{"id":153644,"date":"2019-08-28T00:21:45","date_gmt":"2019-08-28T03:21:45","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=153644"},"modified":"2019-08-27T21:26:18","modified_gmt":"2019-08-28T00:26:18","slug":"de-fordlandia-a-bem-comum-as-contradicoes-na-historia-do-interesse-estrangeiro-na-amazonia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/08\/28\/153644-de-fordlandia-a-bem-comum-as-contradicoes-na-historia-do-interesse-estrangeiro-na-amazonia.html","title":{"rendered":"De Fordl\u00e2ndia a ‘bem comum’: as contradi\u00e7\u00f5es na hist\u00f3ria do interesse estrangeiro na Amaz\u00f4nia"},"content":{"rendered":"\n
\"Militar

Em telegrama diplom\u00e1tico, embaixador americano disse que militares brasileiros t\u00eam “paranoia” em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 Amaz\u00f4nia
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Criticado pelos inc\u00eandios na Amaz\u00f4nia, o governo Jair Bolsonaro diz ser v\u00edtima de uma campanha no exterior, na qual o discurso ambientalista serviria de pretexto para interesses econ\u00f4micos de outros pa\u00edses na regi\u00e3o e buscaria enfraquecer o agroneg\u00f3cio brasileiro diante de competidores.<\/p>\n\n\n\n

Um dos objetivos dessa campanha, segundo o governo, seria questionar a soberania do Brasil sobre a Amaz\u00f4nia, abrindo o caminho para a sua internacionaliza\u00e7\u00e3o ou para a cria\u00e7\u00e3o de Estados aut\u00f4nomos em terras ind\u00edgenas.<\/p>\n\n\n\n

A tese, que ecoa antigas preocupa\u00e7\u00f5es das For\u00e7as Armadas, teve bastante proje\u00e7\u00e3o na ditadura militar (1964-85). Ela se ampara, em parte, em momentos hist\u00f3ricos em que estrangeiros cobi\u00e7aram as riquezas da Amaz\u00f4nia e nos discursos de agricultores europeus e americanos que defendem a preserva\u00e7\u00e3o da floresta por temerem a expans\u00e3o da produ\u00e7\u00e3o brasileira.<\/p>\n\n\n\n

Mas o argumento n\u00e3o leva em conta as v\u00e1rias ocasi\u00f5es em que estrangeiros investiram na Amaz\u00f4nia com a concord\u00e2ncia do Brasil \u2013 como o pr\u00f3prio governo Bolsonaro tem estimulado \u2013 e o crescente movimento que v\u00ea a prote\u00e7\u00e3o de florestas tropicais como crucial para mitigar o aquecimento global.<\/p>\n\n\n\n

A posi\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m tende a ignorar o papel que brasileiros – entre os quais ind\u00edgenas e ge\u00f3logos – tiveram no arranjo legal que resultou na demarca\u00e7\u00e3o de grandes terras ind\u00edgenas na Amaz\u00f4nia, v\u00e1rias delas em \u00e1reas ricas em min\u00e9rios.<\/p>\n\n\n\n

Coopta\u00e7\u00e3o de ind\u00edgenas<\/h2>\n\n\n\n

Na tese de doutorado “Amaz\u00f4nia: pensamento e presen\u00e7a militar”, a cientista pol\u00edtica Adriana Aparecido Marques, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), conta que os temores das For\u00e7as Armadas quanto \u00e0 coopta\u00e7\u00e3o de ind\u00edgenas por estrangeiros remontam \u00e0 \u00e9poca em que a Amaz\u00f4nia teve suas fronteiras demarcadas, no Brasil Col\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n

Marques diz que “os fardados temem que os ind\u00edgenas contempor\u00e2neos ajam como alguns de seus antepassados, que, no passado, aliaram-se a ingleses, holandeses e franceses que pretendiam conquistar terras na regi\u00e3o”.<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 ainda o receio de que ind\u00edgenas busquem alian\u00e7as com grupos n\u00e3o estatais que queiram mudar a ordem pol\u00edtica local, como a que uniu ind\u00edgenas Mura a revoltosos na Cabanagem (1835-1840), no Par\u00e1.<\/p>\n\n\n\n

\"\u00edndios
Discurso sobre manipula\u00e7\u00e3o de ind\u00edgenas por ONGs os trata como ‘inocentes fr\u00e1geis’, diz antrop\u00f3loga<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“A percep\u00e7\u00e3o de que a soberania brasileira sobre a regi\u00e3o est\u00e1 amea\u00e7ada”, escreve Marques, “n\u00e3o \u00e9 recente e nem pode ser reduzida a uma mera resposta dos militares brasileiros aos constrangimentos impostos pelo sistema internacional”.<\/p>\n\n\n\n

