{"id":153194,"date":"2019-07-31T18:00:35","date_gmt":"2019-07-31T21:00:35","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=153194"},"modified":"2019-07-30T21:18:28","modified_gmt":"2019-07-31T00:18:28","slug":"cacadas-por-seculos-e-distantes-da-costa-ha-decadas-as-jubartes-retornam-a-sao-paulo","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/07\/31\/153194-cacadas-por-seculos-e-distantes-da-costa-ha-decadas-as-jubartes-retornam-a-sao-paulo.html","title":{"rendered":"Ca\u00e7adas por s\u00e9culos e distantes da costa h\u00e1 d\u00e9cadas, as jubartes retornam a S\u00e3o Paulo"},"content":{"rendered":"\n
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Jubarte salta pr\u00f3ximo ao litoral de Ilhabela (SP). H\u00e1 muitos anos, o caminho das jubartes que vinham da Ant\u00e1rtida em dire\u00e7\u00e3o a Abrolhos (BA) passava longe do litoral de S\u00e3o Paulo. Mas neste ano, por motivos ainda misteriosos, centenas delas voltaram a se aproximar do litoral paulista.
FOTO DE\u00a0ARLAINE FRANCISCO\/PROJETO BALEIA \u00c0 VISTA<\/strong> <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

\u00c9 a primeira vez que temos tantas not\u00edcias de avistagens de baleias no sudeste do Brasil. S\u00f3 neste ano, desde o primeiro avistamento em 27 de maio, j\u00e1 foram registradas mais de 400 apari\u00e7\u00f5es no litoral norte de S\u00e3o Paulo. Isso com base na contagem de apenas um grupo de volunt\u00e1rios.<\/p>\n\n\n\n

Alguns dos encontros s\u00e3o ocasionais, como mostra o\u00a0v\u00eddeo impressionante de remadores\u00a0pr\u00f3ximos \u00e0 praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro (RJ). Outros s\u00e3o programados especialmente para visualizar esses visitantes cada vez mais frequentes na costa brasileira.<\/p>\n\n\n\n

Esta rep\u00f3rter acompanhou uma dessas iniciativas \u2013 um projeto in\u00e9dito de coopera\u00e7\u00e3o na observa\u00e7\u00e3o de baleias no litoral norte de S\u00e3o Paulo que est\u00e1 contribuindo para o aumento das avistagens de mam\u00edferos marinhos na regi\u00e3o. No final de junho, quando a chegada das baleias causou um frenesi entre navegadores e pesquisadores, peguei carona com o\u00a0projeto Baleias \u00e0 Vista\u00a0em parceira com o\u00a0Viva Baleias, Golfinhos e Cia. Duas iniciativas que contam com uma enorme rede de volunt\u00e1rios.<\/p>\n\n\n\n

Este ano, a parceria entre esses dois projetos rendeu um fruto significativo: um ponto fixo para observa\u00e7\u00e3o de animais marinhos no sul de\u00a0Ilhabela numa casa com varanda voltada para a entrada do Canal de S\u00e3o Sebasti\u00e3o. Coordenada pelo Viva Baleias, Golfinhos e Cia, a base tem compilado dados importantes.<\/p>\n\n\n\n

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Jubarte coloca quase todo o corpo para fora da \u00e1gua pr\u00f3ximo ao litoral de Ilhabela (SP). N\u00e3o h\u00e1 consenso sobre os motivos dos saltos das jubartes. Uma das teorias diz que o som do impacto pode servir para atrair f\u00eameas ou demonstrar for\u00e7a entre os machos. Outra defende que o pulo ajuda a eliminar parasitas e cracas presos na pele.
FOTO DE\u00a0JULIO CARDOSO\/PROJETO BALEIA \u00c0 VISTA<\/strong> <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n


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Al\u00e9m de contar com pesquisadoras de olhos atentos desde o in\u00edcio da temporada, h\u00e1 uma troca intensa de informa\u00e7\u00f5es com a embarca\u00e7\u00e3o do Baleia \u00e0 Vista. Assim, \u00e9 poss\u00edvel fazer o registro da base em terra e buscar no mar os dados precisos sobre localiza\u00e7\u00e3o e comportamento de grande parte das baleias que nadam por ali. E isso tem sido fundamental para o aumento das avistagens \u2013 uma a cada meia hora, em m\u00e9dia. No entanto, vale ressaltar: n\u00e3o necessariamente s\u00e3o novos indiv\u00edduos que entram na contagem.<\/p>\n\n\n\n

