{"id":154157,"date":"2019-09-23T02:00:53","date_gmt":"2019-09-23T05:00:53","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=154157"},"modified":"2019-09-22T22:48:42","modified_gmt":"2019-09-23T01:48:42","slug":"sem-terras-nem-mao-de-obra-japao-revoluciona-agricultura-com-robos-polimeros-e-drones","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/09\/23\/154157-sem-terras-nem-mao-de-obra-japao-revoluciona-agricultura-com-robos-polimeros-e-drones.html","title":{"rendered":"Sem terras nem m\u00e3o de obra, Jap\u00e3o revoluciona agricultura com rob\u00f4s, pol\u00edmeros e drones"},"content":{"rendered":"\n
\"Yuichi

Yuichi Mori inspirou-se nas membranas usadas em rins artificiais para desenvolver pel\u00edculas de pol\u00edmero para uso na agricultura
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

As frutas e verduras\u00a0cultivadas\u00a0pelo japon\u00eas Yuichi Mori n\u00e3o est\u00e3o no ch\u00e3o nem precisam de terra. Em vez disso, as ra\u00edzes das planta\u00e7\u00f5es est\u00e3o fincadas em um dispositivo que servia originalmente para tratamento m\u00e9dico de rins humanos.<\/p>\n\n\n\n

Mori faz seu cultivo em uma pel\u00edcula de pol\u00edmero transparente e perme\u00e1vel, \u00e0 base de hidrogel, que ajuda a armazenar l\u00edquidos e nutrientes. As plantas crescem em cima do filme, e as ra\u00edzes se desenvolvem para o lado. Al\u00e9m de permitir que os vegetais cres\u00e7am em qualquer ambiente, a t\u00e9cnica consome 90% menos \u00e1gua do que a agricultura tradicional e dispensa pesticidas, j\u00e1 que os poros do pol\u00edmero bloqueiam v\u00edrus e bact\u00e9rias.<\/p>\n\n\n\n

“Adaptei os materiais para filtrar o sangue na di\u00e1lise renal e o meio de crescimento de vegetais”, explica o pesquisador.<\/p>\n\n\n\n

Sua empresa, Mebiol, tem patentes da inven\u00e7\u00e3o registradas em quase 120 pa\u00edses (inclusive no Brasil, onde h\u00e1 empresas interessadas na tecnologia) e evidencia uma revolu\u00e7\u00e3o agr\u00edcola em curso no Jap\u00e3o: campos de cultivo est\u00e3o sendo convertidos em centros de tecnologia, com a ajuda da Intelig\u00eancia Artificial (IA), da Internet das Coisas (IoT) e de conhecimentos sa\u00eddos dos laborat\u00f3rios.<\/p>\n\n\n\n

Em um pa\u00eds com escassez de terras cultiv\u00e1veis e de m\u00e3o de obra, a agrotecnologia tem aumentado a precis\u00e3o no monitoramento e na manuten\u00e7\u00e3o da lavoura, mesmo sem uso de terra ou ent\u00e3o em \u00e1reas com acesso limitado \u00e0 \u00e1gua, uma preocupa\u00e7\u00e3o crescente em todo o mundo.<\/p>\n\n\n\n

O Relat\u00f3rio Mundial da ONU sobre Desenvolvimento dos Recursos H\u00eddricos deste ano estima que 40% da produ\u00e7\u00e3o de gr\u00e3os e 45% do Produto Interno Bruto global estar\u00e3o comprometidos em 2050 se a degrada\u00e7\u00e3o do ambiente e os recursos h\u00eddricos continuarem nas taxas atuais.<\/p>\n\n\n\n

\"Planta\u00e7\u00e3o
M\u00e9todo de produ\u00e7\u00e3o por pel\u00edculas possibilita a agricultura em qualquer lugar do planeta<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Discrimina\u00e7\u00e3o, exclus\u00e3o, marginaliza\u00e7\u00e3o, desequil\u00edbrios de poder arraigados e desigualdades materiais est\u00e3o entre os principais obst\u00e1culos para a realiza\u00e7\u00e3o dos direitos humanos \u00e0 \u00e1gua pot\u00e1vel e ao saneamento seguros para todos”, conclui o documento de 2019.<\/p>\n\n\n\n

O cultivo em pol\u00edmeros como o de Yuichi Mori supera fronteiras e j\u00e1 \u00e9 praticado em mais de 150 locais dentro do Jap\u00e3o e regi\u00f5es como o deserto dos Emirados \u00c1rabes, no Oriente M\u00e9dio. O m\u00e9todo tamb\u00e9m est\u00e1 sendo empregado na reconstru\u00e7\u00e3o de \u00e1reas agr\u00edcolas do nordeste japon\u00eas, contaminadas por subst\u00e2ncias levadas pelo tsunami que se seguiu ao grande terremoto de mar\u00e7o de 2011.<\/p>\n\n\n\n

