{"id":153848,"date":"2019-09-10T13:00:09","date_gmt":"2019-09-10T16:00:09","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=153848"},"modified":"2019-09-09T22:40:52","modified_gmt":"2019-09-10T01:40:52","slug":"como-uso-de-agrotoxicos-sem-orientacao-e-protecao-poe-agricultores-brasileiros-em-risco","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/09\/10\/153848-como-uso-de-agrotoxicos-sem-orientacao-e-protecao-poe-agricultores-brasileiros-em-risco.html","title":{"rendered":"Como uso de agrot\u00f3xicos sem orienta\u00e7\u00e3o e prote\u00e7\u00e3o p\u00f5e agricultores brasileiros em risco"},"content":{"rendered":"\n
\"Planta\u00c3\u00a7\u00c3\u00a3o

Pesquisa revela risco de problemas respirat\u00f3rios, hormonais e at\u00e9 c\u00e2ncer para agricultores familiares brasileiros
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Pesquisas recentes sobre a sa\u00fade dos agricultores familiares brasileiros t\u00eam chamado a aten\u00e7\u00e3o para a preval\u00eancia de problemas respirat\u00f3rios, hormonais, reprodutivos e de alguns tipos de c\u00e2ncer possivelmente associados \u00e0 exposi\u00e7\u00e3o aos agrot\u00f3xicos.<\/p>\n\n\n\n

Apesar de o Brasil ser um dos maiores consumidores mundiais de agrot\u00f3xicos, os esfor\u00e7os para medir o impacto desses produtos na sa\u00fade dos trabalhadores rurais ainda s\u00e3o incipientes. Em comum, esses novos estudos evidenciam que a falta de orienta\u00e7\u00e3o e assist\u00eancia t\u00e9cnica a pequenos agricultores resulta na falta de cuidados adequados para evitar intoxica\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

A discuss\u00e3o sobre a seguran\u00e7a dos agrot\u00f3xicos est\u00e1 em alta desde que a Ag\u00eancia Nacional de Vigil\u00e2ncia Sanit\u00e1ria (Anvisa) anunciou, no final de agosto, a aprova\u00e7\u00e3o de um novo marco regulat\u00f3rio para agrot\u00f3xicos.<\/p>\n\n\n\n

Para o pesquisador da Faculdade de Sa\u00fade P\u00fablica da USP Rafael Junqueira Buralli, autor de um estudo sobre a condi\u00e7\u00e3o respirat\u00f3ria de agricultores familiares expostos a agrot\u00f3xicos em uma pequena cidade do Rio de Janeiro, o despreparo \u00e9 evidente: apenas 22,9% dos trabalhadores rurais avaliados no estudo afirmaram ter recebido treinamento ou apoio t\u00e9cnico para o manejo desses produtos.<\/p>\n\n\n\n

Entre os parentes dos trabalhadores, que com frequ\u00eancia auxiliam nas atividades de cultivo e tamb\u00e9m se exp\u00f5em aos agrot\u00f3xicos, nenhum passou por treinamento.<\/p>\n\n\n\n

Impacto na sa\u00fade respirat\u00f3ria<\/h2>\n\n\n\n

A pesquisa de Buralli, publicada em 2018 pelo International Journal of Environmental Research and Public Health, avaliou 82 indiv\u00edduos da zona rural de S\u00e3o Jos\u00e9 de Ub\u00e1-RJ por meio de question\u00e1rios, an\u00e1lise de amostras de sangue e espirometria, um exame que mede a capacidade pulmonar.<\/p>\n\n\n\n

Os exames revelaram diminui\u00e7\u00f5es dos padr\u00f5es respirat\u00f3rios nos trabalhadores rurais em compara\u00e7\u00e3o a indiv\u00edduos n\u00e3o expostos a agrot\u00f3xicos. E quanto maior a exposi\u00e7\u00e3o, medida pela presen\u00e7a de biomarcadores no sangue, pior foi a condi\u00e7\u00e3o respirat\u00f3ria observada no participante.<\/p>\n\n\n\n

Sintomas como tosse, alergia nasal e dificuldade para respirar foram mais prevalentes durante o per\u00edodo da safra do que na entressafra, o que sugere um efeito agudo durante o per\u00edodo de maior exposi\u00e7\u00e3o, diz o pesquisador.<\/p>\n\n\n\n

Segundo Buralli, 90% dos participantes tamb\u00e9m afirmaram sentir com frequ\u00eancia ao menos um sintoma agudo de exposi\u00e7\u00e3o aos pesticidas, entre os quais os mais comuns foram irrita\u00e7\u00f5es nas mucosas, dor de cabe\u00e7a, taquicardia e palpita\u00e7\u00e3o, tontura, dor de est\u00f4mago e c\u00e2imbras. Al\u00e9m disso, 70% dos entrevistados relataram apresentar ao menos um sintoma cr\u00f4nico, como altera\u00e7\u00f5es no sono, irritabilidade e dificuldade de concentra\u00e7\u00e3o e racioc\u00ednio.<\/p>\n\n\n\n

