{"id":153638,"date":"2019-08-27T19:08:33","date_gmt":"2019-08-27T22:08:33","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=153638"},"modified":"2019-08-26T22:15:31","modified_gmt":"2019-08-27T01:15:31","slug":"nas-redondezas-dos-incendios-da-amazonia-moradores-estao-doentes-preocupados-e-com-raiva","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/08\/27\/153638-nas-redondezas-dos-incendios-da-amazonia-moradores-estao-doentes-preocupados-e-com-raiva.html","title":{"rendered":"Nas redondezas dos inc\u00eandios da Amaz\u00f4nia, moradores est\u00e3o doentes, preocupados e com raiva"},"content":{"rendered":"\n
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A crescente fuma\u00e7a durante um inc\u00eandio na \u00e1rea da floresta amaz\u00f4nica perto de Humait\u00e1, estado do Amazonas, Brasil, 17 de Agosto.
FOTO DE\u00a0UESLEI MARCELINO\/REUTERS<\/strong> <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Porto Velho, Brasil \u2014<\/strong>\u00a0Uma can\u00e7\u00e3o popular descreve o c\u00e9u acima desta cidade brasileira com mais de 400 mil habitantes como sempre azul. Mas, nesta semana, Porto Velho, juntamente com grande parte da bacia amaz\u00f4nica, est\u00e1 envolta por fuma\u00e7a cinza, j\u00e1 que\u00a0os inc\u00eandios florestais continuam assolando\u00a0\u00a0a regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Entretanto, como floresta tropical, a Amaz\u00f4nia n\u00e3o est\u00e1 queimando por si s\u00f3. O desmatamento, ao longo do tempo, tornou seu ecossistema mais seco e os inc\u00eandios se tornaram comuns nessa \u00e9poca do ano, que normalmente \u00e9 marcada pelo clima seco e mais frio. Muitos inc\u00eandios s\u00e3o feitos por fazendeiros e agricultores que buscam limpar a terra para pastagem de gado e agricultura. Neste ano, por\u00e9m, dados de sat\u00e9lite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostraram um aumento de quase 85 por cento nos inc\u00eandios de todo o pa\u00eds desde 2018, principalmente na regi\u00e3o amaz\u00f4nica.<\/p>\n\n\n\n

A situa\u00e7\u00e3o \u00e9 particularmente grave no estado de Rond\u00f4nia, do qual Porto Velho \u00e9 a capital. L\u00e1, os inc\u00eandios aumentaram 190 por cento desde o ano passado, segundo o Inpe, apesar de as condi\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas serem praticamente as mesmas. O estado \u00e9 conhecido pelo gado bovino e est\u00e1 entre os mais devastados do Brasil. Este ano, aparentemente, fazendeiros causaram mais inc\u00eandios que nos anos anteriores e, como resultado, grandes \u00e1reas do estado est\u00e3o queimando fora de controle.<\/p>\n\n\n\n

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Inc\u00eandio em uma \u00e1rea da floresta amaz\u00f4nica perto de Porto Velho, estado de Rond\u00f4nia, em 21 de agosto de 2019.
FOTO DE\u00a0UESLEI MARCELINO\/REUTERS<\/strong> <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Fuma\u00e7a em todos os lugares<\/strong><\/h3>\n\n\n\n

Nesta semana, o aeroporto de Porto Velho teve que ser fechado por conta do inc\u00eandio que invadiu seu per\u00edmetro, e por pouco n\u00e3o desviou de um dep\u00f3sito de combust\u00edvel. Palmeiras chamuscadas agora recebem os visitantes em suas chegadas. Na cidade, a fuma\u00e7a \u00e9 percebida mesmo dentro de grandes shopping centers e de fechados quartos de hotel. O n\u00famero de pessoas internadas em hospitais estaduais com pneumonia, tosse severa e outros problemas respirat\u00f3rios triplicou na \u00faltima semana, segundo reportagens locais.<\/p>\n\n\n\n

Na sexta-feira de manh\u00e3 (23\/08), a vida nas ruas parecia normal; as pessoas n\u00e3o se precaviam para se protegerem da fuma\u00e7a. Em uma banca de frutas na movimentada Rua Imigrantes, Laine Polinaria de Oliveira atendia um fluxo constante de fregueses comprando abacaxi, mam\u00e3o, melancia e goiaba.<\/p>\n\n\n\n

\u201cOs neg\u00f3cios est\u00e3o normais, mas todo mundo est\u00e1 falando sobre os inc\u00eandios\u201d, disse ela. \u201cEstamos acostumados com inc\u00eandios nessa \u00e9poca do ano, mas neste ano est\u00e1 bem pior que nos anteriores.<\/p>\n\n\n\n

Vinda de Nova Mamor\u00e9, uma pequena cidade a 300 quil\u00f4metros de dist\u00e2ncia onde os inc\u00eandios s\u00e3o ainda mais intensos que em Porto Velho, Laine diz estar particularmente preocupada com seu filho de 9 anos inalando o ar sujo.<\/p>\n\n\n\n

Rota de distribui\u00e7\u00e3o em chamas<\/strong><\/h3>\n\n\n\n

Situado n\u00e3o muito longe da fronteira com a Bol\u00edvia, ao longo do\u00a0rio Madeira, um afluente de 3,2 mil quil\u00f4metros do Amazonas, Porto Velho \u00e9 um importante centro de distribui\u00e7\u00e3o no noroeste da Amaz\u00f4nia. A fuma\u00e7a dos inc\u00eandios leva a uma baixa visibilidade para os operadores dos barcos no rio, aumentando o risco de colidirem com outros barcos ou encalharem em bancos de areia expostos.<\/p>\n\n\n\n

