{"id":152989,"date":"2019-07-17T01:55:03","date_gmt":"2019-07-17T04:55:03","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=152989"},"modified":"2019-07-16T23:01:24","modified_gmt":"2019-07-17T02:01:24","slug":"por-que-o-futuro-do-agronegocio-depende-da-preservacao-do-meio-ambiente-no-brasil","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/07\/17\/152989-por-que-o-futuro-do-agronegocio-depende-da-preservacao-do-meio-ambiente-no-brasil.html","title":{"rendered":"Por que o futuro do agroneg\u00f3cio depende da preserva\u00e7\u00e3o do meio ambiente no Brasil"},"content":{"rendered":"\n
\"Floresta

Desmatamento afeta o regime de chuvas e o clima local e no continente como um todo
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Se hoje a bancada ruralista \u00e9 a principal for\u00e7a pressionando o Congresso para flexibilizar a prote\u00e7\u00e3o ambiental, \u00e9 consenso entre agr\u00f4nomos e pesquisadores que o futuro do agroneg\u00f3cio depende da preserva\u00e7\u00e3o ambiental.<\/p>\n\n\n\n

Agr\u00f4nomos, bi\u00f3logos e entidades como a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecu\u00e1ria) alertam que\u00a0a destrui\u00e7\u00e3o da vegeta\u00e7\u00e3o nativa\u00a0e as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas t\u00eam grande potencial para prejudicar diretamente o agroneg\u00f3cio no Brasil, porque afetam diversos fatores ambientais de grande influ\u00eancia sobre a atividade agr\u00edcola.<\/p>\n\n\n\n

O principal deles \u00e9 o regime de distribui\u00e7\u00e3o das chuvas, essenciais para nossa produ\u00e7\u00e3o \u2013 apenas 10% das lavouras brasileiras s\u00e3o irrigadas. Com o desmatamento e o aumento das temperaturas, ser\u00e3o afetados umidade, qualidade do solo, polinizadores, pragas.<\/p>\n\n\n\n

A BBC News Brasil ouviu pesquisadores do agroneg\u00f3cio e nomes ligados ao setor para entender como esses riscos gerados pela destrui\u00e7\u00e3o do ambiente devem afetar a produtividade das planta\u00e7\u00f5es brasileiras e mesmo se safras se tornar\u00e3o invi\u00e1veis.<\/p>\n\n\n\n

Eles dizem as not\u00edcias sobre o setor ambiental no Brasil n\u00e3o s\u00e3o animadoras: se o\u00a0ritmo de desmatamento\u00a0na Amaz\u00f4nia continuar como est\u00e1,\u00a0atingiremos em pouco tempo um n\u00edvel de devasta\u00e7\u00e3o sem volta. Junho foi o m\u00eas com mais desmatamento na Amaz\u00f4nia, 920,4 km\u00b2, desde o in\u00edcio do monitoramento com sistema de alerta pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em 2015. Foi um aumento de 88% em rela\u00e7\u00e3o ao mesmo m\u00eas no ano passado.<\/p>\n\n\n\n

Ao mesmo tempo, as\u00a0press\u00f5es\u00a0e\u00a0cobran\u00e7as internacionais\u00a0chamam aten\u00e7\u00e3o para a\u00a0agenda ambiental do governo Bolsonaro, que tem flexibilizado a legisla\u00e7\u00e3o ambiental e diminu\u00eddo a fiscaliza\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

\"Amaz\u00f4nia,
A Floresta Amaz\u00f4nica \u00e9 quest\u00e3o central no debate ecol\u00f3gico internacional<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Crise iminente<\/h2>\n\n\n\n

Atualmente, o agroneg\u00f3cio \u00e9 respons\u00e1vel por 21,6% do PIB brasileiro, segundo o Minist\u00e9rio da Agricultura.<\/p>\n\n\n\n

Preocupados com quest\u00f5es como log\u00edstica, estrutura e desafios comerciais como o vaiv\u00e9m das commodities no mercado internacional, a quest\u00e3o da sustentabilidade acaba n\u00e3o sendo prioridade para o setor como um todo.<\/p>\n\n\n\n

