{"id":154512,"date":"2019-10-11T09:00:07","date_gmt":"2019-10-11T12:00:07","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=154512"},"modified":"2019-10-10T22:03:45","modified_gmt":"2019-10-11T01:03:45","slug":"as-pistas-que-podem-ajudar-a-desvendar-misterio-de-petroleo-que-atingiu-praias-do-nordeste","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/10\/11\/154512-as-pistas-que-podem-ajudar-a-desvendar-misterio-de-petroleo-que-atingiu-praias-do-nordeste.html","title":{"rendered":"As pistas que podem ajudar a desvendar mist\u00e9rio de petr\u00f3leo que atingiu praias do Nordeste"},"content":{"rendered":"\n
\"Foco

A investiga\u00e7\u00e3o sobre o incidente passa por elementos como datas de avistamento nas praias, correntes marinhas do oceano Atl\u00e2ntico e rotas das embarca\u00e7\u00f5es
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O primeiro sinal do petr\u00f3leo derramado foi registrado em tr\u00eas praias do litoral paraibano, no dia 30 de agosto. Nos 40 dias seguintes, o vazamento se espalhou por 63 cidades nos 9 Estados do Nordeste. Doze tartarugas marinhas morreram e mais de 130 toneladas do \u00f3leo cru foram recolhidas das praias no epis\u00f3dio que j\u00e1 \u00e9 considerado o maior desastre ambiental do pa\u00eds em extens\u00e3o territorial.<\/p>\n\n\n\n

Mas como uma quantidade t\u00e3o grande de petr\u00f3leo caiu no mar sem deixar vest\u00edgios? Quem est\u00e1 no radar da Marinha e Pol\u00edcia Federal?<\/p>\n\n\n\n

A investiga\u00e7\u00e3o da origem do \u00f3leo est\u00e1 sendo conduzida pela Marinha, e a investiga\u00e7\u00e3o criminal \u00e9 alvo da Pol\u00edcia Federal. Tudo feito com apoio da Petrobras. Uma s\u00e9rie de hip\u00f3teses foi levantada por autoridades, especialistas e ativistas, sendo as principais delas: limpeza ilegal de navio, naufr\u00e1gio, vazamento acidental e a\u00e7\u00e3o criminosa.<\/p>\n\n\n\n

Participam da opera\u00e7\u00e3o para identificar a origem do vazamento de \u00f3leo cru 1.500 militares, cinco navios, uma aeronave e diversas embarca\u00e7\u00f5es e viaturas de delegacias e capitanias dos portos. A reportagem da BBC News Brasil procurou os \u00f3rg\u00e3os que participam da investiga\u00e7\u00e3o, mas nenhum deles se manifestou oficialmente ou revelou detalhes sobre as linhas de investiga\u00e7\u00e3o. <\/p>\n\n\n\n

“Aproximadamente 140 navios fizeram trajeto por aquela regi\u00e3o. Pode ser algo criminoso, pode ser um vazamento acidental. Pode ser um navio que naufragou tamb\u00e9m. Agora, \u00e9 complexo. Temos no radar um pa\u00eds que pode ser o da origem do petr\u00f3leo e continuamos trabalhando da melhor maneira poss\u00edvel”, disse o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.<\/p>\n\n\n\n

Os professores de engenharia de petr\u00f3leo da Universidade de S\u00e3o Paulo (USP) Ricardo Cabral de Azevedo e Patricia Matai disseram que \u00e9 necess\u00e1rio fazer o monitoramento por sat\u00e9lite para identificar a pluma de contamina\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“Com base nisso, \u00e9 poss\u00edvel identificar a origem e a trajet\u00f3ria da pluma”, disseram por meio de email.<\/p>\n\n\n\n

Para a dupla, por\u00e9m, \u00e9 dif\u00edcil saber com base apenas nesta informa\u00e7\u00e3o qual a embarca\u00e7\u00e3o seria respons\u00e1vel pelo despejo de \u00f3leo devido \u00e0 quantidade de navios que passaram pela regi\u00e3o no mesmo per\u00edodo.<\/p>\n\n\n\n

