{"id":153886,"date":"2019-09-12T10:21:31","date_gmt":"2019-09-12T13:21:31","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=153886"},"modified":"2019-11-04T00:00:56","modified_gmt":"2019-11-04T02:00:56","slug":"o-ambicioso-plano-de-transportar-icebergs-para-a-africa","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/redacao\/traducoes\/2019\/09\/12\/153886-o-ambicioso-plano-de-transportar-icebergs-para-a-africa.html","title":{"rendered":"O ambicioso plano de transportar icebergs para a \u00c1frica"},"content":{"rendered":"\n

Se rebocar icebergs para regi\u00f5es quentes e com problemas de \u00e1gua parecerem totalmente loucos para voc\u00ea, considere isso: o volume de \u00e1gua dos icebergs que se desprendem a cada ano na Ant\u00e1rtida \u00e9 maior do que o consumo global total de \u00e1gua doce. E essa estat\u00edstica sequer inclui o gelo do \u00c1rtico. Isso \u00e9 \u00e1gua doce pura, totalmente desperdi\u00e7ada \u00e0 medida que se derrete no mar, contribuindo para o aumento do n\u00edvel do mar. Soa menos louco agora?<\/p>\n\n\n\n

Este fluxo inexplorado de \u00e1gua atraiu cientistas e empreendedores por mais de um s\u00e9culo. Existiram planos do s\u00e9culo XIX para entregas via barco a vapor at\u00e9 a \u00cdndia e para abastecer cervejarias no Chile. Na d\u00e9cada de 1940, John Isaacs, do Instituto Oceanogr\u00e1fico Scripps, prop\u00f4s o lan\u00e7amento de um iceberg em San Diego para matar a seca californiana. Na d\u00e9cada de 1970, o pr\u00edncipe saudita Mohamed Al-Faisal queria rebocar um iceberg da Ant\u00e1rtida atrav\u00e9s do equador para a Ar\u00e1bia Saudita e financiou duas confer\u00eancias internacionais sobre o assunto. A Uni\u00e3o Europeia recebeu propostas em 2010 para rebocar um iceberg de Terra Nova \u00e0s Ilhas Can\u00e1rias.<\/p>\n\n\n\n

Todos esses planos t\u00eam uma coisa em comum – nenhum deles realmente aconteceu.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, eles continuam chegando. Os \u00faltimos esquemas de reboque de iceberg emergiram da Cidade do Cabo e dos Emirados \u00c1rabes Unidos – duas regi\u00f5es que sofrem de escassez de \u00e1gua extrema e persistente. Na primavera de 2018, a Cidade do Cabo chegou amea\u00e7adoramente perto do “Dia Zero” – o dia em que os reservat\u00f3rios secariam e uma cidade de quatro milh\u00f5es de pessoas ficaria sem \u00e1gua. O uso pessoal de \u00e1gua foi limitado a 50 litros por dia. Quando as chuvas finalmente chegaram, o Dia Zero foi evitado, mas talvez por apenas mais um ano. Enquanto isso, nos Emirados \u00c1rabes Unidos, um dos estados mais \u00e1ridos do mundo, o ministro da Energia declarou o consumo de \u00e1gua como uma “grande preocupa\u00e7\u00e3o” para o pa\u00eds, acrescentando que “estamos tentando encontrar solu\u00e7\u00f5es alternativas”. A alternativa poderia ser icebergs?<\/p>\n\n\n\n

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Talvez seja poss\u00edvel rebocar icebergs da Ant\u00e1rtida, que poderiam ser transportados por correntes naturais para a \u00c1frica do Sul (Cr\u00e9dito: Getty Images)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