L\u00edderes estrangeiros<\/h2>\n\n\n\n

“A amea\u00e7a \u00e0 soberania brasileira na Amaz\u00f4nia de fato existe e, de vez em quando, ela floresce”, diz \u00e0 BBC News Brasil o general de reserva Humberto Madeira, hoje chefe de gabinete do deputado federal Coronel Armando (PSL-RJ).<\/p>\n\n\n\n

O general, que passou a maior parte de sua carreira militar na regi\u00e3o, diz que os temores se justificam pelos conflitos e revoltas do passado e por declara\u00e7\u00f5es de l\u00edderes estrangeiros que veem a floresta como um bem global. “Isso nos deixa bastante preocupados”, afirma.<\/p>\n\n\n\n

Quando foi presidente da Fran\u00e7a, entre 1981 e 1995, Fran\u00e7ois Miterrand defendeu a vis\u00e3o de que a Amaz\u00f4nia era um “patrim\u00f4nio da humanidade”. A tese foi reciclada pelo atual presidente franc\u00eas, Emmanuel Macron, que se referiu \u00e0 Amaz\u00f4nia como “nosso bem comum” ao criticar os inc\u00eandios na floresta nas \u00faltimas semanas.<\/p>\n\n\n\n

Macron lembrou que a Fran\u00e7a tamb\u00e9m \u00e9 um pa\u00eds amaz\u00f4nico por meio da Guiana Francesa \u2013 territ\u00f3rio franc\u00eas que faz fronteira com o Brasil. No domingo, ao retomar o tema na reuni\u00e3o do G7, o presidente franc\u00eas disse respeitar a soberania dos demais pa\u00edses amaz\u00f4nicos.<\/p>\n\n\n\n

Segundo Anthony Pereira, diretor do Brazil Institute da Universidade King’s College, em Londres, a tese de que a Amaz\u00f4nia “pertence ao mundo” n\u00e3o \u00e9 nova.<\/p>\n\n\n\n

“No livro a Diplomacia na Constru\u00e7\u00e3o do Brasil 1750-2016, o ex-embaixador Rubens Ricupero escreve sobre o conflito entre Brasil, de um lado, e Estados Unidos, Fran\u00e7a e Reino Unido, do outro, sobre o acesso ao rio Amazonas nas d\u00e9cadas de 1850 e 1860. Essas tr\u00eas pot\u00eancias argumentavam que, sob o esp\u00edrito do livre com\u00e9rcio e do liberalismo, suas embarca\u00e7\u00f5es deveriam ter o direito de navegar pelo rio. O governo brasileiro finalmente abriu o rio \u00e0 navega\u00e7\u00e3o internacional em 1866”, disse.<\/p>\n\n\n\n

Coloniza\u00e7\u00e3o da Amaz\u00f4nia<\/h2>\n\n\n\n

Adriana Aparecido Marques, da UFRJ, afirma em sua tese que os militares brasileiros se veem como sucessores dos colonizadores portugueses em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 Amaz\u00f4nia e compartilham da cren\u00e7a de que a regi\u00e3o precisa ser ocupada por n\u00e3o ind\u00edgenas para que o pa\u00eds n\u00e3o a perca.<\/p>\n\n\n\n

Por\u00e9m, a destrui\u00e7\u00e3o causada por essa ocupa\u00e7\u00e3o \u2013 que historicamente inclui a abertura de estradas, a constru\u00e7\u00e3o de hidrel\u00e9tricas e a expans\u00e3o da agropecu\u00e1ria e da minera\u00e7\u00e3o \u2013 acaba alimentando no exterior a pol\u00eamica tese de que a Amaz\u00f4nia deve ser tratada como um “bem comum” da humanidade, e n\u00e3o apenas um territ\u00f3rio do Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Christopher Sabatini, especialista em Am\u00e9rica Latina no centro de pesquisas Chatham House, em Londres, disse \u00e0 BBC que pa\u00edses ricos tratam a Amaz\u00f4nia com “arrog\u00e2ncia”.<\/p>\n\n\n\n

“Os pa\u00edses que, em seu processo de desenvolvimento, contribu\u00edram com as emiss\u00f5es de g\u00e1s carb\u00f4nico agora querem proteger a Amaz\u00f4nia. Eles polu\u00edram nos \u00faltimos dois s\u00e9culos. \u00c9 uma vis\u00e3o colonialista”, afirmou \u00e0 BBC News Brasil.<\/p>\n\n\n\n

