{"id":151941,"date":"2019-05-14T01:00:42","date_gmt":"2019-05-14T04:00:42","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=151941"},"modified":"2019-05-13T23:22:32","modified_gmt":"2019-05-14T02:22:32","slug":"o-belo-monstro-do-xingu","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/05\/14\/151941-o-belo-monstro-do-xingu.html","title":{"rendered":"O “belo monstro” do Xingu"},"content":{"rendered":"\n
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O ind\u00edgena Kawor\u00e9 Parakan\u00e3: h\u00e1 tempos que seu povo n\u00e3o pode mais beber da \u00e1gua do rio nem pescar <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A lancha, no momento, est\u00e1 passando por terra firme. Pelo menos \u00e9 o que diz o mapa no celular. A barragem do rio Xingu se ergue rasante pouco antes da cidade de Altamira. Onde antes havia casas, hoje h\u00e1 \u00e1gua. Milhares de moradores foram removidos. At\u00e9 o fim de 2019, o projeto de Belo Monte dever\u00e1 estar pronto, ap\u00f3s nove anos de obras: com 11.233 MW de pot\u00eancia instalada, ser\u00e1 a terceira maior hidrel\u00e9trica do mundo.<\/p>\n\n\n\n

“Belo monstro” \u2013 \u00e9 assim que o austr\u00edaco Erwin Kr\u00e4utler, bispo em\u00e9rito do Xingu, prefere se referir \u00e0 barragem. Em 2010, ele se dirigiu duas vezes ao ent\u00e3o presidente, Luiz In\u00e1cio Lula da Silva, para manifestar sua preocupa\u00e7\u00e3o sobre o projeto. “Lula me prometeu na \u00e9poca: n\u00f3s nunca vamos empurrar esse projeto pela goela de voc\u00eas. Belo Monte s\u00f3 vai acontecer se todos estiverem de acordo.”<\/p>\n\n\n\n

Kr\u00e4utler diz ter confiado em Lula: “Na \u00e9poca, eu pensei que n\u00e3o precisar\u00edamos ter medo, que no final n\u00e3o seria t\u00e3o ruim como muitos temiam. Mas meses depois eu vi que estava errado.”\u00a0Hoje, muitos em Altamira d\u00e3o raz\u00e3o a ele. Em vez do prometido boom econ\u00f4mico, foram os problemas sociais e a viol\u00eancia que explodiram. Com a obra quase pronta, s\u00e3o poucos agora os que encontram trabalho.<\/p>\n\n\n\n

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“Terra protegida”: placa do governo parece pouco importar na regi\u00e3o
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Altamira est\u00e1 tomada por antigos trabalhadores do projeto, assim como por ex-moradores dos arredores que foram realocados para a cidade. Muitos ainda esperam do governo e da operadora Norte Energia a ajuda social prometida \u2013 especificamente, uma nova casa. A empresa prefere n\u00e3o se manifestar. Segundo a assessoria de imprensa, a dedica\u00e7\u00e3o no momento est\u00e1 voltada para os preparativos finais da barragem.<\/p>\n\n\n\n

Segundo Ant\u00f4nia Melo, da ONG Xingu Vivo, operadora e governo gostam de se eximir de responsabilidade nesse caso. “Esse projetos s\u00e3o projetos ditatoriais”, resume ela, sobre uma luta de uma d\u00e9cada. Ao longo dos anos, diz, as autoridades exerceram enorme press\u00e3o sobre as vozes cr\u00edticas da sociedade civil. “At\u00e9 hoje a For\u00e7a Nacional est\u00e1 nos canteiros de obras.”<\/p>\n\n\n\n

A For\u00e7a Nacional costuma ser enviada pelo governo federal para locais de conflito. Na regi\u00e3o, at\u00e9 na terra ind\u00edgena Apyterewa no momento h\u00e1 soldados estacionados, ao lado de funcion\u00e1rios da Funai, \u00f3rg\u00e3o que vem sendo enfraquecido pelo governo Jair Bolsonaro. Eles assistem, sem qualquer rea\u00e7\u00e3o, como cada vez mais garimpeiros entram no territ\u00f3rio em busca de ouro.<\/p>\n\n\n\n

\"Ant\u00c3\u00b4nia

Ant\u00f4nia Melo, da ONG Xingu Vivo, diz que as autoridades exerceram enorme press\u00e3o sobre as vozes cr\u00edticas na regi\u00e3o
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Na verdade, a vida na terra Apyterewa, habitada pelos ind\u00edgenas Parakan\u00e3, deveria ter melhorado com Belo Monte. O territ\u00f3rio, reconhecido como deles em 2007, fica a cerca de 300 quil\u00f4metros da represa. Motocicletas, lanchas, um pequeno posto de sa\u00fade e geradores el\u00e9tricos foram providenciados pela Norte Energia como compensa\u00e7\u00e3o pela represa do Xingu.<\/p>\n\n\n\n

Mas a principal promessa n\u00e3o foi cumprida. Todos os n\u00e3o ind\u00edgenas deveriam ter sido expulsos. Mas imagens de sat\u00e9lite mostram como fazendeiros avan\u00e7am cada vez mais sobre o leste do territ\u00f3rio. Garimpeiros, por sua vez, seguem ativos nos rios que bordeiam a terra Apyterewa, revirando as margens com escavadeiras e sugando o fundo do rio com tubula\u00e7\u00f5es acopladas a jangadas.<\/p>\n\n\n\n

