{"id":153122,"date":"2019-07-26T00:58:28","date_gmt":"2019-07-26T03:58:28","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=153122"},"modified":"2019-07-25T23:43:36","modified_gmt":"2019-07-26T02:43:36","slug":"imagens-mostram-avanco-do-garimpo-ilegal-na-amazonia-em-2019","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/07\/26\/153122-imagens-mostram-avanco-do-garimpo-ilegal-na-amazonia-em-2019.html","title":{"rendered":"Imagens mostram avan\u00e7o do garimpo ilegal na Amaz\u00f4nia em 2019"},"content":{"rendered":"\n
\"Garimpo

Frentes de garimpo ilegal de ouro na Terra Ind\u00edgena Kayap\u00f3, no Par\u00e1, em julho de 2019; manchas claras indicam atividade mais recente.
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Imagens de sat\u00e9lite analisadas pela BBC News Brasil revelam uma expans\u00e3o recente nos focos de garimpo ilegal em terras ind\u00edgenas da Amaz\u00f4nia ocorrida desde janeiro deste ano.<\/p>\n\n\n\n

Ind\u00edgenas e ambientalistas atribuem o avan\u00e7o – verificado em diferentes pontos do Par\u00e1 e de Roraima – a declara\u00e7\u00f5es do presidente Jair Bolsonaro em favor da explora\u00e7\u00e3o mineral em terras ind\u00edgenas e ao que consideram um afrouxamento do combate a crimes ambientais pelo governo.<\/p>\n\n\n\n

O crescimento dos focos de garimpo ocorre num momento em que o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostra uma alta nos \u00edndices de destrui\u00e7\u00e3o na Amaz\u00f4nia e tem seu trabalho contestado pelo presidente, para quem a divulga\u00e7\u00e3o de dados de desmatamento pode prejudicar o pa\u00eds em negocia\u00e7\u00f5es internacionais.<\/p>\n\n\n\n

As imagens avaliadas pela BBC s\u00e3o da Planet Labs, empresa americana que mant\u00e9m mais de cem sat\u00e9lites em \u00f3rbita e fazem fotografias di\u00e1rias de todo o globo.<\/p>\n\n\n\n

A atividade foi monitorada em tr\u00eas das terras ind\u00edgenas brasileiras que mais sofrem com garimpos ilegais de ouro: a Kayap\u00f3, a Munduruku (ambas no Par\u00e1) e a Yanomami (em Roraima e no Amazonas). Somados, os tr\u00eas territ\u00f3rios ocupam uma \u00e1rea equivalente \u00e0 do Estado de S\u00e3o Paulo e abrigam alguns dos trechos mais preservados da Amaz\u00f4nia brasileira.<\/p>\n\n\n\n

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\"Mapa<\/figure>\n\n\n\n

A BBC comparou fotos de garimpos – identificados pela BBC ou por grupos que monitoram a atividade – feitas no in\u00edcio do ano e nas \u00faltimas semanas. Nos tr\u00eas territ\u00f3rios monitorados houve um aumento das manchas que indicam a a\u00e7\u00e3o de garimpeiros. O fen\u00f4meno ocorreu tanto em garimpos antigos, alguns criados h\u00e1 mais de uma d\u00e9cada, quanto em garimpos recentes.<\/p>\n\n\n\n

Uma ferramenta permite contrastar as fotografias, arrastando para a direita ou para a esquerda as setas no centro da imagem. As diferen\u00e7as na colora\u00e7\u00e3o das imagens se devem a fatores clim\u00e1ticos ou ao uso de fotos feitas por sat\u00e9lites diferentes, com graus distintos de resolu\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

As fotografias foram enviadas a dois especialistas em imagens de sat\u00e9lite: o ge\u00f3logo Carlos Souza Jr., do Imazon, e o ge\u00f3grafo Marcos Reis Rosa, da Arcplan. Ambos confirmaram se tratar de focos de garimpo em expans\u00e3o. Algumas frentes de garimpo retratadas ocupam \u00e1reas t\u00e3o extensas quanto dezenas de campos de futebol.<\/p>\n\n\n\n