\"Trecho
Trecho da rodovia Transamaz\u00f4nica no Amazonas; obra foi planejada pela ditadura militar para integrar Amaz\u00f4nia ao resto do pa\u00eds<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Pol\u00edtica indigenista<\/h2>\n\n\n\n

A vis\u00e3o de que a estrat\u00e9gia de coloniza\u00e7\u00e3o da Amaz\u00f4nia segue v\u00e1lida ainda tem defensores nas For\u00e7as Armadas.<\/p>\n\n\n\n

Em 2008, o ent\u00e3o comandante militar da Amaz\u00f4nia e hoje ministro do Gabinete de Seguran\u00e7a Institucional da Presid\u00eancia, general Augusto Heleno, disse que a pol\u00edtica indigenista brasileira deveria ser revista por estar “completamente dissociada do hist\u00f3rico de coloniza\u00e7\u00e3o do nosso pa\u00eds”.<\/p>\n\n\n\n

Heleno se referia \u00e0 demarca\u00e7\u00e3o de terras ind\u00edgenas, que impediria a ocupa\u00e7\u00e3o de partes do territ\u00f3rio nacional por n\u00e3o \u00edndios. “Como um brasileiro n\u00e3o pode entrar numa terra porque \u00e9 terra ind\u00edgena?”, questionou o general.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 preciso de autoriza\u00e7\u00e3o da Funai para entrar em uma das 567 terras ind\u00edgenas, embora nem sempre a norma seja respeitada. Entre as principais justificativas est\u00e3o impedir o cont\u00e1gio por doen\u00e7as que poderiam dizimar as comunidades e evitar invas\u00f5es por grileiros. A restri\u00e7\u00e3o n\u00e3o vale para as For\u00e7as Armadas, que podem entrar em qualquer terra ind\u00edgena. Muitos pelot\u00f5es do Ex\u00e9rcito ficam inclusive dentro dessas \u00e1reas.<\/p>\n\n\n\n

Apesar da persist\u00eancia dessas vis\u00f5es, Marques afirma que a desconfian\u00e7a das For\u00e7as Armadas em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s comunidades nativas vem diminuindo nas \u00faltimas d\u00e9cadas \u00e0 medida que o Ex\u00e9rcito passou a recrutar mais ind\u00edgenas como soldados. Hoje v\u00e1rios pelot\u00f5es do Ex\u00e9rcito em regi\u00f5es de fronteira s\u00e3o compostos, em sua maioria, por ind\u00edgenas.<\/p>\n\n\n\n

“A necessidade de aprender com os nativos para combater um poss\u00edvel invasor estrangeiro faz com que o Ex\u00e9rcito procure incorporar, cada vez mais, ind\u00edgenas em seu efetivo (…). O fato \u00e9 que o desempenho dos soldados de origem ind\u00edgena nos exerc\u00edcios de sobreviv\u00eancia na selva fez com que os militares revissem algumas de suas vis\u00f5es acerca da cultura nativa”, escreve a professora.<\/p>\n\n\n\n

\"Foto
Transporte de borracha pelo rio Acre; presen\u00e7a do material na Amaz\u00f4nia despertou grande interesse estrangeiro pela regi\u00e3o no s\u00e9culo passado<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Interesse pela borracha<\/h2>\n\n\n\n

Os temores quanto \u00e0 soberania brasileira sobre a Amaz\u00f4nia cresceram no s\u00e9culo 20, ao longo do qual v\u00e1rias comiss\u00f5es parlamentares foram criadas para investigar o tema, segundo um artigo do cientista social Jo\u00e3o Roberto Martins, professor da Universidade Federal de S\u00e3o Carlos (UFSCar-SP).<\/p>\n\n\n\n

Na primeira metade do s\u00e9culo, governos e investidores estrangeiros passaram a mirar o potencial da regi\u00e3o para a produ\u00e7\u00e3o de borracha, cuja principal mat\u00e9ria-prima advinha de uma \u00e1rvore local, a seringueira.<\/p>\n\n\n\n

Atento ao interesse, o governo Get\u00falio Vargas negociou com os EUA em 1940 um acordo para fornecer l\u00e1tex para as For\u00e7as Armadas americanas durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45) e interromper as exporta\u00e7\u00f5es para os pa\u00edses do Eixo (Alemanha, Jap\u00e3o e It\u00e1lia).<\/p>\n\n\n\n

Anos antes, em 1927, o empres\u00e1rio americano Henry Ford havia fechado um acordo com o ent\u00e3o governador do Par\u00e1 para a constru\u00e7\u00e3o de um complexo agroindustrial que suprisse a demanda da montadora por pneus. O empreendimento, batizado de Fordl\u00e2ndia, quebrou e foi abandonado em 1945.<\/p>\n\n\n\n