“A situa\u00e7\u00e3o n\u00e3o est\u00e1 boa para n\u00f3s, tem muitos invasores, garimpeiros, e eles est\u00e3o contaminando o igarap\u00e9”, diz o guia Kawor\u00e9 Parakan\u00e3. H\u00e1 tempos que seu povo n\u00e3o pode mais beber da \u00e1gua do rio nem pescar ali, devido ao alto teor de merc\u00fario.<\/p>\n\n\n\n

“O governo n\u00e3o est\u00e1 preocupado, n\u00e3o est\u00e1 presente. E a For\u00e7a Nacional n\u00e3o pode fazer nada sem a permiss\u00e3o do ministro”, afirma.<\/p>\n\n\n\n

\"Garimpeiros

Garimpeiros seguem ativos nos rios que bordeiam a terra Apyterewa
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Mas a ordem de Bras\u00edlia simplesmente n\u00e3o vem. Sozinhos, eles apenas observam diante de uma placa, colocada pelo pr\u00f3prio Minist\u00e9rio da Justi\u00e7a ao qual s\u00e3o subordinados: “Terra protegida”. Os invasores n\u00e3o se importam. “Mentiram para n\u00f3s, que tirariam todos os invasores. Enganaram a gente, e at\u00e9 hoje est\u00e3o enganando”, diz o guia.<\/p>\n\n\n\n

As caminhonetes dos garimpeiros da regi\u00e3o de S\u00e3o F\u00e9lix do Xingu levam adesivos de Bolsonaro. O presidente, dizem, prometeu ficar do lado deles na campanha. E com o apoio de Bolsonaro eles se sentem mais \u00e0 vontade para enfrentar as autoridades. J\u00e1 houve, por exemplo, ataques a funcion\u00e1rios da Funai, \u00f3rg\u00e3o que neste ano foi tirado do Minist\u00e9rio da Justi\u00e7a e colocado sob o Minist\u00e9rio da Mulher, Fam\u00edlia e Direitos Humanos. <\/p>\n\n\n\n

“O problema n\u00e3o \u00e9 mais jur\u00eddico. Hoje, o processo \u00e9 pol\u00edtico. Tem interesse pol\u00edtico dentro da \u00e1rea, atrav\u00e9s de prefeitos, de vereadores e deputados, que t\u00eam interesse, que t\u00eam terras pr\u00f3ximas \u00e0s terras ind\u00edgenas”, diz Jos\u00e9 Cleanton Curioso Ribeiro, do Conselho Indigenista Mission\u00e1rio (Cimi), em Altamira.<\/p>\n\n\n\n

Segundo ele, h\u00e1 algumas semanas os Parakan\u00e3 foram abordados por altos representantes do governo com a oferta de que deixassem caminho aberto para os invasores, em troca de participa\u00e7\u00e3o nos lucros. Uma oferta imoral, diz o representante do Cimi. Uma vez legitimados os invasores, a terra estar\u00e1 perdida para sempre.<\/p>\n\n\n\n

\"Segundo

Segundo Ribeiro, os Parakan\u00e3 foram abordados por membros do governo com uma oferta “imoral”
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Conflitos pela terra fazem parte do dia a dia aqui na fronteira agr\u00edcola, diz Andreia Macedo Barreto, defensora p\u00fablica estadual do estado do Par\u00e1. Assim como o bispo Kr\u00e4utler, ela se encontra atualmente sob prote\u00e7\u00e3o policial por ter sido amea\u00e7ada de morte. Poderosos latifundi\u00e1rios com influ\u00eancia pol\u00edtica contra pequenos agricultores e ind\u00edgenas \u2013 esse \u00e9 o roteiro recorrente na regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

S\u00f3 no munic\u00edpio de Anapu, que faz limite com Altamira, Barreto acompanha 16 casos de assassinato de ativistas. Nenhum at\u00e9 agora resolvido. Pois, afirma ela, a partir do momento em que interesses poderosos e advogados caros entram em jogo, um processo caminha facilmente at\u00e9 a prescri\u00e7\u00e3o. Por outro lado, explica, “se o Estado tem interesse em criminalizar um sujeito r\u00e1pido, ele faz”.<\/p>\n\n\n\n

Isso atinge sobretudo membros da sociedade civil. Segundo a defensora p\u00fablica, muitos ju\u00edzes conservadores compartilham o pensamento do presidente Bolsonaro de que ativistas do MST s\u00e3o bandidos. Tamb\u00e9m a ideia, diz Barreto, de que fazendeiros podem atirar em invasores est\u00e1 impregnada na Justi\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

“A ideia da fun\u00e7\u00e3o social, que n\u00f3s defendemos, do acesso \u00e0 terra do pobre, n\u00e3o predomina no Judici\u00e1rio”, diz a defensora p\u00fablica. Belo Monte, resume ela, n\u00e3o trouxe \u00e0 regi\u00e3o a prometida melhora na qualidade de vida. Pelo contr\u00e1rio: faltam \u00e1gua pot\u00e1vel limpa e ruas transit\u00e1veis.<\/p>\n\n\n\n

“Belo Monte n\u00e3o trouxe um benef\u00edcio social efetivo para a popula\u00e7\u00e3o. Esse passivo negativo das demandas sociais ainda n\u00e3o se conseguiu sanar. E acho que vai levar muito tempo para sanar os impactos de Belo Monte.”<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle
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At\u00e9 o fim do ano, a gigantesca hidrel\u00e9trica na Amaz\u00f4nia deve ficar pronta. Em vez da prometida melhora na qualidade de vida, impera na regi\u00e3o clima de faroeste. Garimpeiros e fazendeiros investem contra terra ind\u00edgena. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":151942,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[240,755],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/151941"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=151941"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/151941\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":151943,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/151941\/revisions\/151943"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/151942"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=151941"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=151941"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=151941"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}