Procurados pela BBC, o Minist\u00e9rio do Meio Ambiente, a Funai e a Pol\u00edcia Federal n\u00e3o se pronunciaram sobre o avan\u00e7o da atividade nem sobre as cr\u00edticas \u00e0 atua\u00e7\u00e3o dos \u00f3rg\u00e3os at\u00e9 a publica\u00e7\u00e3o da reportagem.<\/p>\n\n\n\n

Ouro yanomami<\/h2>\n\n\n\n

Em junho, a BBC publicou uma reportagem mostrando que o\u00a0ouro se tornou em 2019 o segundo produto mais exportado por Roraima, embora o Estado n\u00e3o tenha nenhuma mina operando legalmente.<\/p>\n\n\n\n

Autoridades investigam se o metal vem sendo extra\u00eddo ilegalmente do territ\u00f3rio yanomami, onde, segundo ind\u00edgenas, ao menos 10 mil garimpeiros estariam operando atualmente.<\/p>\n\n\n\n

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Coordenadora executiva da Articula\u00e7\u00e3o dos Povos Ind\u00edgenas do Brasil (Apib), Sonia Guajajara diz que ind\u00edgenas de diferentes partes da Amaz\u00f4nia t\u00eam relatado “um aumento absurdo nas invas\u00f5es” de garimpeiros desde o in\u00edcio do governo Bolsonaro.<\/p>\n\n\n\n

Ela afirma que declara\u00e7\u00f5es do presidente em defesa da extra\u00e7\u00e3o de min\u00e9rios em terras ind\u00edgenas est\u00e3o estimulando os garimpeiros. Enquanto era deputado federal e quando concorria \u00e0 Presid\u00eancia, Bolsonaro disse v\u00e1rias vezes ser favor\u00e1vel \u00e0 explora\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica desses territ\u00f3rios para melhorar as condi\u00e7\u00f5es de vida das comunidades ind\u00edgenas.<\/p>\n\n\n\n

Em abril, ao receber um grupo de ind\u00edgenas de Roraima favor\u00e1veis \u00e0 minera\u00e7\u00e3o, o presidente afirmou que “o \u00edndio n\u00e3o pode continuar sendo pobre em cima de terra rica”.<\/p>\n\n\n\n

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A Constitui\u00e7\u00e3o de 1988 prev\u00ea a explora\u00e7\u00e3o mineral em terras ind\u00edgenas desde que ela seja regulamentada por leis espec\u00edficas. Como as leis jamais foram aprovadas, a atividade \u00e9 ilegal.<\/p>\n\n\n\n

Desde 1996, tramita no Congresso um projeto de lei para regulamentar a minera\u00e7\u00e3o em terras ind\u00edgenas. O governo Bolsonaro tenta agora destravar a pauta.<\/p>\n\n\n\n

Segundo S\u00f4nia Guajajara, por\u00e9m, a grande maioria das comunidades ind\u00edgenas brasileiras \u00e9 contr\u00e1ria \u00e0 regulamenta\u00e7\u00e3o da atividade por temer seus impactos sociais e ambientais.<\/p>\n\n\n\n

No fim de 2018, a Rede Amaz\u00f4nica de Informa\u00e7\u00e3o Socioambiental Georreferenciada (Raisg), que re\u00fane oito ONGs ambientalistas latino-americanas, publicou um relat\u00f3rio sobre amea\u00e7as \u00e0 Amaz\u00f4nia. O documento identificou garimpos ilegais em 18 terras ind\u00edgenas no Brasil.<\/p>\n\n\n\n