Outra tentativa estrangeira com aval governamental de instalar um complexo industrial na Amaz\u00f4nia foi o projeto Jari, que ocupava uma \u00e1rea equivalente \u00e0 de Sergipe em partes do Par\u00e1 e do Amap\u00e1. Liderado pelo empres\u00e1rio americano Daniel Keith Ludwig, o empreendimento envolvia atividades industriais, agr\u00edcolas e a extra\u00e7\u00e3o de min\u00e9rios e madeira.<\/p>\n\n\n\n

O projeto come\u00e7ou em 1967 com o apoio da ditadura militar, mas os fracos resultados fizeram Ludwig abandon\u00e1-lo em 1982.<\/p>\n\n\n\n

A Amaz\u00f4nia foi cobi\u00e7ada tamb\u00e9m pelo magnata Nelson Rockefeller, que posteriormente se tornaria vice-presidente dos EUA e via na floresta uma “reserva gigante de mat\u00e9rias-primas” para suas ind\u00fastrias.<\/p>\n\n\n\n

Mas ele abriu m\u00e3o dos planos de investir na regi\u00e3o ap\u00f3s ser desencorajado pela Casa Branca, para quem o empreendimento poderia incomodar o governo Vargas e prejudicar a rela\u00e7\u00e3o entre os dois pa\u00edses.<\/p>\n\n\n\n

O caso, narrado no livro “Thy Will Be Done: The Conquest of the Amazon” (Seja feita a Vossa vontade: a conquista da Amaz\u00f4nia, de Gerard Colby e Charlotte Dennett), indica que o governo dos EUA sabe h\u00e1 muito tempo que a Amaz\u00f4nia \u00e9 um tema sens\u00edvel para brasileiros.<\/p>\n\n\n\n

Em 2009, o ent\u00e3o embaixador americano no Brasil, Clifford Sobel, disse em um telegrama diplom\u00e1tico revelado pelo Wikileaks que militares brasileiros t\u00eam o que ele chamou de “paranoia” em rela\u00e7\u00e3o a ONGs que atuam na regi\u00e3o, vendo-as “como amea\u00e7as potenciais \u00e0 soberania” do pa\u00eds.<\/p>\n\n\n\n

\"Foto
Seringueiros voltam do trabalho em Belterra, no Par\u00e1, em 1953<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Bush e Thatcher<\/h2>\n\n\n\n

Epis\u00f3dios posteriores \u00e0 Segunda Guerra ampliaram o receio dos militares sobre interfer\u00eancias estrangeiras na Amaz\u00f4nia, conforme atestam v\u00e1rias monografias publicadas pela Escola de Comando e Estado-Maior do Ex\u00e9rcito.<\/p>\n\n\n\n

Uma delas, escrita em 2000 pelo coronel reformado Alei Salim Magluf, lista ocasi\u00f5es em que l\u00edderes de outros pa\u00edses teriam agido para proteger seus interesses na regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Magluf cita a press\u00e3o que o ent\u00e3o presidente dos EUA, George W. Bush, fez para impedir que o Jap\u00e3o financiasse a pavimenta\u00e7\u00e3o da rodovia BR-364. A obra abriria uma nova rota para a exporta\u00e7\u00e3o de gr\u00e3os, o que aumentaria a competitividade da produ\u00e7\u00e3o brasileira frente a agricultores americanos.<\/p>\n\n\n\n

Ele tamb\u00e9m menciona no trabalho o apoio da ent\u00e3o premi\u00ea brit\u00e2nica Margaret Thatcher \u00e0 vincula\u00e7\u00e3o da d\u00edvida externa de pa\u00edses emergentes \u2013 entre os quais o Brasil \u2013 \u00e0 venda de recursos naturais, o que reduziria o poder do Brasil em decidir o que fazer com as riquezas amaz\u00f4nicas.<\/p>\n\n\n\n

Mais recentemente, entraram na lista de temores sobre a inger\u00eancia indevida na Amaz\u00f4nia atos e discursos de agricultores que competem com produtores brasileiros.<\/p>\n\n\n\n

Em 2017, come\u00e7ou a circular no Brasil um relat\u00f3rio produzido por uma consultoria a pedido da National Farmers Union, um dos principais sindicatos de agricultores dos EUA.<\/p>\n\n\n\n

