{"id":151870,"date":"2019-05-09T11:59:09","date_gmt":"2019-05-09T14:59:09","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=151870"},"modified":"2019-05-08T22:03:05","modified_gmt":"2019-05-09T01:03:05","slug":"a-inusitada-orquestra-de-legumes-e-verduras-de-viena","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/05\/09\/151870-a-inusitada-orquestra-de-legumes-e-verduras-de-viena.html","title":{"rendered":"A inusitada orquestra de legumes e verduras de Viena"},"content":{"rendered":"\n
\"Orquestra

Nos \u00faltimos 21 anos, Orquestra Vegetal de Viena realizou quase 300 shows em todo o mundo
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Faltam tr\u00eas horas para o in\u00edcio da apresenta\u00e7\u00e3o e os integrantes de uma orquestra est\u00e3o posicionados em cima de um palco armado no jardim de um mosteiro beneditino nos arredores da cidade de Col\u00f4nia, na Alemanha. Em ponto, os m\u00fasicos vestidos com roupas pretas, cuidadosamente penteados, erguem lentamente seus instrumentos e come\u00e7am a tocar o primeiro trecho de A Sagra\u00e7\u00e3o da Primavera<\/em>, do compositor russo Igor Stravinsky. Segundos depois, um t\u00e9cnico de som os interrompe abruptamente. O som das flautas de cenoura est\u00e1 alto demais e mal se ouve o violino de alho-por\u00f3.<\/p>\n\n\n\n

“Mais uma vez”, diz ele. “Come\u00e7ando com o pepino.”<\/p>\n\n\n\n

Essa \u00e9 a\u00a0Orquestra Vegetal de Viena. S\u00e3o ao todo 10 instrumentos, feitos inteiramente de legumes e verduras frescos. Nos \u00faltimos 21 anos, o grupo contabiliza cerca de 300 apresenta\u00e7\u00f5es ao redor do mundo, todas lotadas. O repert\u00f3rio \u00e9 ecl\u00e9tico: h\u00e1 desde m\u00fasica cl\u00e1ssica at\u00e9 techno. Recentemente, a orquestra lan\u00e7ou seu quarto \u00e1lbum depois de uma bem-sucedida campanha de crowdfunding ou ‘Krautfunding’ (‘erva-financiamento’).<\/p>\n\n\n\n

“Legumes e verduras s\u00e3o imprevis\u00edveis”, diz Susanna Gartmayer, que toca a marimba feita de cenoura, a flauta baixo de rabanete e uma d\u00fazia de outros instrumentos comest\u00edveis. “N\u00e3o h\u00e1 dois produtos iguais. \u00c9 um desafio.”<\/p>\n\n\n\n

Ao contr\u00e1rio dos instrumentos tradicionais, que podem durar centenas de anos, os feitos de legumes e verduras apodrecem rapidamente. Por isso, a orquestra tem que produzir novos a cada apresenta\u00e7\u00e3o. Na manh\u00e3 de cada performance, esse grupo, formado por artistas, escritores, arquitetos e designers, vai a mercados locais munido de uma lista de compras detalhada. Depois de apalpar as ab\u00f3boras, tatear a salsinha e descascar cascas de cebola para selecionar os produtos certos, os m\u00fasicos esculpem, cortam e perfuram suas novas descobertas, transformando-as em instrumentos. Uma vez descascados e cortados, eles duram no m\u00e1ximo seis horas. Tudo o que n\u00e3o \u00e9 usado vira uma sopa, servida ao p\u00fablico ao fim da apresenta\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Mas quando chegou \u00e0 Abadia de Brauweiler naquela manh\u00e3 e descarregou o material para o concerto que aconteceria \u00e0 noite, o grupo se deu conta de um grande problema: algu\u00e9m esqueceu as berinjelas e n\u00e3o havia abobrinhas suficientes.<\/p>\n\n\n\n

Enquanto um dos integrantes corria de volta ao mercado, os m\u00fasicos restantes pegavam suas facas e furadeiras. Imediatamente, o camarim desse mosteiro centen\u00e1rio se transformou em uma movimentada oficina. Durante as duas horas seguintes, cenouras, pepinos e caba\u00e7as foram se tornando trompas e flautas; piment\u00f5es viraram trombones; raiz de aipo e ab\u00f3boras, bong\u00f4s e tambores. Cada m\u00fasico fabrica entre oito e 25 instrumentos por show.<\/p>\n\n\n\n

“Tudo come\u00e7ou como uma brincadeira”, diz o membro-fundador Matthias Meinharter, vasculhando uma sala cheia de restos de legumes e verduras. O ambiente cheira a compostagem. Meinharter lembra que ele e tr\u00eas outros integrantes da orquestra se inscreveram em um festival de arte perform\u00e1tica na universidade em que estudavam, em Viena. “Est\u00e1vamos discutindo o que poder\u00edamos fazer e pensamos: ‘Qual \u00e9 a coisa mais dif\u00edcil de tocar?'”. “Prepar\u00e1vamos uma sopa juntos na \u00e9poca e uma ideia levou \u00e0 outra.”<\/p>\n\n\n\n