As \u00faltimas propostas de uso de icebergs s\u00e3o lidas como um filme de assalto. A maioria dos planos desde a d\u00e9cada de 1970 envolveu os mesmos nomes que, agora com 70 e 80 anos, est\u00e3o voltando para “um \u00faltimo emprego”. A potencial recompensa – um diamante de v\u00e1rios milh\u00f5es de toneladas de gelo – \u00e9 grande demais para eles resistirem. Mas n\u00e3o s\u00e3o um monte de malucos ou aproveitadores. Eles incluem alguns dos maiores nomes da glaciologia: o professor Peter Wadhams, que foi diretor do Instituto de Pesquisa Polar Scott, em Cambridge, de 1987 a 1992; O Dr. Olav Orheim, diretor do Instituto Polar Noruegu\u00eas de 1993 a 2005; e Georges Mougin, o engenheiro franc\u00eas por tr\u00e1s dos planos do pr\u00edncipe Al-Faisal.<\/p>\n\n\n\n

Peter Wadhams tomou conhecimento da proposta de Isaac dos anos 40 enquanto trabalhava no Scripps no in\u00edcio de sua carreira. \u201cO pr\u00edncipe Faisal ent\u00e3o se debru\u00e7ou sobre essa ideia, e perguntou: ‘podemos arrastar icebergs at\u00e9 a a Ar\u00e1bia Saudita?’ \u00c9 claro que a resposta \u00f3bvia \u00e9 ‘n\u00e3o’ porque voc\u00ea tem que atravessar o equador e eles se ir\u00e3o se derreter, mas, ningu\u00e9m lhe disse isso porque ele tinha muito dinheiro para investir e financiou muitas pesquisas.\u201d <\/strong>Ap\u00f3s duas confer\u00eancias financiadas pela Ar\u00e1bia Saudita – em Ames, Iowa, e no Scott Polar Research Institute, com as apresenta\u00e7\u00f5es dos planos por Wadhams, Mougin e Orheim – convenceram muitas pessoas de que isso poderia ser feito. Apenas, n\u00e3o t\u00e3o longe quanto o Golfo. O reboque precisava ser feito dentro de uma latitude razoavelmente estreita e em \u00e1guas relativamente frias. O projeto saudita fracassou em ambos os casos, e foi arquivado no in\u00edcio dos anos 80, diz Wadhams, \u201cmas continuamos a pensar e a trabalhar nisso, sem financiamento significativo\u201d.<\/p>\n\n\n\n

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A Uni\u00e3o Europeia “considerou seriamente” a possibilidade de transportar icebergs para as Ilhas Can\u00e1rias, embora as propostas tenham sido rejeitadas (Cr\u00e9dito: Getty Images)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Em 2010, a gangue – Wadhams, Mougin e Orheim – se aposentou. Orheim admite que ele n\u00e3o ouviu falar de Mougin por d\u00e9cadas. \u201cNormalmente, na ci\u00eancia, as coisas feitas h\u00e1 40 anos n\u00e3o s\u00e3o mais relevantes porque a ci\u00eancia avan\u00e7ou\u201d, diz Orheim. “Mas neste caso em particular, houve muito pouca pesquisa de iceberg depois\u2026 N\u00f3s pousamos sobre e estudamos 24 icebergs Ant\u00e1rticos, entre 1978-79, desde ent\u00e3o n\u00e3o devem ter ocorrido mais do que metade disso\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Uma “saia” de geot\u00eaxtil envolveria o iceberg e reduziria a taxa de fus\u00e3o. <\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

Em 2010, Mougin alistou uma empresa francesa de design auxiliado por computador (CAD), Dassault Syst\u00e8mes, para usar os mais recentes rastreamentos por sat\u00e9lite e modelagem por computador para testar a ideia de um reboque transatl\u00e2ntico: uma varredura em 3D de um iceberg real de sete milh\u00f5es de toneladas. O iceberg de Londres, os dados meteorol\u00f3gicos e as correntes mar\u00edtimas do ano anterior, produziram um modelo computacional de um reboque te\u00f3rico de Newfoundland a Tenerife, nas Ilhas Can\u00e1rias. \u201cO modelo estava usando um rebocador muito poderoso, com cerca de 6.000 cavalos de pot\u00eancia, muito mais potente do que os rebocadores dispon\u00edveis nos anos 70 e 80\u201d, diz Wadhams. Outras atualiza\u00e7\u00f5es tecnol\u00f3gicas nos anos seguintes inclu\u00edram rastreamento via sat\u00e9lite em tempo real, e uma malha de tecido isolante ou \u201csaia de geot\u00eaxtil\u201d – todos os 3km da mesma – projetada por Mougin para envolver o iceberg e reduzir a taxa de derretimento. O mesmo material \u00e9 usado em pistas de esqui nos Alpes para impedir que a neve derreta. Depois de colocar a “saia”, o rebocador transportaria o iceberg usando uma grande rede de arrasto de pesca.<\/p>\n\n\n\n