\"Mario
Mario Juruna, ind\u00edgena da etnia xavante que foi deputado federal<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Intitulado “Farms here, forest there” (fazendas aqui, florestas l\u00e1), o documento diz que a destrui\u00e7\u00e3o de matas tropicais provocou uma “expans\u00e3o dram\u00e1tica na produ\u00e7\u00e3o de commodities que competem diretamente com produtos americanos”.<\/p>\n\n\n\n

O relat\u00f3rio defende que os EUA promovam a conserva\u00e7\u00e3o de florestas tropicais por meio de pol\u00edticas clim\u00e1ticas, o que favoreceria agricultores e madeireiros americanos. Segundo a publica\u00e7\u00e3o, o fim do desmatamento nessas \u00e1reas faria com que agricultores americanos ganhassem entre US$ 190 bilh\u00f5es e US$ 270 bilh\u00f5es adicionais de 2012 a 2030.<\/p>\n\n\n\n

Para o engenheiro agr\u00f4nomo Luis Fernando Guedes Pinto, gerente de certifica\u00e7\u00e3o agr\u00edcola do Imaflora, n\u00e3o existe nenhuma alian\u00e7a entre ambientalistas pr\u00f3-Amaz\u00f4nia e agricultores americanos \u2013 ainda que a agenda ambiental possa ser usada por competidores do agroneg\u00f3cio nacional.<\/p>\n\n\n\n

“O Brasil tem uma import\u00e2ncia enorme no com\u00e9rcio global de commodities e nossos competidores podem, sim, usar quest\u00f5es ambientais para tentar diminuir nossa competitividade. Mas isso n\u00e3o tem nada a ver com a motiva\u00e7\u00e3o de ambientalistas, que baseiam sua atua\u00e7\u00e3o em argumentos cient\u00edficos sobre a import\u00e2ncia de preservar a floresta”, afirma.<\/p>\n\n\n\n

A causa amaz\u00f4nica transcende quest\u00f5es comerciais e mobiliza muitos outros pa\u00edses que n\u00e3o disputam com a agricultura nacional, caso, por exemplo, da Alemanha e da Noruega, os principais doadores do Fundo Amaz\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m de abrigar a maior biodiversidade do mundo, a floresta \u00e9 vista com um imenso dep\u00f3sito de carbono num momento em que o mundo tenta reduzir suas emiss\u00f5es de CO\u00b2. Preservar a Amaz\u00f4nia significa impedir que se injete ainda mais carbono na atmosfera, pois a derrubada de matas tropicais \u00e9 uma das principais fontes dessas emiss\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

Barreiras n\u00e3o tarif\u00e1rias<\/h2>\n\n\n\n

Nas \u00faltimas semanas, ap\u00f3s a Uni\u00e3o Europeia e o Mercosul conclu\u00edrem negocia\u00e7\u00f5es para um acordo comercial, agricultores europeus endossaram as cr\u00edticas ao agroneg\u00f3cio brasileiro, associando-o a pr\u00e1ticas sanit\u00e1rias, trabalhistas e ambientais pouco rigorosas.<\/p>\n\n\n\n

Agricultores e pecuaristas brasileiros refutam as cr\u00edticas e dizem seguir padr\u00f5es t\u00e3o ou mais rigorosos que os europeus.<\/p>\n\n\n\n

Para o general Eduardo Villas B\u00f4as, que comandou o Ex\u00e9rcito entre 2015 e 2019 e hoje \u00e9 assessor do Gabinete de Seguran\u00e7a Institucional da Presid\u00eancia da Rep\u00fablica, as obje\u00e7\u00f5es \u00e0 agricultura brasileira buscam legitimar a ado\u00e7\u00e3o de barreiras n\u00e3o tarif\u00e1rias contra produtos nacionais.<\/p>\n\n\n\n

“Quando a intelig\u00eancia brasileira, englobando a imprensa, universidade e partidos pol\u00edticos, entender\u00e1 que essas s\u00e3o as ferramentas empregadas pelo imperialismo moderno?”, questionou o general no Twitter, no \u00faltimo dia 11.<\/p>\n\n\n\n

As cr\u00edticas ao acordo comercial uniram agricultores e ambientalistas europeus. A alian\u00e7a refor\u00e7ou a tese \u2013 difundida por parte do governo brasileiro \u2013 de que ONGs estrangeiras que pregam a preserva\u00e7\u00e3o da Amaz\u00f4nia e a demarca\u00e7\u00e3o de terras ind\u00edgenas estariam, no fundo, defendendo interesses econ\u00f4micos de seus pa\u00edses de origem.<\/p>\n\n\n\n