A quantidade de baleias no litoral n\u00e3o \u00e9 a \u00fanica coisa que intriga quem as estuda \u2013 um n\u00famero consider\u00e1vel delas tem seguido uma rota diferente nesta temporada. No caminho da Ant\u00e1rtida rumo \u00e0 Bahia, muitas baleias se aproximam do Canal de S\u00e3o Sebasti\u00e3o e percorrem todo o trecho entre o litoral paulista e a costa oeste de Ilhabela. At\u00e9 o ano passado, a maioria delas passava ao largo de Ilhabela, no mar aberto, longe dos olhos de quem estava pr\u00f3ximo ao litoral.<\/p>\n\n\n\n

Em campo, no mar<\/strong><\/h3>\n\n\n\n

Sa\u00edmos numa sexta-feira bem cedo do Iate clube de Ilhabela a bordo do Ballerina<\/em>, principal embarca\u00e7\u00e3o do Baleia \u00e0 Vista. O projeto, criado em 2017 por J\u00falio Cardoso e Arlaine Francisco para monitorar baleias e golfinhos, tamb\u00e9m faz um trabalho de educa\u00e7\u00e3o ambiental na regi\u00e3o. No final de 2017, firmou parceria com o Instituto Baleia Jubarte para trocas de experi\u00eancias e apoio m\u00fatuo.<\/p>\n\n\n\n

Ex-presidente de grandes empresas como Sadia e Kibon, J\u00falio Cardoso faz avistagens pelo litoral norte de S\u00e3o Paulo voluntariamente desde 2004. O trabalho de ci\u00eancia cidad\u00e3, com identifica\u00e7\u00e3o e acervo de imagens de cet\u00e1ceos com viabilidade cient\u00edfica, \u00e9 um verdadeiro tesouro para a pesquisa de cet\u00e1ceos em geral.<\/p>\n\n\n\n

\u201cAt\u00e9 2015, eu fiz cerca de cinco registros de jubartes. Em 2016, mais de 20 registros. 2017 tamb\u00e9m um n\u00famero interessante de jubartes. No ano passado teve a primeira explos\u00e3o. De 21 de junho a final de agosto, tivemos 42 jubartes. Este ano, logo no primeiro m\u00eas de junho, j\u00e1 passamos de 60\u201d, explica Cardoso.<\/p>\n\n\n\n

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Cauda de baleia-jubarte com o farol da Ponta da Sela ao fundo. A temporada das baleias na costa brasileira ainda n\u00e3o terminou, mas os pesquisadores j\u00e1 especulam sobre os motivos de termos recebido tantos indiv\u00edduos neste ano. Algumas das hip\u00f3teses \u00e9 aumento populacional, escassez de alimentos na Ant\u00e1rtida e recupera\u00e7\u00e3o de antigas rotas.
FOTO DE\u00a0ARLAINE FRANCISCO\/PROJETO BALEIA \u00c0 VISTA<\/strong> <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Atr\u00e1s das Jubartes<\/strong><\/h3>\n\n\n\n

Saindo do Canal de S\u00e3o Sebasti\u00e3o, a proa do Ballerina <\/em>aponta para o lado sul de Ilhabela. \u00c9 nesta regi\u00e3o que ocorre a maioria das avistagens e onde as jubartes t\u00eam aparecido com frequ\u00eancia em comportamentos incomuns.<\/p>\n\n\n\n

No primeiro dia, na altura do Ponta do Borrifo, acompanhamos por um tempo uma baleia em atividade de forrageio, ou seja, descansando, se alimentando ou rondando pregui\u00e7osamente, mas muito pr\u00f3ximo ao cost\u00e3o. Comportamento que at\u00e9 o ano passado era dif\u00edcil de observar.<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o sei se notaram, mas o nome do local \u00e9 Borrifos, chamado assim desde tempos remotos por conta dos borrifos de baleias. Assim como este, outros locais em Ilhabela que denotam historicamente da grande presen\u00e7a de baleias na regi\u00e3o. A Praia da Arma\u00e7\u00e3o, por exemplo, tem esse nome porque ali se processava a carne de muitas baleias capturadas em \u00e1guas paulistas. A ca\u00e7a s\u00f3 foi proibida totalmente no Brasil em 1987.<\/p>\n\n\n\n

