{"id":152691,"date":"2019-06-28T00:57:37","date_gmt":"2019-06-28T03:57:37","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=152691"},"modified":"2019-06-27T23:04:23","modified_gmt":"2019-06-28T02:04:23","slug":"a-emocionante-despedida-de-elefantas-que-viveram-por-40-anos-em-cativeiro-no-brasil","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/06\/28\/152691-a-emocionante-despedida-de-elefantas-que-viveram-por-40-anos-em-cativeiro-no-brasil.html","title":{"rendered":"A emocionante despedida de elefantas que viveram por 40 anos em cativeiro no Brasil"},"content":{"rendered":"\n
\"Maia

Maia observa o corpo da companheira Guida em santu\u00e1rio na Chapada dos Guimar\u00e3es
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Diante do corpo de grandes propor\u00e7\u00f5es ca\u00eddo \u00e0 sua frente, na noite de segunda-feira (24 de junho), Maia permaneceu em sil\u00eancio. Hesitante, cheirou vagarosamente a amiga, que a acompanhou por mais de quatro d\u00e9cadas. N\u00e3o havia mais sinais vitais em Guida. Mesmo sem respostas, permaneceu ao lado da companheira.<\/p>\n\n\n\n

Juntas, as duas encontraram a liberdade h\u00e1 dois anos e oito meses, quando chegaram ao Santu\u00e1rio de Elefantes Brasil (SEB), em Chapada dos Guimar\u00e3es (MT) – o primeiro lugar destinado \u00e0 conserva\u00e7\u00e3o de tais animais na Am\u00e9rica Latina.<\/p>\n\n\n\n

As elefantas asi\u00e1ticas, segundo estimativas do SEB, t\u00eam entre 45 e 47 anos. Elas passaram quatro d\u00e9cadas sofrendo maus-tratos em circos brasileiros. Em dupla, eram usadas em apresenta\u00e7\u00f5es por diversas cidades.<\/p>\n\n\n\n

Representantes do santu\u00e1rio acreditam que elas vieram ao pa\u00eds ap\u00f3s serem traficadas da Tail\u00e2ndia, com o objetivo de serem usadas em espet\u00e1culos circenses.<\/p>\n\n\n\n

“Elas chegaram ao Brasil ainda filhotes. Existe um m\u00e9todo que chamam de sensibiliza\u00e7\u00e3o, no qual dizem que o quanto antes tirar o elefante da m\u00e3e, mais f\u00e1cil ser\u00e1 para que ele se torne submisso. Esses animais costumam ser espancados para obedecer ordens”, explica o bi\u00f3logo Daniel Moura, um dos diretores do SEB.<\/p>\n\n\n\n

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Guida (\u00e0 direita) e Maia (\u00e0 esquerda) em passeio no santu\u00e1rio
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No Brasil, apresenta\u00e7\u00f5es de animais em circos s\u00e3o ilegais em 12 Estados. H\u00e1 um projeto de Lei Federal em discuss\u00e3o h\u00e1 anos na C\u00e2mara dos Deputados, para que a proibi\u00e7\u00e3o seja adotada em todo o pa\u00eds. Por\u00e9m, a medida segue sem prazo para ser votada pelos parlamentares.<\/p>\n\n\n\n

Quando faziam apresenta\u00e7\u00f5es circenses, Maia e Guida chegavam a viajar acorrentadas e espremidas em um trailer com mais dois camelos. Em 2010, foram retiradas de um circo da Bahia pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e levadas a um s\u00edtio em Paragua\u00e7u (MG), onde viveram por seis anos acorrentadas.<\/p>\n\n\n\n

A rela\u00e7\u00e3o entre as duas elefantas n\u00e3o era boa durante o per\u00edodo em que viviam na propriedade rural em Minas Gerais. Elas eram mantidas afastadas para que n\u00e3o brigassem. Segundo especialistas, o estresse era causado pela falta de espa\u00e7o, que dificultava o conv\u00edvio entre os animais.<\/p>\n\n\n\n

Em outubro de 2016, as elefantas percorreram 1,6 mil quil\u00f4metros em cont\u00eaineres, de Minas Gerais a Mato Grosso, para que chegassem ao SEB. Elas s\u00e3o as primeiras moradoras do lugar, localizado em uma antiga fazenda de gado de 1,1 mil hectares. O santu\u00e1rio se mant\u00e9m por meio de doa\u00e7\u00f5es feitas por simpatizantes do exterior e do Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Desde que chegaram ao SEB, que n\u00e3o \u00e9 aberto ao p\u00fablico para evitar inc\u00f4modo aos animais, o estresse das elefantas cessou e elas se tornaram grandes companheiras.<\/p>\n\n\n\n