\"Orquestra

S\u00e3o necess\u00e1rias duas horas e at\u00e9 50 kg de legumes e verduras para fabricar os instrumentos da orquestra (Cr\u00e9dito: Heidrun Henke)
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Vinte e um anos depois, a orquestra j\u00e1 tocou em locais renomados, como o Royal Albert Hall, em Londres, e o Shanghai Arts Center, na China. Al\u00e9m disso, foi convidada para se apresentar na mans\u00e3o de um oligarca ucraniano por ocasi\u00e3o do anivers\u00e1rio de 60 anos do ex-Beatle Paul McCartney. “Acho que ele gostou”, diz Meinharter. “Ele \u00e9 vegetariano”.<\/p>\n\n\n\n

O grupo tamb\u00e9m foi listado no\u00a0Guinness World Records<\/em>\u00a0como a “orquestra vegetal com o maior n\u00famero de apresenta\u00e7\u00f5es” e inspirou a cria\u00e7\u00e3o de alguns outros grupos musicais biodegrad\u00e1veis, como a brit\u00e2nica\u00a0London Vegetable Orchestra\u00a0e a americana\u00a0Long Island Vegetable Orchestra. Embora o projeto tenha come\u00e7ado como uma brincadeira, atualmente, seus integrantes levam o of\u00edcio muito a s\u00e9rio.<\/p>\n\n\n\n

“Muitas pessoas pensam que somos uma esp\u00e9cie de cabar\u00e9 ou fazemos apenas uma apresenta\u00e7\u00e3o engra\u00e7ada”, diz Gartmayer, enquanto faz furos para fabricar um xilofone de cenoura. “Mas elas normalmente ficam surpresas quando descobrem que h\u00e1 muito potencial sonoro em legumes e verduras e que queremos fazer m\u00fasicas realmente interessantes com eles.”<\/p>\n\n\n\n

A orquestra inventou mais de 150 instrumentos ao longo dos anos. Alguns n\u00e3o demandam tanto trabalho: esmagar cebola seca com o punho lembra o som de uma tempestade, bater em uma ab\u00f3bora com a palma da m\u00e3o soa como um bumbo e esfregar dois alho-por\u00f3 um no outro gera um barulho estridente.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 outros s\u00e3o cria\u00e7\u00f5es lapidadas que se assemelham aos instrumentos mais tradicionais: pastinacas, abobrinhas e piment\u00f5es produzem bons instrumentos de sopro e vento, enquanto as caba\u00e7as ocas s\u00e3o percussivas. Os mais complexos s\u00e3o h\u00edbridos que combinam dois ou mais alimentos.<\/p>\n\n\n\n

Quer criar um saxofone? Junte um piment\u00e3o cortado ao final de um pepino perfurado, adicione um bocal de cenoura e pronto: voc\u00ea fabricou um “pipepisaxofone”. Mas e se quiser um tom ligeiramente mais grave? Troque o pepino por uma abobrinha e voc\u00ea ter\u00e1 um “clarinete de abobrinha”.<\/p>\n\n\n\n

“Uma das coisas mais fascinantes da turn\u00ea \u00e9 aprender como os alimentos s\u00e3o diferentes em todo o mundo. Sem falar na possibilidade de criar instrumentos completamente novos”, diz o aboborista J\u00fcrgen Berlakovich. No sudeste da \u00c1sia, o grupo descobriu um capim de alho silvestre el\u00e1stico que produzia um som parecido ao de um baixo. Nos EUA, eles encontraram mercados que vendem folhas gigantes de agave, que podem ser usadas para agitar o feij\u00e3o como uma maraca. Na China, os rabanetes s\u00e3o maiores. Na It\u00e1lia, os pepinos s\u00e3o menores. Na Sib\u00e9ria, legumes e verduras t\u00eam pre\u00e7o exorbitante. E na Inglaterra? “Nabos”, disse Meinharter. “Muitos nabos.”<\/p>\n\n\n\n

\"Instrumento

Orquestra Vegetal de Viena usa produtos frescos para criar instrumentos musicais, como a cebolinha
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n
\"Corneta

Corneta de cenoura e nabo
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n
\"Trompete

Trompete de piment\u00e3o
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n
\"Bongo

Bong\u00f4 de raiz de aipo
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n
\"Vibrador

Ressonador de abobrinha e alho-por\u00f3
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Apesar de tocar algumas m\u00fasicas do grupo alem\u00e3o Kraftwerk e algumas composi\u00e7\u00f5es cl\u00e1ssicas, a orquestra tamb\u00e9m toca material original, de g\u00eaneros que v\u00e3o do ambiente mais relaxado \u00e0s batidas fren\u00e9ticas do house. Para fazer isso, min\u00fasculos microfones condensadores e pequenos captadores s\u00e3o acoplados \u00e0s verduras e aos legumes. O objetivo \u00e9 amplificar seu som natural. E, como diz Berlakovich, ” torn\u00e1-los vivos”.<\/p>\n\n\n\n