\"Tr\u00eas
Tartaruga coberta de \u00f3leo \u00e9 tratada no Centro de Reabilita\u00e7\u00e3o de Mam\u00edferos Marinhos em Caucaia, Cear\u00e1; pelo menos dez tartarugas j\u00e1 morreram em meio a vazamentos no Nordeste<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Onde foi produzido o petr\u00f3leo derramado?<\/h2>\n\n\n\n

Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, com a\u00a0tecnologia\u00a0dispon\u00edvel hoje, a investiga\u00e7\u00e3o completa poderia ser relativamente simples, mas deve depender tamb\u00e9m de colabora\u00e7\u00e3o de outros pa\u00edses e empresas estrangeiras.<\/p>\n\n\n\n

Primeiro, \u00e9 preciso definir a composi\u00e7\u00e3o do material encontrado. Um dos indicadores \u00e9 o chamado grau API, escala criada pelo Instituto Americano de Petr\u00f3leo para medir a densidade relativa de l\u00edquidos derivados do petr\u00f3leo em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 \u00e1gua. Quanto menor o n\u00edvel, mais denso e menos valioso ele \u00e9.<\/p>\n\n\n\n

Abaixo de 10, a exemplo do betume, afundaria no mar. Acima de 30 s\u00e3o os considerados leves, como o pr\u00e9-sal da Bacia de Santos (31), que correspondem a quase um ter\u00e7o da produ\u00e7\u00e3o brasileira.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, \u00e0 medida que o \u00f3leo passa tempo no mar, sua densidade vai aumentando.<\/p>\n\n\n\n

Em resposta \u00e0 BBC News Brasil, a Petrobras disse que “a an\u00e1lise realizada em amostras de petr\u00f3leo cru encontrado em praias do Nordeste atestou, por meio da observa\u00e7\u00e3o de mol\u00e9culas espec\u00edficas, que a fam\u00edlia de compostos org\u00e2nicos do material encontrado n\u00e3o \u00e9 compat\u00edvel com a dos \u00f3leos produzidos e comercializados pela companhia”.<\/p>\n\n\n\n

Ainda em nota, a empresa disse que os testes foram realizados nos laborat\u00f3rios do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), no Rio de Janeiro.<\/p>\n\n\n\n

Nesta quarta-feira (9), autoridades brasileiras afirmaram \u00e0 imprensa que as an\u00e1lises dos perfis qu\u00edmicos das amostras coletadas s\u00e3o compat\u00edveis com caracter\u00edsticas do petr\u00f3leo produzido na Venezuela, um tipo mais pesado.<\/p>\n\n\n\n

A investiga\u00e7\u00e3o sobre a bandeira da embarca\u00e7\u00e3o (em que pa\u00eds est\u00e1 registrada) faz parte de outra etapa.<\/p>\n\n\n\n

Tamb\u00e9m n\u00e3o foi poss\u00edvel determinar, por ora, h\u00e1 quanto tempo o \u00f3leo foi extra\u00eddo.<\/p>\n\n\n\n

Qual \u00e9 a origem do derramamento?<\/h2>\n\n\n\n

A montagem do quebra-cabe\u00e7as segue um caminho de certo modo invertido, voltando no tempo.<\/p>\n\n\n\n

A investiga\u00e7\u00e3o sobre quando e onde come\u00e7ou o incidente passa principalmente pela combina\u00e7\u00e3o de cinco elementos: densidade do \u00f3leo, datas de avistamento nas praias, correntes marinhas do oceano Atl\u00e2ntico, dire\u00e7\u00e3o e intensidade dos ventos e rotas das embarca\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

O cronograma da chegada do petr\u00f3leo \u00e0s praias do Nordeste d\u00e1 pistas importantes sobre o marco zero do vazamento, que pode variar em estimativas de especialistas de 40 a centenas de quil\u00f4metros da costa de Pernambuco e da Para\u00edba. Parte das cidades atingidas continua recebendo o material.<\/p>\n\n\n\n

