{"id":152110,"date":"2019-05-23T01:13:04","date_gmt":"2019-05-23T04:13:04","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=152110"},"modified":"2019-05-22T21:18:13","modified_gmt":"2019-05-23T00:18:13","slug":"projeto-pioneiro-cria-garoupas-em-laboratorio-para-recuperar-populacao","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/05\/23\/152110-projeto-pioneiro-cria-garoupas-em-laboratorio-para-recuperar-populacao.html","title":{"rendered":"Projeto pioneiro cria garoupas em laborat\u00f3rio para recuperar popula\u00e7\u00e3o"},"content":{"rendered":"\n
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Amea\u00e7ada de extin\u00e7\u00e3o, a garoupa-verdadeira tem crescimento lento \u2013 demora 50 anos para atingir 50 kg. Na tentativa de repovoar uma regi\u00e3o que j\u00e1 sofre com o baixo estoque da esp\u00e9cie, o projeto Garoupeta solta milhares de jovens peixes criados em laborat\u00f3rio no litoral norte de S\u00e3o Paulo.
FOTO DE\u00a0LUCIANO CANDISANI<\/strong> <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

No \u00faltimo 6 de maio o mundo acordou com os resultados divulgados pela ONU do mais importante diagn\u00f3stico sobre o estado da biodiversidade no mundo:\u00a01 milh\u00e3o de esp\u00e9cies de animais e vegetais amea\u00e7adas. O n\u00famero \u00e9 o resultado de uma compila\u00e7\u00e3o de 15 mil estudos dos \u00faltimos tr\u00eas anos foi feita pela Plataforma Intergovernamental para Biodiversidade e Servi\u00e7os Ecossist\u00eamicos. E no caso dos oceanos a not\u00edcia \u00e9 ainda mais grave \u2013 por conta da sobrepesca, pelo menos 60% dos estoques de peixes marinhos est\u00e3o no limite.<\/p>\n\n\n\n

Nove dias depois dessa constata\u00e7\u00e3o catastr\u00f3fica sobre o futuro do planeta, acompanhamos um projeto com o objetivo de recupera\u00e7\u00e3o e repovoamento de uma esp\u00e9cie marinha emblem\u00e1tica: a garoupa-verdadeira.<\/p>\n\n\n\n

Numa quarta-feira ensolarada, mas com \u00e1gua ainda turva no litoral norte de S\u00e3o Paulo, esta rep\u00f3rter e o fot\u00f3grafo Luciano Candisani testemunharam, junto \u00e0 equipe da Associa\u00e7\u00e3o Ambientalistas Terraviva (Atevi), a\u00a0soltura de duas mil jovens garoupas, a \u00faltima de 2019. O Projeto Garoupeta tem apoio da Funda\u00e7\u00e3o Grupo O Botic\u00e1rio e outros parceiros, e um prazo de dura\u00e7\u00e3o de dois anos. Neste primeiro ano, a miss\u00e3o era soltar dez mil garoupetas, duas mil por vez.<\/p>\n\n\n\n

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Mergulhador e pescador, o cai\u00e7ara Felipe Caranha tamb\u00e9m ajuda o projeto Garoupeta a encontrar lugares prop\u00edcios para soltar as garoupas. Na foto, ele carrega uma gaiola com 500 jovens peixes que foram liberados na Ilhabela.
FOTO DE\u00a0LUCIANO CANDISANI<\/strong> <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O local da a\u00e7\u00e3o foi o Santu\u00e1rio Ecol\u00f3gico Marinho da Ilha das Cabras, uma \u00e1rea conserva\u00e7\u00e3o municipal na Ilhabela, litoral norte de S\u00e3o Paulo, regi\u00e3o de ocorr\u00eancia das garoupas.<\/p>\n\n\n\n

Cada \u00e1rea foi escolhida ap\u00f3s muitos mergulhos de pesquisa sobre a biomassa para permitir seguran\u00e7a ao crescimento das garoupinhas no ambiente. O projeto far\u00e1 o monitoramento e senso visual da esp\u00e9cie a cada 60 dias.<\/p>\n\n\n\n

“O que estamos buscando \u00e9 entender como a soltura das garoupas pode impactar o ambiente. Queremos saber como a biomassa evoluir\u00e1 depois dessas solturas. Quantas garoupas vamos encontrar por aqui?\u201d, conta a veterin\u00e1ria e presidente da Atevi, Claudia Kerber.<\/p>\n\n\n\n

Ap\u00f3s meia hora de navega\u00e7\u00e3o ao lado das duas mil garoupinhas nadando em um tanque com uma pedra de oxig\u00eanio \u2013 monitorado de perto pela veterin\u00e1ria \u2013, chegamos ao local escolhido. Este \u00e9 um ponto selecionado porque atende requisitos importantes: desde profundidade, presen\u00e7a de tocas e de outros indiv\u00edduos da esp\u00e9cie no local.<\/p>\n\n\n\n

Definido o ponto de soltura, os mergulhadores transportam as garoupetas em gaiolas na \u00e1gua. Cada \u201clote\u201d tem 500 peixes. A soltura \u00e9 fracionada para garantir que as jovens garoupas n\u00e3o sejam alvo f\u00e1cil de predadores e se espalhem melhor nas tocas.<\/p>\n\n\n\n

A visibilidade neste dia n\u00e3o era muito boa. N\u00e3o passava de 1,5 m. Mas isso n\u00e3o \u00e9 importante para os peixes. A soltura foi realizada pelo mergulhador e cai\u00e7ara Felipe \u201cCaranha\u201d. Ele tamb\u00e9m \u00e9 pescador e ficou muito emocionado pela chegada deste dia.<\/p>\n\n\n\n

