{"id":152414,"date":"2019-06-11T16:00:11","date_gmt":"2019-06-11T19:00:11","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=152414"},"modified":"2019-06-11T16:33:04","modified_gmt":"2019-06-11T19:33:04","slug":"economistas-esqueceram-o-principio-da-vida","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/06\/11\/152414-economistas-esqueceram-o-principio-da-vida.html","title":{"rendered":"“Economistas esqueceram o princ\u00edpio da vida”"},"content":{"rendered":"\n
\"Desmatamento

Desmatamento na Amaz\u00f4nia: para ecologista, origem da crise ambiental est\u00e1 na hist\u00f3ria do pensamento
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Se a esp\u00e9cie humana se julga o ser supremo da Terra, como criou um modo de vida destrutivo ao planeta? Essa quest\u00e3o levou o soci\u00f3logo mexicano Enrique Leff, de 74 anos, a um mergulho na hist\u00f3ria da filosofia ocidental, em busca de respostas. O resultado est\u00e1 em seu \u00faltimo livro, O fogo da vida<\/em>.<\/p>\n\n\n\n

Doutor em Economia do Desenvolvimento pela Universidade de Paris, Leff \u00e9 uma das principais vozes no debate sobre ecologia pol\u00edtica. Para o mexicano, o pressuposto de que o homem pode dominar a natureza e t\u00ea-la a seu servi\u00e7o \u00e9 respons\u00e1vel pela crise ambiental que vive o planeta. A \u00fanica sa\u00edda, na vis\u00e3o de Leff, \u00e9 reaprender a viver em conformidade com a vida da Terra, tal como sempre fizeram os povos origin\u00e1rios.<\/p>\n\n\n\n

“Devemos pensar nas condi\u00e7\u00f5es de sustentabilidade a partir do imagin\u00e1rio dos povos da terra. Sentir, saber como intervir nesses processos din\u00e2micos do metabolismo da iosfera. Precisamos reaprender a viver de acordo com as condi\u00e7\u00f5es da vida”, conclama nesta entrevista \u00e0 DW Brasil, realizada durante o Semin\u00e1rio Internacional de Ecologia Pol\u00edtica – Justi\u00e7a Socioambiental e Alimentar na Tr\u00edplice Fronteira<\/em>.<\/p>\n\n\n\n

DW: Como explicar que o pensamento seja respons\u00e1vel pela crise ambiental que vivemos hoje?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Enrique Leff:<\/strong> A filosofia n\u00e3o considerou o peso espec\u00edfico do pensamento. Ficaram pensando na transcend\u00eancia do pensamento, e n\u00e3o no impacto que tem sobre a ordem da vida e a condi\u00e7\u00e3o da terra. Se os economistas n\u00e3o acham que a economia \u00e9 respons\u00e1vel pela crise ambiental, os fil\u00f3sofos tampouco pensaram em sua responsabilidade at\u00e9 agora. A origem do impacto do processo econ\u00f4mico sobre a desestrutura\u00e7\u00e3o da natureza, da crise ambiental, \u00e9 realmente um efeito metaf\u00edsico. Tudo prov\u00e9m do modo de compreens\u00e3o do mundo, das coisas, que v\u00eam da constitui\u00e7\u00e3o do pensamento metaf\u00edsico, sua predile\u00e7\u00e3o quase obsessiva para meditar sobre o ser das coisas, sem pensar o impacto do pensamento sobre a ordem da vida. A crise ambiental \u00e9 fundamentalmente o efeito de uma falha de compreens\u00e3o da vida e da interven\u00e7\u00e3o humana sobre a ordem da vida. N\u00f3s precisamos compreender este enorme enigma: como o homo sapiens, que se orgulha de ser o ser supremo da cria\u00e7\u00e3o, gerou uma racionalidade contr\u00e1ria \u00e0s condi\u00e7\u00f5es da vida.<\/p>\n\n\n\n

O que caracteriza essa forma de interagir com a vida?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

