{"id":151815,"date":"2019-05-06T12:00:43","date_gmt":"2019-05-06T15:00:43","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=151815"},"modified":"2019-05-05T23:12:22","modified_gmt":"2019-05-06T02:12:22","slug":"a-incrivel-danca-do-tangara-passaro-brasileiro-que-faz-performance-coletiva-para-conquistar-femeas","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/05\/06\/151815-a-incrivel-danca-do-tangara-passaro-brasileiro-que-faz-performance-coletiva-para-conquistar-femeas.html","title":{"rendered":"A incr\u00edvel dan\u00e7a do tangar\u00e1, p\u00e1ssaro brasileiro que faz performance coletiva para conquistar f\u00eameas"},"content":{"rendered":"\n

Em meio \u00e0 Mata Atl\u00e2ntica, uma f\u00eamea do p\u00e1ssaro tangar\u00e1 distingue o canto coral de um grupo de machos da sua esp\u00e9cie. \u00c9 uma convocat\u00f3ria para o in\u00edcio de um espet\u00e1culo. Ela decide, ent\u00e3o, voar em dire\u00e7\u00e3o \u00e0 cantoria e pousar no poleiro dos machos.<\/p>\n\n\n\n

Sua chegada era o que os cantores estavam esperando para executar sua verdadeira arte: a dan\u00e7a. N\u00e3o \u00e9 uma apresenta\u00e7\u00e3o individual, mas em grupo. A f\u00eamea, de colora\u00e7\u00e3o verde, fica parada no galho, enquanto um grupo de dois a oito machos realiza uma coreografia previamente ensaiada.<\/p>\n\n\n\n

Ao contr\u00e1rio da f\u00eamea, eles s\u00e3o coloridos: corpo azul anil, asas e rosto pretos e uma coroa alaranjada.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 uma dan\u00e7a de cortejo. Se tudo der certo, o macho alfa do grupo vai ganhar a permiss\u00e3o da f\u00eamea para copularem – os demais est\u00e3o ali apenas para ajudar na conquista. N\u00e3o \u00e9 algo comum na natureza, j\u00e1 que, geralmente, o cortejo \u00e9 feito por apenas um macho, em interesse pr\u00f3prio.<\/p>\n\n\n\n

No primeiro ato da dan\u00e7a, os machos se alinham em fila indiana ao lado da f\u00eamea. A seguir, o que est\u00e1 mais pr\u00f3ximo dela faz um breve voo vertical, como um beija-flor. Por alguns instantes, o casal fica frente a frente. Enquanto isso, os demais machos caminham na fila indiana, ocupando o espa\u00e7o aberto pelo primeiro.<\/p>\n\n\n\n

Ainda de frente para a f\u00eamea, o macho do movimento inicial voa em marcha r\u00e9, at\u00e9 chegar ao fim da fila, onde pousa. O segundo macho, ent\u00e3o, repete o mesmo movimento que havia sido feito pelo primeiro. E assim sucessivamente, em movimentos que v\u00e3o ficando cada vez mais r\u00e1pidos. Esse carrossel pode levar de 12 segundos at\u00e9 7 minutos.<\/p>\n\n\n\n

\"Cena

Cena da dan\u00e7a do tangar\u00e1, retratada no document\u00e1rio Our Planet, lan\u00e7ado em abril pela Netflix; na imagem, um macho jovem faz o papel da f\u00eamea, no que parece ser um ensaio

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O ato final \u00e9 composto por um voo suspenso mais longo do macho alfa, com batimento fren\u00e9tico das asas, acompanhado de um som estridente e duradouro. A seguir, ele faz a mesma performance de costas e depois pousa em um galho levemente mais alto, de costas para a f\u00eamea.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 os demais machos se afastam da f\u00eamea, observando-a fixamente, com a cabe\u00e7a abaixada, como se estivessem fazendo uma rever\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n

