{"id":153240,"date":"2019-08-05T05:33:22","date_gmt":"2019-08-05T08:33:22","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=153240"},"modified":"2019-08-04T21:38:19","modified_gmt":"2019-08-05T00:38:19","slug":"o-que-e-cegueira-vegetal-e-por-que-ela-e-vista-como-ameaca-ao-meio-ambiente","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/08\/05\/153240-o-que-e-cegueira-vegetal-e-por-que-ela-e-vista-como-ameaca-ao-meio-ambiente.html","title":{"rendered":"O que \u00e9 ‘cegueira vegetal’ e por que ela \u00e9 vista como amea\u00e7a ao meio ambiente"},"content":{"rendered":"\n
\"Plantas\"\/

Dada a import\u00e2ncia das plantas \u00e0 nossa sobreviv\u00eancia, como os humanos se tornaram ‘cegos vegetais’?
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Qual foi o \u00faltimo animal que voc\u00ea viu? Voc\u00ea consegue lembrar de sua cor, tamanho e forma? Voc\u00ea consegue distingui-lo com facilidade de outros animais?<\/p>\n\n\n\n

Agora, e quanto \u00e0 \u00faltima planta que voc\u00ea viu?<\/p>\n\n\n\n

Se as suas imagens mentais de animais s\u00e3o mais precisas que as das plantas, voc\u00ea n\u00e3o est\u00e1 sozinho. As crian\u00e7as reconhecem que os animais s\u00e3o seres vivos antes de entender que plantas tamb\u00e9m s\u00e3o vivas. Testes de mem\u00f3ria tamb\u00e9m mostram que volunt\u00e1rios de pesquisas lembram-se de figuras de animais melhor que imagens de plantas.<\/p>\n\n\n\n

Por exemplo, um estudo americano testou a “piscada da aten\u00e7\u00e3o”, ou seja, a habilidade de perceber uma ou duas imagens r\u00e1pidas, usando fotos de animais, plantas e objetos n\u00e3o relacionados. Isso mostrou que os participantes detectavam melhor imagens de animais do que plantas.<\/p>\n\n\n\n

Essa tend\u00eancia \u00e9 t\u00e3o comum que Elisabeth Schussler e James Wandersee, uma dupla de bot\u00e2nicos e educadores americanos, criaram um termo para isso em 1998: “cegueira vegetal”. Eles descreveram isso como “a inabilidade de ver ou perceber as plantas no seu ambiente”.<\/p>\n\n\n\n

\"Vegeta\u00c3\u00a7\u00c3\u00a3o\"\/

A ‘cegueira para plantas’ \u00e9 ‘a inabilidade de ver ou perceber as plantas no seu ambiente’
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

N\u00e3o \u00e9 de se admirar que a cegueira vegetal resulte em uma subaprecia\u00e7\u00e3o das plantas – e um interesse limitado na conserva\u00e7\u00e3o delas. Cursos de biologia das plantas est\u00e3o fechando ao redor do mundo em uma velocidade impressionante e o investimento p\u00fablico para a ci\u00eancia das plantas est\u00e1 diminuindo.<\/p>\n\n\n\n

Por mais que ainda n\u00e3o tenham sido feitos estudos sobre a dimens\u00e3o da cegueira vegetal e sua mudan\u00e7a com o tempo, a crescente urbaniza\u00e7\u00e3o e o tempo gasto com aparelhos eletr\u00f4nicos indica que h\u00e1 uma maior “desordem de d\u00e9ficit de natureza” (o preju\u00edzo causado a humanos por se alienar da natureza). E menos exposi\u00e7\u00e3o a plantas significa mais cegueira vegetal. Como explica Schussler, “os humanos s\u00f3 conseguem reconhecer (visualmente) o que eles j\u00e1 conhecem”.<\/p>\n\n\n\n

Isso \u00e9 problem\u00e1tico. A conserva\u00e7\u00e3o de plantas importa para a sa\u00fade ambiental. E tamb\u00e9m importa para a sa\u00fade humana.<\/p>\n\n\n\n

