{"id":152079,"date":"2019-05-21T01:00:11","date_gmt":"2019-05-21T04:00:11","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=152079"},"modified":"2019-05-20T23:24:16","modified_gmt":"2019-05-21T02:24:16","slug":"apicultores-brasileiros-encontram-meio-bilhao-de-abelhas-mortas-em-tres-meses-2","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/05\/21\/152079-apicultores-brasileiros-encontram-meio-bilhao-de-abelhas-mortas-em-tres-meses-2.html","title":{"rendered":"Apicultores brasileiros encontram meio bilh\u00e3o de abelhas mortas em tr\u00eas meses"},"content":{"rendered":"\n
\"Cerca

CERCA DE 100 MILH\u00d5ES DE ABELHAS FORAM ENCONTRADAS MORTAS EM CRUZ ALTA APENAS NO \u00daLTIMO TRIMESTRE (FOTO: SALVADOR GON\u00c7ALVES\/APICRUZ)
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Albert Einstein previu no s\u00e9culo passado que, se as abelhas desaparecessem da superf\u00edcie da Terra, o homem teria apenas mais quatro anos de vida. A morte em grande escala desse animal, interpretada como apocal\u00edptica na \u00e9poca, \u00e9 hoje um alerta real. Desde o come\u00e7o do s\u00e9culo, casos de morte e sumi\u00e7o de abelhas s\u00e3o registrados nos Estados Unidos e na Europa. No Brasil, estudiosos destacam epis\u00f3dios alarmantes a partir de 2005.<\/p>\n\n\n\n

Agora, o fen\u00f4meno parece chegar ao \u00e1pice. Em tr\u00eas meses (de dezembro de 2018 a fevereiro de 2019), mais de 500 milh\u00f5es de abelhas foram encontradas mortas por apicultores apenas em quatro estados brasileiros, segundo levantamento da Ag\u00eancia P\u00fablica e Rep\u00f3rter Brasil. Foram 400 milh\u00f5es no Rio Grande do Sul, 7 milh\u00f5es em S\u00e3o Paulo, 50 milh\u00f5es em Santa Catarina e 45 milh\u00f5es em Mato Grosso do Sul, segundo estimativas de Associa\u00e7\u00f5es de apicultura, secretarias de Agricultura e pesquisas realizadas por universidades.<\/p>\n\n\n\n

\"N\u00famero

N\u00daMERO DE ABELHAS MORTAS POR ESTADO (FOTO: AG\u00caNCIA P\u00daBLICA) <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O principal causador, afirmam especialistas e pesquisas laboratoriais analisadas pela reportagem, \u00e9 o contato com agrot\u00f3xicos \u00e0 base de neonicotinoides e de Fipronil, produto proibido na Europa h\u00e1 mais de uma d\u00e9cada. Esses ingredientes ativos s\u00e3o inseticidas, fatais para insetos, como \u00e9 o caso da abelha, e quando aplicados por pulveriza\u00e7\u00e3o a\u00e9rea se espalham pelo ambiente.<\/p>\n\n\n\n

As abelhas s\u00e3o as principais polinizadores da maioria dos ecossistemas do planeta. Voando de flor em flor, elas polinizam e promovem a reprodu\u00e7\u00e3o de diversas esp\u00e9cies de plantas. No Brasil, das 141 esp\u00e9cies de plantas cultivadas para alimenta\u00e7\u00e3o humana e produ\u00e7\u00e3o animal, cerca de 60% dependem em certo grau da poliniza\u00e7\u00e3o deste inseto. Segundo a Organiza\u00e7\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas para a Alimenta\u00e7\u00e3o e a Agricultura (FAO), 75% dos cultivos destinados \u00e0 alimenta\u00e7\u00e3o humana no mundo dependem das abelhas.<\/p>\n\n\n\n

