{"id":153767,"date":"2019-09-05T12:00:41","date_gmt":"2019-09-05T15:00:41","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=153767"},"modified":"2019-09-04T22:36:45","modified_gmt":"2019-09-05T01:36:45","slug":"invasoes-grilagem-e-queimadas-ameacam-areas-protegidas-na-amazonia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/09\/05\/153767-invasoes-grilagem-e-queimadas-ameacam-areas-protegidas-na-amazonia.html","title":{"rendered":"Invas\u00f5es, grilagem e queimadas amea\u00e7am \u00e1reas protegidas na Amaz\u00f4nia"},"content":{"rendered":"\n
\"\u00c3\u0081rea

\u00c1rea desmatada no interior da unidade de conserva\u00e7\u00e3o Floresta Nacional do Bom Futuro, em Porto Velho
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Ao longo dos 100 quil\u00f4metros da estrada de terra que corta a Floresta Nacional do Bom Futuro, pr\u00f3xima a Porto Velho, Rond\u00f4nia, \u00e9 f\u00e1cil encontrar mata nativa queimada. Em seus 20 anos de hist\u00f3ria, essa unidade de conserva\u00e7\u00e3o na Amaz\u00f4nia nunca teve seu destino t\u00e3o amea\u00e7ado por invas\u00f5es, grilagem, desmatamento e fogo como nos \u00faltimos meses.<\/p>\n\n\n\n

Estrategicamente posicionada, uma brigada de inc\u00eandio do Instituto Chico Mendes de Conserva\u00e7\u00e3o da Biodiversidade (ICMbio) tenta evitar que uma \u00e1rea de reflorestamento do tamanho de 70 campos de futebol seja a pr\u00f3xima v\u00edtima dos incendi\u00e1rios. Os criminosos n\u00e3o poupam \u00e1rvores jovens ou centen\u00e1rias ao lan\u00e7ar, geralmente sobre uma moto, um “coquetel” antes de atear fogo.<\/p>\n\n\n\n

Em todos os nove estados da Amaz\u00f4nia Legal, casos semelhantes fizeram o n\u00famero de alertas de queimadas disparar em 2019. De janeiro a agosto, foram\u00a0mais de 46 mil focos\u00a0registrados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Um aumento de mais de 100% em compara\u00e7\u00e3o ao mesmo per\u00edodo do ano passado.<\/p>\n\n\n\n

Na Bom Futuro, uma clareira aberta poucos dias antes da visita da DW Brasil ao local, no fim de agosto, deve virar cinzas nos pr\u00f3ximos dias, dizem os agentes. Uma estaca fixada no solo indicava que o lote j\u00e1 fora marcado para a venda. \u00c9 como funciona a cadeia do crime na Amaz\u00f4nia em unidades de conserva\u00e7\u00e3o: invasores desmatam, ateiam fogo, jogam sementes de capim, marcam e vendem o terreno ilegalmente.<\/p>\n\n\n\n

“Primeiro voc\u00ea tem aquele processo de extra\u00e7\u00e3o da madeira. Depois voc\u00ea entra com agricultura, pequenos agricultores, a\u00ed os pecuaristas acabam comprando e adquirindo essas terras”, diz Maria Madalena Cavalcante, pesquisadora da Universidade Federal de Rond\u00f4nia (Unir). “Isso \u00e9 grilagem de terra”, afirma a ge\u00f3grafa e especialista em gest\u00e3o ambiental.<\/p>\n\n\n\n

Quem compra a terra, muitas vezes, desconhece a ilegalidade por tr\u00e1s dela. Ant\u00f4nio C., por exemplo, mora na regi\u00e3o h\u00e1 d\u00e9cadas e diz que sua propriedade n\u00e3o tem documentos oficiais. Original do Paran\u00e1, ele chegou a Rond\u00f4nia na d\u00e9cada de 1980, a chamada \u00e9poca da coloniza\u00e7\u00e3o. <\/p>\n\n\n\n

“N\u00e3o \u00e9 legalizado, voc\u00ea n\u00e3o sabe quem \u00e9 o dono, e quem n\u00e3o \u00e9. Voc\u00ea mora na propriedade, mas n\u00e3o tem direito”, disse C. \u00e0 DW Brasil. Ele tenta negociar a multa de R$ 80 mil que recebeu por desmatamento ilegal da floresta.<\/p>\n\n\n\n

“Eu desmatei porque n\u00e3o estava dando, n\u00e3o tinha capim para alimentar minhas vacas”, justifica. Segundo o C\u00f3digo Florestal, propriet\u00e1rios na Amaz\u00f4nia podem derrubar at\u00e9 20% da mata.<\/p>\n\n\n\n

Desde outubro de 2018, mais de 200 barracos foram erguidos dentro da Bom Futuro, no acampamento chamado Boa Esperan\u00e7a. O cen\u00e1rio na unidade de conserva\u00e7\u00e3o revela “grave situa\u00e7\u00e3o afrontosa dos invasores” e “destrui\u00e7\u00e3o organizada”, declarou o juiz que julga o caso.<\/p>\n\n\n\n

Agentes ambientais, com apoio da pol\u00edcia, est\u00e3o se preparando para um confronto no acampamento. At\u00e9 o fim de setembro, eles devem expulsar os invasores da unidade, conforme a decis\u00e3o judicial expedida.<\/p>\n\n\n\n