A pesquisa sobre plantas \u00e9 essencial para muitas descobertas cient\u00edficas, desde colheitas de alimentos at\u00e9 rem\u00e9dios mais eficazes. Mais de 28 mil esp\u00e9cies de plantas s\u00e3o usadas na medicina, incluindo drogas antic\u00e2ncer derivadas de plantas e anticoagulantes.<\/p>\n\n\n\n

\"A
A vinca de Madagascar cont\u00e9m dois alcal\u00f3ides que s\u00e3o usados para combater leucemia e doen\u00e7a de Hodgkin’s<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Fazer experimentos com plantas tamb\u00e9m oferece uma vantagem \u00e9tica sobre o teste em animais: t\u00e9cnicas vers\u00e1teis de \u00e1reas como altera\u00e7\u00e3o de genoma podem ser refinadas usando plantas, que s\u00e3o f\u00e1ceis e baratas para reproduzir e controlar. Por exemplo, a sequ\u00eancia do genoma da Arabidopsis, uma planta com flores importantes para a pesquisa da biologia, foi um marco n\u00e3o apenas na gen\u00e9tica das plantas, mas no sequenciamento de genoma em geral.<\/p>\n\n\n\n

Dada a import\u00e2ncia das plantas \u00e0 nossa sobreviv\u00eancia, como os humanos se tornaram “cegos vegetais”?<\/p>\n\n\n\n

Vendo verde<\/h2>\n\n\n\n

H\u00e1 motivos cognitivos e culturais pelos quais animais, at\u00e9 mesmo de esp\u00e9cies n\u00e3o importantes objetivamente para os humanos, sejam mais f\u00e1ceis de distinguir.<\/p>\n\n\n\n

Parte disso \u00e9 porque categorizamos o mundo. “O c\u00e9rebro \u00e9 fundamentalmente um detector de diferen\u00e7as”, explicam Schussler e Wandersee.<\/p>\n\n\n\n

Porque as plantas mal se movem, crescem perto uma das outras, e muitas vezes t\u00eam cores parecidas, nossos c\u00e9rebros tendem a agrup\u00e1-las juntas. Com cerca de 10 milh\u00f5es de bits de dados visuais transmitidos por segundo pela retina humana, o sistema visual humano filtra coisas n\u00e3o amea\u00e7adoras, como plantas, e as coloca no mesmo grupo.<\/p>\n\n\n\n

\"Vegeta\u00e7\u00e3o\"\/
Nossos c\u00e9rebros tendem a agrupar as plantas por elas terem cores parecidas (Foto: Amanda Ruggeri)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Isso n\u00e3o se restringe a humanos. Uma capacidade de aten\u00e7\u00e3o limitada pode afetar at\u00e9 a forma como p\u00e1ssaros veem plantas e insetos ao seu redor.<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 tamb\u00e9m nossa prefer\u00eancia por similaridade biocomportamental: como primatas, tendemos a perceber criaturas que s\u00e3o mais parecidas conosco.<\/p>\n\n\n\n

“Pela minha experi\u00eancia com grandes primatas, eles geralmente est\u00e3o mais interessados em criaturas mais parecidas com eles em termos de apar\u00eancia”, diz Fumihiro Kano, da Universidade de Kyoto, no Jap\u00e3o. Nos humanos, h\u00e1 um elemento social nessa prefer\u00eancia visual.<\/p>\n\n\n\n

“Primatas criados entre humanos se interessam mais em imagens de humanos do que de n\u00e3o humanos, incluindo de sua pr\u00f3pria esp\u00e9cie”, diz Kano.<\/p>\n\n\n\n

Nas sociedades humanas, a ideia de que animais s\u00e3o fundamentalmente mais interessantes e vis\u00edveis que plantas \u00e9 constantemente refor\u00e7ada. N\u00f3s damos nome a muitos deles, os descrevemos com caracter\u00edsticas humanas.<\/p>\n\n\n\n

E prestamos aten\u00e7\u00e3o inclusive a varia\u00e7\u00f5es individuais entre eles: a personalidade de um cachorro, por exemplo, ou a paleta de cores \u00fanica de uma borboleta.<\/p>\n\n\n\n