“A quest\u00e3o da sustentabilidade, no sentido amplo, \u00e9 uma preocupa\u00e7\u00e3o. Mas em primeiro lugar v\u00eam a estrutura e a log\u00edstica e as quest\u00f5es comerciais”, afirma o agr\u00f4nomo Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura (2003-2006) e coordenador da \u00e1rea de agro da Funda\u00e7\u00e3o Get\u00falio Vargas.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, os riscos gerados pela devasta\u00e7\u00e3o ambiental na agricultura s\u00e3o uma amea\u00e7a muito mais iminente do que se imagina, segundo o pesquisador Eduardo Assad, da Embrapa.<\/p>\n\n\n\n

Alguns estudos,\u00a0como um feito por pesquisadores das Universidades Federais de Minas Gerais e Vi\u00e7osa, projetam perdas de produtividade causadas por desmatamento e mudan\u00e7as clim\u00e1ticas para os pr\u00f3ximos 30 anos. Outros n\u00e3o trabalham com tempo, mas com n\u00edvel de devasta\u00e7\u00e3o, como o estudo\u00a0Efeitos do Desmatamento Tropical no Clima e na Agricultura, das cientistas americanas Deborah Lawrence e Karen Vandecar, que afirma que quando o desmatamento na Amaz\u00f4nia atingir 40% do territ\u00f3rio (atualmente ele est\u00e1 em 20%), a redu\u00e7\u00e3o das chuvas ser\u00e1 sentida a mais de 3,2 mil km de dist\u00e2ncia, na bacia do Rio da Prata.<\/p>\n\n\n\n

\"M\u00e1quina
O agroneg\u00f3cio corresponde a mais de 20% do PIB brasileiro<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Para Assad, que tamb\u00e9m \u00e9 professor da FGV Agro e membro do Painel Brasileiro de Mudan\u00e7as Clim\u00e1ticas, os efeitos da destrui\u00e7\u00e3o do ambiente e das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas j\u00e1 come\u00e7am a ser sentidos.<\/p>\n\n\n\n

Ele cita, por exemplo, o relat\u00f3rio da Associa\u00e7\u00e3o dos Produtores de Soja (Aprosoja) que mostra a perda de mais de 16 milh\u00f5es de toneladas na safra de soja deste ano devido a seca que atingiu as principais regi\u00f5es produtoras desde dezembro. “J\u00e1 h\u00e1 evid\u00eancias de que as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas aumentaram o n\u00famero de eventos extremos, como secas e ondas e calor”, afirma Assad.<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 duas amea\u00e7as principais, segundo Lawrence e Vandecar. A primeira \u00e9 o aquecimento global, que acontece em escala global e que \u00e9 intensificado pelo desmatamento. A outra s\u00e3o os riscos adicionais criados pela devasta\u00e7\u00e3o das florestas, que geram impactos imediatos na quantidade de chuva e temperatura, tanto em n\u00edvel local quanto continental.<\/p>\n\n\n\n

Defici\u00eancia h\u00eddrica e temperatura<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A maior parte da produ\u00e7\u00e3o agr\u00edcola brasileira depende das chuvas \u2013 s\u00f3 5% da produ\u00e7\u00e3o total e 10% da produ\u00e7\u00e3o de gr\u00e3os s\u00e3o irrigados. Isso significa que mudan\u00e7as na precipita\u00e7\u00e3o afetam diretamente nossa produ\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

O regime de chuvas \u00e9 afetado por uma s\u00e9rie de fatores \u2013 desde a topografia at\u00e9 as correntes mar\u00edtimas. Um fator importante \u00e9 a din\u00e2mica de evapora\u00e7\u00e3o e transpira\u00e7\u00e3o terrestres, ou seja, a umidade produzida pela respira\u00e7\u00e3o das \u00e1rvores e plantas, explica o agr\u00f4nomo da USP Gerd Sparovek, professor da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) e presidente da Funda\u00e7\u00e3o Florestal do Estado de S\u00e3o Paulo.<\/p>\n\n\n\n

Esse fen\u00f4meno, chamado de evapotranspira\u00e7\u00e3o, \u00e9 especialmente alto em florestas tropicais como a amaz\u00f4nica \u2013 elas s\u00e3o o ecossistema terrestre que mais movimenta \u00e1gua, transformando a \u00e1gua do solo em umidade no ar e diminuindo a temperatura da atmosfera sobre elas.<\/p>\n\n\n\n

