{"id":153166,"date":"2019-07-30T13:00:40","date_gmt":"2019-07-30T16:00:40","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=153166"},"modified":"2019-07-29T23:13:47","modified_gmt":"2019-07-30T02:13:47","slug":"a-luta-contra-a-mina-de-carvao-que-dizimou-uma-floresta-na-alemanha","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/07\/30\/153166-a-luta-contra-a-mina-de-carvao-que-dizimou-uma-floresta-na-alemanha.html","title":{"rendered":"A luta contra a mina de carv\u00e3o que dizimou uma floresta na Alemanha"},"content":{"rendered":"\n
\"Tr\u00c3\u00aas

Ativistas ambientais lutam contra a mudan\u00e7a clim\u00e1tica
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Uma pequena \u00e1rea de floresta na Alemanha, pr\u00f3xima \u00e0 fronteira com a Holanda, se tornou o centro da disputa em torno da explora\u00e7\u00e3o de carv\u00e3o no pa\u00eds.<\/p>\n\n\n\n

Um ter\u00e7o da eletricidade alem\u00e3 ainda \u00e9 produzida a partir da queima de carv\u00e3o – principalmente o lignito (carv\u00e3o marrom).<\/p>\n\n\n\n

Para mudar esse cen\u00e1rio, ativistas ambientais concentram esfor\u00e7os na floresta de Hambach, no oeste da Alemanha, a 30 km da cidade de Col\u00f4nia. Eles vivem em casas no alto das \u00e1rvores e chamam a floresta de “Hambi”.<\/p>\n\n\n\n

Eles usam algo como um uniforme: botas pesadas, cal\u00e7as escuras, blusa com capuz e um len\u00e7o que cobre o nariz e a boca. Mona, Omo e Jim parecem ter 20 e poucos anos e dizem que querem mudar o mundo.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00f3s lutamos contra o capitalismo e as grandes empresas que governam o mundo e o destroem para o lucro”, diz Jim.<\/p>\n\n\n\n

\"Casa<\/figure>\n\n\n\n

S\u00f3 sobraram 10%<\/h2>\n\n\n\n

Os ativistas est\u00e3o no “Hambi” porque a floresta est\u00e1 amea\u00e7ada de destrui\u00e7\u00e3o total.<\/p>\n\n\n\n

Abaixo da floresta est\u00e1 uma das maiores jazidas de carv\u00e3o da Europa. Desde que come\u00e7ou a extra\u00e7\u00e3o, em 1978, as \u00e1rvores foram arrancadas gradualmente para permitir que as escavadeiras conseguissem acessar a riqueza abaixo: milh\u00f5es de toneladas de carv\u00e3o – que mant\u00eam a ind\u00fastria funcionando nesta parte da Alemanha e \u00e9 um modo de vida para milhares de pessoas.<\/p>\n\n\n\n

Para piorar a situa\u00e7\u00e3o, o carv\u00e3o que \u00e9 extra\u00eddo nessa \u00e1rea \u00e9 o carv\u00e3o marrom, que emite n\u00edveis particularmente altos de di\u00f3xido de carbono.<\/p>\n\n\n\n

Somente 10% da floresta ainda est\u00e3o de p\u00e9. Esse percentual se tornou um s\u00edmbolo poderoso do movimento contra as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas na Alemanha.<\/p>\n\n\n\n

Mona, Omo e Jim – o n\u00facleo duro, preparado para viver l\u00e1 nas noites frias de inverno e defender suas \u00e1rvores – receberam centenas de visitantes, que foram mostrar solidariedade aos ativistas e revolta contra a empresa RWE Power, de energia e minera\u00e7\u00e3o. “Hambi bleibt!”, eles cantam (“deixe Hambi”).<\/p>\n\n\n\n

\"Fila

A ‘linha vermelha’ formada por manifestantes ao redor da floresta: eles n\u00e3o querem interven\u00e7\u00e3o no que restou da floresta
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Eles s\u00e3o de Col\u00f4nia, Aachen e cidades pr\u00f3ximas. Uma mulher \u00e9 dos Pa\u00edses Baixos, do outro lado da fronteira.<\/p>\n\n\n\n