\"Raoni,
Raoni, l\u00edder kayap\u00f3 que teve grande import\u00e2ncia na transforma\u00e7\u00e3o da causa ind\u00edgena brasileira em tema internacional<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Para o general de reserva Humberto Madeira, ambientalistas que defendem a preserva\u00e7\u00e3o da Amaz\u00f4nia podem at\u00e9 “estar legitimamente preocupados com a floresta”. “O sujeito que est\u00e1 l\u00e1 na ponta pode ser t\u00e3o idealista quanto n\u00f3s (militares), mas acaba sendo manipulado pelos dirigentes das ONGs, que decidem suas estrat\u00e9gias alinhadas com os interesses econ\u00f4micos de seus pa\u00edses e financiadores.”<\/p>\n\n\n\n

O general n\u00e3o quis citar nomes de ONGs que atuariam dessa forma nem apresentou provas.<\/p>\n\n\n\n

Para o Greenpeace, uma das principais ONGs ambientalistas estrangeiras em a\u00e7\u00e3o no Brasil, os argumentos s\u00e3o falsos.<\/p>\n\n\n\n

“Desde que Bolsonaro tomou posse, ele vem tomando atitudes que est\u00e3o promovendo um desmonte da pol\u00edtica ambiental do Brasil”, diz Luiza Lima, da campanha de Pol\u00edticas P\u00fablicas do Greenpeace.<\/p>\n\n\n\n

“Quando ele busca encontrar outros culpados para as cr\u00edticas que vem recebendo, ele est\u00e1 tentando esconder a verdade, que s\u00e3o seus interesses em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 destrui\u00e7\u00e3o da floresta.”<\/p>\n\n\n\n

Lima diz que as pol\u00edticas de Bolsonaro para a Amaz\u00f4nia t\u00eam sido criticadas n\u00e3o s\u00f3 por ambientalistas e governos estrangeiros, mas at\u00e9 mesmo por partes do agroneg\u00f3cio brasileiro, que temem as consequ\u00eancias do desmatamento para seus neg\u00f3cios e a imagem do pa\u00eds.<\/p>\n\n\n\n

‘Instrumentos de estrangeiros’<\/h2>\n\n\n\n

Em sua tese de doutorado, a cientista pol\u00edtica Adriana Aparecido Marques diz que as For\u00e7as Armadas acreditam que as ONGs estariam contribuindo com a desnacionaliza\u00e7\u00e3o da Amaz\u00f4nia, pois suas den\u00fancias poderiam ser utilizadas como pretexto para interven\u00e7\u00f5es militares na regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Para ela, os militares veem os ind\u00edgenas como “instrumentos de estrangeiros mal intencionados” e n\u00e3o reconhecem a participa\u00e7\u00e3o que eles tiveram na demarca\u00e7\u00e3o de suas terras.<\/p>\n\n\n\n

A hip\u00f3tese de interven\u00e7\u00f5es militares na regi\u00e3o foi, inclusive, tema do artigo “Quem vai invadir o Brasil para salvar a Amaz\u00f4nia?”, do professor de Rela\u00e7\u00f5es Internacionais da Universidade de Harvard Stephen M. Walt, no site da revista Foreign Policy, no in\u00edcio de agosto.<\/p>\n\n\n\n

“Os pa\u00edses t\u00eam o direito \u2013 ou at\u00e9 a obriga\u00e7\u00e3o \u2013 de intervir numa na\u00e7\u00e3o estrangeira para evitar que ela cause dano irrevers\u00edvel e potencialmente catastr\u00f3fico ao meio ambiente?”, questionou Walt no texto, que causou grande pol\u00eamica.<\/p>\n\n\n\n

Ele cita um cen\u00e1rio hipot\u00e9tico no qual, em 2025, os EUA amea\u00e7ariam atacar o Brasil por ampliar a explora\u00e7\u00e3o da Amaz\u00f4nia e p\u00f4r em risco “um recurso global” crucial. Walt diz ter levantado essa hip\u00f3tese baseado na postura de Bolsonaro quanto \u00e0 Amaz\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n

Ind\u00edgenas como ‘inocentes fr\u00e1geis’<\/h2>\n\n\n\n

Artionka Capiberibe, professora de Antropologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), diz \u00e0 BBC News Brasil que o discurso sobre a manipula\u00e7\u00e3o de ind\u00edgenas por ONGs erroneamente os apresenta como “inocentes fr\u00e1geis”, ignorando seu papel no processo hist\u00f3rico que abriu o caminho para a demarca\u00e7\u00e3o de grandes reservas.<\/p>\n\n\n\n

