{"id":153793,"date":"2019-09-06T17:56:35","date_gmt":"2019-09-06T20:56:35","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=153793"},"modified":"2019-09-05T19:59:28","modified_gmt":"2019-09-05T22:59:28","slug":"a-injustica-global-da-crise-climatica","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/09\/06\/153793-a-injustica-global-da-crise-climatica.html","title":{"rendered":"A injusti\u00e7a global da crise clim\u00e1tica"},"content":{"rendered":"\n
\"Um

Um homem carrega \u00e1gua na \u00cdndia: mundo em desenvolvimento deve sofrer mais com secas e outros eventos clim\u00e1ticos extremos
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Nos \u00faltimos anos, ambientalistas e cientistas v\u00eam alertando que os pa\u00edses mais pobres, que t\u00eam pegadas de carbono muito baixas, est\u00e3o sofrendo o impacto das emiss\u00f5es de di\u00f3xido de carbono da fatia mais rica do mundo. Um relat\u00f3rio da ag\u00eancia beneficente brit\u00e2nica Christian Aid mostra essa disparidade. <\/p>\n\n\n\n

O relat\u00f3rio Greve de fome: o \u00edndice de vulnerabilidade clim\u00e1tica e alimentar<\/em> aponta que os dez pa\u00edses que registram os maiores \u00edndices de inseguran\u00e7a alimentar no mundo geram menos de meia tonelada de CO2 por pessoa. Combinados, eles geram apenas 0,08% do total de CO2 global. <\/p>\n\n\n\n

“O que realmente me surpreendeu e me chocou foi a forte correla\u00e7\u00e3o negativa entre pobreza alimentar e a baix\u00edssima emiss\u00e3o per capita”, diz a autora do relat\u00f3rio, Katherine Kramer. “\u00c9 muito maior do que esper\u00e1vamos.” <\/p>\n\n\n\n

No topo do ranking est\u00e1 o Burundi, na \u00c1frica Central, que registra 0,027 toneladas, a menor emiss\u00e3o de CO2 per capita entre todos os pa\u00edses. O n\u00famero \u00e9 t\u00e3o baixo que \u00e9 muitas vezes arredondado para zero. Em compara\u00e7\u00e3o, os alem\u00e3es, americanos e sauditas geram, em m\u00e9dia, a mesma quantidade de CO2 que 359, 583 e 719 burundeses, respectivamente. <\/p>\n\n\n\n

Conforme destacado no \u00faltimo relat\u00f3rio do Painel Intergovernamental sobre Mudan\u00e7as Clim\u00e1ticas (IPCC), a inseguran\u00e7a alimentar \u00e9 uma das principais amea\u00e7as \u00e0 vida humana que podem ser provocadas pelas mudan\u00e7as clim\u00e1ticas. Esse risco \u00e9 especialmente maior no Hemisf\u00e9rio Sul, onde as pessoas dependem da agricultura em pequena escala e s\u00e3o mais vulner\u00e1veis a secas, inunda\u00e7\u00f5es e condi\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas extremas. <\/p>\n\n\n\n

No Burundi, que j\u00e1 vem enfrentando inseguran\u00e7a alimentar como resultado da instabilidade pol\u00edtica \u2013 e onde a preval\u00eancia de desnutri\u00e7\u00e3o cr\u00f4nica \u00e9 a mais alta do mundo \u2013 a mudan\u00e7a dos padr\u00f5es clim\u00e1ticos \u00e9 encarada com preocupa\u00e7\u00e3o. <\/p>\n\n\n\n

As chuvas no pa\u00eds africano foram muito espor\u00e1dicas nos \u00faltimos tr\u00eas anos, particularmente em algumas regi\u00f5es dependentes da agricultura. E o relat\u00f3rio prev\u00ea que inunda\u00e7\u00f5es e secas extremas resultar\u00e3o em um decl\u00ednio da produ\u00e7\u00e3o de entre 5% e 25% nas pr\u00f3ximas d\u00e9cadas. <\/p>\n\n\n\n