No total, a dan\u00e7a coletiva apresenta cinco movimentos diferentes – toda sincronizada com uma vocaliza\u00e7\u00e3o, cujo som se parece com um “wah” e que pode ter o efeito de excitar a f\u00eamea – segundo pesquisa da Universidade Federal do Paran\u00e1 (UFPR). Por causa desse ritual, os tangar\u00e1s s\u00e3o popularmente conhecidos como tangar\u00e1s-dan\u00e7arinos.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 um dos rituais de reprodu\u00e7\u00e3o mais elaborados de esp\u00e9cies que temos no Brasil”, explica Lilian Manica, professora do departamento de Zoologia da UFPR e membro da rede internacional Manakins Research Coordination Network – grupo que estuda esp\u00e9cies da fam\u00edlia do tangar\u00e1.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 dif\u00edcil explicar em palavras, porque \u00e9 um comportamento muito diferente do que a gente j\u00e1 viu. A gente fica torcendo para os machos, torcendo para a f\u00eamea gostar da apresenta\u00e7\u00e3o. E fica com d\u00f3 quando eles n\u00e3o conseguem”, diz a bacharel em biologia Laura Schaedler, que fez mestrado na UFPR sobre os tangar\u00e1s.<\/p>\n\n\n\n

Por ser \u00fanica, a dan\u00e7a foi um dos cortejos de aves escolhidos para aparecer no primeiro epis\u00f3dio da s\u00e9rie\u00a0Our Planet<\/em>, que estreou em mar\u00e7o na Netflix. “\u00c9 uma complexa dan\u00e7a de cortejo, capaz de entreter muito, porque os machos formam pequenas equipes, como artistas de trap\u00e9zio”, disse o apresentador da s\u00e9rie, David Attenborough, depois de ter sido questionado pela revista brit\u00e2nica\u00a0TV Times<\/em>\u00a0sobre qual era seu momento favorito registrado nos epis\u00f3dios.<\/p>\n\n\n\n

\"Tangar\u00c3\u00a1-dan\u00c3\u00a7arino

A maior parte dos machos \u00e9 subordinada a um macho alfa

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Equipes de dan\u00e7a e canto<\/h2>\n\n\n\n

As equipes de dan\u00e7a e canto s\u00e3o chamadas de “corte” do macho alfa. H\u00e1 apenas um protagonista e seu s\u00e9quito de subordinados. Ou seja, \u00e9 uma esp\u00e9cie com uma r\u00edgida divis\u00e3o hier\u00e1rquica.<\/p>\n\n\n\n

“Alguns dos machos da corte, inclusive, podem passar a vida inteira na posi\u00e7\u00e3o subalterna, sem nunca conseguir ocupar o papel principal. A maior parte dos indiv\u00edduos copula muito pouco ou quase nunca. Poucos indiv\u00edduos conquistam a maior parte das f\u00eameas”, explica Laura Schaedler.<\/p>\n\n\n\n

Esse comportamento limita o n\u00famero machos que podem copular, o que parece contra-intuitivo do ponto de vista da reprodu\u00e7\u00e3o da esp\u00e9cie.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 uma quest\u00e3o muito intrigante para os cientistas. Uma hip\u00f3tese para explicar porque alguns machos se submetem \u00e9 que, ao dan\u00e7arem por muito tempo na corte de um macho alfa, eles teriam mais chances de assumir seu papel quando ele morrer”, fala Laura.<\/p>\n\n\n\n

Mas por que os machos subalternos n\u00e3o tentam criar suas pr\u00f3prias cortes? “\u00c9 um mist\u00e9rio. Provavelmente, as f\u00eameas s\u00e3o muito detalhistas na escolha do parceiro”. Assim, elas n\u00e3o visitariam uma corte qualquer, apenas aquelas que demonstram um bom desempenho “art\u00edstico”.<\/p>\n\n\n\n