Trator rob\u00f4<\/h2>\n\n\n\n

Com o aumento projetado na popula\u00e7\u00e3o mundial (de 7,6 bilh\u00f5es para 9,8 bilh\u00f5es em 2050), empresas apostam em grandes oportunidades de neg\u00f3cios e demanda global por alimento, al\u00e9m de um mercado em potencial para maquin\u00e1rios.<\/p>\n\n\n\n

O governo japon\u00eas subsidia atualmente o desenvolvimento de 20 tipos de rob\u00f4s, capazes de ajudar em v\u00e1rias etapas do plantio at\u00e9 a colheita em v\u00e1rios cultivos.<\/p>\n\n\n\n

Em parceria com a Universidade de Hokkaido, a empresa Yanmar desenvolveu um trator rob\u00f4 que est\u00e1 sendo testado no campo. Uma s\u00f3 pessoa consegue operar dois tratores ao mesmo tempo, gra\u00e7as a um sensor integrado que identifica os obst\u00e1culos e impede colis\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 a montadora Nissan lan\u00e7ou neste ano um rob\u00f4 equipado com GPS, conex\u00e3o WiFi e movido a energia solar. Batizado de Pato, o equipamento com o formato de uma caixa percorre campos alagados de arroz para ajudar na oxigena\u00e7\u00e3o da \u00e1gua, reduzindo o uso de pesticidas e seu impacto ambiental.<\/p>\n\n\n\n

\"\u00c1rea
\u00c1rea de seca no Zimb\u00e1bue; ONU estima que 40% da produ\u00e7\u00e3o de gr\u00e3os e 45% do Produto Interno Bruto global estar\u00e3o comprometidos em 2050 se a degrada\u00e7\u00e3o do ambiente e os recursos h\u00eddricos continuarem nas taxas atuais<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Lavoura sem gente<\/h2>\n\n\n\n

Com a tecnologia, o governo busca atrair para o campo jovens que t\u00eam pouco interesse em trabalhar diretamente na lavoura, mas com afinidade por tecnologia, em uma tentativa de reanimar um setor com cada vez menos gente.<\/p>\n\n\n\n

Em quase uma d\u00e9cada, o n\u00famero de produtores agr\u00edcolas japoneses caiu de 2,2 milh\u00f5es para 1,7 milh\u00e3o, com m\u00e9dia de idade de 67 anos. Somente 7% da popula\u00e7\u00e3o economicamente ativa do Jap\u00e3o est\u00e1 empregada no campo, e grande parcela dos agricultores trabalha apenas meio per\u00edodo.<\/p>\n\n\n\n

A topografia limita muito a agricultura do Jap\u00e3o, que consegue produzir somente 40% dos alimentos de que precisa. Cerca de 85% do territ\u00f3rio \u00e9 ocupado por montanhas e a maior parte do que resta de \u00e1rea agricult\u00e1vel \u00e9 dedicada ao arroz, cultivado em tanques intensamente irrigados.<\/p>\n\n\n\n

Esse gr\u00e3o sempre foi o alimento b\u00e1sico dos japoneses. O governo fornece subs\u00eddios para os rizicultores manterem a produ\u00e7\u00e3o em minif\u00fandios de 1 hectare, mas a mudan\u00e7a dos h\u00e1bitos alimentares tiraram o brilho do arroz nas tigelas dos japoneses.<\/p>\n\n\n\n

Com a queda de consumo anual per capita de 118 kg em 1962 para menos de 60kg de arroz nos \u00faltimos anos, o Jap\u00e3o passou a incentivar a diversifica\u00e7\u00e3o no campo. Sem gente e para continuar sustentando as planta\u00e7\u00f5es, os agricultores recorreram a maquin\u00e1rios e pesquisa biotecnol\u00f3gica. Cada vez mais drones est\u00e3o sendo usados em tarefas como a pulveriza\u00e7\u00e3o, realizando em meia hora o trabalho que consumiria um dia de um trabalhador.<\/p>\n\n\n\n

A alta tecnologia tem permitido a expans\u00e3o da \u00e1rea cultiv\u00e1vel sem uso de terra. Atrav\u00e9s da produ\u00e7\u00e3o em estufas e hidroponia, o Jap\u00e3o conseguiu expandir a produ\u00e7\u00e3o de frutas e hortali\u00e7as.<\/p>\n\n\n\n

