{"id":154769,"date":"2019-10-21T12:50:42","date_gmt":"2019-10-21T15:50:42","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=154769"},"modified":"2019-10-20T20:45:54","modified_gmt":"2019-10-20T23:45:54","slug":"mineracao-de-uranio-no-sertao-da-bahia-traz-a-tona-memoria-de-contaminacao","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/10\/21\/154769-mineracao-de-uranio-no-sertao-da-bahia-traz-a-tona-memoria-de-contaminacao.html","title":{"rendered":"Minera\u00e7\u00e3o de ur\u00e2nio no sert\u00e3o da Bahia traz \u00e0 tona mem\u00f3ria de contamina\u00e7\u00e3o"},"content":{"rendered":"\n
\"Mina

Houve pelo menos cinco acidentes com material radioativo no ciclo anterior de minera\u00e7\u00e3o em Caetit\u00e9, entre 2000 e 2014
<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Um dos objetivos do governo de Jair Bolsonaro \u00e9 retomar projetos da\u00a0ind\u00fastria nuclear. Em 26 de setembro, foi anunciada a constru\u00e7\u00e3o de seis novas usinas no pa\u00eds at\u00e9 2050, como parte do Plano Nacional de Energia, com investimentos previstos de R$ 30 bilh\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

Dias depois, em 7 de outubro, o governo liberou os trabalhos, ainda que preliminares, em uma mina de ur\u00e2nio no sert\u00e3o da Bahia, sob responsabilidade das Ind\u00fastrias Nucleares do Brasil (INB). N\u00e3o h\u00e1 explora\u00e7\u00e3o nessa \u00e1rea h\u00e1 cinco anos.<\/p>\n\n\n\n

A autoriza\u00e7\u00e3o trouxe de volta \u00e0 mem\u00f3ria de quem vive nos munic\u00edpios de Caetit\u00e9 e Lagoa Real problemas graves ligados \u00e0 minera\u00e7\u00e3o do material radioativo. Autoridades denunciam casos de c\u00e2ncer na popula\u00e7\u00e3o local provocados pelo contato com a radia\u00e7\u00e3o e danos ainda pouco conhecidos ao meio ambiente.<\/p>\n\n\n\n

S\u00f3 entre 2000 e 2009, houve pelo menos cinco acidentes que contaminaram parte dos rios e solo da regi\u00e3o, de acordo com um relat\u00f3rio da Secretaria de Sa\u00fade da Bahia ao qual a BBC News Brasil teve acesso. Antes da atual retomada, a INB explorou a \u00e1rea at\u00e9 2014.<\/p>\n\n\n\n

A licen\u00e7a concedida pela Comiss\u00e3o Nacional de Energia Nuclear (CNEN) no \u00faltimo dia 7 autoriza extra\u00e7\u00e3o na mina do Engenho, que \u00e9 parte da usina de beneficiamento nuclear da INB em Caetit\u00e9, a 645 km de Salvador.<\/p>\n\n\n\n

A retomada da minera\u00e7\u00e3o de ur\u00e2nio no sert\u00e3o da Bahia tem apoio do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque \u2013 que foi diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnol\u00f3gico da Marinha no governo de\u00a0Dilma Rousseff.<\/p>\n\n\n\n

Em setembro, Albuquerque defendeu o investimento em energia nuclear brasileira na Confer\u00eancia Geral da Ag\u00eancia Internacional de Energia At\u00f4mica, em Viena, e disse que prev\u00ea “um novo modelo de neg\u00f3cios para a minera\u00e7\u00e3o de ur\u00e2nio e a gest\u00e3o de rejeitos de minera\u00e7\u00e3o, incluindo parcerias p\u00fablico-privadas”.<\/p>\n\n\n\n

Monop\u00f3lio estatal<\/h2>\n\n\n\n

A minera\u00e7\u00e3o de elementos radioativos como o ur\u00e2nio tem hoje monop\u00f3lio do governo por meio dessa empresa estatal mista, ligada ao Minist\u00e9rio da Ci\u00eancia, Tecnologia, Inova\u00e7\u00f5es e Comunica\u00e7\u00f5es. Em abril de 2019, a mesma comiss\u00e3o j\u00e1 havia renovado a licen\u00e7a de opera\u00e7\u00e3o da usina de beneficiamento como um todo, que fica a 40 km do centro de Caetit\u00e9, em uma das etapas da retomada das opera\u00e7\u00f5es no complexo.<\/p>\n\n\n\n

Segundo a assessoria de imprensa da INB, ainda faltam etapas do licenciamento da CNEN, al\u00e9m de uma licen\u00e7a do Ibama, para que a extra\u00e7\u00e3o de ur\u00e2nio recomece plenamente na mina do Engenho. Da libera\u00e7\u00e3o no dia 7 para c\u00e1, foi autorizada uma opera\u00e7\u00e3o na qual o ur\u00e2nio j\u00e1 extra\u00eddo \u00e9 quebrado e organizado em pilhas, de onde \u00e9 retirado um l\u00edquido pastoso que depois segue \u00e0s etapas de enriquecimento nuclear.<\/p>\n\n\n\n

Oficialmente, a unidade federal de beneficiamento e minera\u00e7\u00e3o em Caetit\u00e9 ocupa uma \u00e1rea de 1,7 mil hectares – mais de 2 mil campos de futebol – e tem 99 mil toneladas de ur\u00e2nio em reservas. Entre 2000 e 2014, a INB extraiu 3.750 toneladas de min\u00e9rio de ur\u00e2nio, altamente radioativo, da mina de Cachoeira, tamb\u00e9m parte do complexo de Caetit\u00e9 e hoje inativa.<\/p>\n\n\n\n

