{"id":153738,"date":"2019-09-04T04:52:04","date_gmt":"2019-09-04T07:52:04","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=153738"},"modified":"2019-09-03T22:02:37","modified_gmt":"2019-09-04T01:02:37","slug":"o-que-sao-as-rochas-de-charles-darwin-que-opoem-ambientalistas-e-projeto-de-porto-no-rj","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/09\/04\/153738-o-que-sao-as-rochas-de-charles-darwin-que-opoem-ambientalistas-e-projeto-de-porto-no-rj.html","title":{"rendered":"O que s\u00e3o as rochas de Charles Darwin, que op\u00f5em ambientalistas e projeto de porto no RJ"},"content":{"rendered":"\n
\"Forte

Darwin esteve no Brasil em 1832 e 1836 e descreveu rochas de praia
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A hist\u00f3ria \u00e9 c\u00e9lebre: entre 1831 e 1836, o ent\u00e3o jovem naturalista Charles Darwin \u2013 dos 22 aos 27 anos \u2013 deu a volta ao mundo a bordo do navio brit\u00e2nico HMS Beagle, realizando coletas e pesquisas de rochas e seres vivos, o que o levou mais tarde a elaborar a teoria da evolu\u00e7\u00e3o das esp\u00e9cies, que, apesar do nome n\u00e3o \u00e9 teoria, mas fato.<\/p>\n\n\n\n

O que nem todo mundo sabe \u00e9 que a viagem passou pelo Brasil entre fevereiro e julho de 1832 e em agosto de 1836. O que ainda menos gente conhece \u00e9 a descri\u00e7\u00e3o geol\u00f3gica que ele fez das chamadas\u00a0beachrocks<\/em>, rochas de praia, no litoral de Maric\u00e1, 57 quil\u00f4metros ao norte da cidade do Rio de Janeiro, que, segundo um grupo contr\u00e1rio ao projeto, estariam amea\u00e7adas pelo projeto de constru\u00e7\u00e3o de um porto na regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Segundo K\u00e1tia Leite Mansur, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que pesquisa essas rochas desde 2008 e integra, junto com outros pesquisadores, ambientalistas e moradores da regi\u00e3o, o movimento contra o empreendimento, as primeiras not\u00edcias sobre a constru\u00e7\u00e3o na praia de Jacon\u00e9, com investimentos de R$ 5,5 bilh\u00f5es, surgiram em 2010. <\/p>\n\n\n\n

Ele ocuparia a \u00e1rea marinha adjacente \u00e0 Ponta Negra at\u00e9 a base da Serra de Jacon\u00e9. Primeiro, seria apenas um estaleiro, mas em 2011 foi anunciada constru\u00e7\u00e3o do Terminal Ponta Negra (TPN) para escoar a produ\u00e7\u00e3o do Complexo Petroqu\u00edmico do Rio de Janeiro (Comperj), da Petrobr\u00e1s, j\u00e1 em constru\u00e7\u00e3o em Itabora\u00ed, a 60 quil\u00f4metros de Maric\u00e1.<\/p>\n\n\n\n

A DTA Engenharia, empresa respons\u00e1vel pelo projeto, diz que ele j\u00e1 foi alterado para reduzir o impacto \u00e0s\u00a0beachrocks,\u00a0<\/em>ap\u00f3s uma a\u00e7\u00e3o judicial promovida pelo MPRJ, com liminar deferida desde 2015.<\/p>\n\n\n\n

“O processo ainda n\u00e3o foi julgado e, independentemente da discuss\u00e3o na a\u00e7\u00e3o quanto \u00e0 real passagem do naturalista pela parte da praia de Jacon\u00e9 onde est\u00e1 situado o TPN e a inexist\u00eancia de estudos de sua autoria sobre eles, o projeto foi alterado, com a exclus\u00e3o de dois ter\u00e7os das atividades inicialmente licenciadas”, explica Juliana Digiorgi, gerente administrativa da empresa.<\/p>\n\n\n\n