Mas quando o grupo tocou pela primeira vez, aprender a tirar o som desses alimentos n\u00e3o foi o \u00fanico desafio: n\u00e3o havia como registrar as m\u00fasicas em partituras.<\/p>\n\n\n\n

Como verduras e legumes t\u00eam formas que variam de acordo com o cultivo e o pa\u00eds de origem, tamb\u00e9m emitem sons diferentes. Ent\u00e3o, em vez de uma partitura, o grupo desenvolveu um sistema que indica quando os instrumentos devem ser tocados, al\u00e9m de um gr\u00e1fico com notas altas e baixas. “Ningu\u00e9m mais poderia l\u00ea-lo”, diz Berlakovich. “\u00c9 como um c\u00f3digo secreto”.<\/p>\n\n\n\n

\"Orquestra

Quando grupo tocou pela primeira vez, aprender a tirar o som dos alimentos n\u00e3o foi o \u00fanico desafio: n\u00e3o havia como escrever m\u00fasica para a comida
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

No final da passagem de som, a orquestra desce do palco ao ar livre montado no jardim e rapidamente embrulha seus instrumentos em toalhas \u00famidas. A apresenta\u00e7\u00e3o est\u00e1 prevista para come\u00e7ar em 1h30, e os alimentos estavam sob risco. “Hoje, est\u00e1 excepcionalmente quente”, diz a fundadora Barbara Kaiser, segurando a cabe\u00e7a decepada de um repolho. “Mas eles gostam de morrer dramaticamente no palco.”<\/p>\n\n\n\n

Quando o sol cai sobre as torres da abadia, funcion\u00e1rios vestidos de smoking acendem tochas em torno do p\u00e1tio bem cuidado do complexo. As portas s\u00e3o finalmente abertas. Em pouco tempo, centenas de alem\u00e3es endinheirados caminham em dire\u00e7\u00e3o a seus assentos, perguntando uns aos outros se j\u00e1 tinham ouvido falar desse “Gem\u00fcsegruppe” (“grupo de legumes e verduras”).<\/p>\n\n\n\n

Quando a trupe toda vestida de preto sobe ao palco e posiciona seus rabanetes, algumas risadas nervosas ecoam pelo jardim.<\/p>\n\n\n\n

No terceira ato, o p\u00fablico j\u00e1 estava acostumado com os novos sons. Quase todas as 500 pessoas presentes ali balan\u00e7avam a cabe\u00e7a, acompanhando o desenrolar da apresenta\u00e7\u00e3o – exceto por uma mulher s\u00e9ria e mais velha, vestida de preto na primeira fila.<\/p>\n\n\n\n

\"Orquestra

Grupo usa pedais de distor\u00e7\u00e3o e microfones “para dar vida a legumes e verduras”
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Perto do fim do show, peda\u00e7os de legumes e verduras voam para fora do palco. O concerto termina e, logo ap\u00f3s os agradecimentos sob aplausos efusivos, os m\u00fasicos come\u00e7am a limpar tudo.<\/p>\n\n\n\n

“Para mim, isso ainda \u00e9 arte perform\u00e1tica multissensorial”, diz Meinharter. “O p\u00fablico pode ouvir a m\u00fasica, cheirar a m\u00fasica, ver a m\u00fasica e depois provar a m\u00fasica.”<\/p>\n\n\n\n

\"Orquestra

Ao fim da apresenta\u00e7\u00e3o, instrumentos s\u00e3o oferecidos ao p\u00fablico
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Depois do show, um grupo de pessoas cerca os m\u00fasicos, ansiosas para comprar CDs, tirar fotos com seus integrantes e provar o que acabaram de ouvir. Seguindo uma tradi\u00e7\u00e3o de 21 anos, os artistas oferecem seus instrumentos a qualquer um que queira lev\u00e1-los para casa.<\/p>\n\n\n\n

Gartmayer pergunta se algu\u00e9m est\u00e1 interessado em seu trompete de piment\u00e3o. A mulher mais velha de vestido preto estende a m\u00e3o, enfia-o em sua bolsa e caminha rapidamente em dire\u00e7\u00e3o \u00e0 sa\u00edda. J\u00e1 longe do alcance dos olhos do p\u00fablico, ela tira o instrumento da bolsa e lhe d\u00e1 uma dentada, produzindo um novo som.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Faltam tr\u00eas horas para o in\u00edcio da apresenta\u00e7\u00e3o e os integrantes de uma orquestra est\u00e3o posicionados em cima de um palco armado no jardim de um mosteiro beneditino nos arredores da cidade de Col\u00f4nia, na Alemanha. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":151871,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[774,3701],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/151870"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=151870"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/151870\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":151872,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/151870\/revisions\/151872"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/151871"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=151870"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=151870"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=151870"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}