“Ao cortar a vegeta\u00e7\u00e3o natural que, durante o ano inteiro joga \u00e1gua na atmosfera, umas das principais consequ\u00eancias \u00e9 a forma\u00e7\u00e3o de menos nuvens no per\u00edodo seco”, explica Assad, da Embrapa. “Um estudo que acabamos de finalizar mostra um aumento significativo de defici\u00eancia h\u00eddrica do Nordeste ao Centro-Oeste”, diz.<\/p>\n\n\n\n

\"Desmatamento
A destrui\u00e7\u00e3o da vegeta\u00e7\u00e3o nativa e as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas v\u00e3o prejudicar diretamente o agroneg\u00f3cio no Brasil.<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Isso afeta as chuvas potencialmente at\u00e9 no Sudeste, j\u00e1 que h\u00e1 correntes de ar que normalmente empurram essas nuvens para sul.<\/p>\n\n\n\n

A destrui\u00e7\u00e3o da vegeta\u00e7\u00e3o nativa afeta at\u00e9 a dura\u00e7\u00e3o das temporadas de chuvas e estiagem, segundo o estudo de Lawrence e Vandecar, que faz uma revis\u00e3o da literatura cient\u00edfica e foi publicado em 2014 na revista Nature.<\/p>\n\n\n\n

O corte da vegeta\u00e7\u00e3o nativa tamb\u00e9m altera a temperatura e clima local, e potencialmente tamb\u00e9m o de regi\u00f5es mais distantes, explica Sparovek, da Esalq. “As altera\u00e7\u00f5es, nesse caso, s\u00e3o sempre desfavor\u00e1veis.”<\/p>\n\n\n\n

E isso vale n\u00e3o s\u00f3 para a Amaz\u00f4nia: a remo\u00e7\u00e3o do Cerrado, onde hoje se encontra a principal expans\u00e3o da fronteira produtiva, tamb\u00e9m eleva a temperatura local.<\/p>\n\n\n\n

Esse problema \u00e9 refor\u00e7ado pelo aquecimento global, que torna o clima mais inst\u00e1vel e aumenta a frequ\u00eancia de extremos, como ondas de calor e estiagens e chuvas em excesso. E o desmatamento s\u00f3 intensifica esse processo.<\/p>\n\n\n\n

\"Desmatamento
Risco para o agroneg\u00f3cio \u00e9 maior quando altas temperaturas s\u00e3o concomitantes com per\u00edodos de diminui\u00e7\u00e3o das chuvas<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O risco para o agroneg\u00f3cio \u00e9 especialmente grande quando altas temperaturas s\u00e3o concomitantes com per\u00edodos de diminui\u00e7\u00e3o das chuvas \u2013 isso diminui a produtividade das lavouras e pode comprometer safras inteiras, diz o bi\u00f3logo.<\/p>\n\n\n\n

Um efeito adicional do comprometimento da disponibilidade de \u00e1gua tem a ver com a produ\u00e7\u00e3o de energia el\u00e9trica, que tamb\u00e9m \u00e9 importante para o agroneg\u00f3cio, aponta Sparovek. Um clima mais seco ou maiores per\u00edodos de estiagem podem comprometer a vaz\u00e3o dos rios e dos reservat\u00f3rios, afetando diretamente a produ\u00e7\u00e3o de energia, j\u00e1 que nossa matriz energ\u00e9tica \u00e9 em sua maioria dependente de hidroel\u00e9tricas.<\/p>\n\n\n\n

Perda de \u00e1rea produtiva<\/h2>\n\n\n\n

A retirada total das florestas tamb\u00e9m gera outros problemas relativos aos recursos h\u00eddricos al\u00e9m da chuva, explica o bi\u00f3logo Jean Paul Metzger, professor da USP e doutor em ecologia de paisagem.<\/p>\n\n\n\n