Cercados por porteiras<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A 300 quil\u00f4metros da Floresta Nacional do Bom Futuro, moradores da aldeia Alto Jamari, na Terra Ind\u00edgena (TI) Uru-Eu-Wau-Wau, discutem a caminhada de 14 km que pretendem fazer pela mata at\u00e9 a \u00e1rea de floresta queimada dentro da reserva. Eles dizem que j\u00e1 avisaram a Funda\u00e7\u00e3o Nacional do \u00cdndio (Funai) da invas\u00e3o, mas n\u00e3o querem esperar.<\/p>\n\n\n\n

A TI Uru-Eu-Wau-Wau, criada em 1985, \u00e9 uma das que mais sofrem press\u00e3o de madeireiros e grileiros em Rond\u00f4nia. Na \u00e1rea ainda vivem comunidades ind\u00edgenas isoladas, \u00e9 com a seguran\u00e7a delas que o jovem cacique Awapy Uru-Eu-Wau-Wau, de 27 anos, mais se preocupa.<\/p>\n\n\n\n

\"Queimada<\/a>

Queimada pr\u00f3xima a Porto Velho: de janeiro a agosto, Inpe registrou mais de 46 mil focos de queimada na Amaz\u00f4nia <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Aumentou dos dois lados, invasores e queimada, a destrui\u00e7\u00e3o da Amaz\u00f4nia. Principalmente a nossa reserva est\u00e1 sendo muito desmatada e cada vez mais os bichos est\u00e3o se afastando, tentando fugir do perigo. E n\u00f3s tamb\u00e9m temos os parentes isolados que est\u00e3o correndo perigo”, disse Awapy \u00e0 DW Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Todos na aldeia est\u00e3o apreensivos. Cercados por fazendas \u2013 foi preciso abrir e fechar 11 porteiras pela estrada at\u00e9 a aldeia \u2013 os ind\u00edgenas dizem que t\u00eam medo. “\u00c9 perigoso, os invasores t\u00eam armas, mas temos que defender nossa terra”, afirma Taroba Uru-Eu-Wau-Wau.<\/p>\n\n\n\n

De Porto Velho, Ivaneide Cardoso acompanha a tens\u00e3o. Ela \u00e9 coordenadora da organiza\u00e7\u00e3o Kanind\u00e9, fundada em 1992 e voltada para a defesa dos territ\u00f3rios ind\u00edgenas do estado.<\/p>\n\n\n\n

“Quando os grileiros entram, roubam a madeira de lei, as madeiras especiais, fazem corte raso na terra, passam corrent\u00e3o, para em seguida colocar pasto para o gado. Ent\u00e3o, eles se apropriam da terra”, detalha sobre o processo ilegal em Rond\u00f4nia<\/p>\n\n\n\n

Awapy diz que a destrui\u00e7\u00e3o \u00e9 muito r\u00e1pida. “A gente n\u00e3o tem nem ideia como que pode acontecer isso. Isso \u00e9 gente que tem dinheiro e paga muita gente para trabalhar”, afirma. “\u00c9 muito triste a gente ver a floresta em p\u00e9 l\u00e1 e depois sendo desmatada, do nada. E o pessoal que faz isso sabe que a terra \u00e9 de \u00edndio tamb\u00e9m.”<\/p>\n\n\n\n

\u00d3rg\u00e3os ambientais enfraquecidos<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Natural de Rond\u00f4nia, a pesquisadora Maria Madalena Cavalcante, da Unir, pontua que o hist\u00f3rico do desmatamento \u00e9 “bem emblem\u00e1tico” no estado. Da Floresta Amaz\u00f4nica, pouco sobrou.<\/p>\n\n\n\n

“O que a gente tem em termos de floresta est\u00e1 muito ligado \u00e0s \u00e1reas protegidas, pegando as unidade de conserva\u00e7\u00e3o e terras ind\u00edgenas”, diz Cavalcante, apontando na tela de seu computador para os mapas gerados a partir de estudos. “E essas reservas sofrem o impacto do desmatamento.”<\/p>\n\n\n\n

\"Agentes<\/a>

Agentes do ICMBio examinam \u00e1rea atingida por queimada em Rond\u00f4nia, em 28 de agosto <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Ivaneide Cardoso, da organiza\u00e7\u00e3o Kanind\u00e9, acaba de voltar de uma semana de visitas a aldeias e relata que viu aumento das queimadas, do desmatamento e das invas\u00f5es. “Isso \u00e9 porque a Funai est\u00e1 enfraquecida, o ICMbio est\u00e1 enfraquecido, o Ibama est\u00e1 enfraquecido”, comenta.<\/p>\n\n\n\n

De acordo com decreto do presidente Jair Bolsonaro, as For\u00e7as Armadas devem realizar opera\u00e7\u00f5es de combate \u00e0s queimadas na Amaz\u00f4nia e de crimes ambientais at\u00e9 24 de setembro. Para Cardoso, a a\u00e7\u00e3o \u00e9 tardia, s\u00f3 tendo sido iniciada meses depois de alertas de aumento de desmatamento e da repercuss\u00e3o internacional devido \u00e0s queimadas.<\/p>\n\n\n\n

“O que o governo tinha que fazer era manter os \u00f3rg\u00e3os fortalecidos o tempo todo, para que pudessem exercer seu papel de prote\u00e7\u00e3o da natureza. Porque, quando o Ex\u00e9rcito for embora, o que que vai acontecer com essas \u00e1reas?”, questiona.<\/p>\n\n\n\n

A DW Brasil procurou o governo de Rond\u00f4nia e o Minist\u00e9rio do Meio Ambiente, ao qual est\u00e3o vinculados o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renov\u00e1veis (Ibama) e o ICMbio. Nenhum dos \u00f3rg\u00e3os atendeu \u00e0s solicita\u00e7\u00f5es de entrevista.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"