O modelo (que inclusive considerou a possibilidade de uma forte tempestade no meio do Atl\u00e2ntico) mostrou que o iceberg poderia ser entregue com sucesso em 141 dias, a uma velocidade m\u00e9dia de 1,5 km por hora (0,8 n\u00f3s), consumindo 4 mil toneladas de combust\u00edvel de embarque. O iceberg reduziria de 7,0 milh\u00f5es de toneladas para 4,08 milh\u00f5es de toneladas na entrega – o que ainda \u00e9, uma quantidade muito grande de \u00e1gua. \u201cAcabou sendo uma maneira barata e ambientalmente correta de levar \u00e1gua para as Ilhas Can\u00e1rias\u201d, insiste Wadhams. \u201cNo momento [as Can\u00e1rias] dependem de usinas de dessaliniza\u00e7\u00e3o, que s\u00e3o um desastre completo devido \u00e0 quantidade de energia que eles usam e ao desperd\u00edcio de \u00e1gua salina, que mata a vida marinha costeira\u201d.<\/p>\n\n\n\n

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Sloane e Mougin pretendem envolver o icerberg em uma malha de tecido que pode impedir que ele derreta (Cr\u00e9dito: Georges Mougin & Nick Sloane)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Wadhams e Mougin se aproximaram da Uni\u00e3o Europeia para financiar o reboque e torn\u00e1-lo real. Ele foi seriamente considerado, afirma Wadhams, mas ningu\u00e9m queria que o nome deles fosse ligado caso algo desse errado. O interesse da imprensa internacional e o potencial de ridiculariza\u00e7\u00e3o seriam significativos. E 141 dias \u00e9 muito tempo para algo dar errado.<\/p>\n\n\n\n

Enquanto a UE disse n\u00e3o, a pr\u00f3xima parte interessada veio dos Emirados \u00c1rabes Unidos. O Abdulla Alshehi, fundador e diretor da National Advisor Bureau Limited, com sede em Masdar City – a cidade inteligente de Abu Dhabi e centralizadora de tecnologias limpas. Apesar de um hist\u00f3rico em combust\u00edveis f\u00f3sseis como consultor de g\u00e1s, sua paix\u00e3o \u00e9 o meio ambiente. Em 2015, ele auto publicou um livro intitulado “Filling the Empty Quarter: Declaring a Green Jihad On the Desert” (“Preenchendo o Quarto Vazio: declarando uma batalha verde no deserto” em tradu\u00e7\u00e3o livre), que delineou seus planos de transformar o deserto da Ar\u00e1bia em pastos verdejantes, instalando um oleoduto submarino de 500 quil\u00f4metros at\u00e9 o rio Dasht, no Paquist\u00e3o. Comparado a isso, o reboque de icebergs da Ant\u00e1rtica era uma op\u00e7\u00e3o f\u00e1cil.<\/p>\n\n\n\n

Alshehi me informa que um estudo de viabilidade mostrou que o projeto tem potencial. \u201cNosso plano mais prov\u00e1vel \u00e9 rebocar o iceberg at\u00e9 a costa leste dos Emirados \u00c1rabes Unidos, pois n\u00e3o podemos lev\u00e1-lo ao porto de Dubai devido \u00e0 profundidade do estreito de Hurmuz\u201d, ele me conta. \u201cNossa expectativa \u00e9 rebocar um iceberg de 40 milh\u00f5es de toneladas\u201d. Isso \u00e9 mais do que cinco vezes maior que o iceberg de Tenerife, j\u00e1 que grande parte dele derreteria devido \u00e0 longa dist\u00e2ncia e \u00e1guas quentes. Ela \u00e9 financiada pelo setor privado, diz Alshehi, mas ainda exige aprova\u00e7\u00e3o do governo – para conseguir isso, sua equipe primeiro precisa realizar um teste. \u201cEsperamos que no segundo trimestre de 2019 inicie o primeiro teste-piloto para a Austr\u00e1lia\u201d, diz ele.<\/p>\n\n\n\n