O aumento das baleias ainda \u00e9 um mist\u00e9rio, mas alguns pesquisadores especulam que caracter\u00edsticas do ecossistema no lado sul de Ilhabela podem ser respons\u00e1veis. Estariam as jubartes recuperando rotas antigas?<\/p>\n\n\n\n

A bi\u00f3loga Arlaine Francisco, do projeto Baleia \u00e0 Vista, conta que Ilhabela tem carater\u00edsticas especiais. \u201cLogo pr\u00f3ximo \u00e0 costa temos grandes profundidades, e correntes chegam muito perto da ilha com nutrientes. \u00c9 um fator importante, porque al\u00e9m de alimento encontram abrigo na \u00e1rea costeira\u201d, diz Francisco. \u201cTemos uma riqueza grande de cet\u00e1ceos, registro de v\u00e1rias esp\u00e9cies de golfinhos e baleias, com frequ\u00eancias de orcas, baleia-franca, baleia-de-bryde. S\u00e3o \u00e1guas bastante ricas em biodiversidade.\u201d<\/p>\n\n\n\n

At\u00e9 o come\u00e7o da tarde, j\u00e1 t\u00ednhamos avistado outros tr\u00eas indiv\u00edduos.<\/p>\n\n\n\n

Terminamos o primeiro dia na casa do projeto Viva Baleias, Golfinhos e cia. Desde o in\u00edcio da temporada, em maio, os bin\u00f3culos est\u00e3o a postos na varanda da esta\u00e7\u00e3o central, do lado sul da ilha. Mia Morete, diretora do projeto, trabalha com cet\u00e1ceos desde 1995 e tem vasta experi\u00eancia na observa\u00e7\u00e3o das baleias em terra \u2013 s\u00e3o vinte anos de trabalho em pontos fixos. A parceria com o projeto Baleia \u00e0 Vista permitiu que ela trabalhasse com as jubartes perto de casa.<\/p>\n\n\n\n

\u201cO nosso foco \u00e9, al\u00e9m de observa\u00e7\u00f5es, estudar o comportamento desses animais e tentar descobrir o que est\u00e3o fazendo por aqui. Quando decidimos instalar o ponto fixo aqui, imaginamos que ver\u00edamos as baleias passando ao longe. E ficamos surpresas de ver-las t\u00e3o perto. Chegamos a escutar o animal\u201d, diz Morete. \u201cJ\u00e1 vimos v\u00e1rios comportamentos, mas ainda faltam mais observa\u00e7\u00f5es. Tentamos caracterizar. \u00c9 um uso de passagem? Ser\u00e1 que temos mais registros este ano por algum fator que ainda n\u00e3o se sabe? Ser\u00e1 que ano que vem vai continuar? Estamos tentando desvendar o que \u00e9. As \u00e1guas de Ilhabela est\u00e3o sendo usadas para qu\u00ea pelas baleias-jubarte? Ainda n\u00e3o temos um diagn\u00f3stico, mas vamos descobrir.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Outras possibilidades levantadas por pesquisadores de diversas institui\u00e7\u00f5es para o aumento de baleias passam desde aumento populacional, passando por quest\u00f5es clim\u00e1ticas at\u00e9 o aumento da pesca de krill na Ant\u00e1rtida e a consequente busca por mais alimento. Nada \u00e9 conclusivo.<\/p>\n\n\n\n

No segundo dia de sa\u00edda, a bordo do Ballerina<\/em>, avistamos mais sete baleias e um salto muito pr\u00f3ximo. A experi\u00eancia de ter um animal daquele porte saindo da \u00e1gua subitamente com tamanha for\u00e7a ao nosso lado nos deixa a sensa\u00e7\u00e3o do quanto ainda temos para entender sobre a natureza.<\/p>\n\n\n\n

No come\u00e7o da tarde, outro comportamento encantador. Pr\u00f3ximo \u00e0 Ponta do Boi, no lado leste de Ilhabela, uma jovem baleia batia a cauda.<\/p>\n\n\n\n

Recentemente tamb\u00e9m foi compartilhado um v\u00eddeo que mostra uma m\u00e3e com seu jovem filhote na regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

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