“Eu vim aqui para protestar”, diz Peter, que \u00e9 originalmente do Qu\u00eania, mas agora trabalha em Bonn, na Alemanha. “Acho que a Alemanha deveria ter um papel mais ativo no combate aos combust\u00edveis f\u00f3sseis”.<\/p>\n\n\n\n

Eles se juntam nos arredores da aldeia de Morschenich e caminham algumas centenas de metros em dire\u00e7\u00e3o \u00e0 floresta, parando no caminho para contemplar a escala da mina, uma enorme ferida na paisagem, e o tamanho das m\u00e1quinas de escavar, gigantes de metal.<\/p>\n\n\n\n

\"Mina

Duas centrais el\u00e9tricas s\u00e3o abastaecidas a partir do carv\u00e3o marrom da Floresta de Hambach
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Eles foram convidados a usar vermelho e formar uma linha ao longo de um banco de terra que separa a floresta da \u00e1rea da mina. A “linha vermelha” envia uma mensagem clara: at\u00e9 aqui e n\u00e3o al\u00e9m.<\/p>\n\n\n\n

Despejos<\/h2>\n\n\n\n

No ano passado, o “Hambi” foi palco de um grande confronto. A empresa RWE queria voltar a derrubar \u00e1rvores. A pol\u00edcia chegou, aos milhares, para expulsar os ativistas, que moravam ali h\u00e1 v\u00e1rios anos, e desmontar suas casas nas \u00e1rvores.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 dif\u00edcil ver como eles destroem a sua casa”, diz Omo. “A casa da \u00e1rvore que voc\u00ea construiu e onde voc\u00ea viveu e passou tanto tempo.”<\/p>\n\n\n\n

\"Polic\u00c3\u00ada

A pol\u00edcia desalojou os manifestantes em setembro do ano passado
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Os despejos foram temporariamente suspensos quando um jovem, que foi descrito como ativista e jornalista, caiu de um viaduto e morreu. Ent\u00e3o, ap\u00f3s um pedido da associa\u00e7\u00e3o “Friends of the Earth”, um tribunal imp\u00f4s uma proibi\u00e7\u00e3o tempor\u00e1ria de derrubar \u00e1rvores, em nome da conserva\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

A RWE disse que n\u00e3o tem planos de come\u00e7ar a cortar \u00e1rvores novamente, pelo menos at\u00e9 o fim do ver\u00e3o de 2020 (23 de setembro, no Hemisf\u00e9rio Norte).<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 ind\u00edcios de que a floresta ainda possa sobreviver. Um relat\u00f3rio encomendado pelo governo e publicado no in\u00edcio deste ano, que recomendou o fechamento de todas as usinas a carv\u00e3o na Alemanha at\u00e9 2038, tamb\u00e9m estabeleceu que a conserva\u00e7\u00e3o do que restou da floresta Hambach seria “desej\u00e1vel”.<\/p>\n\n\n\n

Mas os ativistas desconfiam.<\/p>\n\n\n\n

“Em outubro de 2020, eles poderiam ter permiss\u00e3o para entrar novamente”, diz Jim. “Ent\u00e3o, precisamos aumentar a press\u00e3o sobre o governo e a empresa, para que eles n\u00e3o tenham permiss\u00e3o.”<\/p>\n\n\n\n

Carv\u00e3o marrom<\/h2>\n\n\n\n
  • A Alemanha \u00e9 a maior fonte de lignito do mundo, seguida pela China e pela Turquia. Em 2016, a Uni\u00e3o Europeia foi respons\u00e1vel por 37,5% da produ\u00e7\u00e3o mundial.<\/li>
  • A mina de Belchatow, na Pol\u00f4nia, com 12 km de comprimento e 200 metros de profundidade, \u00e9 a maior do mundo.<\/li>
  • O carv\u00e3o marrom \u00e9 pior que o carv\u00e3o comum, para a sa\u00fade e o clima, porque \u00e9 necess\u00e1rio queimar uma quantidade maior para produzir a mesma quantidade de energia.<\/li>
  • A polui\u00e7\u00e3o na Alemanha e na Pol\u00f4nia se estende por toda a Europa, inclusive para o Reino Unido, dependendo da dire\u00e7\u00e3o do vento<\/li><\/ul>\n\n\n\n

