{"id":153647,"date":"2019-08-28T09:00:23","date_gmt":"2019-08-28T12:00:23","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=153647"},"modified":"2019-08-27T21:33:10","modified_gmt":"2019-08-28T00:33:10","slug":"o-que-se-sabe-sobre-o-dia-do-fogo-momento-chave-das-queimadas-na-amazonia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/08\/28\/153647-o-que-se-sabe-sobre-o-dia-do-fogo-momento-chave-das-queimadas-na-amazonia.html","title":{"rendered":"O que se sabe sobre o ‘Dia do Fogo’, momento-chave das queimadas na Amaz\u00f4nia"},"content":{"rendered":"\n
\"Fogo

O chamado ‘Dia do Fogo’ ocorreu em 10 de agosto deste ano
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O dia 10 de agosto poder\u00e1 ser classificado como um momento-chave na hist\u00f3ria recente da\u00a0Amaz\u00f4nia. Hoje, ele j\u00e1 \u00e9 conhecido como o “Dia do Fogo”, quando produtores rurais da regi\u00e3o Norte do pa\u00eds teriam iniciado um movimento conjunto para incendiar \u00e1reas da maior floresta tropical do mundo.<\/p>\n\n\n\n

Essa suspeita est\u00e1 sendo investigada pela Pol\u00edcia Federal (PF) e pelo Minist\u00e9rio P\u00fablico Federal (MPF). Nesta segunda-feira (26), a procuradora-geral da Rep\u00fablica, Raquel Dodge, afirmou haver ind\u00edcios de uma “a\u00e7\u00e3o orquestrada” para incendiar pontos da floresta.<\/p>\n\n\n\n

De todo modo, os dados apontam que a partir de 10 de agosto houve um aumento substancial no n\u00famero de focos de inc\u00eandio em diversas cidades da regi\u00e3o Norte.<\/p>\n\n\n\n

Mas o que se sabe sobre o “Dia do Fogo”?<\/p>\n\n\n\n

A primeira not\u00edcia sobre ele foi publicada no dia 5 de agosto pelo jornal Folha do Progresso, da cidade paraense de Novo Progresso, a 1.194 quil\u00f4metros da capital do Estado, Bel\u00e9m.<\/p>\n\n\n\n

A reportagem relatava uma conversa com uma lideran\u00e7a dos produtores rurais da cidade, sem identific\u00e1-lo. Ele prometia promover inc\u00eandios florestais no dia 10.<\/p>\n\n\n\n

“(Os produtores) querem o dia 10 de agosto para chamar aten\u00e7\u00e3o das autoridades. (…) Na regi\u00e3o, o avan\u00e7o da produ\u00e7\u00e3o acontece sem apoio do governo. ‘Precisamos mostrar para o presidente (Jair Bolsonaro) que queremos trabalhar e o \u00fanico jeito \u00e9 derrubando. Para formar e limpar nossas pastagens \u00e9 com fogo'”, dizia o texto.<\/p>\n\n\n\n

\"Queimada\"\/
No Par\u00e1, houve um aumento substancial dos focos de floresta depois do dia 10 de agosto<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

As queimadas aumentaram de fato no ‘Dia do Fogo’?<\/h2>\n\n\n\n

No Par\u00e1, sim.<\/p>\n\n\n\n

Dados de sat\u00e9lite colhidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e compilados pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Par\u00e1 mostram que, a partir de 10 de agosto, houve um aumento significativo nas queimadas em \u00e1reas de floresta.<\/p>\n\n\n\n

Esse crescimento ocorreu principalmente em reservas florestais das cidades de Novo Progresso, Altamira e S\u00e3o F\u00e9lix do Xingu – todas cortadas pela rodovia BR-163.<\/p>\n\n\n\n

\"Queimada
Tr\u00eas cidades do Par\u00e1 registraram aumento de queimada: Novo Progresso, Altamira e S\u00e3o F\u00e9lix do Xingu<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

No dia 10, Novo Progresso tinha 124 registros de focos de inc\u00eandio ativos, um aumento em 300% em rela\u00e7\u00e3o ao dia anterior.<\/p>\n\n\n\n

Altamira registrou 154 focos de queimadas entre os dias 6 e 8 de agosto. Nos tr\u00eas dias seguintes, de 9 a 11 de agosto, havia 431 pontos de fogo na cidade. Ou seja, alta de 179% em tr\u00eas dias.<\/p>\n\n\n\n

S\u00e3o F\u00e9lix do Xingu apresentou um aumento mais significativo: entre os dias 6 e 8 de agosto, o munic\u00edpio registrou 67 focos. Nos tr\u00eas dias seguintes, foram 288 – aumento de 329% em tr\u00eas dias.<\/p>\n\n\n\n