A retirada da vegeta\u00e7\u00e3o nativa retira a prote\u00e7\u00e3o do solo, que n\u00e3o \u00e9 reposta mesmo se a \u00e1rea virar uma planta\u00e7\u00e3o, j\u00e1 que as ra\u00edzes das plantas cultivadas s\u00e3o muito superficiais. O solo cultivado tamb\u00e9m tem pouca permeabilidade.<\/p>\n\n\n\n

Isso dificulta a infiltra\u00e7\u00e3o da \u00e1gua no solo, o que gera dois problemas. Um \u00e9 a falta de reposi\u00e7\u00e3o da \u00e1gua nos len\u00e7\u00f3is fre\u00e1ticos. A outra, \u00e9 um processo de eros\u00e3o e polui\u00e7\u00e3o dos rios.<\/p>\n\n\n\n

“A chuva vai escoando superficialmente e levando o solo junto, h\u00e1 uma perda da camada mais f\u00e9rtil, vai tudo para o rio” diz Metzger. “E a partir de um certo momento voc\u00ea n\u00e3o tem como reverter, h\u00e1 uma perda de \u00e1rea produtiva via eros\u00e3o.”<\/p>\n\n\n\n

Reserva Legal<\/h2>\n\n\n\n

A melhor forma de evitar esse processo \u00e9 manter a vegeta\u00e7\u00e3o nativa \u2013 inclusive nas propriedades rurais, onde a cobertura florestal pode fazer uma filtragem das enxurradas antes de chegarem ao rio. Metzer aponta que as propriedades produtivas devem ter cerca de 30% de cobertura florestal, na m\u00e9dia, para que o ciclo hidr\u00f3l\u00f3gico e os chamados servi\u00e7os ambientais funcionem normalmente.<\/p>\n\n\n\n

Servi\u00e7os ambientais s\u00e3o benef\u00edcios trazidos ao cultivo pelo ecossistema, como, por exemplo, a poliniza\u00e7\u00e3o e o controle natural de pragas.<\/p>\n\n\n\n

\"vista
O processo de respira\u00e7\u00e3o e transpira\u00e7\u00e3o das \u00e1rvores afeta diretamente o regime de chuvas<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Paisagens onde h\u00e1 produ\u00e7\u00e3o agr\u00edcola em desequil\u00edbrio com o ambiente s\u00e3o poucos favor\u00e1veis \u00e0 produ\u00e7\u00e3o. Os inimigos naturais das pragas e doen\u00e7as de plantas desaparecem, e a produ\u00e7\u00e3o passa a depender cada vez mais de agrot\u00f3xicos”, diz Sparovek, da Esalq.<\/p>\n\n\n\n

Da\u00ed, dizem os pesquisadores, vem a import\u00e2ncia da manuten\u00e7\u00e3o das reservas legais \u2013 \u00e1reas de mata nativa dentro de propriedades rurais cujo desmatamento \u00e9 proibido por lei. O \u00edndice de prote\u00e7\u00e3o exigido \u00e9 de 80% na Amaz\u00f4nia, de 35% no Cerrado e de 20% nos outros biomas.<\/p>\n\n\n\n

O assunto esteve em pauta nos \u00faltimos meses, gra\u00e7as a um projeto do senador carioca Fl\u00e1vio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente, que quer acabar com as reservas legais, citando o “direito \u00e0 propriedade”. Pela Constitui\u00e7\u00e3o, no entanto, nenhum direito \u00e0 propriedade \u00e9 absoluto no Brasil \u2013 a constru\u00e7\u00e3o em propriedades urbanas, por exemplo, fica restrita \u00e0s leis de zoneamento municipais.<\/p>\n\n\n\n

Agrot\u00f3xicos<\/h2>\n\n\n\n

O uso indiscriminado de agrot\u00f3xicos tamb\u00e9m \u00e9 um problema ambiental que acaba se voltando contra o pr\u00f3prio agroneg\u00f3cio.<\/p>\n\n\n\n

Ele afeta principalmente os cultivos que dependem da poliniza\u00e7\u00e3o, j\u00e1 que os animais polinizadores – abelhas, besouros, borboletas, vespas e at\u00e9 aves e morcegos \u2013\u00a0s\u00e3o fortemente afetados por alguns tipos de inseticidas\u00a0e at\u00e9 por herbicidas usados contra pragas em lavouras, sofrendo desde morte por envenenamento a desorienta\u00e7\u00e3o durante o voo.<\/p>\n\n\n\n