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O governo dos Emirados \u00c1rabes Unidos tamb\u00e9m analisou a possibilidade de usar icebergs como fonte de \u00e1gua (Cr\u00e9dito: Alamy)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Contudo, outros especialistas est\u00e3o otimistas. \u201cEstive em seu comit\u00ea de assessoria\u201d, confirma Wadhams, \u201cmas eu suspeito que, mesmo com a prote\u00e7\u00e3o anti-derretimento, voc\u00ea ainda n\u00e3o pode realmente fazer um reboque trans-equador\u201d. Os EAU (Emirados \u00c1rabes Unidos) t\u00eam os mesmos problemas como o plano saudita original, com temperaturas do mar no golfo entre 24-32 graus Celsius. Orheim descreve o plano de Alshehi como “nos limites externos do que \u00e9 realista\u2026 Voc\u00ea tem a problem\u00e1tica principal de derreter em todo o caminho”.<\/p>\n\n\n\n

Um plano que ainda pode acontecer, no entanto, \u00e9 o “assalto” da Cidade do Cabo. Desta vez, Mougin e Orheim juntaram-se a uma tripula\u00e7\u00e3o liderada pelo Capit\u00e3o Nick Sloane, da empresa de engenharia naval Resolve Marine. Sloane \u00e9 reconhecido mundialmente na \u00e1rea de salvamento mar\u00edtimo, tendo levado a equipe a recuperar o naufr\u00e1gio italiano da Costa Concordia em 2014. Quando a BBC Futuro fala com ele, ele est\u00e1 fora da costa das Filipinas salvando um barco naufragado – um enorme grua-do-mar do tamanho de um edif\u00edcio de 36 andares. Rebocar objetos grandes e desajeitados em mar agitado \u00e9 o que Sloane faz. E ele est\u00e1 convencido de que ele pode rebocar um iceberg para o Cabo.<\/p>\n\n\n\n

\u201cPassamos dois meses monitorando icebergs por sat\u00e9lite [ao redor] de nossa \u00e1rea-alvo\u201d, ele me conta. O “alvo” \u00e9 a Ilha Gough coberta de pinguins no Atl\u00e2ntico Sul, a 2.700 km (1.700 milhas) a oeste da Cidade do Cabo. L\u00e1 eles esperam pegar um iceberg de 85 a 100 milh\u00f5es de toneladas – duas vezes o tamanho da miss\u00e3o dos Emirados \u00c1rabes Unidos e 10 vezes o da proposta de Tenerife. \u201cOs icebergs \u00e1rticos s\u00e3o \u2018animais\u00b4 completamente diferentes, eles s\u00e3o inst\u00e1veis \u200b\u200be t\u00eam muitas fraturas e falhas salinas\u201d, diz Sloane. \u201cOs icebergs da Ant\u00e1rtida s\u00e3o tabulares, s\u00e3o t\u00e3o planos quanto uma mesa de jantar, s\u00e3o muito mais s\u00f3lidos e sua temperatura central \u00e9 muito mais fria.\u201d O reboque para a Cidade do Cabo, diz Sloane – que comandaria a miss\u00e3o – levaria de 80 a 90 dias, a 0.8-1.2 n\u00f3s, usando um supertanque (com mais de 20.000 cavalos de pot\u00eancia), al\u00e9m de tr\u00eas rebocadores.<\/p>\n\n\n\n

Voc\u00ea s\u00f3 precisaria de for\u00e7a bruta suficiente para alterar as trilhas do iceberg – al\u00e9m disso, as correntes fariam o trabalho de entrega.<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

