{"id":151883,"date":"2019-05-10T12:05:20","date_gmt":"2019-05-10T15:05:20","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=151883"},"modified":"2019-05-09T22:07:11","modified_gmt":"2019-05-10T01:07:11","slug":"por-que-falta-agua-no-reino-unido-apesar-de-tanta-chuva","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/05\/10\/151883-por-que-falta-agua-no-reino-unido-apesar-de-tanta-chuva.html","title":{"rendered":"Por que falta \u00e1gua no Reino Unido apesar de tanta chuva?"},"content":{"rendered":"\n
\"Duas

Por que a chuva do Reino Unido n\u00e3o \u00e9 suficiente para atender a demanda de \u00e1gua do pa\u00eds?
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Quando o assunto \u00e9 escassez de\u00a0\u00e1gua, o \u00faltimo lugar no planeta em que voc\u00ea poderia pensar \u00e9 na Inglaterra.<\/p>\n\n\n\n

O inverno \u00e9 frio e \u00famido. Chove por semanas a fio. Os gramados sofrem com o solo encharcado e os recipientes para coletar \u00e1gua transbordam nos jardins.<\/p>\n\n\n\n

A m\u00e9dia anual de chuvas no\u00a0Reino Unido\u00a0\u00e9 de 1.200 mm – em compara\u00e7\u00e3o com 300 mm no Afeganist\u00e3o ou meros dois d\u00edgitos no Egito.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, muitas partes do Reino Unido chegam \u00e0 primavera com seus reservat\u00f3rios de \u00e1gua da chuva vazios. Isso acontece porque grande parte dos quatro d\u00edgitos do \u00edndice pluviom\u00e9trico se deve \u00e0 chuva nas regi\u00f5es montanhosas de Esc\u00f3cia, Pa\u00eds de Gales e norte da Inglaterra.<\/p>\n\n\n\n

No sudeste do pa\u00eds, por exemplo, a precipita\u00e7\u00e3o m\u00e9dia anual gira em torno de 500 mm ou 600 mm – \u00edndice menor que o do Sud\u00e3o do Sul, ou de Perth, na Austr\u00e1lia Ocidental.<\/p>\n\n\n\n

Essa tamb\u00e9m \u00e9 a \u00e1rea mais populosa do Reino Unido, com cerca de 18 milh\u00f5es de habitantes em apenas 19 mil quil\u00f4metros quadrados (o tamanho de Nova Jersey, nos EUA), incluindo Londres. E esta regi\u00e3o est\u00e1 secando rapidamente.<\/p>\n\n\n\n

Preocupa\u00e7\u00e3o crescente<\/h2>\n\n\n\n

No ano de 2018, foram registrados seis meses consecutivos de chuva abaixo da m\u00e9dia na Inglaterra, deixando os n\u00edveis de muitos reservat\u00f3rios perigosamente baixos. E n\u00e3o foi um acontecimento isolado. Em 2017, o pa\u00eds viveu os 10 meses mais secos dos \u00faltimos 100 anos.<\/p>\n\n\n\n

O plano mais recente do governo para capta\u00e7\u00e3o de \u00e1gua mostra que 28% dos aqu\u00edferos subterr\u00e2neos na Inglaterra, e at\u00e9 18% dos rios e reservat\u00f3rios, s\u00e3o captados de forma n\u00e3o sustent\u00e1vel. Apenas 17% dos rios do pa\u00eds s\u00e3o considerados com “boa sa\u00fade ecol\u00f3gica”.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, grande parte da popula\u00e7\u00e3o permanece indiferente ao problema. A maioria (55%) da \u00e1gua doce no Reino Unido \u00e9 captada para uso dom\u00e9stico, sendo apenas 1% destinada \u00e0 agricultura.<\/p>\n\n\n\n