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Em alguns territ\u00f3rios, balsas reviram o leito dos rios em busca de metais preciosos. Em outros, al\u00e9m das balsas, h\u00e1 frentes de garimpo com escala quase industrial, onde retroescavadeiras e dragas cavam crateras na mata. \u00c9 o caso de boa parte dos garimpos da regi\u00e3o do Tapaj\u00f3s, no Par\u00e1, onde imagens de sat\u00e9lite mostram grandes “cicatrizes” abertas na floresta. .<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m da derrubada de \u00e1rvores, a atividade provoca assoreamento de rios, desvia cursos fluviais e cria lagos artificiais que servem como criat\u00f3rios de mosquitos. N\u00e3o por acaso, a mal\u00e1ria \u00e9 comum em zonas de garimpo na Amaz\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n

Em algumas \u00e1reas reviradas pelas m\u00e1quinas, os danos s\u00e3o permanentes, sem possibilidade de regenera\u00e7\u00e3o completa.<\/p>\n\n\n\n

Outro problema \u00e9 a polui\u00e7\u00e3o com merc\u00fario, usado por garimpeiros para facilitar a aglutina\u00e7\u00e3o de gr\u00e3os de ouro. Quando despejado nos rios, o merc\u00fario contamina peixes e quem se alimenta deles, alojando-se em toda a cadeia alimentar.
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\"Garimpo

“Cicatrizes” causadas pelo garimpo na regi\u00e3o do Tapaj\u00f3s, no Par\u00e1, em imagem feita em julho de 2019
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A intoxica\u00e7\u00e3o pela subst\u00e2ncia pode provocar danos neurol\u00f3gicos e malforma\u00e7\u00e3o em beb\u00eas. Em 2016, um estudo da Funda\u00e7\u00e3o Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Socioambiental (ISA) revelou que, em algumas aldeias yanomami, o \u00edndice de pessoas contaminadas por merc\u00fario chega a 92%.<\/p>\n\n\n\n

O garimpo tamb\u00e9m \u00e9 associado ao aumento de conflitos, de prostitui\u00e7\u00e3o e de doen\u00e7as nas \u00e1reas ind\u00edgenas onde se instala.<\/p>\n\n\n\n

Em maio, o l\u00edder yanomami Davi Kopenawa afirmou em uma confer\u00eancia sobre mudan\u00e7as clim\u00e1ticas na Universidade Harvard (EUA) que Bolsonaro quer “que os garimpeiros continuem at\u00e9 estragar nossos rios”.<\/p>\n\n\n\n

“Queria que o governo tomasse as provid\u00eancias para a retirada dos invasores do garimpo da terra demarcada e homologada”, afirmou.<\/p>\n\n\n\n

Fragiliza\u00e7\u00e3o dos \u00f3rg\u00e3os ambientais<\/h2>\n\n\n\n

Para o engenheiro florestal Paulo Barreto, pesquisador associado do Imazon, o desmatamento na Amaz\u00f4nia tem sido estimulado n\u00e3o s\u00f3 pelas declara\u00e7\u00f5es de Bolsonaro, mas tamb\u00e9m pela fragiliza\u00e7\u00e3o dos \u00f3rg\u00e3os fiscalizat\u00f3rios.<\/p>\n\n\n\n

“Criou-se um clima de vale tudo, e as pessoas acham que n\u00e3o ser\u00e3o punidas se desmatarem”, ele afirma \u00e0 BBC.<\/p>\n\n\n\n

Por ordem do ministro do Meio Ambientel, Ricardo Salles, o or\u00e7amento anual do Ibama – principal ag\u00eancia ambiental federal – foi reduzido em R$ 89 milh\u00f5es neste ano, um quarto do valor total.<\/p>\n\n\n\n

Salles diz que a redu\u00e7\u00e3o foi um contigenciamento (suspens\u00e3o tempor\u00e1ria) exigida de v\u00e1rios \u00f3rg\u00e3os do governo, e que o Ibama est\u00e1 remanejando recursos para n\u00e3o prejudicar suas opera\u00e7\u00f5es em campo.<\/p>\n\n\n\n

\"Garimpo
Terra Ind\u00edgena Kayap\u00f3, no Par\u00e1, abriga frentes de garimpo com \u00e1rea equivalente \u00e0 de dezenas de campos de futebol<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Em entrevistas, o ministro tem rejeitado a avalia\u00e7\u00e3o de que houve um afrouxamento no combate a crimes ambientais.<\/p>\n\n\n\n