Jerrison da Silva Cruz, operador de barco local e pescador, relatou um incidente na quarta-feira \u00e0 noite, quando ele e a tripula\u00e7\u00e3o estavam a bordo de um navio viajando rio acima e se depararam com uma parede de fogo em uma curva acentuada no rio, a cerca de 12 horas de Porto Velho.<\/p>\n\n\n\n

\u201cN\u00e3o consegu\u00edamos ver nada por causa da fuma\u00e7a,\u201d ele conta. O capit\u00e3o do navio decidiu que o melhor a se fazer era ficar no mesmo lugar, pr\u00f3ximo \u00e0 terra que j\u00e1 tinha sido queimada para dar lugar \u00e0s fazendas de melancia, e esperar a fuma\u00e7a abaixar, o que em certo momento aconteceu.<\/p>\n\n\n\n

Enquanto o vasto rio Madeira pode agir como uma barreira contra os inc\u00eandios, as pequenas estradas que cruzam a enorme floresta amaz\u00f4nica fornecem pouca prote\u00e7\u00e3o para quem viaja de carro.<\/p>\n\n\n\n

Povos ind\u00edgenas em perigo?<\/h3>\n\n\n\n

Ainda mais preocupante \u00e9 o destino das\u00a0muitas comunidades ind\u00edgenas\u00a0da Amaz\u00f4nia. Um milh\u00e3o de ind\u00edgenas vivem na parte brasileira da bacia amaz\u00f4nica, muitos em total isolamento do mundo exterior.<\/p>\n\n\n\n

\u201cNingu\u00e9m sabe o que est\u00e1 acontecendo com eles\u2026 Eles n\u00e3o t\u00eam como chamar um bombeiro para apagar o fogo\u201d, diz Ivaneide Bandeira Cardoso, conhecida fundadora do Kanind\u00e9, um grupo de defesa de comunidades ind\u00edgenas baseado em Porto Velho.<\/p>\n\n\n\n

Cardoso e muitos outros dizem que o presidente Jair Bolsonaro \u00e9 o respons\u00e1vel direto pelo agravamento dos\u00a0inc\u00eandios florestais por toda bacia amaz\u00f4nica\u00a0\u00a0neste ano. Desde que assumiu o poder no come\u00e7o do ano, Bolsonaro deixou claro que prioriza os interesses de ind\u00fastrias que querem acesso livre \u00e0s terras protegidas. Cr\u00edticos dizem que ele encorajou fazendeiros e agricultores a queimar ainda mais terra ao afrouxar uma lei, sinalizando que seu governo n\u00e3o multar\u00e1 apropria\u00e7\u00e3o ilegal de terras.<\/p>\n\n\n\n

\u201cO que causa essa trag\u00e9dia s\u00e3o as palavras do presidente\u201d, diz Cardoso, acrescentando que, apesar de as maiores v\u00edtimas desses inc\u00eandios serem os ind\u00edgenas e a natureza, \u00e9 uma \u201ctrag\u00e9dia que afeta toda a humanidade\u201d, j\u00e1 que a Amaz\u00f4nia tem um papel importante no ecossistema global como sumidouro de carbono para deter os efeitos das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas.<\/p>\n\n\n\n

Bolsonaro, em sua defesa, diz que as cr\u00edticas \u00e0s a\u00e7\u00f5es de seu governo na Amaz\u00f4nia s\u00e3o hist\u00e9ricas. Sem evid\u00eancia nenhuma, ele at\u00e9 sugeriu que ONGs causam inc\u00eandios deliberadamente para \u201ctrazer problemas para ao Brasil.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Enquanto Bolsonaro tem forte apoio em sua base conservadora, muitos brasileiros parecem extremamente preocupados que as a\u00e7\u00f5es do governo prejudicar\u00e3o a reputa\u00e7\u00e3o do Brasil internacionalmente e poderia levar at\u00e9 uma dificuldade econ\u00f4mica se outros pa\u00edses decidirem boicotar produtos brasileiros, incluindo a carne. Protestos contra as pol\u00edticas governamentais na Amaz\u00f4nia est\u00e3o agendadas para acontecerem nos pr\u00f3ximos tr\u00eas dias em muitas cidades do Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Na barraca de frutas em Porto Velho, Laine diz que a atitude em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s queimadas deliberadas na floresta est\u00e1 mudando entre os cidad\u00e3os comuns. \u201cIsso \u00e9 algo que as pessoas fazem h\u00e1 muitos anos,\u201d ela diz. \u201cMas agora podemos realmente sentir as repercuss\u00f5es dessa pr\u00e1tica e as pessoas est\u00e3o mudando de opini\u00e3o sobre isso\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Os moradores em Rond\u00f4nia parecem n\u00e3o deixar que o ar esfuma\u00e7ado os impe\u00e7am de viver normalmente. Na quinta-feira \u00e0 noite, uma pequena multid\u00e3o em um bar na \u00e1rea externa do principal shopping de Porto Velho cantava a todos pulm\u00f5es com uma banda ao vivo enquanto a fuma\u00e7a invadia as ruas da cidade. O nome da can\u00e7\u00e3o? \u201cTodo mundo vai sofrer\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic – Stefan Lovgren <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"