Segundo autoridades envolvidas com a investiga\u00e7\u00e3o, a mancha avan\u00e7a aproximadamente 10 cent\u00edmetros por segundo, em m\u00e9dia.<\/p>\n\n\n\n

Soma-se a isso a densidade da subst\u00e2ncia encontrada em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 \u00e1gua do mar e os movimentos naturais do ar e do oceano. Na prov\u00e1vel \u00e1rea de in\u00edcio do vazamento, segundo dados de sat\u00e9lite obtidos pr\u00f3ximos \u00e0 data de publica\u00e7\u00e3o desta reportagem, os ventos seguem do sudeste para noroeste, como se “sa\u00edssem” do meio do Atl\u00e2ntico Sul e “bifurcassem” em dire\u00e7\u00e3o ao litoral nordestino e aos pa\u00edses do Caribe.<\/p>\n\n\n\n

Esse sentido se assemelha ao das correntes marinhas de superf\u00edcie na \u00e1rea.<\/p>\n\n\n\n

Com modelos matem\u00e1ticos, \u00e9 poss\u00edvel tra\u00e7ar trajetos prov\u00e1veis do caminho que o \u00f3leo percorreu e estimar uma prov\u00e1vel \u00e1rea de origem do vazamento, mas falta o principal: que navios passaram por ali?<\/p>\n\n\n\n

“A imagem em tempo real est\u00e1 a\u00ed, dispon\u00edvel. \u00c9 s\u00f3 juntar os pedacinhos, rodar o rel\u00f3gio ao contr\u00e1rio”, explica o ocean\u00f3grafo Tarcisio A. Cordeiro, professor da Universidade Federal da Para\u00edba (UFPB) e do laborat\u00f3rio de Ecologia e de Sistemas Costeiros.<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 uma s\u00e9rie de ferramentas na internet que permitem identificar em tempo real a posi\u00e7\u00e3o e a rota das embarca\u00e7\u00f5es por sat\u00e9lite, al\u00e9m de mapear o hist\u00f3rico do tr\u00e1fego \u2014 servi\u00e7os semelhantes existem tamb\u00e9m para avi\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, as investiga\u00e7\u00f5es do Cismar (Centro Integrado de Seguran\u00e7a da Marinha) identificaram a presen\u00e7a de 140 navios-tanque durante o m\u00eas de agosto na \u00e1rea analisada pelas autoridades, estimada em 36 milhas n\u00e1uticas quadradas \u2014 ou 123 quil\u00f4metros quadrados, quase o tamanho da capital potiguar, Natal (167 quil\u00f4metros quadrados).<\/p>\n\n\n\n

As embarca\u00e7\u00f5es que se encaixam no perfil investigado (com transporte de petr\u00f3leo cru) foram notificadas a prestar esclarecimentos.<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 duas linhas retas de tr\u00e1fego que quase se cruzam a quase 400 quil\u00f4metros da costa: uma que liga o Caribe e o Golfo do M\u00e9xico ao sul da \u00c1frica em dire\u00e7\u00e3o ao Sudeste Asi\u00e1tico e outra que parte do litoral do Sudeste Brasileiro rumo \u00e0 Europa.<\/p>\n\n\n\n

A quantidade de \u00f3leo encontrada at\u00e9 agora tamb\u00e9m d\u00e1 poucas pistas sobre o que de fato aconteceu ali. Foram coletadas nas praias mais de 130 toneladas de \u00f3leo, mas embarca\u00e7\u00f5es como o Suez Max, da Transpetro, para transporte de \u00f3leo cru podem levar mais de 170 mil toneladas.<\/p>\n\n\n\n

Esses cen\u00e1rios levam em conta que o \u00f3leo vazou recentemente, mas existe tamb\u00e9m a possibilidade de o \u00f3leo encontrado estar no oceano h\u00e1 meses ou anos, dentro de uma embarca\u00e7\u00e3o que naufragou, por exemplo.<\/p>\n\n\n\n