Ver os animais como parecidos – ou mais parecidos – conosco provoca uma certa empatia. Isso \u00e9 chave para as decis\u00f5es sobre conserva\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

A maioria de n\u00f3s sente propelida a querer proteger ursos polares, por exemplo, n\u00e3o porque temos uma lista racional de motivos pelos quais precisamos deles, mas porque eles tocam nossos cora\u00e7\u00f5es, diz a psic\u00f3loga ambiental Kathryn Williams, da Universidade de Melbourne, na Austr\u00e1lia.<\/p>\n\n\n\n

At\u00e9 mesmo dentro da conserva\u00e7\u00e3o animal, alguns bichos carism\u00e1ticos (especialmente mam\u00edferos grandes que olham para a frente) recebem muito mais aten\u00e7\u00e3o. A pesquisa de Williams mostrou que as pessoas apoiam muito mais a conserva\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cies com caracter\u00edsticas parecidas com a de humanos.<\/p>\n\n\n\n

\"Uma
Uma orqu\u00eddea em extin\u00e7\u00e3o na Reserva de Fakahatchee em Copeland, Fl\u00f3rida – as plantas representam 57% das esp\u00e9cies em perigo de extin\u00e7\u00e3o dos EUA<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O desafio \u00e9 muito maior para as plantas. Em 2011, as plantas representavam 57% das esp\u00e9cies em perigo de extin\u00e7\u00e3o nos EUA – mas receberam menos de 4% do investimento p\u00fablico em esp\u00e9cies em extin\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“Construir essas conex\u00f5es emocionais com ecossistemas e esp\u00e9cies de plantas \u00e9 crucial para a preserva\u00e7\u00e3o de plantas”, diz Williams.<\/p>\n\n\n\n

\"Vegeta\u00e7\u00e3o\"\/
Construir conex\u00f5es emocionais com ecossistemas e esp\u00e9cies \u00e9 crucial para a preserva\u00e7\u00e3o de plantas<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

\u00c9 claro que a Ci\u00eancia n\u00e3o \u00e9 um jogo de soma zero em que mais interesse e mais recursos aplicados em alguma coisa signifique menos investimento em outra. Mas, assim como qualquer outro tipo de preconceito, reconhec\u00ea-lo \u00e9 o primeiro passo para reduzi-lo.<\/p>\n\n\n\n

Tornando-se ‘menos cego’<\/h2>\n\n\n\n

Um fator chave para reduzir a cegueira vegetal \u00e9 aumentando a frequ\u00eancia e variedade de maneiras atrav\u00e9s das quais vemos as plantas.<\/p>\n\n\n\n

Isso pode come\u00e7ar cedo – como diz Schussler, que \u00e9 professor de biologia da Universidade de Tennessee (EUA) – “antes dos estudantes come\u00e7arem a dizer que est\u00e3o entediados com as plantas”. Um projeto de ci\u00eancia cidad\u00e3 que tenta mudar isso \u00e9 o TreeVersity, que pede para pessoas comuns ajudarem a classificar imagens de plantas do Arb\u00f3reo Arnold, da Universidade Harvard.<\/p>\n\n\n\n

Intera\u00e7\u00f5es di\u00e1rias com plantas \u00e9 a melhor estrat\u00e9gia, diz Schussler. Ela tamb\u00e9m cita falar sobre conserva\u00e7\u00e3o de plantas em parques locais e jardinagem.<\/p>\n\n\n\n

\"Vegeta\u00e7\u00e3o\"\/
\u00c9 importante envolver crian\u00e7as com as plantas cedo, como em caminhadas na natureza, como nessa foto tirada nos Jardins Bot\u00e2nicos Reais, Kew, em Londres<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

As plantas tamb\u00e9m podem ser mais enfatizadas na arte. Dawn Sanders, da Universidade de Gotemburgo, na Su\u00e9cia, que colaborou em projetos de arte e meio ambiente no Jardim Bot\u00e2nico de Gotemburgo, descobriu que imagens e hist\u00f3rias s\u00e3o importantes para conectar os alunos com as plantas.<\/p>\n\n\n\n