Caranha conta que se sente como a m\u00e3e das garoupas. E faz sentido. H\u00e1 mais de uma d\u00e9cada, foi ele o respons\u00e1vel pela captura dos primeiros exemplares para os testes iniciais no laborat\u00f3rio de reprodu\u00e7\u00e3o. Hoje ele cuida tamb\u00e9m da circula\u00e7\u00e3o da \u00e1gua nos tanques do projeto e na busca dos ambientes ideais para as pr\u00f3ximas solturas.<\/p>\n\n\n\n

\u201cPara n\u00f3s que nascemos na Ilhabela a garoupa \u00e9 muito mais que nota de cem reais: representa a fam\u00edlia, representa a uni\u00e3o\u201d, disse Caranha. \u201cQuando a gente pesca uma garoupa dividimos ela no almo\u00e7o com a fam\u00edlia. Os nossos antepassados com certeza estariam apoiando o que est\u00e1 acontecendo hoje aqui.\u201d<\/p>\n\n\n\n

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O cai\u00e7ara Felipe Caranha solta jovens garoupas criadas em laborat\u00f3rio no litoral norte de S\u00e3o Paulo. O projeto Garoupeta criou e soltou na natureza um total de 10 mil jovens garoupas para repovoar a regi\u00e3o. Os peixes ser\u00e3o monitorados pelos pr\u00f3ximos dois anos.
FOTO DE\u00a0LUCIANO CANDISANI<\/strong> <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A garoupa-verdadeira \u00e9 uma esp\u00e9cie marinha considerada topo de cadeia \u2013 carn\u00edvora, controla o equil\u00edbrio dos corais e se alimenta de moluscos e pequenos peixes. Mas \u00e9 de crescimento lento, demora 50 anos para atingir 50 quilos. Por conta do tamanho, \u00e9 \u00e9 muito procurada pela pesca tradicional e pela ca\u00e7a submarina (hoje proibida no Brasil). Felizmente, ela tamb\u00e9m \u00e9 muito \u201cca\u00e7ada\u201d, em outro sentido, por mergulhadores. \u00c9 uma grande emo\u00e7\u00e3o observar este peixe bem desenvolvido em seu ambiente.<\/p>\n\n\n\n

As carater\u00edsticas \u00fanicas da garoupa deixaram a esp\u00e9cie na lista vermelha de esp\u00e9cies amea\u00e7adas da IUCN, na categoria vulner\u00e1vel. Isso significa que a sua pesca ainda \u00e9 permitida, mas com uma s\u00e9rie de restri\u00e7\u00f5es com rela\u00e7\u00e3o ao tamanho. Tudo bem definido pela portaria 445 do MMA. A garoupa s\u00f3 pode ser pescada a partir de 47 cent\u00edmetros. E n\u00e3o pode ser maior que 73 cent\u00edmetros.<\/p>\n\n\n\n

Apesar das regras, acolhidas pelos pescadores de Ilhabela, por exemplo, ainda existe muita press\u00e3o e procura pela garoupa-verdadeira. \u201cAinda vejo muitas postagens em redes sociais de ca\u00e7a sub com garoupas fora do tamanho permitido\u201d, conta Claudia Kerber.<\/p>\n\n\n\n

Laborat\u00f3rio \u00fanico no mundo  <\/h3>\n\n\n\n

A vontade do casal para recuperar a esp\u00e9cie t\u00e3o importante para o litoral come\u00e7ou h\u00e1 12 anos. Claudia e o marido Pedro Ant\u00f4nio dos Santos tinham a Peixaria Comunit\u00e1ria, onde vendiam apenas esp\u00e9cies trazidas pelos pescadores locais. N\u00e3o demorou para notarem o decl\u00ednio da oferta de garoupa e outras esp\u00e9cies. Como veterin\u00e1ria, Claudia decidiu mudar essa perspectiva.<\/p>\n\n\n\n

O casal criou em Ilhabela o \u00fanico laborat\u00f3rio no mundo, coordenado pela Redemar Alevinos, para cria\u00e7\u00e3o de garoupas e o primeiro e \u00fanico do Brasil na produ\u00e7\u00e3o de peixes marinhos com finalidade comercial.  A produ\u00e7\u00e3o de alevinos em laborat\u00f3rio \u00e9 uma das solu\u00e7\u00f5es para conseguir o repovoamento de esp\u00e9cies fundamentais para a recomposi\u00e7\u00e3o de estoques pesqueiros.<\/p>\n\n\n\n

As jovens garoupas soltas t\u00eam 120 dias e 15 gramas. O tamanho \u00e9 uma quest\u00e3o crucial \u2013 se uma garoupa \u00e9 solta muito pequena, vira alvo f\u00e1cil de predador. E se ela \u00e9 muito grande, tem que se acostumar a ativar os instintos, o que leva um tempo. Por se tratar de uma a\u00e7\u00e3o pioneira, o resultado ser\u00e1 colhido com o tempo.<\/p>\n\n\n\n

Ao final do dia, Claudia Kerber comemorou a \u00faltima soltura do ano e in\u00edcio da nova etapa: \u201cCom as informa\u00e7\u00f5es, teremos dados para propor novas pol\u00edticas p\u00fablicas para outros lugares onde a garoupa j\u00e1 desapareceu.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Agora \u00e9 esperar os dados de monitoramento. E que mergulhadores e pescadores do litoral de S\u00e3o Paulo tenham logo boas hist\u00f3rias para contar sobre garoupas.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"