Nesta ter\u00e7a-feira (27), em reuni\u00e3o com o presidente Jair Bolsonaro, o governador do Par\u00e1, Helder Barbalho (MDB), afirmou que apenas na \u00c1rea de Prote\u00e7\u00e3o Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, em S\u00e3o F\u00e9lix, cerca de 3.000 hectares foram perdidos para o fogo nos \u00faltimos dias.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 queimada de floresta para fazer pasto”, disse Barbalho. “O sujeito vai l\u00e1, desmata, queima, faz um pasto e aluga a \u00e1rea para um produtor rural.”<\/p>\n\n\n\n

Como as autoridades reagiram \u00e0s amea\u00e7as?<\/h2>\n\n\n\n

A publica\u00e7\u00e3o da primeira not\u00edcia sobre o “Dia do Fogo” chamou a aten\u00e7\u00e3o do Minist\u00e9rio P\u00fablico Federal. E em 8\/8, dois dias antes da a\u00e7\u00e3o prometida, a Procuradoria em Itaituba (PA) enviou um alerta “urgente” ao Ibama, pedindo refor\u00e7o na fiscaliza\u00e7\u00e3o de \u00e1reas de preserva\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

O Ibama n\u00e3o aumentou a fiscaliza\u00e7\u00e3o, segundo um documento do pr\u00f3prio instituto, e s\u00f3 respondeu ao MPF em 12 de agosto, dois dias depois do “Dia do Fogo”.<\/p>\n\n\n\n

“Devido a diversos ataques sofridos e \u00e0 aus\u00eancia do apoio da Pol\u00edcia Militar do Par\u00e1, as a\u00e7\u00f5es de fiscaliza\u00e7\u00e3o no Estado est\u00e3o prejudicadas por envolverem riscos relacionados \u00e0 seguran\u00e7a das equipes de campo”, escreveu Roberto Victor Lacava e Silva, gerente-executivo-substituto do Ibama, em documento enviado ao MPF.<\/p>\n\n\n\n

Lacava afirmou no texto ter pedido refor\u00e7o de seguran\u00e7a \u00e0 For\u00e7a Nacional, mas esse bra\u00e7o do Minist\u00e9rio da Justi\u00e7a tamb\u00e9m n\u00e3o participou de a\u00e7\u00f5es de preven\u00e7\u00e3o aos inc\u00eandios.<\/p>\n\n\n\n

O Ibama tamb\u00e9m informou ter enviado uma viatura para ajudar na fiscaliza\u00e7\u00e3o, mas para outra cidade, Itaituba, a cerca de 400 quil\u00f4metros de Novo Progresso.<\/p>\n\n\n\n

A reportagem apurou que agentes do Ibama relataram amea\u00e7as de morte na regi\u00e3o de Novo Progresso nos \u00faltimos meses, aumentando a tens\u00e3o entre grileiros e funcion\u00e1rios p\u00fablicos. Procurado pela BBC News Brasil, o instituto n\u00e3o respondeu aos questionamentos da reportagem.<\/p>\n\n\n\n

Algum suspeito j\u00e1 foi identificado?<\/h2>\n\n\n\n

Os investigadores do MPF e da PF ainda n\u00e3o identificaram respons\u00e1veis por incendiar a mata, que podem ter se articulado em grupos de Whatsapp, principalmente no Par\u00e1.<\/p>\n\n\n\n

Para o procurador Paulo de Tarso Moreira Oliveira, um dos membros da investiga\u00e7\u00e3o do chamado “Dia do Fogo”, ser\u00e1 uma tarefa \u00e1rdua individualizar a conduta de cada uma dos incendi\u00e1rios, tendo em vista a extens\u00e3o dos territ\u00f3rios sob investiga\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

\"Bombeiros
Houve um aumento de 84% nos focos de inc\u00eandios florestais em compara\u00e7\u00e3o com o ano passado<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Segundo ele, os dados apontam que houve uma a\u00e7\u00e3o coletiva e premeditada para colocar fogo na floresta. “\u00c9 poss\u00edvel que centenas de pessoas tenham participado desse crime”, disse \u00e0 BBC News Brasil, falando por telefone de Itaituba.<\/p>\n\n\n\n

Depois do an\u00fancio do “Dia do Fogo” no jornal de Novo Progresso, a delegacia da cidade, que tem apenas um delegado e tr\u00eas agentes, ouviu tr\u00eas pessoas – uma delas foi o jornalista que escreveu a not\u00edcia – para tentar apurar se houve uma a\u00e7\u00e3o coletiva e organizada.<\/p>\n\n\n\n

Outro dos ouvidos pela pol\u00edcia foi Agamenon Meneses, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Novo Progresso.<\/p>\n\n\n\n