O trabalho de Sanders tamb\u00e9m indica varia\u00e7\u00f5es culturais. “A cegueira vegetal n\u00e3o \u00e9 aplicada a todas as pessoas da mesma maneira”, diz ela. Comparado ao estudo inicial com estudantes americanos, diz ela, “n\u00f3s temos descoberto que nossos alunos suecos se conectam com as plantas atrav\u00e9s de mem\u00f3ria, emo\u00e7\u00e3o e beleza, especialmente durante o ver\u00e3o ou os primeiros dias da primavera”.<\/p>\n\n\n\n

Por exemplo, a vitsippa (Anemone nemorosa<\/em>) \u00e9 valorizada como mensageira da primavera.<\/p>\n\n\n\n

Na \u00cdndia, a liga\u00e7\u00e3o entre humanos e plantas pode ter mais a ver com religi\u00e3o e medicina. “Seu valor certamente \u00e9 vivido em um n\u00edvel visceral”, diz Geetanjali Sachdev, que pesquisa arte e educa\u00e7\u00e3o bot\u00e2nica na Escola Srishti de Arte, Design e Tecnologia em Bangalore.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00f3s n\u00e3o podemos escapar disso porque as plantas est\u00e3o muito interligadas com v\u00e1rios aspectos da vida cultural indiana”.<\/p>\n\n\n\n

\"Desenho
Geetanjali Sachdev notou desenhos em refer\u00eancia a plantas em todos os cantos nas cidades indianas (Foto: Geetanjali Sachdev)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Sachdev tem documentado a presen\u00e7a dos motivos vegetais nas cidades indianas: desde flores de l\u00f3tus pintadas em tanques de \u00e1gua at\u00e9 desenhos bot\u00e2nicos no ch\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Essas imagens v\u00e3o al\u00e9m das flores, que t\u00e3o frequentemente dominam a liga\u00e7\u00e3o com plantas nos pa\u00edses ocidentais. “De uma perspectiva mitol\u00f3gica, \u00e1rvores, folhas e flores poderiam todas ser significativas, mas, com as perspectivas medicinais da ayurveda (uma forma indiana de medicina tradicional), muitas outras partes das plantas t\u00eam valor – folhas, ra\u00edzes, flores e sementes”, diz ela.<\/p>\n\n\n\n

Portanto, a cegueira vegetal n\u00e3o \u00e9 universal nem inevit\u00e1vel. “Apesar de nossos c\u00e9rebros humanos serem programados para n\u00e3o ver as plantas, podemos superar isso com uma percep\u00e7\u00e3o maior”, diz Schussler.<\/p>\n\n\n\n

\"Mural\"\/
Um mural no primeiro bairro de arte p\u00fablica na \u00cdndia, a Col\u00f4nia Lodhi de Nova D\u00e9li, \u00e9 mais um exemplo de motivos bot\u00e2nicos<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Williams tamb\u00e9m est\u00e1 otimista quanto ao aumento da empatia pelas plantas. “\u00c9 plaus\u00edvel, tem a ver com imagina\u00e7\u00e3o”, diz ela.<\/p>\n\n\n\n

At\u00e9 mesmo personagens fict\u00edcios de plantas est\u00e3o aparecendo. Dois do mundo dos quadrinhos s\u00e3o McPedro, o cactus escoc\u00eas que aparece na s\u00e9rie webcomic Girls with Slingshots<\/em>, e o super her\u00f3i da Marvel Groot<\/em>.<\/p>\n\n\n\n

A oferta global de alimentos est\u00e1 enfrentando mais desafios do que nunca hoje devido a uma combina\u00e7\u00e3o de aumento populacional, escassez de \u00e1gua, diminui\u00e7\u00e3o de terras para agricultura e mudan\u00e7as clim\u00e1ticas. Pesquisas com biocombust\u00edveis mostram que as plantas tamb\u00e9m s\u00e3o importantes fontes em potencial de energia renov\u00e1vel. Isso significa que \u00e9 necess\u00e1rio saber detectar, aprender e inovar com nossos amigos verdes. Nosso futuro depende disso.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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