O modo de racionaliza\u00e7\u00e3o do mundo est\u00e1 fundado e se converteu numa vontade de poder e dom\u00ednio sobre a natureza. Esse ideal mal pretendido de controlar pelo conhecimento se converteu em um meio de interven\u00e7\u00e3o sobre as condi\u00e7\u00f5es da vida. Foi o que desencadeou a entropiza\u00e7\u00e3o do planeta, a apropria\u00e7\u00e3o destrutiva, por meio da medida, c\u00e1lculo, convers\u00e3o de todas as ordens ontol\u00f3gicas da vida. Isso constituiu a complexidade emergente da vida no planeta em um processo maior de entropiza\u00e7\u00e3o, degrada\u00e7\u00e3o da mat\u00e9ria e da energia organizada em nossa terra.<\/p>\n\n\n\n

Por sua vez, os modos tradicionais de compreens\u00e3o da vida foram descartados. Se n\u00e3o conhecem perfeitamente a ordem da vida, eles se aproximam mais de sentir, perceber, experimentar, dar tempo \u00e0 natureza para se recuperar. S\u00e3o modos mais prudentes de interven\u00e7\u00e3o sem a vida, que n\u00e3o se baseiam na domina\u00e7\u00e3o e controle, mas em viver dentro das condi\u00e7\u00f5es da vida, de sua iman\u00eancia. \u00c9 outra predisposi\u00e7\u00e3o da mente e corpo humanos para viver bem nessas condi\u00e7\u00f5es, um outro modo de compreender a vida.<\/p>\n\n\n\n

As solu\u00e7\u00f5es sustent\u00e1veis apresentadas por novas tecnologias n\u00e3o s\u00e3o suficientes para reverter o quadro atual?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

O conceito de desenvolvimento sustent\u00e1vel j\u00e1 foi bastante pervertido e cooptado pela racionalidade econ\u00f4mica, com as ideias da economia verde e mecanismos de desenvolvimento limpo – toda essa estrat\u00e9gia que pretende recompor o pensamento econ\u00f4mico deste mundo sem sair da racionalidade econ\u00f4mica. Em vez de pensar a desconstru\u00e7\u00e3o da economia que gera o aquecimento global, est\u00e3o investindo em novas tecnologias para refletir os raios solares, a fim de evitar um aquecimento maior do planeta. Precisamos pensar a partir do que n\u00e3o \u00e9 uma fantasia, a produtividade entr\u00f3pica da atmosfera. \u00c9 poss\u00edvel essa reconstitui\u00e7\u00e3o da vida, dos modos de interven\u00e7\u00e3o, de acordo com essas condi\u00e7\u00f5es da vida.<\/p>\n\n\n\n

Devemos pensar nas condi\u00e7\u00f5es de sustentabilidade a partir do imagin\u00e1rio dos povos da terra. Sentir, saber como intervir nesses processos din\u00e2micos do metabolismo da biosfera. \u00c9 um processo de reaprendizagem do que \u00e9 responsabilidade da humanidade neste momento de transi\u00e7\u00e3o hist\u00f3rica do planeta. Somos o motor maior das transforma\u00e7\u00f5es da vida, e precisamos estar conscientes disso.<\/p>\n\n\n\n

Os povos da terra n\u00e3o s\u00e3o est\u00e1ticos, como pensavam alguns antrop\u00f3logos, est\u00e3o mostrando a grande sensibilidade, capacidade de reflex\u00e3o e reconstitui\u00e7\u00e3o dessas identidades para aprender a viver dentro das condi\u00e7\u00f5es da vida. Isso significa abrir-se a interc\u00e2mbios de saber e ao mundo da ci\u00eancia para ver as li\u00e7\u00f5es mais positivas que eles possam incorporar \u00e0s suas pr\u00e1ticas coletivas e processos produtivos. A\u00ed, abre-se uma possibilidade hist\u00f3rica, que acaba sendo imperativa. Eles t\u00eam muito mais a ensinar a n\u00f3s, acad\u00eamicos, do que o contr\u00e1rio. Mas est\u00e3o bem mais abertos \u00e0 ci\u00eancia do que n\u00f3s ao conhecimento deles, para juntos abrirmos esses espa\u00e7os de di\u00e1logos de saberes, visando a uma nova compreens\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