Capiberibe diz que, durante a Assembleia Constituinte, l\u00edderes como Ailton Krenak, M\u00e1rio Juruna, Paulinho Paiak\u00e3 e Raoni Metuktire tornaram a causa ind\u00edgena um assunto nacional, angariando apoios para que a Constitui\u00e7\u00e3o de 1988 reconhecesse uma s\u00e9rie de direitos que at\u00e9 ent\u00e3o eram negados aos grupos.<\/p>\n\n\n\n

Antes da aprova\u00e7\u00e3o da Carta, o Estado brasileiro tinha a perspectiva de que os ind\u00edgenas se misturariam com outros brasileiros e acabariam assimilados pela sociedade, logo, n\u00e3o seria necess\u00e1rio lhes demarcar grandes \u00e1reas.<\/p>\n\n\n\n

\"Militar
Militares no governo dizem haver “estranha coincid\u00eancia” entre terras ind\u00edgenas demarcadas e reservas minerais<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Mas a Constitui\u00e7\u00e3o imp\u00f4s um novo entendimento. Ao reconhecer o direito dos ind\u00edgenas \u00e0 reprodu\u00e7\u00e3o f\u00edsica e cultural, a Carta abriu o caminho para a demarca\u00e7\u00e3o de terras extensas na Amaz\u00f4nia, onde as comunidades pudessem manter tradi\u00e7\u00f5es como a ca\u00e7a, a pesca e a abertura de ro\u00e7as, al\u00e9m de mudar suas aldeias de lugar periodicamente.<\/p>\n\n\n\n

Adriana Marques, da UFRJ, escreve em sua tese que os militares n\u00e3o s\u00e3o totalmente contr\u00e1rios \u00e0 demarca\u00e7\u00e3o de terras ind\u00edgenas, mas questionam a chamada “demarca\u00e7\u00e3o em \u00e1rea cont\u00ednua”.<\/p>\n\n\n\n

“Os principais argumentos dos fardados para se contrapor a este tipo de demarca\u00e7\u00e3o s\u00e3o a extens\u00e3o das terras reivindicadas, sua localiza\u00e7\u00e3o, j\u00e1 que algumas das reservas demarcadas est\u00e3o pr\u00f3ximas \u00e0 faixa de fronteira, e a possibilidade dessas terras de tornarem o embri\u00e3o de um estado aut\u00f4nomo.”<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 ainda cr\u00edticas \u00e0 demarca\u00e7\u00e3o de terras ind\u00edgenas em \u00e1reas ricas em min\u00e9rios. Em 2017, o general Villas B\u00f4as afirmou no Senado que o Ex\u00e9rcito tem levantamentos sobre o que ele chamou de “estranha coincid\u00eancia” entre terras ind\u00edgenas e reservas minerais.<\/p>\n\n\n\n

Para ele, outros pa\u00edses seriam os principais interessados nessas demarca\u00e7\u00f5es. “Eles trabalham no sentido de neutralizar \u00e1reas, amortecer, j\u00e1 que n\u00e3o t\u00eam a capacidade de explorar imediatamente. E ficam esperando certamente momentos oportunos para buscar essas oportunidades”, disse o general.<\/p>\n\n\n\n

Mineradoras canadenses<\/h2>\n\n\n\n

Villas B\u00f4as afirmou que grande parte da press\u00e3o internacional pela preserva\u00e7\u00e3o da Amaz\u00f4nia vem do Canad\u00e1, pa\u00eds que \u00e9 sede de grandes mineradoras e que abriga uma Bolsa de Futuros para o setor.<\/p>\n\n\n\n

Mineradoras canadenses t\u00eam tentado expandir a atua\u00e7\u00e3o na Amaz\u00f4nia e, em alguns casos, v\u00eam enfrentando dificuldades justamente por causa da demarca\u00e7\u00e3o de terras ind\u00edgenas na regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 o caso da mineradora Belo Sun, que tenta instalar a maior mina de ouro a c\u00e9u aberto do Brasil na regi\u00e3o da Volta Grande do Xingu, no Par\u00e1. Em 2017, a Justi\u00e7a suspendeu o licenciamento da mina em meio \u00e0 press\u00e3o de ONGs ambientalistas, ind\u00edgenas e ribeirinhos contr\u00e1rios ao empreendimento.<\/p>\n\n\n\n

Se uma ala do governo v\u00ea com reserva os interesses do Canad\u00e1 em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 Amaz\u00f4nia, outra ala quer que as mineradoras canadenses e de outros pa\u00edses explorem min\u00e9rios no Brasil \u2013 inclusive dentro de terras ind\u00edgenas.<\/p>\n\n\n\n