Em Cruz Alta, munic\u00edpio de 60 mil habitantes no Rio Grande do Sul, mais de 20% de todas as colmeias foram perdidas apenas entre o Natal de 2018 e o come\u00e7o de fevereiro. Cerca de 100 milh\u00f5es de abelhas apareceram mortas, segundo a Apicultores de Cruz Alta (Apicruz). \u201cApareceram uns venenos muito bravos. Eles colocam de avi\u00e3o de manh\u00e3 e \u00e0 tarde as abelhas j\u00e1 come\u00e7am a aparecer mortas\u201d, relata o apicultor Salvador Gon\u00e7alves, presidente da Apicruz.<\/p>\n\n\n\n

No Brasil, h\u00e1 seis esp\u00e9cies de abelhas nativas \u2014 Melipona scutellaris, Melipona quadrifasciata, Melipona fasciculata, Melipona rufiventris, Nannotrigona testaceicornis, Tetragonisca angustula \u2013 e mais de 3 mil estrangeiras. A maioria delas n\u00e3o tem ferr\u00e3o, ou tem o \u00f3rg\u00e3o atrofiado.<\/p>\n\n\n\n

Cada esp\u00e9cie \u00e9 mais prop\u00edcia para poliniza\u00e7\u00e3o de determinadas culturas. Por exemplo, a Mamangaba, conhecida popularmente como abelh\u00e3o, \u00e9 a principal respons\u00e1vel pela poliniza\u00e7\u00e3o de maracuj\u00e1. \u201cO que aconteceria se esse inseto fosse extinto? Ou deixar\u00edamos de consumir essas frutas, ou elas ficariam car\u00edssimas, porque o trabalho de poliniza\u00e7\u00e3o para produzi-la teria que ser feito manualmente pelo ser humano\u201d, explica Carmem Pires, pesquisadora da Embrapa e doutora em Ecologia de Insetos.<\/p>\n\n\n\n

A estudiosa conta que at\u00e9 em lavouras que n\u00e3o s\u00e3o dependentes da a\u00e7\u00e3o direta dos polinizadores, a presen\u00e7a de abelhas aumenta a safra. \u201cNa de soja, por exemplo, \u00e9 identificado um aumento em 18% da produ\u00e7\u00e3o. \u00c9 importante destacar tamb\u00e9m o efeito em cadeia. As plantas precisam das abelhas para formar suas sementes e frutos, que s\u00e3o alimento de diversas aves, que por sua vez s\u00e3o a dieta alimentar de outros animais. A morte de abelhas afeta toda a cadeia alimentar\u201d.<\/p>\n\n\n\n

\"Abelhas

ABELHAS PRODUTORAS DE MEL (FOTO: PIXABAY) <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Agrot\u00f3xicos inimigos das abelhas<\/strong>
Os principais inimigos das abelhas s\u00e3o os agrot\u00f3xicos neonicotinoides, uma classe de inseticidas derivados da nicotina, como por exemplo o Clotianidina, Imidacloprid e o Tiametoxam. A diferen\u00e7a para outros venenos \u00e9 que ele tem a capacidade de se espalhar por todas as partes da planta. Por isso, costuma ser colocado na semente, e tudo acaba com vest\u00edgios: flores, ramos, ra\u00edzes e at\u00e9 no n\u00e9ctar e p\u00f3len. Eles s\u00e3o usados em diversas culturas como de algod\u00e3o, milho, soja, arroz e batata.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m dos neonicotinoides, h\u00e1 casos de mortandade relacionados tamb\u00e9m ao uso de agrot\u00f3xicos \u00e0 base de Fipronil, inseticida que age nas c\u00e9lulas nervosas dos insetos e, al\u00e9m de utilizado contra pragas em culturas como ma\u00e7\u00e3, soja e girassol, \u00e9 usado at\u00e9 mesmo em coleiras antipulgas de animais dom\u00e9sticos. Muitas vezes esse veneno \u00e9 aplicado em pulveriza\u00e7\u00e3o a\u00e9rea, o que o exp\u00f5e diretamente \u00e0s abelhas. Segundo pesquisa\u00a0produzida pela Embrapa\u00a0em 2004, 19% do agrot\u00f3xico manejado atrav\u00e9s do m\u00e9todo de pulveriza\u00e7\u00e3o a\u00e9rea \u00e9 dispersado para \u00e1reas fora da regi\u00e3o de aplica\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Dentro da colmeia as abelhas vivem em sociedades organizadas, com pap\u00e9is claros. Elas se dividem em castas \u2014 rainha, oper\u00e1rias e zang\u00f5es. A primeira delas \u00e9 a \u00fanica f\u00eamea f\u00e9rtil, \u00e9 quem coloca os ovos \u2014cerca de 2,5 mil por dia. Os zang\u00f5es s\u00e3o os machos e t\u00eam como papel fecundar a rainha. J\u00e1 as oper\u00e1rias s\u00e3o as f\u00eameas respons\u00e1veis por praticamente tudo dentro da colmeia: limpeza, coleta de n\u00e9ctar e p\u00f3len, alimenta\u00e7\u00e3o das larvas (abelhas n\u00e3o adultas), elabora\u00e7\u00e3o do mel e defesa do lar. A depender do tamanho da caixa e das condi\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas, uma \u00fanica colmeia pode abrigar at\u00e9 100 mil abelhas.<\/p>\n\n\n\n