\"Cena

Cena do ato final da dan\u00e7a dos tangar\u00e1s machos para uma f\u00eamea: o macho alfa executa um movimento r\u00e1pido de frente e de costas

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H\u00e1 outro comportamento dos tangar\u00e1s machos que parece indicar que eles ensaiam antes de se apresentarem para uma f\u00eamea. A maior parte das dan\u00e7as ocorre apenas entre eles, sem a presen\u00e7a de uma f\u00eamea. Nesse aparente ensaio, um macho mais jovem desempenha o papel dela, ficando parado no galho, apenas observando os demais dan\u00e7arem.<\/p>\n\n\n\n

De certa forma, esse tangar\u00e1 jovem se parece com uma f\u00eamea, j\u00e1 que seu corpo tamb\u00e9m \u00e9 verde – a plumagem s\u00f3 fica azulada na vida adulta. O principal sinal de que se trata de um macho \u00e9 a coroa alaranjada, j\u00e1 presente.<\/p>\n\n\n\n

Mas os cientistas ainda n\u00e3o t\u00eam certeza se esse comportamento seria, realmente, um ensaio. “A gente n\u00e3o sabe se \u00e9 para ensaiar ou para estabelecer uma hierarquia entre os machos”, explica a professora e pesquisadora Lilian Manica.<\/p>\n\n\n\n

As f\u00eameas dos tangar\u00e1s, por outro lado, n\u00e3o t\u00eam um comportamento de grupo. “Entre elas, n\u00e3o existe nenhum tipo de coopera\u00e7\u00e3o. Inclusive a plumagem verde das f\u00eameas, bem contrastante com a azul, preto e laranja dos machos, pode ser um resultado do estilo de vida solit\u00e1rio delas. \u00c9 uma forma de se camuflar para cuidar da prole”, fala a pesquisadora Laura.<\/p>\n\n\n\n

\"Cena

Cena da dan\u00e7a solo do macho alfa para a f\u00eamea, que \u00e9 seguida pela c\u00f3pula

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Apresenta\u00e7\u00e3o solo e grand finale<\/h2>\n\n\n\n

Uma corte de tangar\u00e1s machos pode repetir a mesma dan\u00e7a, para a mesma f\u00eamea, uma vez depois da outra. \u00c0s vezes, ap\u00f3s uma primeira apresenta\u00e7\u00e3o, a f\u00eamea n\u00e3o emite nenhum sinal – nem sim, nem n\u00e3o. Ent\u00e3o, o grupo pode recome\u00e7ar o carrossel, em uma nova tentativa de impression\u00e1-la.<\/p>\n\n\n\n

Na primeira vez que Laura Schaedler assistiu ao ritual em meio \u00e0 floresta, por exemplo, os machos executaram cerca de oito performances. No total, foram cerca de 20 minutos de apresenta\u00e7\u00e3o. N\u00e3o adiantou. A f\u00eamea n\u00e3o ficou satisfeita e acabou abandonando o poleiro no meio de uma das dan\u00e7as.<\/p>\n\n\n\n

Segundo pesquisa publicada em fevereiro deste ano no Journal of Ornithology<\/em>, Lilian Manica e outros tr\u00eas pesquisadores identificaram que apenas uma de cada quatro apresenta\u00e7\u00f5es coletivas resulta em um “sim” da f\u00eamea. Nas demais, elas simplesmente v\u00e3o embora.<\/p>\n\n\n\n

“Essas exibi\u00e7\u00f5es demonstram habilidades individuais e vigor, e geralmente requerem intensa atividade f\u00edsica, persist\u00eancia e alto investimento de energia”, diz o texto. S\u00e3o qualidades avaliadas pela f\u00eamea durante a apresenta\u00e7\u00e3o – os pesquisadores ainda n\u00e3o sabem, por\u00e9m, quais s\u00e3o os crit\u00e9rios que ela leva em considera\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 quando a f\u00eamea sinaliza que est\u00e1 satisfeita com a apresenta\u00e7\u00e3o, os machos subalternos a deixam a s\u00f3s com o macho alfa. Este, ent\u00e3o, passa a executar uma dan\u00e7a solo, com tr\u00eas passos diferentes, que culmina com uma r\u00e1pida copula\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