Das 191 culturas agr\u00edcolas de produ\u00e7\u00e3o de alimentos no pa\u00eds, 114 (60%) dependem de polinizadores, segundo o\u00a0Relat\u00f3rio Tem\u00e1tico sobre Poliniza\u00e7\u00e3o, Polinizadores e Produ\u00e7\u00e3o de Alimentos no Brasil, da Fapesp (Funda\u00e7\u00e3o de Amparo \u00e0 Pesquisa do Estado de S\u00e3o Paulo). Em resultado de safra, cerca de 25% da produ\u00e7\u00e3o nacional \u00e9 dependente de poliniza\u00e7\u00e3o, segundo Assad, da Embrapa.<\/p>\n\n\n\n

\"Abelha
Desmatamento e agrot\u00f3xicos prejudicam culturas que dependem de poliniza\u00e7\u00e3o<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, o uso excessivo de agrot\u00f3xicos em esp\u00e9cies resistentes se torna um problema para produtores vizinhos de cultivos que n\u00e3o tem a mesma resist\u00eancia. Produtores de uva do Rio Grande do Sul t\u00eam registrado milh\u00f5es de reais de preju\u00edzo por causa do herbicida 2,4-D, usado em planta\u00e7\u00f5es de soja. Ao se espalhar para as propriedades produtoras de uva, ele chegou a reduzir a colheita de uva em at\u00e9 70%, segundo produtores do Estado.<\/p>\n\n\n\n

O Instituto Brasileiro do Vinho chegou a defender a proibi\u00e7\u00e3o do uso do agrot\u00f3xico na regi\u00e3o. O\u00a0noroeste ga\u00facho \u00e9 campe\u00e3o nacional no uso de agrot\u00f3xicos, segundo um mapa do Laborat\u00f3rio de Geografia Agr\u00e1ria da USP com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estat\u00edstica).<\/p>\n\n\n\n

Quest\u00e3o da Produtividade<\/h2>\n\n\n\n

At\u00e9 hoje, olhando a s\u00e9rie hist\u00f3rica, a produtividade do agroneg\u00f3cio no Brasil s\u00f3 aumentou. A produ\u00e7\u00e3o do milho, por exemplo, subiu de 3,6 ton\/ha em 2009 para 5,6 ton\/ha em 2019 (previs\u00e3o), de acordo com dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).<\/p>\n\n\n\n

“O aumento da produ\u00e7\u00e3o muitas vezes \u00e9 usado como argumento pra dizer que n\u00e3o est\u00e1 acontecendo nada (em termos de efeitos da mudan\u00e7a clim\u00e1tica). Mas a produtividade aumenta porque antes era muito baixa, porque estamos implementando as diversas tecnologias existentes”, afirma Assad, que tamb\u00e9m \u00e9 membro do Painel Brasileiro de Mudan\u00e7as Clim\u00e1ticas. “O teto de produtividade do milho, por exemplo, \u00e9 de 10 toneladas por hectare considerando a tecnologia existente.”<\/p>\n\n\n\n

Isso n\u00e3o quer dizer, diz ele, que os efeitos da devasta\u00e7\u00e3o n\u00e3o ter\u00e3o um impacto na produtividade.<\/p>\n\n\n\n

Segundo c\u00e1lculos no\u00a0modelo feito por cientistas das Universidade Federais de Minas Gerais e Vi\u00e7osa, em 30 anos as perdas na produ\u00e7\u00e3o de soja podem ir de 25% a 60%, dependendo da regi\u00e3o, gra\u00e7as ao desmatamento da Amaz\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n

At\u00e9 a pecu\u00e1ria pode ser afetada, com a produtividade do pasto caindo de 28% a 33% e alguns lugares deixando de ser vi\u00e1veis para a atividade.<\/p>\n\n\n\n

Expans\u00e3o?<\/h2>\n\n\n\n

Mas por que ainda h\u00e1 resist\u00eancia em aceitar a vis\u00e3o de que a devasta\u00e7\u00e3o do meio ambiente prejudica o agroneg\u00f3cio?<\/p>\n\n\n\n