A morte dos polinizadores por contato com os agrot\u00f3xicos pode ocorrer de v\u00e1rios modos. O mais comum \u00e9 quando a oper\u00e1ria sai para a poliniza\u00e7\u00e3o. Muitas acabam morrendo na hora, outras ficam desorientadas e infectadas. A partir daquele momento elas tentam voltar a colmeia, mas muitas n\u00e3o resistem ao caminho. As que conseguem voltar acabam infectando toda colmeia \u2014 o enxame acaba morto em pouco mais de um dia.<\/p>\n\n\n\n

\"Salvador

SALVADOR GON\u00c7ALVES CRIA ABELHAS H\u00c1 34 ANOS E \u00c9 PRESIDENTE DA APICRUZ (FOTO: ACERVO PESSOAL) <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Casos cada vez mais agudos<\/strong>
N\u00e3o existem n\u00fameros oficiais de mortes de abelhas no pa\u00eds, segundo o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renov\u00e1veis). Por\u00e9m, associa\u00e7\u00f5es de apicultores e \u00f3rg\u00e3os ligados \u00e0 secretarias estaduais de Agricultura fazem levantamentos pr\u00f3prios.<\/p>\n\n\n\n

Entre dezembro do ano passado e fevereiro de 2019, pelo menos 500 milh\u00f5es de abelhas foram encontradas mortas apenas nos estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, S\u00e3o Paulo e Mato Grosso do Sul, segundo apurou a reportagem. Mas o n\u00famero pode ser muito maior, j\u00e1 que \u00e9 imposs\u00edvel contabilizar as mortes de abelhas silvestres \u2013 aquelas que n\u00e3o s\u00e3o criadas por apicultores.<\/p>\n\n\n\n

A maioria dos casos recentes ocorreu no Rio Grande do Sul, onde, segundo a C\u00e2mara Setorial de Apicultura da Secretaria de Agricultura, Pecu\u00e1ria e Desenvolvimento Rural do estado, foram 400 milh\u00f5es de baixas desde dezembro do ano passado. O estado \u00e9 o maior produtor ap\u00edcola do pa\u00eds, com mais de 400 mil colmeias, de acordo com a Emater. A produ\u00e7\u00e3o de mel supera 6 mil toneladas por safra, cerca de 15% do total brasileiro.<\/p>\n\n\n\n

A Secretaria recebeu comunicados de \u00f3bitos em 10 munic\u00edpios: Jaguari, Sant\u2019Ana do Livramento, Alegrete, Santiago, Livramento, Bag\u00e9, Mata, Cruz Alta, Boa Vista do Cadeado, Santa Margarida. Isso significou mais de 1% das cria\u00e7\u00f5es de abelhas dizimadas. \u201cO estado tem cerca de 463 mil colmeias. Dessas, cerca de 5 mil foram completamente perdidas. O preju\u00edzo est\u00e1 em torno de 150 toneladas de mel\u201d, conta Aldo Machado dos Santos, coordenador da C\u00e2mara Setorial de Apicultura ga\u00facha.<\/p>\n\n\n\n