\u00c0 BBC News Brasil Meneses negou que tenha existido um “Dia do Fogo” e que agricultores tenham sido respons\u00e1veis por ele. “\u00c9 uma mentira. Um infeliz de um jornaleco, que n\u00e3o gosta da cidade e faz oposi\u00e7\u00e3o ao governo, colocou essa not\u00edcia no ar, sem provas”, disse.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00e3o h\u00e1 um sequer coment\u00e1rio sobre isso, n\u00e3o conhe\u00e7o esse tipo de coisa. O que houve aqui foram queimadas como ocorrem todos os anos. A seca foi maior esse ano e ocorreram esses inc\u00eandios, natural. Mas isso \u00e9 uma mentira que est\u00e1 causando um barulho medonho”, afirmou, por telefone.<\/p>\n\n\n\n

Segundo o procurador Paulo de Tarso Moreira Oliveira, a investiga\u00e7\u00e3o em curso pode envolver tamb\u00e9m pessoas ligadas a desmatamento e fraudes fundi\u00e1rias.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00f3s sabemos que existe uma press\u00e3o em torno das \u00e1reas que foram objeto do fogo. H\u00e1 pessoas da regi\u00e3o que h\u00e1 muito tempo exercem press\u00e3o nessas \u00e1reas (que foram queimadas). Essas pessoas s\u00e3o naturalmente alvos priorit\u00e1rios para nossa investiga\u00e7\u00e3o”, disse.<\/p>\n\n\n\n

\u00c1reas em disputa<\/h2>\n\n\n\n
\"Queimada
O Minist\u00e9rio P\u00fablico Federal est\u00e1 investigando a atua\u00e7\u00e3o de produtores rurais no chamado ‘Dia do Fogo’<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Em Novo Progresso, o local que mais sofreu com queimadas neste m\u00eas \u00e9 um alvo tradicional de grileiros, a Floresta Nacional de Jamanxim, reserva nacional de 1,3 milh\u00e3o de hectares, criada em 2006. Entre 9 e 11 de agosto, foram registrados 136 focos de inc\u00eandio no local.<\/p>\n\n\n\n

Segundo estudos da ONG Iamazon, a floresta de Jamanxim era a segunda mais desmatada da Amaz\u00f4nia em 2016.<\/p>\n\n\n\n

Nos \u00faltimos anos, o MPF e a Pol\u00edcia Federal realizaram uma s\u00e9rie de opera\u00e7\u00f5es para investigar desmatamentos e queimadas na regi\u00e3o. Produtores e empres\u00e1rios locais j\u00e1 foram condenados a pagar multas milion\u00e1rias por promover a destrui\u00e7\u00e3o de milhares de hectares em Jamanxim e outros pontos da regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Perto dessa floresta, tamb\u00e9m em Novo Progresso, existe o Projeto de Desenvolvimento Sustent\u00e1vel (PDS) Terra Nossa, que tamb\u00e9m sofreu com inc\u00eandios neste m\u00eas. A \u00e1rea \u00e9 gerida pelo \u00f3rg\u00e3o federal Instituto Nacional de Coloniza\u00e7\u00e3o e Reforma Agr\u00e1ria (Incra) e ocupada por pequenos agricultores. Recentemente, o PDS tamb\u00e9m vem sofrendo com desmatamento, invas\u00e3o de grileiros e queimadas – o intuito \u00e9 diminuir sua \u00e1rea para implanta\u00e7\u00e3o de pastos.<\/p>\n\n\n\n

Mesmo com esse hist\u00f3rico, Novo Progresso sequer tem um Corpo de Bombeiros – a brigada mais pr\u00f3xima fica em Itaituba, a mais ou menos seis horas de viagem de carro dali.<\/p>\n\n\n\n

Impunidade como incentivo<\/h2>\n\n\n\n

Para o procurador Lu\u00eds de Cam\u00f5es, a impunidade para crimes de grilagem e desmatamento serve de incentivo para que novos epis\u00f3dios como o “Dia do Fogo” continuem a ocorrer. A lei 9.985 prev\u00ea multa e pris\u00e3o de dois a cinco anos para quem promover inc\u00eandio em mata ou floresta.<\/p>\n\n\n\n

“Hoje, se voc\u00ea furtar um celular, talvez fique mais tempo preso do que se botar fogo em floresta”, disse, por telefone.<\/p>\n\n\n\n

“H\u00e1 processos de desmatamento e queimadas de 2003 e 2004 e que est\u00e3o sendo julgados s\u00f3 agora”, explica Cam\u00f5es. “O tardar da resposta do Estado tamb\u00e9m \u00e9 um incentivo para essas a\u00e7\u00f5es.”<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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