Segundo Sparovek, da Esalq, narrativas que defendem a necessidade de expandir a fronteira agr\u00edcola n\u00e3o t\u00eam embasamento cient\u00edfico. Ele afirma que “quando se analisa a necessidade de expans\u00e3o do agroneg\u00f3cio brasileiro prevista pelo pr\u00f3prio setor at\u00e9 2050, n\u00e3o se v\u00ea necessidade alguma de desmatar e expandir a fronteira agr\u00edcola.”<\/p>\n\n\n\n

“Temos \u00e1reas abertas o suficiente para produzir a demanda projetada e ainda restaurar a vegeta\u00e7\u00e3o em uma quantidade enorme de terras”, diz o agr\u00f4nomo.<\/p>\n\n\n\n

\"Fazenda
Agrot\u00f3xicos afetam polinizadores e podem prejudicar lavouras vizinhas que n\u00e3o s\u00e3o resistentes a eles<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

S\u00f3 na Amaz\u00f4nia, h\u00e1 17 milh\u00f5es de hectares cortados, desmatados e abandonados, segundo Assad, da Embrapa.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m das terras abertas existentes, h\u00e1 uma enorme possibilidade de incremento da produtividade atrav\u00e9s de implementa\u00e7\u00e3o tecnol\u00f3gica, afirma o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues.<\/p>\n\n\n\n

Assad, da Embrapa, afirma que solu\u00e7\u00f5es boas para a produ\u00e7\u00e3o e para o ambiente \u2013 como t\u00e9cnicas de agricultura de baixa emiss\u00e3o de carbono e boas pr\u00e1ticas de manejo de solo e \u00e1gua \u2013 t\u00eam se tornado cada vez mais acess\u00edveis, e que uma maior organiza\u00e7\u00e3o de cooperativas agr\u00edcolas \u00e9 necess\u00e1ria para aumentar o acesso dos pequenos produtores a tecnologias e avan\u00e7os.<\/p>\n\n\n\n

Sparovek afirma que a expans\u00e3o da fronteira, especialmente na Amaz\u00f4nia, n\u00e3o interessa diretamente, n\u00e3o ajuda a produzir \u2013 especialmente com o avan\u00e7o tecnol\u00f3gico que exige um terreno mais plano pelo tamanho e velocidade das m\u00e1quinas. “Isso \u00e9 uma agenda muito mais ligada \u00e0 valoriza\u00e7\u00e3o imobili\u00e1ria das terras e \u00e0 grilagem. Quem se beneficia disso \u00e9 o especulador do mercado de terras, l\u00edcito ou criminoso.”<\/p>\n\n\n\n

Segundo Rodrigues, o Brasil \u00e9 um pa\u00eds gigantesco que n\u00e3o tem “uma agricultura ou um agricultor”, mas diversos grupos com interesses diferentes. A exist\u00eancia de agricultores que n\u00e3o t\u00eam preocupa\u00e7\u00e3o nenhuma com sustentabilidade ou com o longo prazo \u00e9 “um pouco uma quest\u00e3o de educa\u00e7\u00e3o, cultura e forma\u00e7\u00e3o t\u00e9cnica adequada.”<\/p>\n\n\n\n

“Temos 4,4 milh\u00f5es de produtores que seguiram o C\u00f3digo Florestal e fizeram o Cadastro Ambiental Rural (mecanismos de regula\u00e7\u00e3o das pr\u00e1ticas agr\u00edcolas)”, diz Assad. “\u00c9 1 milh\u00e3o de agricultores que fazem essa confus\u00e3o toda. \u00c9 s\u00f3 um povo que produz como na idade m\u00e9dia (que tem interesse no desmatamento).”<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Se hoje a bancada ruralista \u00e9 a principal for\u00e7a pressionando o Congresso para flexibilizar a prote\u00e7\u00e3o ambiental, \u00e9 consenso entre agr\u00f4nomos e pesquisadores que o futuro do agroneg\u00f3cio depende da preserva\u00e7\u00e3o ambiental. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":152990,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[305,363,469],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/152989"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=152989"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/152989\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":152991,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/152989\/revisions\/152991"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/152990"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=152989"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=152989"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=152989"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}