Por meio de not\u00edcias da imprensa, investiga\u00e7\u00f5es do Minist\u00e9rio P\u00fablico e estudos cient\u00edficos, a reportagem identificou casos de mortandade de abelhas em pelo menos dez estados brasileiros desde 2005: Cear\u00e1, Distrito Federal, Goi\u00e1s, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paran\u00e1, S\u00e3o Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.<\/p>\n\n\n\n

O engenheiro agr\u00f4nomo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Aroni Sattler \u00e9 especialista em sanidade das abelhas e trabalha na \u00e1rea desde 1973. Segundo ele, casos de mortes de enxames se tornaram mais recorrentes na \u00faltima d\u00e9cada. \u201cDevido ao meu trabalho, sempre recebi amostras de abelhas para an\u00e1lises, e vim percebendo que cada vez mais n\u00e3o havia sinais de doen\u00e7as nos insetos que explicassem mortandades t\u00e3o agudas\u201d, explica.<\/p>\n\n\n\n

No ano passado, ele foi procurado pelo Bioensaios, um laborat\u00f3rio privado, para orientar um trabalho sobre coleta de amostras em casos de mortandade. Foram analisados 30 casos de grandes baixas em enxames no Rio Grande do Sul. Os resultados mostram que cerca de 80% ingeriram ou tiveram contato com Fipronil antes de sucumbir. \u201cPelos sinais cl\u00ednicos e pelo hist\u00f3rico apresentado pelos apicultores, percebemos que os agricultores da regi\u00e3o misturavam o Fipronil no tanque junto com dessecantes desde o preparo do solo, passando pela fase vegetativa do cultivo e depois na hora da colheita. Se trata de um inseticida, e as abelhas s\u00e3o um tipo de inseto, por isso o ingrediente \u00e9 bastante t\u00f3xico para elas\u201d, detalha.<\/p>\n\n\n\n

O especialista aponta que, mesmo naquelas que n\u00e3o apresentaram vest\u00edgio dos agrot\u00f3xicos, pode ter ocorrido contato. \u201cNos outros 20% \u00e9 notado que a coleta das amostras n\u00e3o foi feita adequadamente, ou foi feita em um per\u00edodo muito longo ap\u00f3s a mortandade, o que dificulta a identifica\u00e7\u00e3o dos t\u00f3xicos\u201d.<\/p>\n\n\n\n

\"Agrot\u00f3xicos

DISPERS\u00c3O DE AGROT\u00d3XICOS (FOTO: CREATIVE COMMONS \/ AMISSPHOTOS) <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Quem \u00e9 o culpado?<\/strong>
Desde que come\u00e7ou a fazer an\u00e1lises de abelhas mortas, o engenheiro agr\u00f4nomo Aroni Sattler emitiu 30 laudos para apicultores do Rio Grande do Sul que comprovam o contato dos insetos com pesticidas. A partir da\u00ed eles podem levar os casos \u00e0 Justi\u00e7a e buscar ressarcimento. O especialista alerta para um risco ainda maior, o das abelhas nativas silvestres, pois n\u00e3o h\u00e1 como enumerar quantas est\u00e3o morrendo e nem denunciar quem aplicou o veneno. \u201cO impacto do uso desses agrot\u00f3xicos atinge um raio de 3 a 5 quil\u00f4metros das lavouras. Tudo no entorno desaparece\u201d, afirma.<\/p>\n\n\n\n

Aroni Sattler destaca tamb\u00e9m que muitas vezes os desastres ocorrem por falta de informa\u00e7\u00e3o. \u201cH\u00e1 casos de mortandade que acontecem porque os agricultores utilizam o agrot\u00f3xico de modo errado, ou at\u00e9 mesmo, por falta de conhecimento, eles acham que a abelha prejudica a lavoura e passam veneno\u201d.<\/p>\n\n\n\n