No centro do plano est\u00e3o as correntes naturais que convergem ao redor da Ilha Gough: a Corrente Circumpolar, que corre como uma estrada circular de icebergs ao redor da Ant\u00e1rtida, e a Corrente de Benguela, que se move em arco da Ilha Gough em dira\u00e7\u00e3o ao cabo e subindo o oeste da costa da \u00c1frica. Sloane descreve o desafio simplesmente como “mudando trilhos de trem em uma interse\u00e7\u00e3o”. Os rebocadores precisariam apenas de for\u00e7a bruta o suficiente para mudar de pista – al\u00e9m disso, as correntes fariam o trabalho de entrega para eles. At\u00e9 mesmo o ponto de destino perto do Cabo, onde o iceberg seria fixado usando \u00e2ncoras de plataforma de petr\u00f3leo a 40 km da costa, permanece em uma corrente fria, reduzindo a taxa de derretimento. A \u00e1gua seria colhida usando t\u00e9cnicas de minera\u00e7\u00e3o a c\u00e9u aberto no topo do iceberg, com navios-tanque transportando a \u00e1gua at\u00e9 a costa.<\/p>\n\n\n\n

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A escassez de \u00e1gua na \u00c1frica do Sul \u00e9 t\u00e3o severa que algumas previs\u00f5es estimam que as torneiras da Cidade do Cabo ir\u00e3o secar em 2019 (Cr\u00e9dito: Getty Images)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Mas a \u00e1gua precisa de um comprador. Quando entro em contato com as autoridades da Cidade do Cabo, a resposta n\u00e3o \u00e9 positiva. A conselheira Xanthea Limberg, que chefia o membro do comit\u00ea para os servi\u00e7os de \u00e1gua e res\u00edduo, diz sem rodeios: \u201cEsta proposta n\u00e3o foi considerada adequada para a Cidade do Cabo\u2026 Tal projeto \u00e9 complexo e arriscado com um custo muito alto\u201d. De acordo com os c\u00e1lculos feitos pela Prefeitura, a \u00e1gua derretida custaria aproximadamente R29 por 1000 litros (aproximadamente US $ 2 ou \u00a3 1,50 por 1000 litros), excluindo o custo da infraestrutura necess\u00e1ria para obter a \u00e1gua derretida em terra, que seria \u201cprovavelmente substancial \u201d, comparado a R5,20 por 1000 litros (US $ 0,36 \/ \u00a3 0,27) dos usos de \u00e1gua de superf\u00edcie:\u201c A cidade da Cidade do Cabo est\u00e1 focada em aumentar a capta\u00e7\u00e3o de \u00e1gua subterr\u00e2nea, a dessaliniza\u00e7\u00e3o e a capacidade de tratar e reutilizar \u00e1guas residuais \u201d, diz Limberg .<\/p>\n\n\n\n

Progresso Glacial<\/strong><\/p>\n\n\n\n

No entanto, Sloane e sua equipe n\u00e3o s\u00e3o dissuadidos. Enquanto a cidade administra a infraestrutura de \u00e1gua, \u00e9 o governo nacional que a possui. Sloane confirma que os custos da cidade est\u00e3o certos. Projetos utilizando \u00e1gua de superf\u00edcie s\u00e3o realmente muito mais baratos. No entanto, a \u00e1gua do iceberg n\u00e3o competiria com a \u00e1gua subterr\u00e2nea, mas com dessaliniza\u00e7\u00e3o cara – que recebeu grandes somas de investimento da cidade. \u201cO custo de dessaliniza\u00e7\u00e3o pode estar acima de R50 ($ 3,35 \/ \u00a3 2,55) por 1000 litros\u201d , diz Sloane, \u201ce a longo prazo [incluindo o custo para construir novas usinas] come\u00e7a acima de R250 ($ 16,75 \/ \u00a3 12,75)\u2026 basicamente n\u00e3o h\u00e1 nada mais barato do que a \u00e1gua de uma barragem. N\u00f3s n\u00e3o estamos tentando substituir isso. Estamos apenas tentando complement\u00e1-lo. \u201dSloane acredita que um cano submarino poderia alimentar diretamente \u00e1gua de degelo pura nos reservat\u00f3rios, superando-os novamente.<\/p>\n\n\n\n