\"Imagem
Regi\u00e3o do rio Negro, no Amazonas, \u00e9 uma das \u00e1reas do pa\u00eds onde reservas minerais coincidem com terras ind\u00edgenas, segundo o governo<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Em mar\u00e7o, o ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, viajou para o Canad\u00e1 para um congresso de mineradoras. No evento, ele disse a executivos canadenses, em um epis\u00f3dio que gerou forte rea\u00e7\u00e3o no Brasil, que o governo pretende legalizar a explora\u00e7\u00e3o mineral em terras ind\u00edgenas. A medida \u2013 rejeitada pelas principais associa\u00e7\u00f5es ind\u00edgenas brasileiras \u2013 depende da aprova\u00e7\u00e3o de um projeto de lei pelo Congresso.<\/p>\n\n\n\n

O presidente Jair Bolsonaro tamb\u00e9m quer parcerias com estrangeiros para explorar min\u00e9rios em \u00e1reas ind\u00edgenas. Ao se referir \u00e0 indica\u00e7\u00e3o de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), ao cargo de embaixador em Washington, ele citou as riquezas da Terra Ind\u00edgena Yanomami, em Roraima.<\/p>\n\n\n\n

“Se junta com a (Terra Ind\u00edgena) Raposa-Serra do Sol, \u00e9 um absurdo o que temos de minerais ali. Estou procurando o ‘Primeiro Mundo’ para explorar essas \u00e1reas em parceria e agregando valor”, disse.<\/p>\n\n\n\n

Para Artionka Capiberibe, da Unicamp, a postura do governo \u00e9 contradit\u00f3ria. “Por um lado, eles dizem que as demarca\u00e7\u00f5es de terras ind\u00edgenas atendem aos interesses de estrangeiros. Por outro, prop\u00f5em abrir essas terras para a explora\u00e7\u00e3o por estrangeiros”, ela diz \u00e0 BBC News Brasil.<\/p>\n\n\n\n

‘Estranha coincid\u00eancia’<\/h2>\n\n\n\n

Um depoimento da professora de Antropologia da USP Manuela Carneiro da Cunha ao livro “Os \u00edndios e a Constitui\u00e7\u00e3o”, lan\u00e7ado em agosto, sugere que, ao contr\u00e1rio do que afirma o general Villas B\u00f4as, a presen\u00e7a de reservas minerais em terras ind\u00edgenas demarcadas n\u00e3o \u00e9 uma “estranha coincid\u00eancia”.<\/p>\n\n\n\n

Em 1987, Carneiro acompanhou na Constituinte a negocia\u00e7\u00e3o do cap\u00edtulo sobre direitos ind\u00edgenas. Ela afirma que mineradoras faziam um forte lobby para impedir que terras pudessem ser demarcadas em cima de reservas minerais.<\/p>\n\n\n\n

Mas a antrop\u00f3loga diz que a Coordena\u00e7\u00e3o Nacional de Ge\u00f3logos se opunha \u00e0 entrada das empresas nessas \u00e1reas, temendo que as riquezas fossem rapidamente esgotadas sem que a popula\u00e7\u00e3o se beneficiasse.<\/p>\n\n\n\n

Segundo Carneiro, os ge\u00f3logos, imbu\u00eddos de um sentimento nacionalista, se aliaram aos ind\u00edgenas para que as terras demarcadas pudessem coincidir com as reservas minerais. Assim, ambas seriam preservadas.<\/p>\n\n\n\n

Ela diz que a alian\u00e7a facilitou a aprova\u00e7\u00e3o do cap\u00edtulo constitucional sobre os direitos ind\u00edgenas. Ap\u00f3s 1988, foram feitas grandes demarca\u00e7\u00f5es \u2013 v\u00e1rias em territ\u00f3rios ricos em min\u00e9rios.<\/p>\n\n\n\n

Hoje terras ind\u00edgenas ocupam 13% do territ\u00f3rio nacional, muito menos do que antes da chegada dos portugueses, mas mais do que muitos imaginavam ser poss\u00edvel num passado n\u00e3o t\u00e3o distante.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Criticado pelos inc\u00eandios na Amaz\u00f4nia, o governo Jair Bolsonaro diz ser v\u00edtima de uma campanha no exterior, na qual o discurso ambientalista serviria de pretexto para interesses econ\u00f4micos de outros pa\u00edses na regi\u00e3o e buscaria enfraquecer o agroneg\u00f3cio brasileiro diante de competidores. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":153645,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[305,32,487],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/153644"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=153644"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/153644\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":153646,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/153644\/revisions\/153646"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/153645"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=153644"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=153644"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=153644"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}