“O Burundi \u00e9 uma testemunha vivo da injusti\u00e7a da crise clim\u00e1tica”, diz Philip Galgallo, diretor do bra\u00e7o da Christian Aid para o Burundi. “Apesar de produzirmos quase nenhuma emiss\u00e3o de carbono, nos encontramos na linha de frente das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, sofrendo com temperaturas mais altas, produ\u00e7\u00e3o mais baixa das colheitas e chuvas cada vez menos regulares.”<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 uma hist\u00f3ria parecida com a do segundo pa\u00eds com maior \u00edndice inseguran\u00e7a alimentar do mundo: a Rep\u00fablica Democr\u00e1tica do Congo (RDC), que tamb\u00e9m tem a segunda menor pegada de carbono. A eleva\u00e7\u00e3o r\u00e1pida das temperaturas implica um risco ainda maior de dissemina\u00e7\u00e3o de doen\u00e7as entre os animais e nas lavouras. Al\u00e9m disso, os padr\u00f5es de chuva est\u00e3o mudando, deixando os agricultores congoleses inseguros sobre quando plantar e quando colher. <\/p>\n\n\n\n

Risco de subnutri\u00e7\u00e3o <\/strong><\/p>\n\n\n\n

As mudan\u00e7as clim\u00e1ticas n\u00e3o afetam apenas a produ\u00e7\u00e3o das planta\u00e7\u00f5es e a capacidade de cultivar alimentos. O CO2 tamb\u00e9m afeta diretamente os nutrientes presentes nas colheitas. <\/p>\n\n\n\n

Um estudo recente da revista cient\u00edfica Lancet Planetary Health <\/em>analisou como as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas e os n\u00edveis crescentes de di\u00f3xido de carbono na atmosfera est\u00e3o reduzindo a preval\u00eancia de nutrientes em alimentos b\u00e1sicos, como arroz, trigo, milho e soja. Cerca de 50% das calorias consumidas do mundo v\u00eam desses gr\u00e3os. <\/p>\n\n\n\n

\"\u00c1rea<\/a>

\u00c1rea inundada no Burundi: inunda\u00e7\u00f5es e secas extremas devem afetar produ\u00e7\u00e3o de alimentos no pa\u00eds nas pr\u00f3ximas d\u00e9cadas.\u00a0 <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O estudo constatou que, nos pr\u00f3ximos 30 anos, a disponibilidade de nutrientes cr\u00edticos para a sa\u00fade humana, incluindo ferro, prote\u00edna e zinco, poder\u00e1 ser significativamente reduzida se o planeta continuar a produzir emiss\u00f5es de CO2 no mesmo ritmo. <\/p>\n\n\n\n

“Vamos enfrentar uma redu\u00e7\u00e3o de 14% a 20% na disponibilidade global de ferro, zinco e prote\u00edna em nossa dieta”, prev\u00ea o autor do estudo Seth Myers. <\/p>\n\n\n\n

E as implica\u00e7\u00f5es dessa redu\u00e7\u00e3o s\u00e3o muito significativas. <\/p>\n\n\n\n

“A defici\u00eancia de ferro e zinco nos alimentos hoje j\u00e1 faz com que cerca de 60 milh\u00f5es de anos de vida sejam perdidos anualmente. Ent\u00e3o essas defici\u00eancias j\u00e1 provocam grandes cargas globais de doen\u00e7as”, afirma Myers. <\/p>\n\n\n\n

“Como resultado do aumento dos n\u00edveis de CO2, centenas de milh\u00f5es de pessoas v\u00e3o passar a correr risco de morrer por causa de defici\u00eancias de zinco e prote\u00ednas. E cerca de um bilh\u00e3o de pessoas que j\u00e1 t\u00eam essas defici\u00eancias v\u00e3o v\u00ea-las serem exacerbadas”, diz.<\/p>\n\n\n\n

Tais defici\u00eancias aumentam a mortalidade infantil por doen\u00e7as e enfermidades como mal\u00e1ria, pneumonia e diarreia. <\/p>\n\n\n\n

As pessoas mais afetadas estar\u00e3o no Hemisf\u00e9rio Sul, diz Myers. Isso porque aquelas que correm maior risco de sofrer com essas defici\u00eancias nutricionais j\u00e1 contam com dietas menos diversificadas e um menor consumo de alimentos de origem animal, como carne, leite, ovos, queijo e iogurte. <\/p>\n\n\n\n