Em um tom final para tornar o plano palat\u00e1vel para os pol\u00edticos, a Sloane agora oferece a \u00e1gua livre de riscos. Os investidores, da Water Vision sediada na Su\u00ed\u00e7a, al\u00e9m de \u201cdois bancos sul-africanos e uma companhia de seguros\u201d, est\u00e3o se oferecendo para financiar o reboque em sua totalidade, o que significa que caso se derretam, fraturem ou se desgarram, as autoridades estaduais n\u00e3o teriam que pagar um centavo sequer. O custo seria uma taxa de entrega no momento da chegada. Pode ser a oferta certa – e a equipe certa, no local certo – que finalmente torne o reboque de iceberg uma realidade.<\/p>\n\n\n\n

Em setembro, Sloane, Orheim, Mougin e outros foram convidados a comparecer ao \u00f3rg\u00e3o consultivo do governo nacional, Water Research Commission (WRC). Sloane me diz depois que tudo correu bem. O Dr. Shafick Adams do WRC concordou que seu grupo precisava ser \u201cmais aventureiro em nosso pensamento\u201d, e estava ansioso para fazer isso, mas ainda queria mais detalhes sobre \u201ca viabilidade cient\u00edfica, ambiental e econ\u00f4mica\u201d. Sloane me diz que a janela do tempo para um rebocador de 2018 foi fechada, o que significa que seria 2019, no m\u00ednimo.<\/p>\n\n\n\n

Mas h\u00e1 uma nova reviravolta final no conto. Existem empresas e embarca\u00e7\u00f5es no mundo que j\u00e1, regularmente, rebocam icebergs. Ao longo da costa de Newfoundland, plataformas de petr\u00f3leo caras precisam ser protegidas do fluxo regular de icebergs – este \u00e9 o mar onde o Titanic foi afundado. Organiza\u00e7\u00f5es como C-Core e Atlantic Towing s\u00e3o contratadas por companhias de petr\u00f3leo para prote\u00e7\u00e3o de icebergs. E, em resumo, eles acham que os planos de Mougin e outros s\u00e3o irrealistas, para dizer o m\u00ednimo.<\/p>\n\n\n\n

Do ponto de vista da engenharia\u2026 provavelmente teria uma pegada [proibitiva] de gases de efeito estufa – Deidre Greene-Lono. <\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

Deirdre Greene-Lono, gerente de comunica\u00e7\u00f5es corporativas da C-Core, me diz educadamente, mas com desd\u00e9m: \u201cC-Core \u00e9 frequentemente questionado sobre a possibilidade de rebocar icebergs de seu ‘habitat’ natural para partes do mundo onde a escassez de \u00e1gua \u00e9 um problema, especialmente quando o conceito de Mougin flutua para a superf\u00edcie \u2026 Seria \u00f3timo se funcionassem. Mas do ponto de vista da engenharia\u2026 provavelmente teria uma pegada [proibitiva] de gases de efeito estufa \u201d<\/p>\n\n\n\n

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A Ant\u00e1rtica lan\u00e7a anualmente cerca de 2.000 bilh\u00f5es de toneladas de gelo – mais do que o consumo global total de \u00e1gua doce (Cr\u00e9dito: Getty Images)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O reboque mais longo de que ela ouviu falar durou 24 horas e foi um exerc\u00edcio log\u00edstico massivo. O diretor offshore da Atlantic Towing, Sheldon Lace, me disse que o recorde \u00e9 de tr\u00eas a quatro dias. Ele diz que transportar um iceberg grande e est\u00e1vel exigiria pelo menos 40-50 toneladas m\u00e9tricas de combust\u00edvel por dia, por navio. Um \u00fanico rebocador por 100 dias queimaria, portanto, 5.000 toneladas m\u00e9tricas de combust\u00edvel. Isso \u00e9 combust\u00edvel suficiente para dirigir um carro m\u00e9dio por 44.000.000 milhas – ou 1.767 vezes a circunfer\u00eancia da Terra.<\/p>\n\n\n\n