O coordenador da C\u00e2mara Setorial de Apicultura do Rio Grande do Sul, Aldo Machado, afirma que h\u00e1 necessidade de um trabalho de conscientiza\u00e7\u00e3o: \u201cPrecisamos de agr\u00f4nomos nos campos, acompanhando essas aplica\u00e7\u00f5es, vendo se est\u00e1 sendo feito conforme a bula\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Sobre realizar as den\u00fancias, ele explica que o canal indicado s\u00e3o as defensorias agr\u00edcolas ligadas \u00e0s secretarias estaduais ou municipais. Al\u00e9m disso, \u00e9 aconselh\u00e1vel informar a Pol\u00edcia Militar Ambiental e fazer um boletim de ocorr\u00eancia na Pol\u00edcia Civil. \u201cO apicultor tem que vencer o medo e denunciar. H\u00e1 dois anos, ap\u00f3s um grande surto de casos no Rio Grande do Sul, fizemos um levantamento e s\u00f3 existiam dois registros de den\u00fancia. Sab\u00edamos que estava ocorrendo mais, mas sem den\u00fancia n\u00e3o se torna oficial para o Governo\u201d. S\u00f3 em Cruz Alta, segundo a Associa\u00e7\u00e3o dos Apicultores de Cruz Alta (Apicruz), 810 colmeias foram totalmente perdidas entre 2015 e 2016 \u2013 cerca de 50 milh\u00f5es de abelhas. Por\u00e9m, no \u00faltimo trimestre a Apicruz estima que o n\u00famero de abelhas mortas ultrapasse 100 milh\u00f5es no munic\u00edpio.<\/p>\n\n\n\n

Mas, mesmo em casos onde h\u00e1 um laudo que prove a rela\u00e7\u00e3o das mortes com agrot\u00f3xicos, \u00e9 dif\u00edcil conseguir identificar um culpado, afirma Aldo Machado. \u201cEm Cruz Alta, por exemplo, h\u00e1 diversos produtores de soja. Existe a dificuldade de provar quem colocou esse princ\u00edpio ativo na lavoura. Em muitos casos, diversos produtores utilizam o agrot\u00f3xico, a\u00ed fica dif\u00edcil encontrar um culpado para cada caso espec\u00edfico\u201d, pontua.<\/p>\n\n\n\n

De acordo com a Lei Federal 7.802\/89, a Lei dos Agrot\u00f3xicos, quem deve fazer a fiscaliza\u00e7\u00e3o do uso s\u00e3o os \u00f3rg\u00e3os estaduais. Portanto, todo problema decorrente do uso desses qu\u00edmicos deve ser informado \u00e0s secretarias de Meio ambiente ou de Agricultura dos estados.<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 base legal para considerar a morte de abelha como crime ambiental. De acordo com o artigo 56 da Lei de Crimes Ambientais \u00e9 crime \u201cProduzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em dep\u00f3sito ou usar produto ou subst\u00e2ncia t\u00f3xica, perigosa ou nociva \u00e0 sa\u00fade humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exig\u00eancias estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Por\u00e9m, segundo o Ibama, h\u00e1 grande dificuldade para comprovar que a mortalidade se deu pelo uso em desacordo com as instru\u00e7\u00f5es autorizadas no registro. \u201cQuando isso fica comprovado \u2013 uso onde n\u00e3o devia, na quantidade que n\u00e3o devia, na \u00e9poca que n\u00e3o devia, usando equipamento que n\u00e3o devia e causando a mortalidade \u2013 a\u00ed se enquadra no artigo e se trata de crime ambiental\u201d, informa o Instituto, atrav\u00e9s da assessoria de imprensa.
<\/p>\n\n\n\n

Milh\u00f5es de mortes tamb\u00e9m em S\u00e3o Paulo \u2013 e por agrot\u00f3xicos<\/strong>
Testes laboratoriais apontaram o contato com agrot\u00f3xico como causador da morte de abelhas tamb\u00e9m no estado de S\u00e3o Paulo, onde a produ\u00e7\u00e3o de mel chega a 3,7 mil toneladas por safra \u2013 cerca de 10% do total nacional. Entre 2014 e 2017, uma pesquisa com a participa\u00e7\u00e3o da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Federal de S\u00e3o Carlos (UFScar) realizou um mapeamento sobre os fatores que contribuem para a perda de enxames. Em 78 cidades, os pesquisadores contabilizaram 107 produtores que sofreram com perdas de colmeias. Em tr\u00eas anos eles relataram que cerca de 255 milh\u00f5es de abelhas morreram.<\/p>\n\n\n\n