O senhor acredita na transi\u00e7\u00e3o para outros modelos de intera\u00e7\u00e3o com o planeta?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Devemos nos perguntar se a natureza oferece condi\u00e7\u00f5es suficientes para pensar um mundo constru\u00eddo dentro de outras economias, outras racionalidades, de um aproveitamento das condi\u00e7\u00f5es da vida. Falam na necessidade de se adaptar \u00e0s mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, como se fossem um destino inevit\u00e1vel. Isso j\u00e1 fecha as possibilidades de pensar este outro mundo poss\u00edvel. N\u00e3o se trata de construir sobre a fantasia, mas uma verdade que at\u00e9 agora esteve invisibilizada.<\/p>\n\n\n\n

Vislumbro um mundo constru\u00eddo sobre a produtividade ecol\u00f3gica da natureza. \u00c9 preciso retomar esse modo de compreens\u00e3o da economia dos fisiocratas, anterior \u00e0 constru\u00e7\u00e3o cl\u00e1ssica de Adam Smith e Karl Marx. Eles defendiam uma economia que se constitui sobre os princ\u00edpios da pot\u00eancia emergencial da vida e pensavam em termos de produtividade das sementes. Essa vis\u00e3o foi relegada ao ostracismo do pensamento econ\u00f4mico como um absurdo, imposs\u00edvel, porque n\u00e3o era pensada nos termos da racionalidade tecnol\u00f3gica, cient\u00edfica, voltada ao progresso humano.<\/p>\n\n\n\n

O f\u00edsico austr\u00edaco Erwin Schr\u00f6dinger foi o primeiro a falar na vida como entropia negativa, na termodin\u00e2mica. Isso recupera a compreens\u00e3o de nosso mundo, que a biosfera est\u00e1 constitu\u00edda por um processo de transforma\u00e7\u00e3o de energia solar e produ\u00e7\u00e3o de biomassa. Esse princ\u00edpio, que foi e continua a ser esquecido pelos economistas, \u00e9 o princ\u00edpio da vida. Se ainda existimos neste mundo, \u00e9 porque temos um planeta que gerou a vida a partir da energia solar, das condi\u00e7\u00f5es de constitui\u00e7\u00e3o molecular da vida e a complexidade da biosfera. H\u00e1 15 milh\u00f5es de anos se constitu\u00edram os equil\u00edbrios atmosf\u00e9ricos e ecol\u00f3gicos que continuam gerando a diversidade nesse planeta.<\/p>\n\n\n\n

Um sistema econ\u00f4mico nesses moldes poderiam atender \u00e0s necessidades da popula\u00e7\u00e3o mundial?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Em 1974, no primeiro congresso internacional de ecologia, foram realizados os primeiros c\u00e1lculos da produtividade da natureza, com foco nos sistemas tropicais. Em termos termodin\u00e2micos e de biomassa, o planeta n\u00e3o s\u00f3 \u00e9 suficientemente produtivo, mas a pr\u00f3pria natureza gera biomassa em porcentagem de crescimento natural de 8% a 10%. N\u00e3o \u00e9 pouca coisa, quando se pensa que os grandes pa\u00edses est\u00e3o com dificuldades de crescer mais do que 5%, de forma insustent\u00e1vel.<\/p>\n\n\n\n

Como a natureza gera sua maior pot\u00eancia nas faixas tropicais, as economias localizadas mais a norte ou a sul rejeitam essa ideia porque n\u00e3o conseguem acreditar. At\u00e9 os esquim\u00f3s\u00a0conseguiram construir processos humanos civilizat\u00f3rios para viver em condi\u00e7\u00f5es de produtividade naturais. Isso n\u00e3o quer dizer que os homens devem viver s\u00f3 dessa produtividade. A isso se somam os processos de interven\u00e7\u00e3o cultural para selecionar as esp\u00e9cies mais \u00fateis, fazer cultivos sustent\u00e1veis, associa\u00e7\u00f5es m\u00faltiplas. Tal como fazem as polivalentes culturas tradicionais amaz\u00f4nicas, que se adaptam aos per\u00edodos de cheia e seca.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Ecologista mexicano defende que origem da crise ambiental est\u00e1 na hist\u00f3ria do pensamento e no pressuposto de que o homem pode dominar a natureza e t\u00ea-la a seu servi\u00e7o, em vez de viver em conformidade com ela. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":152415,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[1236,202,170,158],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/152414"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=152414"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/152414\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":152416,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/152414\/revisions\/152416"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/152415"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=152414"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=152414"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=152414"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}