“E isso n\u00e3o deixa de ser meio ir\u00f4nico, j\u00e1 que essas s\u00e3o as pessoas que t\u00eam menos responsabilidade pela emiss\u00e3o de di\u00f3xido de carbono que est\u00e1 tornando os alimentos menos nutritivos”, explica Myers. Ele descreve a situa\u00e7\u00e3o como uma emerg\u00eancia de sa\u00fade p\u00fablica e uma crise moral. <\/p>\n\n\n\n

“N\u00e3o h\u00e1 desculpa para n\u00e3o agir com a m\u00e1xima urg\u00eancia quando s\u00e3o as emiss\u00f5es da parte mais rica do mundo que est\u00e3o colocando as pessoas mais pobres do planeta em perigo”, afirma.<\/p>\n\n\n\n

Senso de urg\u00eancia moral<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Kramer, da Christian Aid, por sua vez, diz que existem v\u00e1rias medidas que o mundo desenvolvido precisa adotar para combater a inseguran\u00e7a alimentar e ajudar a combater as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas. <\/p>\n\n\n\n

“A primeira e mais importante \u00e9 reduzir drasticamente e muito rapidamente suas pr\u00f3prias emiss\u00f5es”, diz ela. “Podemos continuar a nos refugiar em ambientes fechados, com nossos ventiladores e ar-condicionado. Temos acesso a estoques de \u00e1gua para nos refrescar. As mudan\u00e7as ainda n\u00e3o nos atingiram da mesma maneira, mas j\u00e1 est\u00e3o afetando o mundo em desenvolvimento.” <\/p>\n\n\n\n

\"Homem<\/a>

Um pecuarista na Eritreia: pa\u00edses pobres podem ser mais atingidos pelas mudan\u00e7as nos padr\u00f5es do clima <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Myers concorda. “Temos que parar de queimar combust\u00edveis f\u00f3sseis. Precisamos fazer a transi\u00e7\u00e3o para fontes renov\u00e1veis e evitar as emiss\u00f5es de di\u00f3xido de carbono o mais r\u00e1pido poss\u00edvel. Precisamos tamb\u00e9m ter um senso de urg\u00eancia moral para essa transi\u00e7\u00e3o”, afirma. <\/p>\n\n\n\n

Outro passo importante \u00e9 dar apoio aos pa\u00edses em desenvolvimento. Kramer diz que isso pode ser feito com incentivo financeiro ou com o fornecimento de tecnologia e educa\u00e7\u00e3o, principalmente para a instala\u00e7\u00e3o de sistemas de alerta pr\u00e9vios que permitam que os pa\u00edses prevejam quando um desastre natural est\u00e1 prestes a acontecer e possam se preparar adequadamente. <\/p>\n\n\n\n

Ainda segundo Myers, tamb\u00e9m \u00e9 preciso ajudar os pa\u00edses em desenvolvimento a melhorar sua produtividade e resili\u00eancia (capacidade de resist\u00eancia e recupera\u00e7\u00e3o de um ecossistema). <\/p>\n\n\n\n

Por meio do Acordo de Paris sobre o clima, quase todos os pa\u00edses desenvolvidos do mundo j\u00e1 se comprometeram a fornecer recursos para ajudar pa\u00edses em desenvolvimento a combater os efeitos das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, mas n\u00e3o est\u00e3o previstas penalidades para aqueles que n\u00e3o cumprirem suas promessas. <\/p>\n\n\n\n

\u00c9 por isso que\u00a0Kramer\u00a0acredita que as pessoas precisam pressionar seus governos a cumprir as metas.\u00a0“Se n\u00e3o diminuirmos nossas emiss\u00f5es e resolvermos a crise clim\u00e1tica como uma comunidade global, os impactos ser\u00e3o cada vez piores, e milh\u00f5es de vidas estar\u00e3o em risco”, conclui.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Os pa\u00edses que menos contribuem para as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas s\u00e3o aqueles que mais sofrem seus efeitos. Enquanto na\u00e7\u00f5es ricas emitem altos n\u00edveis de CO2, as mais pobres temem pela seguran\u00e7a alimentar de seus habitantes. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":153794,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[287,1236,722,677,730,46],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/153793"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=153793"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/153793\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":153795,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/153793\/revisions\/153795"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/153794"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=153793"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=153793"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=153793"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}