{"id":154178,"date":"2019-09-24T10:00:13","date_gmt":"2019-09-24T13:00:13","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=154178"},"modified":"2019-09-23T21:47:11","modified_gmt":"2019-09-24T00:47:11","slug":"o-tesouro-de-us-20-bilhoes-perdido-no-mar-da-colombia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/09\/24\/154178-o-tesouro-de-us-20-bilhoes-perdido-no-mar-da-colombia.html","title":{"rendered":"O tesouro de US$ 20 bilh\u00f5es perdido no mar da Col\u00f4mbia"},"content":{"rendered":"\n
\"Casal

Acredita-se que o navio naufragado San Jos\u00e9 fique na regi\u00e3o das Ilhas Ros\u00e1rio, na Col\u00f4mbia
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Era 8 de junho de 1708 quando o gale\u00e3o espanhol San Jos\u00e9 sucumbiu \u00e0s chamas na costa de Cartagena, na atual Col\u00f4mbia.<\/p>\n\n\n\n

A embarca\u00e7\u00e3o estava em batalha com os brit\u00e2nicos desde o fim da tarde e, \u00e0 noite, o navio com 62 canh\u00f5es desapareceu no mar do Caribe.<\/p>\n\n\n\n

Com ele, afundaram quase 600 pessoas e at\u00e9 US$ 20 bilh\u00f5es (cerca de R$ 82 bilh\u00f5es) em ouro, prata e joias.<\/p>\n\n\n\n

Por s\u00e9culos, o San Jos\u00e9 ficou perdido no fundo do oceano. Mas o mist\u00e9rio em torno do navio come\u00e7ou a ser desvendado em 2015, quando o governo colombiano anunciou que ele havia sido oficialmente encontrado.<\/p>\n\n\n\n

Quatro anos depois, o gale\u00e3o ainda est\u00e1 a 600m de profundidade nas \u00e1guas colombianas \u2014 e, agora, est\u00e1 tamb\u00e9m no centro de uma disputa de cust\u00f3dia entre v\u00e1rias partes que reivindicam suas riquezas.<\/p>\n\n\n\n

O governo colombiano n\u00e3o revelou a localiza\u00e7\u00e3o exata do famoso gale\u00e3o, conhecido como o “santo graal” dos naufr\u00e1gios. Dizem que o San Jos\u00e9 est\u00e1 perto das Ilhas Ros\u00e1rio, um arquip\u00e9lago tropical e parque nacional a 40 km de Cartagena.<\/p>\n\n\n\n

Multid\u00f5es de pequenas lanchas navegam por aquelas \u00e1guas enquanto transportam turistas que v\u00e3o \u00e0s praias e ilhas dali todos os dias.<\/p>\n\n\n\n

O mist\u00e9rio sobre sua localiza\u00e7\u00e3o faz parte do fasc\u00ednio que o navio tem exercido ao longo do tempo.<\/p>\n\n\n\n

O escritor Gabriel Garc\u00eda M\u00e1rquez, pr\u00eamio Nobel de Literatura, escreveu sobre o gale\u00e3o no\u00a0livro\u00a0O Amor nos Tempos do C\u00f3lera<\/em>, em que o personagem principal do romance, Florentino Ariza, planejava mergulhar e recuperar as riquezas do San Jos\u00e9 por seu amor de uma vida inteira.<\/p>\n\n\n\n

Batalha na costa<\/h2>\n\n\n\n

“O Caribe \u00e9 muito m\u00e1gico”, diz Bibiana Rojas Mej\u00eda, moradora de Bogot\u00e1 que passava o dia na praia com sua fam\u00edlia em Isla Grande, a maior das ilhas da regi\u00e3o. “Esse \u00e9 o realismo m\u00e1gico do nosso pa\u00eds. N\u00e3o sabemos quanto [tesouro] h\u00e1 realmente no gale\u00e3o San Jos\u00e9. Tudo pode ser uma grande lenda.”<\/p>\n\n\n\n

O gale\u00e3o San Jos\u00e9 deixou a cidade portu\u00e1ria de Portobelo, no Panam\u00e1, no final de maio de 1708.<\/p>\n\n\n\n

Estava carregado de ouro, prata e pedras preciosas extra\u00eddas do que era o Peru controlado pela Espanha. As riquezas tinham como destinat\u00e1rio o rei Filipe V da Espanha, que contava com recursos de suas col\u00f4nias para financiar a Guerra da Sucess\u00e3o Espanhola.<\/p>\n\n\n\n