Em busca de altera\u00e7\u00f5es gen\u00e9ticas<\/h2>\n\n\n\n

Para ilustrar o grau de desconhecimento da popula\u00e7\u00e3o rural de Casimiro de Abreu, no Rio de Janeiro, o enfermeiro Gilberto Santos de Aguiar, do Programa do Sa\u00fade do Trabalhador da Coordena\u00e7\u00e3o de Vigil\u00e2ncia em Sa\u00fade da cidade, conta que ele j\u00e1 viu moradores armazenando \u00e1gua para beber em frascos de agrot\u00f3xico.<\/p>\n\n\n\n

\"Planta\u00e7\u00e3o
Enfermeiro diz que maior parte dos agricultores que entrevistou usam agrot\u00f3xicos sem prescri\u00e7\u00e3o agron\u00f4mica<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Aguiar faz parte de um projeto que busca investigar a associa\u00e7\u00e3o dos agrot\u00f3xicos com doen\u00e7as comuns entre os agricultores. A iniciativa surgiu a partir de um caso de c\u00e2ncer de pulm\u00e3o em um trabalhador rural da cidade em que o m\u00e9dico identificou a exposi\u00e7\u00e3o aos agrot\u00f3xicos como causa do tumor. “Evidenciamos que muitas vezes o adoecimento de um trabalhador rural n\u00e3o \u00e9 um adoecimento natural, mas por exposi\u00e7\u00e3o ao agrot\u00f3xico”, diz.<\/p>\n\n\n\n

O grupo aplicou um question\u00e1rio sobre uso de agrot\u00f3xicos e presen\u00e7a de sintomas em 41 propriedades rurais da regi\u00e3o. O resultado foi encaminhado ao servi\u00e7o de c\u00e2ncer ocupacional do Instituto Nacional de C\u00e2ncer (Inca), que se interessou pelo projeto e hoje conduz um projeto de investiga\u00e7\u00e3o de altera\u00e7\u00f5es gen\u00e9ticas por exposi\u00e7\u00e3o a agrot\u00f3xicos na regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Para Aguiar, a desinforma\u00e7\u00e3o \u00e9 o principal fator de risco para os pequenos agricultores da regi\u00e3o. “A maioria dos agricultores utiliza agrot\u00f3xicos sem prescri\u00e7\u00e3o agron\u00f4mica. A compra \u00e9 orientada pelo funcion\u00e1rio do balc\u00e3o da loja que vende agrot\u00f3xico, ou \u00e0s vezes \u00e9 feita na porta da propriedade por um carro que leva o kit de veneno”, afirma. Ele diz que n\u00e3o h\u00e1 nenhuma assist\u00eancia t\u00e9cnica para orientar sobre o modo de uso e nenhuma fiscaliza\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Um levantamento do perfil epidemiol\u00f3gico dos trabalhadores rurais de Casimiro de Abreu, publicado pela Revista Brasileira de Enfermagem no in\u00edcio do ano, constatou que 51,8% da popula\u00e7\u00e3o entrevistada afirma nunca usar equipamentos de prote\u00e7\u00e3o individual recomendados durante o manejo de agrot\u00f3xicos, como botas, luvas e m\u00e1scaras respirat\u00f3rias.<\/p>\n\n\n\n

Problemas end\u00f3crinos e reprodutivos<\/h2>\n\n\n\n

Em sua pesquisa, que avaliou o impacto dos agrot\u00f3xicos na fun\u00e7\u00e3o da tireoide em trabalhadores rurais da soja da cidade de Sert\u00e3o, no Rio Grande do Sul, a farmac\u00eautica Tanandra Bernieri tamb\u00e9m constatou o esse tipo de descuido: nenhum dos 46 agricultores entrevistados afirmou utilizar equipamentos de prote\u00e7\u00e3o individual corretamente. Do total, 34,8% afirmou usar luvas apenas na hora de fazer a mistura dos agrot\u00f3xicos. “Muitos n\u00e3o sabiam que o agrot\u00f3xico pode ser absorvido pela boca quando comem algo com as m\u00e3os sujas do produto”, conta Bernieri. “A fonte de informa\u00e7\u00e3o deles s\u00e3o os vendedores ou pessoas da fam\u00edlia e amigos.”<\/p>\n\n\n\n

A biom\u00e9dica Camila Piccoli, mestre pela Escola Nacional de Sa\u00fade P\u00fablica da Fiocruz, tamb\u00e9m pesquisou os efeitos dos agrot\u00f3xicos na tireoide de agricultores do Rio Grande do Sul, da cidade de Farroupilha. Ela e sua equipe constataram que a exposi\u00e7\u00e3o aos agrot\u00f3xicos pode estar relacionada a um quadro de aumento do horm\u00f4nio TSH e diminui\u00e7\u00e3o do horm\u00f4nio T4, principalmente nos homens avaliados, resultando em sintomas an\u00e1logos ao hipotireoidismo.<\/p>\n\n\n\n