\"Homem

A maior parte da chuva do Reino Unido est\u00e1 concentrada na Esc\u00f3cia, no Pa\u00eds de Gales e no norte da Inglaterra
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Os brit\u00e2nicos gastam em m\u00e9dia 150 litros de \u00e1gua por dia – para tomar banho, dar descarga, lavar lou\u00e7a, roupa e regar as plantas. Para efeito de compara\u00e7\u00e3o, na Cidade do Cabo, onde a precipita\u00e7\u00e3o anual tamb\u00e9m gira em torno de 500 mm, o uso dos residentes \u00e9 limitado a cerca de 60 litros por dia.<\/p>\n\n\n\n

“As pessoas n\u00e3o veem a \u00e1gua como algo que precisam economizar… a percep\u00e7\u00e3o [da popula\u00e7\u00e3o] \u00e9 de que somos um pa\u00eds com muita chuva”, afirma Hannah Freeman, diretora de assuntos governamentais da organiza\u00e7\u00e3o internacional Wildfowl & Wetlands Trust (WWT).<\/p>\n\n\n\n

“Mas as \u00faltimas proje\u00e7\u00f5es sobre a mudan\u00e7a clim\u00e1tica sugerem que a probabilidade de ver\u00f5es secos vai aumentar em at\u00e9 50%.”<\/p>\n\n\n\n

E os invernos tamb\u00e9m ser\u00e3o mais quentes. O Reino Unido acabou de registrar recorde de calor em fevereiro, com temperaturas chegando a 21,2 graus em Londres – \u00e9 a primeira vez em que os term\u00f4metros ficam acima de 20\u00baC durante o inverno. Os brit\u00e2nicos tomavam sol nos parques de bermuda e camiseta, quando geralmente estariam usando gorros e cachecol.<\/p>\n\n\n\n

Mudan\u00e7a global<\/h2>\n\n\n\n

O caso da Inglaterra mostra como outros pa\u00edses, notoriamente chuvosos, ter\u00e3o de despertar para um futuro de crescente escassez de \u00e1gua.<\/p>\n\n\n\n

Conor Linstead, especialista internacional em \u00e1gua doce do World Wildlife Fund (WWF), diz que muitos pa\u00edses est\u00e3o “enfrentando problemas de escassez de \u00e1gua devido \u00e0 capta\u00e7\u00e3o em excesso, e porque n\u00e3o deram aten\u00e7\u00e3o suficiente aos mecanismos de aloca\u00e7\u00e3o de \u00e1gua… secas excepcionais v\u00e3o se tornar a regra diante da mudan\u00e7a clim\u00e1tica”.<\/p>\n\n\n\n

No Brasil, a cidade de S\u00e3o Paulo quase ficou sem \u00e1gua em 2014 durante a pior seca da sua hist\u00f3ria – sendo que o pa\u00eds concentra de 12% a 16% da \u00e1gua doce do mundo.<\/p>\n\n\n\n

O principal reservat\u00f3rio que atende \u00e0 maior cidade brasileira chegou a operar com apenas 3% da sua capacidade – muito inferior \u00e0 crise h\u00eddrica da Cidade do Cabo em 2018, em que as autoridades amea\u00e7aram cortar o abastecimento, caso os reservat\u00f3rios atingissem 13,5% da sua capacidade.<\/p>\n\n\n\n

Em agosto de 2018, o n\u00edvel da \u00e1gua do Rio Dan\u00fabio, que corta a Hungria, recuou para pouco mais de meio metro, impedindo a navega\u00e7\u00e3o de cruzeiros tur\u00edsticos e navios de carga.<\/p>\n\n\n\n

Na Inglaterra, Londres e toda a regi\u00e3o do Vale do T\u00e2misa, que contempla as cidades ao longo do rio, s\u00e3o classificadas pela Ag\u00eancia Ambiental do Reino Unido como “seriamente carentes de \u00e1gua”.<\/p>\n\n\n\n

“Temos instala\u00e7\u00f5es de armazenamento de \u00e1gua relativamente pequenas”, explica Steve Tuck, gerente de capta\u00e7\u00e3o da companhia de abastecimento e tratamento de \u00e1gua Thames Water, “o que significa que usamos rios e aqu\u00edferos subterr\u00e2neos para abastecer a vasta popula\u00e7\u00e3o”.<\/p>\n\n\n\n

