couve-de-folhas.<\/p>\n

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A ex-primeira-dama dos EUA Michelle Obama mostrou como fazer um smoothie de kale em um evento de P\u00e1scoa da Casa Branca em 2014<\/figcaption><\/figure>\n

Com folhagem verde escura, \u00e9 considerado um alimento essencial para adultos saud\u00e1veis, respons\u00e1veis e conscientes ao redor do mundo – seja usado na salada ou batido no liquidificador como suco antioxidante.<\/p>\n

O n\u00famero de planta\u00e7\u00f5es de kale nos EUA dobrou entre 2007 e 2012. A cantora Beyonc\u00e9 chegou a usar um moletom em um videoclipe de 2015 com a palavra “kale” estampada nele.<\/p>\n

Mas como a couve-de-folhas entrou na moda?<\/p>\n

Robert Muller-Moore, fabricante de camisetas em Vermont, nos EUA, disse que viu a tend\u00eancia se aproximar a quil\u00f4metros de dist\u00e2ncia e vendeu camisetas com a frase “coma mais kale” para o mundo todo nos \u00faltimos 15 anos.<\/p>\n

Ele estima ter distribu\u00eddo mais de 100 mil adesivos de para-choque citando os benef\u00edcios da verdura.<\/p>\n

Ele chegou a se envolver, inclusive, em uma disputa judicial de tr\u00eas anos com a Chick-fil-a, a maior cadeia de fast-food de frango frito dos EUA, cujo slogan \u00e9 “coma mais frango”.<\/p>\n

“Isso chamou muita aten\u00e7\u00e3o para o kale”, diz ele.<\/p>\n

Assim como o abacate, a couve-de-folhas apresenta benef\u00edcios reais para a sa\u00fade, por isso seu status de celebridade n\u00e3o deve ser reduzido \u00e0 mera propaganda feita por celebridades.<\/p>\n

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O n\u00famero de planta\u00e7\u00f5es de kale em pa\u00edses como os Estados Unidos disparou nos \u00faltimos anos<\/figcaption><\/figure>\n

Mas \u00e9 importante manter um certo grau de ceticismo e saber que nenhum alimento \u00e9 uma solu\u00e7\u00e3o milagrosa para a sa\u00fade perfeita, independentemente de qu\u00e3o popular ou nutritivo ele seja.<\/p>\n

Especialistas dizem que uma dieta variada de frutas, legumes e verduras \u00e9 mais rica em nutrientes do que consumir sempre o mesmo tipo de alimento. Por exemplo, misturar alface, espinafre e agri\u00e3o pode ser mais saud\u00e1vel do que comer s\u00f3 kale.<\/p>\n

Infelizmente, parece que \u00e9 mais f\u00e1cil colocar apenas uma verdura ou legume no pedestal, em vez de tentar tornar todo um grupo de alimentos mais atrativo.<\/p>\n

Esse \u00e9 o desafio que Anna Taylor, que trabalha no instituto de pesquisa brit\u00e2nico The Food Foundation, est\u00e1 enfrentando.<\/p>\n

Recentemente, ela ajudou a criar o Veg Power, uma campanha publicit\u00e1ria para televis\u00e3o e cinema que mais parece um trailer de filme de super-her\u00f3is – o objetivo \u00e9 mudar a atitude das crian\u00e7as em rela\u00e7\u00e3o aos legumes e \u00e0s verduras.<\/p>\n

“Durante anos, os adultos impediram a invas\u00e3o dos vegetais”, diz o narrador da pe\u00e7a publicit\u00e1ria.<\/p>\n

Segundo Taylor, o or\u00e7amento foi de 3 milh\u00f5es de libras, em sua maioria vindo de doa\u00e7\u00f5es de supermercados e empresas de m\u00eddia. A quantia \u00e9 \u00ednfima se comparada a outras cifras da ind\u00fastria de alimentos.<\/p>\n

“S\u00e3o 120 milh\u00f5es de libras para doces, 73 milh\u00f5es de libras para refrigerantes, 111 milh\u00f5es de libras para lanches doces e salgados”, diz ela.<\/p>\n

“Portanto, a publicidade de frutas e legumes corresponde a 2,5% do total”.<\/p>\n

Isso se deve em grande parte ao fato de que as frutas, verduras e legumes n\u00e3o s\u00e3o uma marca em si, que possa ser promovida da mesma forma que os alimentos processados.<\/p>\n

E, sem uma marca, os comerciantes est\u00e3o menos dispostos a unir esfor\u00e7os.<\/p>\n

Para ajudar a aumentar o investimento em publicidade para frutas, legumes e verduras, \u00e9 preciso que haja um esfor\u00e7o conjunto entre governos, agricultores, empresas de publicidade e supermercados, entre outros.<\/p>\n

Desta forma, quando alimentos como kale ou abacate despontam, se trata de um produto espec\u00edfico e, portanto, mais f\u00e1cil de comercializar e promover – em vez de advogar pelas frutas e legumes como um todo.<\/p>\n

Taylor diz, no entanto, que quando um alimento ganha popularidade muito r\u00e1pido, pode ser um problema.<\/p>\n

“Normalmente, o que acontece com essas campanhas \u00e9 que elas acabam desprezando outros vegetais da mesma categoria. Podemos ver isso no Reino Unido, onde houve um grande crescimento na ind\u00fastria de amoras, que faz um sucesso enorme, mas tirou mercado das ma\u00e7\u00e3s e bananas”, diz explica.<\/p>\n

N\u00e3o importa o qu\u00e3o famoso ou popular um alimento espec\u00edfico se torne, lembre-se sempre: sua dieta n\u00e3o deve consistir de um \u00fanico tipo de alimento.<\/p>\n

E se algu\u00e9m j\u00e1 te disse que “‘o kale \u00e9 o \u00fanico que vai fazer x, y e z por voc\u00ea’, isso \u00e9 evidentemente uma bobagem”, adverte.<\/p>\n

*Este artigo foi adaptado para a BBC Capital por Bryan Lufkin a partir do epis\u00f3dio ‘When foods get famous’, do programa ‘The Food Chain’ da r\u00e1dio BBC World Service, apresentado por Emily Thomas e produzido por Emily Thomas e Simon Tulett.<\/i><\/p>\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"