{"id":153653,"date":"2019-08-28T17:43:17","date_gmt":"2019-08-28T20:43:17","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=153653"},"modified":"2019-08-27T21:52:33","modified_gmt":"2019-08-28T00:52:33","slug":"o-que-os-incendios-na-amazonia-significam-para-os-animais-silvestres","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/08\/28\/153653-o-que-os-incendios-na-amazonia-significam-para-os-animais-silvestres.html","title":{"rendered":"O que os inc\u00eandios na Amaz\u00f4nia significam para os animais silvestres"},"content":{"rendered":"\n
\"\"\/

A tiriba-de-barriga-vermelha \u00e9 uma entre as 1,5 mil esp\u00e9cies de aves encontradas na Floresta Amaz\u00f4nica. Com os inc\u00eandios se alastrando em uma escala sem precedentes, as implica\u00e7\u00f5es para a vida selvagem podem ser graves.
FOTO DE\u00a0CLAUS MEYER, MINDEN PICTURES\/NAT GEO IMAGE COLLECTION<\/strong> <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A Floresta Amaz\u00f4nica, lar de uma em cada 10 esp\u00e9cies do planeta,\u00a0est\u00e1 em chamas. Desde a semana passada, nove mil focos de inc\u00eandio ardem simultaneamente na vasta floresta tropical no Brasil, espalhando-se para a Bol\u00edvia, Paraguai e Peru. O fogo, ateado em boa parte intencionalmente para limpar a terra para a cria\u00e7\u00e3o de gado, agricultura e extra\u00e7\u00e3o de madeira, foi exacerbado pelo per\u00edodo de estiagem. Os inc\u00eandios representam n\u00fameros alarmantes, com um aumento de 80% em rela\u00e7\u00e3o ao mesmo per\u00edodo no ano passado,\u00a0de acordo com o\u00a0Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Inpe). Os inc\u00eandios podem at\u00e9 ser vistos do espa\u00e7o.<\/p>\n\n\n\n

Para as milhares de esp\u00e9cies de mam\u00edferos, r\u00e9pteis, anf\u00edbios e aves que vivem na Amaz\u00f4nia, o impacto dos inc\u00eandios vem em duas fases, uma imediata e a outra em longo prazo.<\/p>\n\n\n\n

\u201cNa Amaz\u00f4nia, nada est\u00e1 adaptado ao fogo\u201d, diz\u00a0William Magnusson, pesquisador especialista em monitoramento da biodiversidade no Instituto Nacional de Pesquisas da Amaz\u00f4nia (Inpa) em Manaus, Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Em alguns biomas, como no Cerrado, inc\u00eandios florestais s\u00e3o essenciais para a manuten\u00e7\u00e3o de ecossistemas saud\u00e1veis. Os animais est\u00e3o adaptados para lidar com isso, e muitos at\u00e9 dependem deles para prosperar. O\u00a0pica-pau-de-dorso-preto, por exemplo, nativo do oeste americano, faz seus ninhos apenas em \u00e1rvores queimadas, alimentando-se dos besouros que infestam a madeira incendiada.<\/p>\n\n\n\n

Mas a Amaz\u00f4nia \u00e9 diferente.<\/p>\n\n\n\n

A floresta tropical \u00e9 t\u00e3o excepcionalmente rica e diversa exatamente porque n\u00e3o pega fogo, diz Magnusson. Embora inc\u00eandios possam ocorrer naturalmente, eles s\u00e3o tipicamente de pequena escala e queimam pr\u00f3ximos ao solo. E s\u00e3o rapidamente extinguidos pelas chuvas.<\/p>\n\n\n\n

\u201cBasicamente, a Amaz\u00f4nia n\u00e3o queimava h\u00e1 centenas de milhares ou milh\u00f5es de anos\u201d, diz Magnusson. N\u00e3o \u00e9 como na Austr\u00e1lia, por exemplo, onde o eucalipto morreria sem os inc\u00eandios regulares, ele disse. A floresta tropical n\u00e3o foi feita para o fogo.<\/p>\n\n\n\n

Como os inc\u00eandios est\u00e3o afetando os animais neste momento?<\/strong><\/h3>\n\n\n\n

\u00c9 prov\u00e1vel que eles estejam \u201cprejudicando imensamente a vida selvagem no curto prazo\u201d, disse\u00a0Mazeika Sullivan, professor adjunto do Departamento de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Universidade Estadual de Ohio, que j\u00e1 conduziu pesquisas em campo na Amaz\u00f4nia colombiana.<\/p>\n\n\n\n

