{"id":153641,"date":"2019-08-27T09:16:44","date_gmt":"2019-08-27T12:16:44","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=153641"},"modified":"2019-08-26T22:25:04","modified_gmt":"2019-08-27T01:25:04","slug":"amazonia-levara-seculos-para-se-recuperar-das-queimadas-afirma-biologa","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/08\/27\/153641-amazonia-levara-seculos-para-se-recuperar-das-queimadas-afirma-biologa.html","title":{"rendered":"Amaz\u00f4nia levar\u00e1 s\u00e9culos para se recuperar das queimadas, afirma bi\u00f3loga"},"content":{"rendered":"\n

Em meio \u00e0 como\u00e7\u00e3o nacional e internacional com os\u00a0inc\u00eandios de grandes propor\u00e7\u00f5es que se alastraram pelo norte do Brasil, a Amaz\u00f4nia segue ardendo. Autoridades demoram a agir para conter as chamas e, enquanto isso, o maior patrim\u00f4nio natural dos brasileiros vai sofrendo perdas irrepar\u00e1veis. Mesmo quando sobrevive ao fogo, a Floresta Amaz\u00f4nica n\u00e3o volta a ser o que era. Cientistas ainda n\u00e3o sabem quanto tempo ela demora para se regenerar.<\/p>\n\n\n\n

Estudos recentes apontam que a recupera\u00e7\u00e3o pode levar centenas de anos. Ap\u00f3s queimar, a maior floresta tropical do planeta at\u00e9 continua em p\u00e9, mas n\u00e3o sem pagar um alto custo. Metade das \u00e1rvores n\u00e3o resiste \u00e0s labaredas \u2014 50% de mortalidade \u00e9 considerada uma taxa muito alta. \u00c1rvores gigantes acabam morrendo e cedem lugar a plantas mais novas, menores e de tronco bem mais fino. Com isso, a capacidade de armazenar carbono fica comprometida.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 inimagin\u00e1vel o tanto de CO2 que a floresta armazena. “Se pegar todos os nove pa\u00edses da Amaz\u00f4nia, n\u00e3o s\u00f3 o Brasil, a quantidade de di\u00f3xido de carbono \u00e9 equivalente a 100 anos de emiss\u00f5es de combust\u00edveis f\u00f3sseis dos Estados Unidos”, afirma a bi\u00f3loga Erika Berenguer em entrevista \u00e0 GALILEU. “Assim que a \u00e1rea \u00e9 desmatada e queimada, todo o carbono que estava nos troncos vai direto para a atmosfera, contribuindo para as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas.”<\/p>\n\n\n\n

A pesquisadora das universidades de Oxford e de Lancaster, no Reino Unido, \u00e9 especialista em degrada\u00e7\u00e3o de florestas tropicais pela a\u00e7\u00e3o humana. No mesmo em dia em que conversou por telefone com a reportagem diretamente de Madagascar, onde passava f\u00e9rias, Berenguer postou em seu perfil no Facebook\u00a0um texto explicativo com respaldo cient\u00edfico\u00a0para divulgar as informa\u00e7\u00f5es essenciais sobre o que est\u00e1 acontecendo na Amaz\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n

A postagem viralizou e j\u00e1 re\u00fane mais de 54 mil compartilhamentos e 10 mil coment\u00e1rios. “H\u00e1 12 anos eu trabalho na Amaz\u00f4nia e h\u00e1 10 pesquiso sobre os impactos do fogo na maior floresta tropical do mundo”, escreve a pesquisadora. “J\u00e1 vi a floresta queimando sob os meus p\u00e9s mais vezes do que gostaria de lembrar. Me sinto, ent\u00e3o, na obriga\u00e7\u00e3o de trazer alguns esclarecimentos, enquanto cientista e enquanto brasileira.”<\/p>\n\n\n\n