    Fonte:\u00a0HEAL<\/p>\n\n\n\n

    Vilas fantasma<\/h2>\n\n\n\n

    Al\u00e9m de “Hambi bleibt”, outra m\u00fasica ecoa pelas \u00e1rvores. “Alle D\u00f6rfer Bleiben” (deixe todas as vilas ficarem).<\/p>\n\n\n\n

    As minas de superf\u00edcie, como a mina de Hambach, t\u00eam t\u00e3o pouco respeito pelas vilas quanto pelas florestas. Estima-se que 300 vilas alem\u00e3s tenham sido demolidas desde 1945 para dar lugar \u00e0 extra\u00e7\u00e3o de carv\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

    A preocupa\u00e7\u00e3o dos ativistas chegou tarde para Manheim, a apenas alguns quil\u00f4metros.<\/p>\n\n\n\n

    \"Uma
    As m\u00e1quinas de escava\u00e7\u00e3o s\u00e3o enormes<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

    Se voc\u00ea parar \u00e0 tarde no cruzamento onde ficava a antiga padaria, voc\u00ea vai ouvir aves. Mas voc\u00ea n\u00e3o vai ouvir mais nada. Nenhum cachorro latir\u00e1, nenhuma buzina de bicicleta tocar\u00e1. Voc\u00ea n\u00e3o ouvir\u00e1 nenhuma sauda\u00e7\u00e3o amig\u00e1vel. Na verdade, voc\u00ea n\u00e3o ver\u00e1 ningu\u00e9m.<\/p>\n\n\n\n

    Quando voc\u00ea passar pelo quartel dos bombeiros, voc\u00ea come\u00e7ar\u00e1 a entender o porqu\u00ea. Existem espa\u00e7os abertos onde ruas inteiras desapareceram. Algumas casas ainda est\u00e3o de p\u00e9, abandonadas e em mau estado, esperando que as equipes de demoli\u00e7\u00e3o cheguem e destruam os muros.<\/p>\n\n\n\n

    \"Manheim\"\/
    Rua vazia em Manheim<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

    Manheim \u00e9 um povoado fantasma, uma sombra da agitada comunidade agr\u00edcola que j\u00e1 foi. Dos 1.600 moradores, restaram apenas alguns, e todos partir\u00e3o nos pr\u00f3ximos anos. Morschenich aguarda o mesmo destino – s\u00e3o duas aldeias que desaparecer\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

    No ano passado, depois de serem expulsos da floresta, ativistas ocuparam v\u00e1rias casas. A pol\u00edcia chegou para retir\u00e1-los, e a RWE decidiu demolir parte da aldeia antes do prazo para desencorajar a ocupa\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

    “Eu vim para ver como a casa estava sendo demolida e n\u00e3o nego ter derramado algumas l\u00e1grimas”, diz Claudia Jakobs, que agora mora com o marido Marco na nova aldeia, Manheim-Neu, que est\u00e1 lentamente tomando forma, a poucos quil\u00f4metros de dist\u00e2ncia. Mas ela diz que est\u00e1 mais feliz agora que sua antiga casa n\u00e3o est\u00e1 mais l\u00e1.<\/p>\n\n\n\n

    \"Claudia
    Claudia e Marco Jakobs na rua onde um dia esteve a casa em que eles viveram<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

    Antes de a casa ser derrubada, ela passava todos os dias para verificar se estava tudo bem com a casa e se nenhum ativista havia entrado.<\/p>\n\n\n\n

    Kurt e Cilly R\u00fcttgers tamb\u00e9m estavam preocupados com a presen\u00e7a dos ativistas.<\/p>\n\n\n\n