Para ambientalistas, por\u00e9m, Salles vem minando o \u00f3rg\u00e3o n\u00e3o s\u00f3 com cortes, mas tamb\u00e9m com seus posicionamentos. No in\u00edcio de julho, madeireiros incendiaram um caminh\u00e3o-tanque do Ibama em Rond\u00f4nia. Duas semanas depois, o ministro viajou ao Estado e se reuniu com madeireiros, a quem chamou de “pessoas de bem que trabalham neste pa\u00eds”.<\/p>\n\n\n\n

“O que acontece hoje no Brasil, infelizmente, \u00e9 o resultado de anos e anos e anos de uma pol\u00edtica p\u00fablica da produ\u00e7\u00e3o de leis, regras, de regulamentos que nem sempre guardam rela\u00e7\u00e3o com o mundo real”, disse Salles na reuni\u00e3o, segundo a Folha de S. Paulo. “O que estamos fazendo agora \u00e9 justamente aproximar a parte legal do mundo real que acontece em todo o pa\u00eds de norte a sul.”<\/p>\n\n\n\n

Bolsonaro j\u00e1 se queixou v\u00e1rias vezes do Ibama e se comprometeu a acabar com o que considera uma “ind\u00fastria da multa” promovida pelo \u00f3rg\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Em 2012, o pr\u00f3prio Bolsonaro foi multado em R$ 10 mil pelo Ibama por pescar em uma \u00e1rea de prote\u00e7\u00e3o ambiental em Angra dos Reis (RJ). A multa foi anulada em dezembro de 2018, poucos dias antes de Bolsonaro assumir a Presid\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n

\"Garimpo
Cratera de garimpo ilegal em Mato Grosso<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Nesta semana, o presidente voltou a ser criticado por ambientalistas ao contestar pr\u00e1ticas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), \u00f3rg\u00e3o federal respons\u00e1vel por monitorar o desmatamento na Amaz\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n

Segundo Bolsonaro, a divulga\u00e7\u00e3o de informa\u00e7\u00f5es pelo \u00f3rg\u00e3o pode dificultar negocia\u00e7\u00f5es do Brasil com outros pa\u00edses – como as relacionadas ao acordo comercial entre o Mercosul e a Uni\u00e3o Europeia. L\u00edderes europeus t\u00eam expressado preocupa\u00e7\u00e3o quanto ao aumento do desmatamento no Brasil e \u00e0s a\u00e7\u00f5es de Bolsonaro no setor ambiental.<\/p>\n\n\n\n

Em abril, uma carta publicada na revista Nature e assinada por 607 cientistas e duas organiza\u00e7\u00f5es ind\u00edgenas criticou o governo Bolsonaro por “trabalhar no sentido de desmantelar as pol\u00edticas contra o desmatamento”. Segundo o documento, “a nova administra\u00e7\u00e3o do Brasil amea\u00e7a direitos dos ind\u00edgenas e as \u00e1reas naturais que eles protegem”.<\/p>\n\n\n\n

Aumento do desmatamento<\/h2>\n\n\n\n

Algumas semanas antes da cr\u00edtica de Bolsonaro ao Inpe, o ministro do Gabinete de Seguran\u00e7a Institucional da Presid\u00eancia, general Augusto Heleno, disse que os \u00edndices de desmatamento da Amaz\u00f4nia s\u00e3o “manipulados”.<\/p>\n\n\n\n

No in\u00edcio do m\u00eas, o Inpe divulgou que houve um aumento de 88% no \u00edndice de desmatamento da Amaz\u00f4nia em junho em compara\u00e7\u00e3o com o mesmo m\u00eas de 2018.<\/p>\n\n\n\n

Um portavoz do \u00f3rg\u00e3o associou o resultado ao aumento nas grilagens de terra e nas atividades agr\u00edcolas e miner\u00e1rias na regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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