\"\"\/

Um sagui-de-Santar\u00e9m em uma floresta brasileira saud\u00e1vel. Algumas esp\u00e9cies rec\u00e9m-descobertas de macacos vivem em \u00e1reas muito pequenas atualmente amea\u00e7adas pelo fogo, causando preocupa\u00e7\u00e3o quanto a suas popula\u00e7\u00f5es.
FOTO DE\u00a0CLAUS MEYER, MINDEN PICTURES\/NAT GEO IMAGE COLLECTION<\/strong> <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Normalmente, em meio a um inc\u00eandio florestal, diz Sullivan, os animais t\u00eam pouqu\u00edssimas op\u00e7\u00f5es. Eles podem tentar se esconder se enterrando ou entrando na \u00e1gua, ele diz. Eles podem se deslocar. Ou podem perecer. Nesta situa\u00e7\u00e3o, muitos animais morrer\u00e3o, seja pelas chamas, pelo calor do fogo ou por inala\u00e7\u00e3o de fuma\u00e7a, diz Sullivan.<\/p>\n\n\n\n

\u201cHaver\u00e1 vencedores imediatos e perdedores imediatos\u201d, ele disse. \u201cEm um sistema que n\u00e3o est\u00e1 adaptado ao fogo, haver\u00e1 muito mais perdedores do que haveria em outros ambientes\u201d.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 poss\u00edvel que alguns animais se saiam melhor que os outros?<\/strong><\/h3>\n\n\n\n

Algumas caracter\u00edsticas podem ser ben\u00e9ficas em um inc\u00eandio. Ser naturalmente errante \u00e9 uma vantagem. Animais grandes que se movem r\u00e1pido, como as\u00a0on\u00e7as-pintadas\u00a0e\u00a0on\u00e7as-pardas, disse Sullivan, devem conseguir escapar, junto com algumas aves. Mas animais mais lentos, como pregui\u00e7as e tamandu\u00e1s, assim como criaturas menores, como sapos e lagartos, podem morrer por n\u00e3o conseguirem sair do caminho do fogo r\u00e1pido o suficiente. \u201cEscapar para a copa das \u00e1rvores, mas escolher a \u00e1rvore errada\u201d, diz Sullivan, pode significar a morte para um animal.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 poss\u00edvel que alguma esp\u00e9cie j\u00e1 amea\u00e7ada se torne ainda mais amea\u00e7ada ou at\u00e9 extinta?<\/strong><\/h3>\n\n\n\n

\u00c9 dif\u00edcil dizer. Um inc\u00eandio florestal na Amaz\u00f4nia \u00e9 totalmente diferente de um inc\u00eandio nos Estados Unidos, Europa ou Austr\u00e1lia, onde n\u00f3s sabemos bastante sobre a distribui\u00e7\u00e3o das esp\u00e9cies, diz Magnusson. N\u00e3o sabemos o suficiente sobre o alcance de muitos dos animais que vivem nas florestas tropicais para dizer quais esp\u00e9cies est\u00e3o em risco.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, h\u00e1 algumas esp\u00e9cies preocupantes.<\/p>\n\n\n\n

O macaco sau\u00e1 da esp\u00e9cie\u00a0Callicebus miltoni<\/em>,\u00a0descoberto em 2011, s\u00f3 foi documentado em uma parte do Brasil, no sul da Amaz\u00f4nia, que est\u00e1 sendo atualmente assolada pelo fogo. Outro primata descoberto recentemente,\u00a0o sauim-dos-\u00edndios-mura, vive em uma pequena regi\u00e3o no Centro-Oeste brasileiro tamb\u00e9m amea\u00e7ada pelos inc\u00eandios, diz\u00a0Carlos C\u00e9sar Durigan, diretor da Wildlife Conservation Society no Brasil. \u00c9 poss\u00edvel que essas esp\u00e9cies sejam nativas dessas regi\u00f5es, diz Durigan. \u201cEu [temo] que possamos perder muitas dessas esp\u00e9cies end\u00eamicas\u201d.<\/p>\n\n\n\n

\"\"\/

A fuma\u00e7a dos inc\u00eandios na Amaz\u00f4nia foi registrada nesta imagem de sat\u00e9lite tirada pela Nasa.
FOTO DE\u00a0NASA EARTH OBSERVATORY, LAUREN DAUPHIN, USANDO INFORMA\u00c7\u00d5ES DA MODIS, NASA EOSDIS\/LANCE E GIBS\/WORLDVIEW E VIIRS – E SUOMI NATIONAL POLAR-ORBITING PARTNERSHIP<\/strong> <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

E os animais aqu\u00e1ticos?<\/strong><\/h3>\n\n\n\n

Os grandes corpos d\u2019\u00e1gua est\u00e3o seguros no curto prazo. Mas animais de pequenos rios e riachos, os quais s\u00e3o altamente diversos biologicamente, podem estar em apuros. Em c\u00f3rregos menores, \u201co fogo arde logo ao lado\u201d, diz Sullivan. Anf\u00edbios aqu\u00e1ticos que necessitam ficar parcialmente fora da \u00e1gua para respirar estariam em perigo. O fogo tamb\u00e9m pode alterar a qu\u00edmica da \u00e1gua ao ponto de n\u00e3o ser mais vi\u00e1vel para a vida no curto prazo, disse Sullivan.<\/p>\n\n\n\n