“O porto est\u00e1 distante 420 metros do primeiro afloramento, tendo sido feitos estudos, aprovados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Hidrogr\u00e1ficas (INPH) e pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que comprovam que eles n\u00e3o ser\u00e3o impactados pelo TPN.”<\/p>\n\n\n\n

As b<\/em>eachrocks<\/em>, termo cl\u00e1ssico que em portugu\u00eas pode ser traduzido para “rochas de praia” ou, mais recentemente, “praianito”, s\u00e3o formadas por sedimentos depositados em uma praia antiga e que se transformaram em uma pedra pela precipita\u00e7\u00e3o de carbonato de c\u00e1lcio entre os gr\u00e3os. Elas ficam submersas e eventualmente afloram durante ressacas do mar e mar\u00e9 baixa.<\/p>\n\n\n\n

“Assim, elas s\u00e3o o registro de uma antiga linha de praia”, explica o ge\u00f3logo Renato Rodriguez Cabral Ramos, colega de universidade de K\u00e1tia e tamb\u00e9m integrante do movimento contra a instala\u00e7\u00e3o do porto.<\/p>\n\n\n\n

\"Praia
O naturalista descreveu as beachrocks na praia de Jacon\u00e9<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Em sua viagem pela ent\u00e3o prov\u00edncia do Rio de Janeiro, Darwin encontrou as beachrocks na praia de Jacon\u00e9, entre Maric\u00e1 e Saquarema, em 9 de abril de 1832, e as descreveu em sua caderneta de campo. Depois disso, elas ficaram esquecidas por mais de 150 anos.<\/p>\n\n\n\n

“Somente na d\u00e9cada de 1990, fragmentos desse tipo de rocha foram identificados pela arque\u00f3loga Lina Kneip, em sambaqui descoberto em Saquarema”, diz a ge\u00f3loga K\u00e1tia.<\/p>\n\n\n\n

Patrim\u00f4nio de Influ\u00eancia Internacional<\/h2>\n\n\n\n

Na \u00e9poca, o jovem naturalista tinha tanto interesse por biologia quanto por geologia, neste caso influenciado pelo seu ent\u00e3o livro de cabeceira Princ\u00edpios da Geologia, de Charles Lyell, cujo primeiro dos tr\u00eas volumes havia sido lan\u00e7ado dois anos antes, em 1830 \u2013 o segundo saiu em 1832 e o terceiro em 1833.<\/p>\n\n\n\n

“As descri\u00e7\u00f5es geol\u00f3gicas efetuadas por Darwin no Rio de Janeiro, e nas demais localidades por ele visitadas, s\u00e3o Patrim\u00f4nio de Influ\u00eancia Internacional, pois s\u00e3o parte indissoci\u00e1vel de sua obra e contribu\u00edram para sua forma\u00e7\u00e3o cient\u00edfica e elabora\u00e7\u00e3o te\u00f3rica”, diz K\u00e1tia. “Estas rochas e localidades n\u00e3o s\u00e3o patrim\u00f4nios de estados ou pa\u00edses, mas da ci\u00eancia, com relev\u00e2ncia mundial.”<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m de hist\u00f3ricas, as beachrocks<\/em>, tamb\u00e9m conhecidas como arenitos de praia e, na regi\u00e3o Nordeste, como arrecifes, t\u00eam import\u00e2ncia cient\u00edfica. “Elas podem ser utilizadas para indicar antigos n\u00edveis do mar, pois as frequentes conchas de moluscos encontradas nelas s\u00e3o dat\u00e1veis (pelo m\u00e9todo do Carbono 14, por exemplo), assim como o carbonato de c\u00e1lcio que as cimenta entre si”, diz Ramos.<\/p>\n\n\n\n

“As conchas de moluscos das beachrocks <\/em>de Jacon\u00e9 foram datadas em torno de 8 mil anos e o cimento em 6 mil anos. A rocha de praia de Jacon\u00e9, portanto, \u00e9 uma das mais antigos do Estado do Rio de Janeiro.”<\/p>\n\n\n\n