\"Praia
Relat\u00f3rio da Petrobras mostra que res\u00edduos s\u00e3o mistura de \u00f3leos do tipo extra\u00eddo na Venezuela<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O que pode acontecer quando os respons\u00e1veis forem identificados?<\/h2>\n\n\n\n

A doutora em planejamento ambiental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Cristiane Jaccoud afirmou que uma s\u00e9rie de vari\u00e1veis devem ser analisadas para saber quais mecanismos jur\u00eddicos dever\u00e3o ser acionados, antes de aplicar qualquer tipo de puni\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“Enquanto a gente n\u00e3o consegue identificar a causa desse problema, a gente fica travado. Se foi algo causado por um navio estrangeiro, ser\u00e1 aplicada a regra internacional. O respons\u00e1vel pelo navio \u00e9 respons\u00e1vel pelo dano e deve pagar por ele. Enquanto isso, \u00e9 necess\u00e1rio destinar todos os esfor\u00e7os e estrutura para a conting\u00eancia e evitar maiores danos”, afirmou.<\/p>\n\n\n\n

Jaccoud diz ainda que o Brasil ainda pode pedir ajuda para a Organiza\u00e7\u00e3o Mar\u00edtima Internacional, um bra\u00e7o da ONU, para bancar parte dos preju\u00edzos.<\/p>\n\n\n\n

“O Brasil pode recorrer ao fundo de direitos difusos para a\u00e7\u00f5es civis p\u00fablicas para indeniza\u00e7\u00f5es ambientais. Mas a responsabiliza\u00e7\u00e3o vai ficar para um segundo momento. O importante agora \u00e9 tomar todas as medidas poss\u00edveis para evitar mais danos”, afirmou.<\/p>\n\n\n\n

Ela acredita que a principal hip\u00f3tese para a origem do \u00f3leo \u00e9 um descarte irregular e afirma que \u00e9 a primeira vez que ela v\u00ea um vazamento t\u00e3o grande demorar tanto tempo para identificar o respons\u00e1vel. Descartes irregulares podem ocorrer no caso de avaria no casco das embarca\u00e7\u00f5es que possa representar risco de naufr\u00e1gio.<\/p>\n\n\n\n

“Quando \u00e9 vazamento em plataforma, voc\u00ea identifica r\u00e1pido. Quando h\u00e1 colis\u00e3o, ele derrama \u00f3leo e naufraga. Acidentes s\u00e3o evidentes. Se fosse isso, a gente j\u00e1 teria identificado. Essa demora nos faz ter uma desconfian\u00e7a maior sobre um descarte irregular por conta de navios sem rastreadores, que passam sem ser vistos pelos radares”, afirmou.<\/p>\n\n\n\n

Ela afirma que a responsabilidade com os planos de conting\u00eancia \u00e9 do governo federal, que tamb\u00e9m recebe apoio da Petrobras.<\/p>\n\n\n\n

“Devido \u00e0 expertise e a estrutura institucional, a Petrobras foi formalmente requisitada para auxiliar na conting\u00eancia, assim como outras institui\u00e7\u00f5es. Isso n\u00e3o significa que a empresa seja respons\u00e1vel pelo acidente. Inclusive, os custos com essa conting\u00eancia dever\u00e3o ser ressarcidos posteriormente pelos respons\u00e1veis pelo vazamento”, afirmou.<\/p>\n\n\n\n

Especialistas ouvidos pela reportagem descartam a possibilidade de o \u00f3leo ter vindo de uma lavagem ilegal dos tanques de petroleiros. Normalmente, a quantidade de \u00f3leo lan\u00e7ada no mar em opera\u00e7\u00f5es de lavagem ilegal de tanques \u00e9 bem menor do que as mais de 130 toneladas que atingiram a costa nordestina.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n\n\n\n


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