O professor e pesquisador da Unesp Rio Claro Osmar Malaspina, um dos respons\u00e1veis pelo trabalho, diz que os casos em S\u00e3o Paulo v\u00eam acontecendo desde 2005. \u201cEles se acentuam a partir de 2012, e at\u00e9 aquele momento os apicultores n\u00e3o sabiam como, mas todas as abelhas passavam a morrer do nada e em menos de 24 horas. A grande suspeita era de agrot\u00f3xicos, mas at\u00e9 aquele momento n\u00e3o t\u00ednhamos uma an\u00e1lise para provar isso\u201d.<\/p>\n\n\n\n

O projeto come\u00e7ou em 2013 com patroc\u00ednio de empresas produtoras de agrot\u00f3xicos.Batizado de Colmeia Viva, o projeto recebeu um telefone 0800 para den\u00fancias. Quando uma abelha morria, o apicultor ligava e fazia a queixa. \u201cAp\u00f3s a an\u00e1lise, entregamos um laudo para cada criador, que era p\u00fablico. E ele poderia us\u00e1-lo para entrar com a\u00e7\u00e3o na Justi\u00e7a\u201d, explica.<\/p>\n\n\n\n

O relat\u00f3rio do mapeamento\u00a0foi lan\u00e7ado no ano passado com conclus\u00f5es voltadas para a cria\u00e7\u00e3o de um plano de a\u00e7\u00e3o nacional para boas pr\u00e1ticas de aplica\u00e7\u00f5es de agrot\u00f3xicos. O objetivo \u00e9 manter uma rela\u00e7\u00e3o produtiva entre a agricultura e a apicultura, sem que nenhuma das duas \u00e1reas saia enfraquecida.<\/p>\n\n\n\n

A iniciativa contou com 222 atendimentos voltados a apicultores, das quais 107 originaram visitas ao campo. Em 88 ocorreram coletas de abelhas para an\u00e1lise focada na rela\u00e7\u00e3o com a aplica\u00e7\u00e3o de agrot\u00f3xicos. Em 59 casos \u2013 cerca de 67% \u2013 o resultado foi positivo para res\u00edduos de pesticidas. Em 27 casos, a hip\u00f3tese \u00e9 que a aplica\u00e7\u00e3o de t\u00f3xico tenha sido feita fora da lavoura onde a colmeia fica, e em 21 casos a suspeita \u00e9 de uso incorreto dentro da pr\u00f3pria resid\u00eancia (11 destes foram causados por produtos \u00e0 base de neonicotinoides e 10 \u00e0 base de Fipronil).<\/p>\n\n\n\n

O grupo tamb\u00e9m fez um trabalho educativo com agricultores, ensinando modos de aplica\u00e7\u00e3o de pesticidas que diminuam o impacto em abelhas. \u201cNos \u00faltimos meses estamos percebendo uma queda nas ocorr\u00eancias de mortandade, mas ainda temos que esperar mais alguns anos para fazer um novo estudo que confirme isso e nos mostre os motivos\u201d, explica. Nos \u00faltimos dois meses as baixas em colmeias foram reduzidas para cerca de 25.<\/p>\n\n\n\n

\"Por

POR RECEIO DE CONTAMINA\u00c7\u00c3O, APICULTORES JOGAM FORA TODO O MEL PRODUZIDO PELOS INSETOS (FOTO: SALVADOR GON\u00c7ALVES\/ APICRUZ) <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Reavalia\u00e7\u00e3o de agrot\u00f3xicos<\/strong>
Em decorr\u00eancia dos casos de mortandade de abelhas, o Ibama deu in\u00edcio em 2012 \u00e0 reavalia\u00e7\u00e3o de diversos ingredientes qu\u00edmicos usados em planta\u00e7\u00f5es. O primeiro est\u00e1 sendo o neonicotinoides Imidacloprid, o mais usado do grupo. Empresas declararam ao Ibama a comercializa\u00e7\u00e3o de 1.934 toneladas de Imidacloprido s\u00f3 em 2010. Simultaneamente, o Instituto est\u00e1 reavaliando tamb\u00e9m os neonicotinoides Clotianidina e o Tiametoxam, e ao fim dos tr\u00eas processos iniciar\u00e1 os testes com o Fipronil.<\/p>\n\n\n\n