\"\"\/<\/figure>\n\n\n\n

Nada natural<\/strong>
O intuito da pesquisadora com a sua publica\u00e7\u00e3o no Facebook era tornar a realidade amaz\u00f4nica um pouco menos distante para a maioria dos brasileiros, que vive em grandes centros urbanos. A biologia evolutiva traz o fato mais crucial \u2014 a Floresta Amaz\u00f4nica n\u00e3o est\u00e1 acostumada com o fogo. Ao contr\u00e1rio de outros biomas do Brasil e do mundo,\u00a0como o Cerrado\u00a0ou as vegeta\u00e7\u00f5es nativas da Calif\u00f3rnia e da Austr\u00e1lia, ela n\u00e3o evoluiu submetida a inc\u00eandios florestais intensos e recorrentes.<\/p>\n\n\n\n

Como a umidade relativa do ar na bacia amaz\u00f4nica varia entre 77% e 88%, o fogo sempre apagou r\u00e1pido. N\u00e3o durava muito nem causava grande estrago. Por isso, as \u00e1rvores n\u00e3o criaram mecanismos de prote\u00e7\u00e3o eficientes que as protegessem das labaredas, como as cascas grossas do Cerrado. Na Amaz\u00f4nia, troncos finos n\u00e3o protegem os vasos condutores dos vegetais durante as queimadas, e \u00e9 essa a causa da alta mortandade de \u00e1rvores.
<\/p>\n\n\n\n

Pesquisas de Berenguer e colegas mostram que a metade da floresta que sobrevive ao fogo armazena 40% menos carbono que quando era intocada. Mesmo 30 anos depois, os efeitos ainda s\u00e3o sentidos: a quantidade de carbono armazenada \u00e9 25% menor do que a de uma mata que nunca queimou. Esta\u00e7\u00f5es mais secas como a de 2015 e 2016, causadas pelo fen\u00f4meno El Ni\u00f1o, agravam as queimadas. Mas, ainda assim, elas n\u00e3o s\u00e3o naturais.<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o na Amaz\u00f4nia. “N\u00e3o faz parte da din\u00e2mica. Esse fogo \u00e9 iniciado pelo ser humano, algu\u00e9m precisa colocar fogo”, afirma Berenguer. Conforme denunciou uma reportagem da revista Globo Rural no \u00faltimo domingo (25), um grupo de WhatsApp que reunia pelo menos 70 pessoas, entre eles produtores rurais e grileiros, organizou o “Dia do Fogo” no Par\u00e1. O Minist\u00e9rio P\u00fablico e a Pol\u00edcia Civil de Novo Progresso (PA) investigam o crime ambiental.<\/p>\n\n\n\n

Dados do Inpe sobre o desmatamento da Amaz\u00f4nia apontam um aumento de 278% em julho comparado com o mesmo m\u00eas do ano passado. N\u00e3o \u00e9 coincid\u00eancia que as queimadas tenham aumentado junto com a derrubada das \u00e1rvores: elas representam o \u00faltimo est\u00e1gio antes de uma \u00e1rea que h\u00e1 pouco tempo abrigava vegeta\u00e7\u00e3o exuberante virar pasto. H\u00e1 um roteiro que grileiros e latifundi\u00e1rios seguem ao perpetrar seus crimes contra a floresta.<\/p>\n\n\n\n

\"\"\/<\/figure>\n\n\n\n


<\/p>\n\n\n\n

Dia do fogo<\/strong>
Como explica Berenguer, primeiro esses grupos chamam madeireiros para que derrubem e retirem apenas as toras de valor econ\u00f4mico, como o ip\u00ea. Depois d\u00e3o uma verdadeira rasteira no que sobrou da mata por meio do processo apelidado de corrent\u00e3o. “Dois tratores interligados por uma corrente imensa caminham lado a lado e v\u00e3o levando ao ch\u00e3o tudo que veem pela frente”, conta a pesquisadora.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 preciso deixar os restos e tocos da floresta curtindo ao sol da esta\u00e7\u00e3o seca por alguns meses at\u00e9 que estejam secos o bastante para queimar. A\u00ed \u00e9 s\u00f3 organizar a a\u00e7\u00e3o com outros madeireiros e o Dia do Fogo toma conta do resto. “Toda a vegeta\u00e7\u00e3o \u00e9 destru\u00edda, vira cinzas, e com isso d\u00e1 para plantar capim na \u00e1rea derrubada”, diz a bi\u00f3loga. E, assim, nosso maior patrim\u00f4nio \u00e9 destru\u00eddo em nome da produ\u00e7\u00e3o e do consumo de bifes.<\/p>\n\n\n\n