\"Aspecto
Rochas podem ser utilizadas para indicar antigos n\u00edveis do mar<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Segundo K\u00e1tia, no caso das descritas por Darwin em Maric\u00e1, elas s\u00e3o o testemunho de uma antiga praia que existiu na regi\u00e3o h\u00e1 cerca de 8 mil anos e indicam um n\u00edvel do mar 50 cm mais baixo que atual “Isso auxilia no entendimento das varia\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas nos \u00faltimos milhares de anos”, explica. “Elas tamb\u00e9m podem ser utilizadas para entender a ocupa\u00e7\u00e3o humana pr\u00e9-hist\u00f3rica da regi\u00e3o, pois seus fragmentos foram coletados pelos construtores de sambaquis, primeiros habitantes do litoral.”<\/p>\n\n\n\n

As beachrocks <\/em>t\u00eam ainda grande import\u00e2ncia ecol\u00f3gica, segundo K\u00e1tia, pois criam ambientes prop\u00edcios para elevada concentra\u00e7\u00e3o de peixes e desenvolvimento de mexilh\u00f5es, o que pode ter sido um atrativo para os sambaquieiros no passado como \u00e9 para os pescadores atuais.<\/p>\n\n\n\n

Agora essa riqueza hist\u00f3rica, geol\u00f3gica e ecol\u00f3gica pode estar em perigo, caso a constru\u00e7\u00e3o do porto venha de fato a se concretizar. “O projeto se consolidou em dezembro de 2013, quando a empresa construtora submeteu o Estudo de Impacto Ambiental e seu respectivo Relat\u00f3rio de Impacto Ambiental (EIA-Rima) para licenciamento pelo Inea, do Rio de Janeiro”, conta.<\/p>\n\n\n\n

\"Conglomerado
Conglomerado com seixos de diab\u00e1sio e de quartzo, um dos mais interessantes e raros tipos de rocha de praia encontrados na praia de Jacon\u00e9<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Antes disso, era necess\u00e1rio liberar a \u00e1rea para a constru\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“Como no Plano Diretor de Maric\u00e1 a \u00e1rea era protegida, a C\u00e2mara dos Vereadores e a Prefeitura, em outubro de 2013, alteraram a categoria de zoneamento para ‘\u00c1rea Especial de Interesse Urban\u00edstico e Econ\u00f4mico, voltada para atividades de log\u00edstica, portu\u00e1ria e industrial'”, explica K\u00e1tia. “S\u00f3 depois disso foi que a empresa apresentou o EIA-Rima. A partir da\u00ed, diversas a\u00e7\u00f5es se sucederam e produziram uma situa\u00e7\u00e3o de impasse.”<\/p>\n\n\n\n

SOS Jacon\u00e9<\/h2>\n\n\n\n

Muito dessa situa\u00e7\u00e3o se deve \u00e0 luta dos moradores, ambientalistas, surfistas, pescadores e professores locais contra o empreendimento . “T\u00e3o logo a not\u00edcia da sua poss\u00edvel constru\u00e7\u00e3o chegou \u00e0 regi\u00e3o, eles iniciaram o movimento ‘SOS Jacon\u00e9 \u2013 Porto N\u00e3o!’ e entraram em contato com diversos pesquisadores e institui\u00e7\u00f5es para angariar apoio para a prote\u00e7\u00e3o da \u00e1rea”, lembra K\u00e1tia. “Inclusive entraram nos Minist\u00e9rios P\u00fablicos Federal e do Rio de Janeiro com uma a\u00e7\u00e3o civil p\u00fablica, porque a mudan\u00e7a no uso da terra na \u00e1rea n\u00e3o havia cumprido os tr\u00e2mites legais e pela degrada\u00e7\u00e3o que poderia ocorrer. Nesta \u00e9poca, fizeram contato conosco, que passamos a apoi\u00e1-los.”<\/p>\n\n\n\n