\"Reserva

Reserva Natural Salto Morato, no Paran\u00e1, \u00e9 um dos locais onde a dan\u00e7a dos tangar\u00e1s pode ser registrada

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Os tangar\u00e1s-dan\u00e7arinos habitam \u00e1reas de Mata Atl\u00e2ntica, do Brasil at\u00e9 a Argentina. Mas n\u00e3o \u00e9 f\u00e1cil presenciar uma dan\u00e7a-cortejo.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 dif\u00edcil presenciar um momento desses. Nas nossas pesquisas, n\u00f3s identificamos previamente os poleiros onde os machos fazem a apresenta\u00e7\u00e3o – que s\u00e3o fixos. E ficamos horas observando”, explica Lilian Manica. Em m\u00e9dia, os pesquisadores visualizaram uma apresenta\u00e7\u00e3o a cada 16 horas.<\/p>\n\n\n\n

Uma das regi\u00f5es onde a dan\u00e7a pode ser observada – e onde o document\u00e1rio Our Planet <\/em>foi gravado – \u00e9 a Reserva Natural Salto Morato, em Guaraque\u00e7aba, Paran\u00e1, localizada dentro do maior remanescente cont\u00ednuo de Mata Atl\u00e2ntica no Brasil. O local, mantido pela Funda\u00e7\u00e3o Grupo Botic\u00e1rio de Prote\u00e7\u00e3o \u00e0 Natureza, \u00e9 aberto \u00e0 visita\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

No Paran\u00e1, o per\u00edodo reprodutivo do tangar\u00e1-dan\u00e7arino vai de setembro a janeiro. O melhor momento para tentar observar a apresenta\u00e7\u00e3o \u00e9 o m\u00eas de novembro, no in\u00edcio da manh\u00e3.<\/p>\n\n\n\n

“Toda vez que eu vejo a dan\u00e7a do tangar\u00e1, parece que \u00e9 a primeira vez, de t\u00e3o impressionante que \u00e9. \u00c9 um comportamento muito intenso, tanto em termos de movimentos, como de sons. As cores das aves tamb\u00e9m s\u00e3o muito chocantes. Voc\u00ea fica muito envolvido com aquilo que est\u00e1 assistindo”, narra a professora Lilian.<\/p>\n\n\n\n

“Embora o tangar\u00e1-dan\u00e7arino n\u00e3o seja uma esp\u00e9cie amea\u00e7ada, \u00e9 preciso ter cuidado para preservar seu habitat, j\u00e1 que sua reprodu\u00e7\u00e3o exige um comportamento muito complexo. \u00c9 importante que as pessoas saibam que h\u00e1 essa esp\u00e9cie t\u00e3o fascinante vivendo na floresta para se sensibilizarem mais para preservar aquele ambiente”, considera Lilian Manica.<\/p>\n\n\n\n

\"F\u00c3\u00aamea

As f\u00eameas do tangar\u00e1, ao contr\u00e1rio dos machos, vive sozinha e n\u00e3o coopera com outras f\u00eameas
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Em meio \u00e0 Mata Atl\u00e2ntica, uma f\u00eamea do p\u00e1ssaro tangar\u00e1 distingue o canto coral de um grupo de machos da sua esp\u00e9cie. \u00c9 uma convocat\u00f3ria para o in\u00edcio de um espet\u00e1culo. Ela decide, ent\u00e3o, voar em dire\u00e7\u00e3o \u00e0 cantoria e pousar no poleiro dos machos. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":151816,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[405,1388,276,461],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/151815"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=151815"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/151815\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":151817,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/151815\/revisions\/151817"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/151816"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=151815"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=151815"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=151815"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}