A inten\u00e7\u00e3o era fazer apenas uma parada r\u00e1pida em Cartagena para preparar o San Jos\u00e9 para sua longa jornada at\u00e9 Havana (Cuba) e depois para a Espanha. O capit\u00e3o do gale\u00e3o, Jos\u00e9 Fern\u00e1ndez de Santill\u00e1n, sabia que os brit\u00e2nicos envolvidos na guerra poderiam ter navios esperando para atacar na regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Mas o capit\u00e3o seguiu de qualquer maneira. E naquele 8 de junho, uma batalha pelo tesouro do San Jos\u00e9 come\u00e7ou.<\/p>\n\n\n\n

A Marinha brit\u00e2nica \u2014 munida com pistolas, espadas e facas \u2014 tentou tr\u00eas vezes abordar o gale\u00e3o e tom\u00e1-lo, explica Gonzalo Zu\u00f1iga, curador do Museu Naval do Caribe, em Cartagena.<\/p>\n\n\n\n

“O San Jos\u00e9 estava vencendo a batalha”, conta. “Mas n\u00e3o sabemos em que condi\u00e7\u00f5es o San Jos\u00e9 ficou nos \u00faltimos [momentos].”<\/p>\n\n\n\n

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Em 2015, o San Jos\u00e9 foi ‘oficialmente’ descoberto por um submarino rob\u00f3tico chamado REMUS 6000<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O gale\u00e3o pode ter perdido uma vela, diz ele, ou os passageiros podem ter se revoltado contra o capit\u00e3o \u2014 a maioria era de civis que n\u00e3o estavam sob ordens de ningu\u00e9m.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, \u00e9 ineg\u00e1vel que nenhum dos lados queria que o gale\u00e3o e seus tesouros afundassem. A teoria de Zu\u00f1iga \u00e9 que, em vez de entregar o San Jos\u00e9 e retornar \u00e0 Espanha de m\u00e3os vazias, seu capit\u00e3o pode ter acendido a p\u00f3lvora do pr\u00f3prio navio.<\/p>\n\n\n\n

Nova disputa pelo tesouro<\/h2>\n\n\n\n

Em 27 de novembro de 2015, o San Jos\u00e9 foi “oficialmente” descoberto por um submarino rob\u00f3tico chamado REMUS 6000, operado pela Instituto Oceanogr\u00e1fico Woods Hole, com sede nos EUA.<\/p>\n\n\n\n

O ve\u00edculo aut\u00f4nomo subaqu\u00e1tico de quase 4m de comprimento pode explorar at\u00e9 6 km abaixo da superf\u00edcie do mar e chegou a apenas 9m do San Jos\u00e9 para tirar fotos \u2014 retratando seus canh\u00f5es de bronze gravados com golfinhos, caracter\u00edstica que ajudou os pesquisadores a identificar o navio.<\/p>\n\n\n\n

“O gale\u00e3o San Jos\u00e9 \u00e9 um epicentro de informa\u00e7\u00f5es sobre a [hist\u00f3ria] colonial”, diz o diretor do Instituto Colombiano de Antropologia e Hist\u00f3ria, Ernesto Montenegro. “Representa quase 300 anos de\u00a0hist\u00f3ria\u00a0colonial da Europa, e principalmente da Espanha, sobre o territ\u00f3rio americano.”<\/p>\n\n\n\n

Estima-se que a costa da Col\u00f4mbia abrigue cerca de mil navios naufragados. Mas, apesar do gale\u00e3o San Jos\u00e9 ter sido encontrado em \u00e1guas colombianas, n\u00e3o h\u00e1 garantia de que ele permanecer\u00e1 dentro de suas fronteiras.<\/p>\n\n\n\n

A Espanha demonstrou interesse em reivindicar parte do gale\u00e3o, assim como a na\u00e7\u00e3o ind\u00edgena boliviana Qhara Qhara, de cuja terra (uma vez parte do vice-reinado do Peru) foram extra\u00eddas as riquezas do San Jos\u00e9.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, o navio \u00e9 parte de batalhas legais h\u00e1 quase 40 anos. A empresa americana de resgate Sea Search Armada (SSA) diz ter encontrado o navio no in\u00edcio dos anos 80 e reivindica 50% de seu conte\u00fado, o que, segundo a SSA, fazia parte de um acordo com a Col\u00f4mbia na \u00e9poca.<\/p>\n\n\n\n

Segundo a companhia, o Supremo Tribunal da Col\u00f4mbia decidiu a seu favor em 2007.<\/p>\n\n\n\n