A a\u00e7\u00e3o mais recente na Justi\u00e7a se deu em julho, quando os dois Minist\u00e9rios P\u00fablicos ajuizaram uma nova A\u00e7\u00e3o Civil P\u00fablica junto \u00e0 3\u00aa Vara Federal de Niter\u00f3i, para impedir a consuma\u00e7\u00e3o dos danos socioambientais do empreendimento. “Ela aponta diversos v\u00edcios encontrados em procedimentos administrativos de licenciamento do empreendimento”, diz K\u00e1tia.<\/p>\n\n\n\n

“Cabe ressaltar que o empreendedor, por conta dos obst\u00e1culos que os beachrocks <\/em>v\u00eam impondo desde o in\u00edcio do projeto, decidiu modific\u00e1-lo no ano passado, tornando o mais modesto, diminuindo o investimento e o n\u00famero de empregos gerados, que passou a ser cerca de 300.”<\/p>\n\n\n\n

A BBC News Brasil procurou a prefeitura de Maric\u00e1 para entender os motivos da constru\u00e7\u00e3o do porto e sua import\u00e2ncia econ\u00f4mica para o munic\u00edpio, al\u00e9m do impacto na regi\u00e3o \u2013 particularmente sobre as beachrocks <\/em>de Darwin \u2013 e a mudan\u00e7a no plano diretor.<\/p>\n\n\n\n

A prefeitura se limitou a enviar, por meio de sua Secretaria de Comunica\u00e7\u00e3o, a seguinte nota: “Por se tratar de um empreendimento privado, quem responde sobre as quest\u00f5es do Terminal Ponta Negra \u00e9 a empresa propriet\u00e1ria do projeto, a DTA Engenharia, de S\u00e3o Paulo. A Prefeitura j\u00e1 se manifestou publicamente por diversas vezes em apoio ao projeto \u2013 inclusive no \u00e2mbito do relat\u00f3rio de impacto ambiental que embasa a licen\u00e7a pr\u00e9via j\u00e1 concedida pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) \u2013 por consider\u00e1-lo uma importante alternativa para o desenvolvimento econ\u00f4mico sustent\u00e1vel n\u00e3o s\u00f3 de Maric\u00e1, mas de toda a regi\u00e3o.”<\/p>\n\n\n\n

A DTA Engenharia, por sua vez, informou que o TPN tem como principal objetivo criar uma infraestrutura para o atendimento da ind\u00fastria de explora\u00e7\u00e3o e produ\u00e7\u00e3o de petr\u00f3leo e g\u00e1s, tanto no armazenamento quanto a movimenta\u00e7\u00e3o de gran\u00e9is l\u00edquidos.<\/p>\n\n\n\n

“Seu volume de tancagem ser\u00e1 de aproximadamente 3,5 milh\u00f5es de m\u00b3 e ter\u00e1 p\u00e1tio log\u00edstico de servi\u00e7os de apoio”, informa Juliana Digeorgi, da DTA.<\/p>\n\n\n\n

“A \u00e1rea total do empreendimento \u00e9 de 152,32 ha e compreende um aterro hidr\u00e1ulico sobre l\u00e2mina d’\u00e1gua, um quebra-mar de prote\u00e7\u00e3o e a infraestrutura da retro\u00e1rea com edif\u00edcio administrativo.”<\/p>\n\n\n\n

De acordo com ela, a previs\u00e3o \u00e9 a de sejam criados cerca de 1.700 empregos diretos e indiretos na constru\u00e7\u00e3o e 4.000 na opera\u00e7\u00e3o. “Todos os impactos relacionados ao TPN s\u00e3o objeto de processo de licenciamento ambiental em tr\u00e2mite perante o Inea”, garante Juliana. “Estamos aguardando a delibera\u00e7\u00e3o para a emiss\u00e3o da Licen\u00e7a de Instala\u00e7\u00e3o, para que as obras sejam iniciadas.”<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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