A empresa Mirai Group, na prov\u00edncia de Chiba, \u00e9 uma das pioneiras na produ\u00e7\u00e3o de alimentos em prateleiras que v\u00e3o do ch\u00e3o ao teto, e atualmente colhe cerca de 10 mil cabe\u00e7as de alface por dia. A produtividade \u00e9 cem vezes maior em compara\u00e7\u00e3o ao m\u00e9todo convencional. Atrav\u00e9s de um dispositivo com sensores, a empresa faz o controle da luz artificial, nutriente l\u00edquido, di\u00f3xido de carbono e temperatura da cultura hidrop\u00f4nica.<\/p>\n\n\n\n

A luz artificial faz com que as plantas cres\u00e7am r\u00e1pido, e o manejo controlado elimina perdas por doen\u00e7as. Apesar do alto custo de energia que o m\u00e9todo representa, o n\u00famero de f\u00e1bricas de plantas no Jap\u00e3o triplicou em uma d\u00e9cada, chegando \u00e0s atuais 200 instala\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

\"Produ\u00e7\u00e3o
Tecnologia japonesa permite produ\u00e7\u00e3o de tomate no meio do deserto, como este em Dubai<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O mercado da hidroponia cresce no mundo todo e representa atualmente pouco mais de US$ 1,5 bilh\u00e3o em neg\u00f3cios. E segundo previs\u00e3o da Allied Market Research, ele dever\u00e1 mais que quadruplicar at\u00e9 2023, atingindo a marca de US$ 6,4 bilh\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

Transfer\u00eancia de tecnologia<\/h2>\n\n\n\n

Com o apoio da tecnologia, o Jap\u00e3o tamb\u00e9m se comprometeu a ajudars pa\u00edses do continente africano a duplicar a produ\u00e7\u00e3o anual de arroz para 50 milh\u00f5es de toneladas at\u00e9 2030. Projetos espec\u00edficos j\u00e1 s\u00e3o realizados na \u00c1frica.<\/p>\n\n\n\n

No Senegal, por exemplo, os japoneses investiram na forma\u00e7\u00e3o de t\u00e9cnicos agr\u00edcolas e transfer\u00eancia de tecnologia principalmente de irriga\u00e7\u00e3o. Como resultado, a produtividade subiu de 4 para 7 toneladas de arroz por hectare e os rendimentos dos produtores aumentaram cerca de 20%.<\/p>\n\n\n\n

A estrat\u00e9gia japonesa \u00e9 promover investimentos privados e ampliar o com\u00e9rcio de maquin\u00e1rios para a agricultura sustent\u00e1vel em todo o continente africano. No per\u00edodo de 15 anos, o PIB da \u00c1frica expandiu 3,4 vezes, de US$ 632 bilh\u00f5es em 2001 para US$ 2,1 trilh\u00f5es em 2016, e o mercado consumidor continuar\u00e1 crescendo at\u00e9 o final do s\u00e9culo, quando a popula\u00e7\u00e3o africana dever\u00e1 representar 25% do total global (hoje \u00e9 de 17%).<\/p>\n\n\n\n

Com a inten\u00e7\u00e3o de ajudar na redu\u00e7\u00e3o da perda p\u00f3s-colheita, revitalizar a ind\u00fastria de alimentos e aumentar a renda rural, em 2014 o Minist\u00e9rio da Agricultura, Silvicultura e Pesca do Jap\u00e3o formulou a Estrat\u00e9gia Global da Cadeia de Valor Alimentar para aplicar nos pa\u00edses em desenvolvimento, como Vietn\u00e3, Mianmar e Brasil.<\/p>\n\n\n\n

A presen\u00e7a do Jap\u00e3o na agricultura brasileira se confunde com a hist\u00f3ria de 111 anos da imigra\u00e7\u00e3o nip\u00f4nica no pa\u00eds. De todos os projetos j\u00e1 realizados envolvendo os dois pa\u00edses, o de maior porte continua sendo o Prodecer (Programa de Coopera\u00e7\u00e3o Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento dos Cerrados), idealizado na d\u00e9cada de 1970. Para resolver problema de abastecimento japon\u00eas, foram incorporadas extensas \u00e1reas do Cerrado para o desenvolvimento de tecnologia para a produ\u00e7\u00e3o de gr\u00e3os, principalmente milho, soja e trigo em uma terra que o Brasil considerava inf\u00e9rtil.<\/p>\n\n\n\n

Agora, os neg\u00f3cios se voltam a novas fronteiras. Em 2016, Brasil e Jap\u00e3o assinaram acordo de coopera\u00e7\u00e3o de investimentos na regi\u00e3o do Matopiba (munic\u00edpios dos estados do Maranh\u00e3o, Tocantins, Piau\u00ed e Bahia). Os brasileiros buscam inova\u00e7\u00f5es em conectividade nas \u00e1reas rurais, agricultura de precis\u00e3o, rastreabilidade e automatiza\u00e7\u00e3o desenvolvidas pelos japoneses.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"