Em 19 de julho de 2012 o Ibama chegou a proibir a pulveriza\u00e7\u00e3o a\u00e9rea do ingrediente ativo Imidacloprid. O \u00f3rg\u00e3o determinou tamb\u00e9m que todos os produtos deveriam conter nas embalagens o seguinte aviso: \u201cEste produto \u00e9 t\u00f3xico para abelhas. A aplica\u00e7\u00e3o a\u00e9rea N\u00c3O \u00c9 PERMITIDA. N\u00e3o aplique este produto em \u00e9poca de flora\u00e7\u00e3o, nem imediatamente antes do florescimento ou quando for observada visita\u00e7\u00e3o de abelhas na cultura. O descumprimento dessas determina\u00e7\u00f5es constitui crime ambiental, sujeito a penalidades\u201d. Por\u00e9m, o Minist\u00e9rio da Agricultura alegou que a aplica\u00e7\u00e3o a\u00e9rea do Imidacloprid era imprescind\u00edvel para determinadas culturas. Com isso, tr\u00eas meses depois, ficou autorizada a pulveriza\u00e7\u00e3o para culturas de arroz, cana-de-a\u00e7\u00facar, soja, trigo e algod\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Tendo em vista que os agrot\u00f3xicos mais nocivos \u00e0s abelhas est\u00e3o sendo reavaliados, passando agora pela Avalia\u00e7\u00e3o de Risco, o Ibama criou em 2015 um Grupo T\u00e9cnico de Trabalho para discutir os procedimentos a serem adotados para proteger especificamente as abelhas. O grupo se re\u00fane bimestralmente e conta com 13 participantes vindos do setor acad\u00eamico, da Embrapa, da Ind\u00fastria e tamb\u00e9m do Minist\u00e9rio do Meio Ambiente. Sua miss\u00e3o \u00e9 propor uma avalia\u00e7\u00e3o obrigat\u00f3ria de risco de agrot\u00f3xicos para abelhas. Por\u00e9m, n\u00e3o h\u00e1 previs\u00e3o de quando isso ocorrer\u00e1.<\/p>\n\n\n\n

\"Trabalhador

TRABALHADOR EM API\u00c1RIO (FOTO: PIXABAY) <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Minist\u00e9rio P\u00fablico Federal cobra respostas<\/strong>
H\u00e1 procedimentos em curso sobre a morte de abelhas em cinco procuradorias estaduais, no Distrito Federal, Goi\u00e1s, S\u00e3o Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, segundo a Procuradoria-Geral da Rep\u00fablica. A Ag\u00eancia P\u00fablica teve acesso a documentos relativos a dois desses casos.<\/p>\n\n\n\n

No Rio Grande do Sul, h\u00e1 uma a\u00e7\u00e3o civil p\u00fablica tramitando na 9\u00aa Vara Federal de Porto Alegre. A a\u00e7\u00e3o foi ajuizada em outubro de 2017 contra o Ibama, para obrigar a autarquia a concluir no prazo de seis meses o processo de reavalia\u00e7\u00e3o da subst\u00e2ncia Imidacloprid.<\/p>\n\n\n\n

Por\u00e9m, o Ibama afirma que ter\u00e1 dificuldade de concluir o processo administrativo nesse prazo. Segundo um memorando, o \u00f3rg\u00e3o est\u00e1 construindo diversos protocolos de testes, por se tratar de avalia\u00e7\u00f5es ainda in\u00e9ditas no pa\u00eds. A equipe que realiza as reavalia\u00e7\u00f5es \u00e9 composta por apenas cinco analistas ambientais: tr\u00eas bi\u00f3logos, um qu\u00edmico e um zootecnista.<\/p>\n\n\n\n