Na Memorial University of Newfoundland, Steve Bruneau, professor associado da faculdade de engenharia e ci\u00eancias aplicadas, \u00e9 ainda mais indiferente. “Desencorajo fortemente desperdi\u00e7ar dinheiro com o plano desesperado de rebocar icebergs para na\u00e7\u00f5es des\u00e9rticas”, diz ele. \u201cIgnorando todos os problemas t\u00e9cnicos, ambientais e termodin\u00e2micos que \u00b4matariam\u00b4 o projeto – o consumo de energia \u2026 quem pagaria por isso? Espero sinceramente que a riqueza e os valiosos recursos energ\u00e9ticos n\u00e3o sejam desperdi\u00e7ados nisso\u201d.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, tanto o reboque Atl\u00e2ntico quanto o C-Core concordam que os icebergs tabulares da Ant\u00e1rtida s\u00e3o mais f\u00e1ceis de rebocar do que seus primos \u00e1rticos, mais quentes e menos est\u00e1veis. E n\u00e3o h\u00e1, indiscutivelmente, ningu\u00e9m no mundo com experi\u00eancia mais direta com os icebergs de ambos os p\u00f3los do que Olav Orheim. Seu \u00fanico candidato real a essa coroa \u00e9 Peter Wadhams. “Trazer um iceberg para o sudoeste da \u00c1frica n\u00e3o \u00e9 longe para rebocaro<\/del><\/strong>“, insiste Wadhams. “A corrente fria que passa perto da \u00c1frica do Sul \u00e9 uma parte da corrente polar, ent\u00e3o voc\u00ea s\u00f3 precisa empurrar o iceberg, voc\u00ea n\u00e3o tem muitos problemas de derretimento.”<\/p>\n\n\n\n

Devemos tamb\u00e9m reconhecer a enorme escala do recurso dispon\u00edvel, se esses planos fossem bem-sucedidos. Orheim me diz que \u201cmais icebergs saem da Ant\u00e1rtica do que o consumo global total de \u00e1gua doce\u201d. A cada ano, s\u00e3o cerca de 140 mil icebergs, ou 2 bilh\u00f5es de toneladas de gelo. \u201cExiste um suprimento sem fim. Tudo isso derrete no mar. Ent\u00e3o, tudo o que estar\u00edamos fazendo seria trazer um ou dois para o norte. \u201d<\/p>\n\n\n\n

Debaixo da assinatura de e-mail de Nick Sloane est\u00e1 uma cita\u00e7\u00e3o de Nelson Mandela: “Tudo parece imposs\u00edvel, e ent\u00e3o est\u00e1 feito.\u201d Pergunto se foi essa a sua inspira\u00e7\u00e3o para o projeto iceberg. “N\u00e3o, esse \u00e9 o tema que levamos para a Costa Concordia [miss\u00e3o de salvamento] “, ele diz.” N\u00f3s t\u00ednhamos isso em todas as portas, todos os navios \u2026 Porque muitas pessoas at\u00e9 na equipe estavam c\u00e9ticas. Mas voc\u00ea diz, bem, se n\u00e3o come\u00e7armos, isso nunca acontecer\u00e1. Ent\u00e3o, vamos come\u00e7ar”.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC Future \/ Tim Smedley
Tradu\u00e7\u00e3o: Reda\u00e7\u00e3o Ambientebrasil \/ Maria Beatriz Ayello Leite
Para ler a reportagem original em ingl\u00eas acesse:
http:\/\/www.bbc.com\/future\/story\/20180918-the-outrageous-plan-to-haul-icebergs-to-africa<\/a>
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Como a \u00c1frica do Sul enfrenta escassez de \u00e1gua ainda mais severa, alguns especialistas est\u00e3o considerando seriamente uma proposta para rebocar icebergs da Ant\u00e1rtica e transport\u00e1-los para a Cidade do Cabo. Quais s\u00e3o as chances de sucesso? <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":153900,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4132],"tags":[1800,579,386],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/153886"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=153886"}],"version-history":[{"count":18,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/153886\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":153941,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/153886\/revisions\/153941"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/153900"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=153886"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=153886"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=153886"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}