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Maia e Guida passaram quatro d\u00e9cadas sofrendo maus-tratos em circos brasileiros
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Guida estava abaixo do peso e ganhou 400 quilos no primeiro ano no santu\u00e1rio. Ela passou a ser brincalhona e a tristeza deu lugar \u00e0 vontade de desbravar a natureza que antes parecia t\u00e3o distante. Maia deixou o r\u00f3tulo de “garota m\u00e1” e se tornou mais d\u00f3cil.<\/p>\n\n\n\n

Juntas, caminhavam durante todo o dia pelos 29 hectares dispon\u00edveis no santu\u00e1rio – somente as \u00e1reas j\u00e1 adaptadas s\u00e3o liberadas aos animais, para que eles possam circular com o apoio necess\u00e1rio na mata. Na parte destinada \u00e0s elefantas, h\u00e1 \u00e1rea m\u00e9dica, tanques de \u00e1gua e setor de alimenta\u00e7\u00e3o para elas.<\/p>\n\n\n\n

A redescoberta da vida<\/h2>\n\n\n\n

Guida e Maia redescobriram a vida somente na maturidade. Segundo especialistas, os elefantes se tornam idosos a partir dos 60 anos. Em casos de animais que ficaram em cativeiros, a expectativa de vida \u00e9 menor e muitos consideram que devem ser tidos como idosos a partir dos 50 – per\u00edodo pr\u00f3ximo \u00e0s estimativas aplicadas \u00e0s duas elefantas.<\/p>\n\n\n\n

\"Guida
Em dezembro do ano passado, a dupla recebeu a companhia da elefanta asi\u00e1tica Rana (no meio)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Os dois animais tinham muito em comum, mas tamb\u00e9m havia muita diferen\u00e7a. Maia costuma fazer movimentos bruscos e involunt\u00e1rios. Sutilmente desajeitada, ela arranca risos de quem a acompanha.<\/p>\n\n\n\n

Guida era considerada mais tranquila. Ela costumava comer sempre tr\u00eas folhas de uma \u00e1rvore, duas de outra e uma de palmeira.<\/p>\n\n\n\n

“Ela \u00e9 uma dama”, diziam aqueles que a conheciam. Em contrapartida, Maia \u00e9 pouco exigente com comida.<\/p>\n\n\n\n

Apesar das diferen\u00e7as entre elas, o presidente do SEB, o americano Scott Blais avalia a rela\u00e7\u00e3o das duas como extremamente positiva.<\/p>\n\n\n\n

“Elas eram praticamente insepar\u00e1veis e celebravam suas vidas dentro do santu\u00e1rio, emitindo alguns trombeteios de alegria”, comenta.<\/p>\n\n\n\n

Em dezembro passado, elas receberam a companhia da elefanta asi\u00e1tica Rana, que tamb\u00e9m sofreu maus-tratos em circos durante d\u00e9cadas. Logo se tornaram amigas.<\/p>\n\n\n\n

O SEB tenta trazer outros elefantes do Brasil e de outros pa\u00edses da Am\u00e9rica do Sul, que tenham sido v\u00edtimas de explora\u00e7\u00e3o, mas ainda n\u00e3o h\u00e1 prazo para que novos animais cheguem ao santu\u00e1rio.<\/p>\n\n\n\n

“Estamos resolvendo as quest\u00f5es burocr\u00e1ticas, que levam tempo”, justifica Daniel Moura.<\/p>\n\n\n\n

O adeus a Guida<\/h2>\n\n\n\n

Guida fazia uma trilha na tarde da \u00faltima segunda-feira quando ficou presa em um trecho do percurso. Os veterin\u00e1rios a auxiliaram. A fraqueza e o cansa\u00e7o dela surpreenderam, pois a elefanta sempre foi considerada uma grande desbravadora e costumava atravessar diversas \u00e1reas do SEB.<\/p>\n\n\n\n

Em certo momento, ela se deitou no ch\u00e3o, como se precisasse descansar. Conforme os representantes do SEB, os veterin\u00e1rios aplicaram soro intravenoso nela, a medicaram e colheram amostras de sangue. Depois, a deixaram descansar.<\/p>\n\n\n\n