Em Mato Grosso do Sul, a Associa\u00e7\u00e3o de Produtores de Mel de Dourados entrou com uma representa\u00e7\u00e3o protocolada em mar\u00e7o de 2018 pedindo investiga\u00e7\u00e3o do MPF\/MS. Na justificativa, a associa\u00e7\u00e3o afirma que os apicultores est\u00e3o perdendo sua renda e produ\u00e7\u00e3o por causa das mortes de abelhas \u201cpelo uso indiscriminado e abusivo de agrot\u00f3xico nas lavouras de cana de a\u00e7\u00facar, soja, milho, arroz e outras culturas agr\u00edcolas\u201d.<\/p>\n\n\n\n

A representa\u00e7\u00e3o deu origem a uma Not\u00edcia de Fato, uma demanda encaminhada aos \u00f3rg\u00e3os para investiga\u00e7\u00e3o, e agora o MPF de Mato Grosso do Sul avalia se vai instaurar ou n\u00e3o um procedimento pr\u00f3prio.<\/p>\n\n\n\n

Leis para reduzir pesticidas e salvar as abelhas<\/strong>
20 de maio \u00e9 o Dia Mundial das Abelhas, data criada para lembrar a import\u00e2ncia desses insetos para a produ\u00e7\u00e3o de alimentos em escala global. Elas n\u00e3o s\u00e3o as \u00fanicas agentes polinizadoras \u2014 p\u00e1ssaros, morcegos, esquilos, besouros e diversos outros contribuem para a reprodu\u00e7\u00e3o das plantas \u2013 mas o grande n\u00famero e esp\u00e9cies de abelhas as colocam no papel principal.<\/p>\n\n\n\n

Para defend\u00ea-las, a FAO\/ONU, em parceria com a Organiza\u00e7\u00e3o Mundial de Sa\u00fade (OMS), elaborou o C\u00f3digo Internacional de Conduta para o Manejo de Pesticidas. A organiza\u00e7\u00e3o destaca, entretanto, que sem a diminui\u00e7\u00e3o do uso de agrot\u00f3xicos as abelhas continuar\u00e3o em risco. \u201cN\u00e3o podemos continuar nos concentrando em aumentar a produ\u00e7\u00e3o e a produtividade com base no uso generalizado de pesticidas e produtos qu\u00edmicos que amea\u00e7am os cultivos e os polinizadores\u201d, alertou o diretor-geral da ag\u00eancia da ONU, Jos\u00e9 Graziano da Silva.<\/p>\n\n\n\n

A passos lentos, alguns pa\u00edses v\u00e3o adotando leis para salvar os zang\u00f5es, rainhas e oper\u00e1rias. O Fipronil j\u00e1 \u00e9 proibido em toda a Uni\u00e3o Europeia h\u00e1 mais de uma d\u00e9cada. Em 2004, ele foi banido da Fran\u00e7a ap\u00f3s a\u00e7\u00f5es que denunciavam o impacto do veneno \u2014 naquele ano, cerca de 40% dos insetos criados nos api\u00e1rios franceses foram encontrados mortos. Os neonicotinoides entraram em discuss\u00e3o logo depois. Em 2013 tiveram os registros congelados por dois anos, e em 2018 veio o banimento permanente.<\/p>\n\n\n\n

At\u00e9 os Estados Unidos caminham na mesma dire\u00e7\u00e3o. Em 2013, um relat\u00f3rio do Departamento de Agricultura americano (USDA) mostrou que quase um ter\u00e7o das abelhas de col\u00f4nias do pa\u00eds morreram durante o inverno de 2012\/2013. No ano seguinte, o ent\u00e3o presidente americano Barack Obama proibiu o uso de neonicotinoides em \u00e1reas de vida selvagem.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Revista Galileu<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Casos foram detectados no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, S\u00e3o Paulo e Mato Grosso do Sul. An\u00e1lises laboratoriais identificaram agrot\u00f3xicos em cerca de 80% dos enxames mortos no RS <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":152080,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[392,3790,702],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/152079"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=152079"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/152079\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":152081,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/152079\/revisions\/152081"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/152080"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=152079"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=152079"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=152079"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}