\"Campo

Londres sofreu uma s\u00e9rie de secas severas nos \u00faltimos anos
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Ele admite que este sistema \u00e9 “um pouco prec\u00e1rio”. O elevado n\u00edvel de precipita\u00e7\u00e3o no inverno deveria ser suficiente para abastecer os aqu\u00edferos e escoar a \u00e1gua lentamente para os rios durante o ver\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Por\u00e9m, o uso de \u00e1gua em excesso nas resid\u00eancias, aliado ao r\u00e1pido aumento da popula\u00e7\u00e3o e \u00e0 diminui\u00e7\u00e3o da frequ\u00eancia das chuvas, agravaram o problema, avalia Tuck.<\/p>\n\n\n\n

A Thames Water chegou a investir na primeira usina de dessaliniza\u00e7\u00e3o do Reino Unido, na foz do Rio T\u00e2misa, para abastecer Londres com mais 150 milh\u00f5es de litros de \u00e1gua pot\u00e1vel por dia.<\/p>\n\n\n\n

“Outra op\u00e7\u00e3o seria transferir \u00e1gua do Rio Severn, que nasce nas montanhas do Pa\u00eds de Gales, [por meio de uma tubula\u00e7\u00e3o] para o T\u00e2misa”, sugere Tuck, o que indica a possibilidade da sedenta regi\u00e3o sul sugar o restante da \u00e1gua do Reino Unido.<\/p>\n\n\n\n

‘Roubo’ de \u00e1gua<\/h2>\n\n\n\n

Pelo mesmo racioc\u00ednio, h\u00e1 tamb\u00e9m a hip\u00f3tese de o hemisf\u00e9rio norte “secar” o hemisf\u00e9rio sul. Os supermercados do Reino Unido oferecem frutas e legumes frescos durante todo o ano, independentemente da esta\u00e7\u00e3o, fornecidos por diferentes pa\u00edses. E cerca de 24% s\u00e3o jogados no lixo, a grande maioria ap\u00f3s a compra.<\/p>\n\n\n\n

De acordo com Dorcas Pratt, vice-diretora da Water Witness International, organiza\u00e7\u00e3o voltada para o desenvolvimento sustent\u00e1vel, “a grande quest\u00e3o \u00e9 que 62% do uso de ‘\u00e1gua virtual’ no Reino Unido – a quantidade de \u00e1gua necess\u00e1ria para produzir os alimentos que consumimos e produtos que usamos – \u00e9 proveniente do exterior”.<\/p>\n\n\n\n

“Nossa pegada h\u00eddrica global significa que a \u00e1gua usada pelo Reino Unido est\u00e1 interligada com a de comunidades e economias no mundo todo”, diz Pratt.<\/p>\n\n\n\n

“Portanto, n\u00e3o estamos apenas captando \u00e1gua em excesso de alguns aqu\u00edferos do Reino Unido, mas nosso padr\u00e3o de consumo globalizado faz com que a gente estimule a explora\u00e7\u00e3o da \u00e1gua (poluindo e degradando o ecossistema) em pa\u00edses ao redor do mundo.”<\/p>\n\n\n\n

\"Aspargos\"\/

Ao importar frutas e legumes, o Reino Unido est\u00e1 explorando os recursos h\u00eddricos de outros pa\u00edses
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Ela cita as fazendas de aspargos nos desertos peruanos como apenas um exemplo.<\/p>\n\n\n\n

Desequil\u00edbrio na demanda<\/h2>\n\n\n\n

Embora os per\u00edodos de seca tenham se tornado mais frequentes no Reino Unido, Catherine Moncrieff, da WWF, acredita que a grande quest\u00e3o \u00e9 que as pessoas “desperdi\u00e7am \u00e1gua”. Pa\u00edses tradicionalmente chuvosos precisam se reconectar com o valor e o custo da \u00e1gua.<\/p>\n\n\n\n