O ex-presidente colombiano Juan Manuel Santos n\u00e3o deu cr\u00e9dito \u00e0 SSA quando anunciou que a Col\u00f4mbia havia encontrado o gale\u00e3o em 2015. A vice-presidente colombiana Marta Luc\u00eda Ram\u00edrez disse em um comunicado em junho que “a SSA n\u00e3o tem direito sobre o gale\u00e3o San Jos\u00e9 ou seu conte\u00fado” porque as coordenadas onde afirmam ter encontrado o gale\u00e3o n\u00e3o correspondem \u00e0 localiza\u00e7\u00e3o real.<\/p>\n\n\n\n

O caso ainda est\u00e1 esperando delibera\u00e7\u00e3o em um tribunal superior colombiano.<\/p>\n\n\n\n

‘Direito \u00e0 conserva\u00e7\u00e3o’<\/h2>\n\n\n\n

Neste ano, o governo colombiano tamb\u00e9m adiou a assinatura de um contrato com outra empresa privada para retirar o gale\u00e3o do fundo do mar.<\/p>\n\n\n\n

At\u00e9 agora, apenas uma companhia, a Consultoria de Arqueologia Mar\u00edtima (MAC), que participou da prospec\u00e7\u00e3o de 2015, era candidata.<\/p>\n\n\n\n

A parceria com uma empresa privada poderia mais uma vez dividir o conte\u00fado do San Jos\u00e9 \u2014 quer dizer, os itens n\u00e3o classificados como patrim\u00f4nio cultural, o que ainda precisa ser definido pela Col\u00f4mbia.<\/p>\n\n\n\n

“A humanidade tem o direito incontest\u00e1vel de conhecer o [gale\u00e3o San Jos\u00e9] e conhec\u00ea-lo completamente. A Col\u00f4mbia precisa se colocar como um custodiante digno”, defende o historiador Francisco Mu\u00f1oz, um especialista no gale\u00e3o San Jos\u00e9.<\/p>\n\n\n\n

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Em 1708, o gale\u00e3o espanhol San Jos\u00e9 afundou na costa de Cartagena, Col\u00f4mbia<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Ele defende que essa reivindica\u00e7\u00e3o tome forma em um museu em Cartagena para exibir todas as riquezas do gale\u00e3o na \u00edntegra \u2014 algo sugerido tamb\u00e9m pelo governo.<\/p>\n\n\n\n

“Quem n\u00e3o visitaria essa exposi\u00e7\u00e3o \u00fanica?”, instiga Mu\u00f1oz. “Os visitantes ficariam absorvidos e obcecados com as hist\u00f3rias que o [gale\u00e3o San Jos\u00e9] contaria.”<\/p>\n\n\n\n

Em 2018, o ex-presidente Santos escreveu no Twitter: “O gale\u00e3o de San Jos\u00e9, afundado sob \u00e1guas nacionais, \u00e9 uma das maiores descobertas da hist\u00f3ria. Com a lei referente ao patrim\u00f4nio cultural submerso, podemos recuper\u00e1-lo.”<\/p>\n\n\n\n

Ainda assim, dizem especialistas, esse \u00e9 um projeto que n\u00e3o pode ser apressado.<\/p>\n\n\n\n

“[O navio] est\u00e1 submerso h\u00e1 300 anos, e isso garante o direito \u00e0 conserva\u00e7\u00e3o”, diz o arque\u00f3logo subaqu\u00e1tico Juan Guillermo Mart\u00edn.<\/p>\n\n\n\n

“Se n\u00e3o temos condi\u00e7\u00f5es agora na Col\u00f4mbia de assumir o resgate… n\u00e3o h\u00e1 sentido em faz\u00ea-lo. \u00c9 um princ\u00edpio fundamental de responsabilidade pela heran\u00e7a colombiana, mas tamb\u00e9m pela humanidade.”<\/p>\n\n\n\n

O San Jos\u00e9 ainda precisa ser retirado da \u00e1gua, e isso faz com que o projeto de um museu em Cartagena ainda esteja distante. Os colombianos tamb\u00e9m n\u00e3o conquistaram ainda a garantia de que esse precioso navio permane\u00e7a dentro de suas fronteiras.<\/p>\n\n\n\n

Assim, por enquanto, os visitantes de Cartagena e das Ilhas Ros\u00e1rio ainda precisam recorrer ao mesmo lugar a que diversas pessoas precisaram ir para desfrutar um pouco do precioso e fascinante San Jos\u00e9: a imagina\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"