O problema \u00e9 que, muitas vezes, o fogo n\u00e3o para na regi\u00e3o afetada pelo desmatamento. Beiras de estrada e clareiras abertas na mata por madeireiros fazem sol e vento penetrarem na floresta \u2014 elas ficam mais secas e suscet\u00edveis a queimar. As pr\u00f3prias mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, t\u00e3o agravadas pelas queimadas na Amaz\u00f4nia, j\u00e1 est\u00e3o fazendo sua parte: secas mais severas e prolongadas colocam a floresta em risco crescente.<\/p>\n\n\n\n

O jeito como o fogo “invasor” consome a Amaz\u00f4nia \u00e9 muito diferente do que estamos acostumados. Ele n\u00e3o transforma as \u00e1rvores em grandes tochas nem alcan\u00e7a suas copas: permanece a poucos palmos do ch\u00e3o. Bem baixo, coisa de meio metro de altura, no m\u00e1ximo. Por isso, n\u00e3o \u00e9 t\u00e3o dif\u00edcil cont\u00ea-lo. Grandes avi\u00f5es-tanque como o contratado pelo presidente da Bol\u00edvia, Evo Morales, ajudam. Mas n\u00e3o s\u00e3o a t\u00e9cnica mais eficaz.<\/p>\n\n\n\n

Por incr\u00edvel que pare\u00e7a, a pr\u00f3pria floresta oferece a solu\u00e7\u00e3o. Basta varrer as folhas secas em volta da queimada para que o solo contenha o alastramento. \u00c9 o processo chamado de aceiro. Estudo recente mostrou que at\u00e9 mesmo trilhas estreitas de formigas cortadeiras s\u00e3o capazes de parar o fogo. Mas o trabalho \u00e9 cansativo, desgastante, al\u00e9m de muito custoso \u2014 e boa parte das opera\u00e7\u00f5es eram financiadas com recursos do extinto Fundo Amaz\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n

Em seu texto nas redes sociais, Berenguer tenta descrever sua dor indescrit\u00edvel sempre que testemunha a Floresta Amaz\u00f4nica, lar da maior biodiversidade do planeta, destru\u00edda pelo fogo. Para ela, s\u00e3o cenas traum\u00e1ticas. “\u00c9 catastr\u00f3fico, o cheiro de churrasco e o sil\u00eancio profundo n\u00e3o v\u00e3o sair da minha cabe\u00e7a jamais”, ela diz.<\/p>\n\n\n\n

“A floresta, antes de um verde luxuriante, fica cinza e, de repente, tudo fica silencioso, estranhoa frase””Erika Berenguer, bi\u00f3loga<\/p>\n\n\n\n

“A floresta, antes de um verde luxuriante, fica cinza e, de repente, tudo fica silencioso, estranho. A Amaz\u00f4nia \u00e9 barulhenta pra caramba, uma cacofonia, mas vira um sil\u00eancio mortal. \u00c9 aterrorizante.” Mais parece um pesadelo, que de t\u00e3o real, j\u00e1 est\u00e1 trazendo trevas e obscurecendo a luz do dia na maior cidade da Am\u00e9rica do Sul.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: <\/p>\n\n\n\n


<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Pesquisadora brasileira da Universidade de Oxford especialista em degrada\u00e7\u00e3o de florestas tropicais explica os impactos catastr\u00f3ficos do fogo no ecossistema amaz\u00f4nico <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":153642,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[157,394],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/153641"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=153641"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/153641\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":153643,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/153641\/revisions\/153643"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/153642"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=153641"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=153641"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=153641"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}