E como a situa\u00e7\u00e3o p\u00f3s inc\u00eandio pode afetar as esp\u00e9cies?<\/strong><\/h3>\n\n\n\n

Este \u00e9 o segundo grande golpe. \u201cEfeitos de longo prazo podem ser catastr\u00f3ficos\u201d, disse Sullivan. Todo o ecossistema das \u00e1reas incendiadas da floresta tropical ser\u00e1 alterado. Por exemplo, o denso dossel da Floresta Amaz\u00f4nica bloqueia boa parte da luz solar de chegar ao solo. O fogo rompe a copa das \u00e1rvores de uma s\u00f3 vez, permitindo a entrada de luz e mudando fundamentalmente o fluxo de energia de todo o ecossistema. Isso pode causar efeitos em cascata em toda a cadeia alimentar, disse Sullivan.<\/p>\n\n\n\n

Sobreviver em um ecossistema profundamente transformado seria um problema para muitas esp\u00e9cies. Muitos anf\u00edbios, por exemplo, t\u00eam peles texturizadas e padronizadas que se parecem com o tronco ou folhas de uma \u00e1rvore, permitindo que eles se camuflem. \u201cAgora, de repente, os sapos ser\u00e3o for\u00e7ados a um novo cen\u00e1rio\u201d, diz Sullivan. \u201cEles ficar\u00e3o expostos\u201d.<\/p>\n\n\n\n

E muitos animais na Amaz\u00f4nia s\u00e3o especialistas, esp\u00e9cies que evolu\u00edram e se adaptaram para prosperar em habitats espec\u00edficos.\u00a0Os tucanos, por exemplo, se alimentam de frutas que outros animais n\u00e3o conseguem acessar, com seus longos bicos que os ajudam a alcan\u00e7ar gretas e fendas quase inalcan\u00e7\u00e1veis. Se os inc\u00eandios dizimarem as frutas das quais as aves dependem, \u00e9 poss\u00edvel que a popula\u00e7\u00e3o local de tucanos reduza drasticamente.\u00a0O macaco-aranha\u00a0vive no alto das \u00e1rvores para evitar competi\u00e7\u00e3o. \u201cO que acontece quando perdemos as copas?\u201d, pergunta Sullivan. \u201cEles s\u00e3o for\u00e7ados a se deslocar para outras \u00e1reas com maior competi\u00e7\u00e3o\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Os \u00fanicos \u201cvencedores\u201d em uma floresta incendiada seriam, provavelmente, as aves de rapina e outros predadores, diz Sullivan, j\u00e1 que a floresta aberta tornaria a ca\u00e7a mais f\u00e1cil.<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 outras consequ\u00eancias para os animais silvestres?<\/strong><\/h3>\n\n\n\n

Magnusson est\u00e1 mais preocupado com os impactos da perda da floresta.<\/p>\n\n\n\n

\u201cQuando removemos a floresta, [perdemos] 99% de todas as esp\u00e9cies\u201d, ele disse. Se esses inc\u00eandios fossem pontuais, ele n\u00e3o estaria necessariamente preocupado, mas salienta que houve uma mudan\u00e7a fundamental na pol\u00edtica brasileira \u201cque encoraja o desmatamento\u201d. Ele est\u00e1 se referindo ao\u00a0comprometimento do Presidente Jair Bolsonaro de abrir a Amaz\u00f4nia para os neg\u00f3cios. \u201cO sinal pol\u00edtico que foi enviado \u00e9 basicamente que n\u00e3o h\u00e1 mais leis, ent\u00e3o todos podem fazer o que quiserem.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Conservacionistas e cidad\u00e3os preocupados se manifestaram nas redes sociais e\u00a0#PrayForAmazonas\u00a0foi a hashtag em primeiro lugar no Twitter na quarta-feira. Muitos criticaram as pol\u00edticas do governo do Bolsonaro. Outros se mostraram preocupados que a demanda mundial por carne bovina incentive o desmatamento acelerado pela pecu\u00e1ria. Ambientalistas tamb\u00e9m est\u00e3o chamando a aten\u00e7\u00e3o para as consequ\u00eancias que uma Amaz\u00f4nia em chamas, muitas vezes chamada de os pulm\u00f5es do planeta, teria para as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas. Na quinta-feira, a hashtag #PrayForAmazonas cedeu seu lugar para sua sucessora:\u00a0#ActForAmazonas.<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 uma regi\u00e3o na margem sul da Floresta Amaz\u00f4nica, nos estados do Par\u00e1, Mato Grosso e Rond\u00f4nia, chamada de \u201carco do desmatamento\u201d, diz Magnusson. L\u00e1, os inc\u00eandios florestais est\u00e3o empurrando os limites da floresta tropical para o norte, possivelmente transformando suas fronteiras para sempre.<\/p>\n\n\n\n

\u201cSabemos muito pouco sobre ela\u201d, ele disse sobre a regi\u00e3o. \u201cPodemos perder esp\u00e9cies sem nem saber que elas existiam\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic – Natasha Daly <\/p>\n\n\n\n


<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"