    Eles administravam um dos bares da vila, o Zum Roten Hahn, que pertenceu \u00e0 fam\u00edlia h\u00e1 150 anos. As fotografias adornam as paredes e os trof\u00e9us est\u00e3o alinhados na prateleira acima do bar. Mas uma cerveja n\u00e3o \u00e9 servida aqui h\u00e1 quase dez anos. Os filhos de Kurt e Cilly n\u00e3o quiseram assumir o neg\u00f3cio em uma cidade que n\u00e3o tinha muito tempo de vida.<\/p>\n\n\n\n

    Eles receberam recentemente o que Cilly descreve como “convidados n\u00e3o convidados”. Kurt me mostra a casa do jardim nos fundos do bar, uma pequena sala com equipamentos b\u00e1sicos de cozinha. “Eles quebraram as janelas e rasgaram as cortinas”, diz.<\/p>\n\n\n\n

    “Kohlegegner”, diz Cilly, bruscamente. O significado literal: “oponentes do carv\u00e3o”. Em outras palavras, “ativistas contra a mudan\u00e7a clim\u00e1tica”. Cilly afirma que nunca teve medo de viver em Manheim, mas a vis\u00e3o de manifestantes na aldeia com len\u00e7os sobre os rostos a assusta.<\/p>\n\n\n\n

    Essa descri\u00e7\u00e3o, “Kohlegegner”, \u00e9 reveladora. As pessoas em Manheim, ao que parece, s\u00e3o defensoras do carv\u00e3o, apesar da perda iminente de seu povoado. O carv\u00e3o proporciona empregos nesta regi\u00e3o h\u00e1 d\u00e9cadas.<\/p>\n\n\n\n

    Kurt diz que j\u00e1 nos anos 50, quando era crian\u00e7a, sabia-se que algum dia a cidade desapareceria. Isso pode explicar por que alguns dos moradores est\u00e3o incomodados com o fato de pessoas de fora irem para Manheim agora e lhes dizerem o que pensar e como se comportar.<\/p>\n\n\n\n

    \"Centrais
    O carv\u00e3o proporciona empregos nesta regi\u00e3o da Alemanha h\u00e1 d\u00e9cadas.<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

    Hubert Perschke \u00e9 uma dessas pessoas de fora. Ele \u00e9 um ativista e fot\u00f3grafo que mora em uma cidade pr\u00f3xima e documentou a destrui\u00e7\u00e3o gradual de Manheim por v\u00e1rios anos.<\/p>\n\n\n\n

    “\u00c9 verdade que a maioria das pessoas aqui n\u00e3o quer que as casas vazias sejam ocupadas”, diz ele.<\/p>\n\n\n\n

    Mas ele acrescenta que tamb\u00e9m havia sinais de simpatia pelos ativistas.<\/p>\n\n\n\n

    \"Hubert
    Hubert Perschke, ativista e fot\u00f3grafo, documentou a destrui\u00e7\u00e3o gradual de Manheim<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

    “Algumas pessoas trouxeram comida e roupas”, diz ele. “E alguns disseram a eles onde poderiam encontrar a chave para uma casa vazia.”<\/p>\n\n\n\n

    Ele defende o direito dos ativistas de usar a floresta de Hambach para o protesto.<\/p>\n\n\n\n

    “O carv\u00e3o tem uma tradi\u00e7\u00e3o aqui. \u00c9 um bem cultural”, afirma ele. “E, como pessoas de fora, estamos desafiando isso. Estamos claramente dizendo que h\u00e1 coisas mais importantes, como o clima.”<\/p>\n\n\n\n

    Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

    Uma pequena \u00e1rea de floresta na Alemanha, pr\u00f3xima \u00e0 fronteira com a Holanda, se tornou o centro da disputa em torno da explora\u00e7\u00e3o de carv\u00e3o no pa\u00eds. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":153167,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[987,3716,1062,509],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/153166"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=153166"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/153166\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":153168,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/153166\/revisions\/153168"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/153167"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=153166"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=153166"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=153166"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}