Apenas metade dos domic\u00edlios da Inglaterra e do Pa\u00eds de Gales tem medidor de \u00e1gua instalado. A outra metade paga uma taxa mensal fixa, independentemente da quantidade de \u00e1gua que consome; voc\u00ea pode deixar o irrigador de grama ligado o dia todo, ou tomar um banho de uma hora, sem arcar com custos extras.<\/p>\n\n\n\n

Em contrapartida, um relat\u00f3rio de 2008 da Ag\u00eancia Ambiental mostrou que Dinamarca, Finl\u00e2ndia, Holanda, Alemanha e B\u00e9lgica tinham medidores instalados em quase todas as resid\u00eancias – e apresentavam um consumo de \u00e1gua por pessoa muito menor que os 150 litros por dia do Reino Unido.<\/p>\n\n\n\n

Na Finl\u00e2ndia, por exemplo, o gasto m\u00e9dio era de 115 litros por dia. Mas nem sempre foi assim. Na d\u00e9cada de 1970, os finlandeses desperdi\u00e7avam cerca de 350 litros a 420 litros por dia.<\/p>\n\n\n\n

A redu\u00e7\u00e3o do consumo se deve, segundo o relat\u00f3rio, “ao aumento do pre\u00e7o da \u00e1gua, ao avan\u00e7o da tecnologia usada nas resid\u00eancias e nos servi\u00e7os de abastecimento, \u00e0 maior conscientiza\u00e7\u00e3o dos consumidores e \u00e0 melhor gest\u00e3o dos servi\u00e7os p\u00fablicos”.<\/p>\n\n\n\n

De acordo com Linstead, da WWF, “quase todos os pa\u00edses que realizaram campanhas bem sucedidas de efici\u00eancia h\u00eddrica t\u00eam medidores instalados. O medidor tamb\u00e9m ajuda as empresas a detectar vazamentos, o que significa mais economia de \u00e1gua “.<\/p>\n\n\n\n

A Dinamarca tamb\u00e9m costumava usar \u00e1gua doce como se n\u00e3o houvesse amanh\u00e3 – talvez porque seja um pa\u00eds pequeno com mais de 120 mil lagos e 69 mil quil\u00f4metros de rios. Em 1989, os dinamarqueses consumiam, em m\u00e9dia, 170 litros de \u00e1gua por dia, a um custo de apenas 2 euros por metro c\u00fabico (1 mil litros).<\/p>\n\n\n\n

A instala\u00e7\u00e3o obrigat\u00f3ria de medidores e o aumento do pre\u00e7o para 7 euros por metro c\u00fabico at\u00e9 2012 reduziram o consumo individual de \u00e1gua para 114 litros por dia.<\/p>\n\n\n\n

A WWF vai al\u00e9m e diz que 80 litros por pessoa “\u00e9 perfeitamente poss\u00edvel agora” em resid\u00eancias equipadas com dispositivos modernos que permitam uso racional da \u00e1gua.<\/p>\n\n\n\n

A Blueprint for Water, uma alian\u00e7a entre organiza\u00e7\u00f5es como a WWF e a WWT, faz um apelo para o consumo de \u00e1gua mais sustent\u00e1vel, tanto no Reino Unido quanto em outros pa\u00edses.<\/p>\n\n\n\n

A Southern Water se tornou a primeira empresa de \u00e1gua brit\u00e2nica a iniciar a medi\u00e7\u00e3o obrigat\u00f3ria; de 2010 a 2015, a companhia obteve uma redu\u00e7\u00e3o de 16% no consumo per capita e de 15% nos vazamentos de \u00e1gua.<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o h\u00e1 raz\u00e3o para que o Reino Unido “n\u00e3o seja capaz de alcan\u00e7ar a seguran\u00e7a h\u00eddrica”, diz Freeman.<\/p>\n\n\n\n

“Temos muita \u00e1gua quando chove! S\u00f3 precisamos saber usar de uma maneira melhor.”<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n\n\n\n


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