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Maia \u00e9 sutilmente desajeitada, enquanto Guida era considerada mais tranquila<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Ap\u00f3s algum tempo, a respira\u00e7\u00e3o dela come\u00e7ou a oscilar at\u00e9 que simplesmente parou de respirar”, relata a americana Kat Blais, vice-presidente do santu\u00e1rio. Silenciosamente, sem emitir sinais de dores, Guida morreu. “Ela se foi em paz. N\u00e3o esper\u00e1vamos que ela se fosse”, relata Kat.<\/p>\n\n\n\n

A morte da elefanta causou surpresa nos especialistas que a acompanham no SEB. Segundo Scott, que trabalha h\u00e1 mais de trinta anos com elefantes, as d\u00e9cadas de maus-tratos colaboraram para fragilizar a sa\u00fade do animal.<\/p>\n\n\n\n

“Tragicamente, os danos cumulativos causados pela neglig\u00eancia do cativeiro podem criar impactos devastadores e inesperados na vida dos elefantes”, afirma.<\/p>\n\n\n\n

“Imposs\u00edvel imaginar que Guida n\u00e3o estar\u00e1 mais l\u00e1 quando formos cuidar das meninas. Muito dif\u00edcil aceitar que seus trombeteios infantis do dia anterior foram os \u00faltimos que ouvimos”, lamenta Kat.<\/p>\n\n\n\n

Maia avistou a amiga ca\u00edda no solo e se aproximou, hesitante. Conforme Kat, a amiga de quatro d\u00e9cadas manteve a tromba distante do corpo de Guida, a princ\u00edpio. Depois, a cheirou vagarosamente e se afastou.<\/p>\n\n\n\n

“Ap\u00f3s alguns momentos tocando e cheirando Guida, ela conseguiu entender o que aconteceu”, diz a vice-presidente do SEB.<\/p>\n\n\n\n

“Esse processo [de luto] ser\u00e1 particularmente dif\u00edcil para a Maia. Ela precisar\u00e1 de tempo para se adaptar. N\u00e3o h\u00e1 d\u00favida de que ela e todo n\u00f3s carregaremos, em nossos cora\u00e7\u00f5es, a alegria pura e plena que a Guida dividiu com todos que tiveram a chance de conhec\u00ea-la”, diz Scott.<\/p>\n\n\n\n

Maia permaneceu calada e desorientada diante da partida de Guida. Os veterin\u00e1rios a deixaram sozinha por um tempo, diante do corpo da amiga. De longe, Rana acompanhou a cena, em sil\u00eancio.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 devastador olhar para Maia e saber que ela perdeu sua melhor amiga poucos anos depois de ter, realmente, a encontrado”, lamenta Kat.<\/p>\n\n\n\n

\"Maia
‘Elas eram praticamente insepar\u00e1veis’, diz o presidente do SEB<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Na madrugada de ter\u00e7a-feira (25), Maia se manteve pr\u00f3xima do corpo da amiga. Durante o dia, por diversas vezes, em sil\u00eancio, observou o corpo. Calada, Rana tamb\u00e9m se aproximou do corpo de Guida v\u00e1rias vezes.<\/p>\n\n\n\n

“Permitimos que elas ficassem com Guida durante a noite, tendo o tempo necess\u00e1rio para prestar suas homenagens e se despedirem dela. \u00c9 comum que elefantes honrem a morte dos membros de sua fam\u00edlia”, afirma Scott.<\/p>\n\n\n\n

Maia continuou perto da amiga morta durante a madrugada desta quarta-feira (26). Ela apenas se afastou ap\u00f3s a chegada de uma equipe de patologistas da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que foi ao santu\u00e1rio para fazer a necropsia do corpo de Guida.<\/p>\n\n\n\n

Os especialistas ir\u00e3o investigar as causas da morte da elefanta. N\u00e3o h\u00e1 previs\u00e3o para os resultados dos exames.<\/p>\n\n\n\n

Os representantes do SEB comentam que ainda n\u00e3o h\u00e1 suspeitas sobre a causa da morte de Guida.<\/p>\n\n\n\n

“Ela estava muito bem dias antes. O falecimento dela foi uma surpresa. O que imaginamos \u00e9 que h\u00e1 impacto do per\u00edodo em que ela sofreu maus-tratos e explora\u00e7\u00e3o”, diz Daniel Moura.<\/p>\n\n\n\n

Nos pr\u00f3ximos dias, o corpo de Guida ser\u00e1 enterrado em uma \u00e1rea do santu\u00e1rio.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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