Ela tamb\u00e9m participou de um estudo, coordenado por seu colega Cleber Cremonese, que selecionou jovens de 18 a 23 anos da mesma regi\u00e3o e, por meio do exame de espermograma, constatou a diminui\u00e7\u00e3o da mobilidade e morfologia do esperma dos jovens rurais em compara\u00e7\u00e3o aos jovens urbanos, al\u00e9m de altera\u00e7\u00f5es nos horm\u00f4nios reprodutivos.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00e3o se pode afirmar que as altera\u00e7\u00f5es estejam relacionadas somente ao uso de agrot\u00f3xicos”, afirma Piccoli. Mas os dados sugerem que os agrot\u00f3xicos podem estar relacionados ao fen\u00f4meno, principalmente por se tratar de uma popula\u00e7\u00e3o jovem, sem outros fatores de risco.<\/p>\n\n\n\n

Novo marco regulat\u00f3rio<\/h2>\n\n\n\n

O novo marco regulat\u00f3rio anunciado pela Anvisa traz mudan\u00e7as na classifica\u00e7\u00e3o toxicol\u00f3gica dos agrot\u00f3xicos e inclui mudan\u00e7as na rotulagem dos produtos. Segundo a ag\u00eancia, as altera\u00e7\u00f5es podem facilitar a identifica\u00e7\u00e3o de perigos \u00e0 vida e \u00e0 sa\u00fade humana.<\/p>\n\n\n\n

Ao mesmo tempo, alguns produtos podem ser reclassificados para um grau de toxicidade menor, j\u00e1 que o novo crit\u00e9rio leva em conta apenas estudos de mortalidade, desconsiderando outros sintomas comuns que n\u00e3o levam \u00e0 morte. Para alguns dos pesquisadores que atuam na \u00e1rea, ainda n\u00e3o est\u00e1 claro se a nova classifica\u00e7\u00e3o impactar\u00e1 a seguran\u00e7a dos agricultores.<\/p>\n\n\n\n

\"Homens
Levantamento feito por professora da UFBA constatou que houve 1.309 mortes por intoxica\u00e7\u00e3o ocupacional provocada por agrot\u00f3xicos em trabalhadores rurais entre 2000 e 2009<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Buralli observa que, como o n\u00edvel de escolaridade dos agricultores \u00e9 baixo, com muitos casos de analfabetismo, eles dificilmente leem o r\u00f3tulo e as instru\u00e7\u00f5es da embalagem dos agrot\u00f3xicos. “Hoje a instru\u00e7\u00e3o parte mais dos t\u00e9cnicos nas lojas agropecu\u00e1rias. Por isso, o ensino continuado providenciado pelas ag\u00eancias \u00e9 muito mais importante do que o que est\u00e1 na bula”, afirma.<\/p>\n\n\n\n

Para Vilma Santana, professora titular do Instituto de Sa\u00fade Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a mudan\u00e7a \u00e9 preocupante, j\u00e1 que usa como crit\u00e9rio somente a morte por intoxica\u00e7\u00e3o aguda, quando os casos mais comuns s\u00e3o os de intoxica\u00e7\u00e3o cr\u00f4nica.<\/p>\n\n\n\n

“Se j\u00e1 temos uma situa\u00e7\u00e3o de desprote\u00e7\u00e3o por conta do baixo n\u00edvel de import\u00e2ncia que se d\u00e1 ao comportamento preventivo, do baixo n\u00edvel de escolaridade do agricultor, e do uso indiscriminado de agrot\u00f3xico, se o n\u00edvel de controle \u00e9 reduzido, eu acredito que as consequ\u00eancias podem ser desastrosas.”<\/p>\n\n\n\n

Santana \u00e9 autora de um levantamento que constatou que houve 1.309 mortes por intoxica\u00e7\u00e3o ocupacional provocada por agrot\u00f3xicos em trabalhadores rurais entre 2000 e 2009, levando a uma mortalidade de 0,39 por 100 mil no ano de 2009.<\/p>\n\n\n\n

“A mortalidade \u00e9 pequena, mas no mundo desenvolvido, como na Inglaterra, um pa\u00eds que tem agricultura forte, nem se estima a mortalidade porque o n\u00famero de casos de intoxica\u00e7\u00e3o aguda por agrot\u00f3xico \u00e9 praticamente nulo”, afirma.<\/p>\n\n\n\n

Para ela, o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer quanto ao estimulo a pr\u00e1ticas preventivas, medidas educativas da popula\u00e7\u00e3o rural e fiscaliza\u00e7\u00e3o para chegar ao n\u00edvel de seguran\u00e7a de pa\u00edses mais desenvolvidos.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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