Segundo sua assessoria, a estatal “desenvolve um programa de recupera\u00e7\u00e3o de \u00e1reas degradadas, aprovado pelo Ibama, como medida de compensa\u00e7\u00e3o ambiental” pelas atividades ali.<\/p>\n\n\n\n

O ur\u00e2nio retirado do solo pela INB \u00e9 concentrado em um formato l\u00edquido, chamado de licor, e depois enriquecido, tornando-se um p\u00f3 de tom amarelo vivo chamado “yellow cake”. Depois, este \u00e9 transportado em caminh\u00f5es por mais de 700 km at\u00e9 Salvador.<\/p>\n\n\n\n

O material passa por cerca de 40 munic\u00edpios e, da capital baiana, \u00e9 enviado em navios para Canad\u00e1 e Holanda, onde cumpre outras etapas do enriquecimento, segundo um relat\u00f3rio do Greenpeace de 2008. Ao fim, ele retorna como combust\u00edvel para os reatores das usinas nucleares de Angra 1 e 2, no litoral do Rio de Janeiro.<\/p>\n\n\n\n

\"Homem
Ur\u00e2nio de Caetit\u00e9, depois de enriquecido, vira um p\u00f3 chamado ‘yellow cake’, que \u00e9 transportado em caminh\u00f5es por mais de 700 km at\u00e9 Salvador<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Os trabalhos da INB em Caetit\u00e9 s\u00e3o marcados por cr\u00edticas, den\u00fancias e processos em rela\u00e7\u00e3o a sequelas tanto na popula\u00e7\u00e3o quanto no meio ambiente. Pr\u00f3ximas \u00e0s suas instala\u00e7\u00f5es ficam pequenas comunidades agr\u00e1rias como Barreiro, Juazeiro e Mania\u00e7u, al\u00e9m do Quilombo de Malhada.<\/p>\n\n\n\n

Em Caetit\u00e9, cidade de 51 mil habitantes no sert\u00e3o baiano, autoridades estaduais atribuem uma maior ocorr\u00eancia de c\u00e2ncer nos moradores locais \u00e0s atividades da usina.<\/p>\n\n\n\n

“H\u00e1 uma incid\u00eancia muito alta [de c\u00e2ncer] em Caetit\u00e9, alguns [tipos] possivelmente ligados \u00e0 minera\u00e7\u00e3o de ur\u00e2nio – como c\u00e2ncer de tire\u00f3ide e de pulm\u00e3o, mais prov\u00e1veis gra\u00e7as \u00e0 emiss\u00e3o de gases t\u00f3xicos na mina”, diz \u00e0 BBC News Brasil Let\u00edcia Nobre, diretora de Vigil\u00e2ncia da Sa\u00fade do Trabalhador do governo da Bahia (Divast).<\/p>\n\n\n\n

Para atender a esses pacientes, em setembro de 2019 o governo da Bahia anunciou um acordo com a prefeitura de Caetit\u00e9 para criar um hospital especializado em oncologia no munic\u00edpio.<\/p>\n\n\n\n

Segundo a Secretaria de Sa\u00fade da Bahia, estudos de impacto ambiental da usina realizados h\u00e1 mais de 20 anos j\u00e1 apontavam problemas no empreendimento.<\/p>\n\n\n\n

Por causa das explos\u00f5es usadas para extrair o ur\u00e2nio do solo, part\u00edculas radioativas se espalham pelo ambiente ao redor, contaminando a vegeta\u00e7\u00e3o com um g\u00e1s t\u00f3xico, o rad\u00f4nio. Esse g\u00e1s pode agredir a pele dos trabalhadores e tamb\u00e9m se espalha por comunidades pr\u00f3ximas.<\/p>\n\n\n\n

Os estudos de impacto ambiental previram que haveria contamina\u00e7\u00e3o de mananciais subterr\u00e2neos, assoreamento dos rios por causa do dep\u00f3sito de sobras da minera\u00e7\u00e3o e inviabilidade do uso da \u00e1gua em pontos como o C\u00f3rrego do Engenho.<\/p>\n\n\n\n

Durante a minera\u00e7\u00e3o de ur\u00e2nio nessa \u00e1rea, \u00f3rg\u00e3os como o antigo Instituto de Gest\u00e3o de \u00c1guas e do Clima da Bahia identificaram contamina\u00e7\u00f5es radioativas de cursos d’\u00e1gua pr\u00f3ximos ao complexo da INB.<\/p>\n\n\n\n

Tanto o governo estadual quanto organiza\u00e7\u00f5es civis criticam a falta de transpar\u00eancia da INB em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s suas atividades e \u00e0 sa\u00fade de seus funcion\u00e1rios. A Diretoria de Vigil\u00e2ncia da Sa\u00fade do Trabalhador da Bahia disse \u00e0 BBC News Brasil que, desde 2000, seus t\u00e9cnicos foram impedidos de fiscalizar o complexo da INB por diversas vezes. No total, houve apenas cinco inspe\u00e7\u00f5es do \u00f3rg\u00e3o ali, realizadas espa\u00e7adamente desde 2008.<\/p>\n\n\n\n

“Temos dificuldades de acesso a informa\u00e7\u00f5es sistem\u00e1ticas sobre os cuidados epidemiol\u00f3gicos e sanit\u00e1rios [implantados pela INB] dentro do complexo”, diz Let\u00edcia Nobre.<\/p>\n\n\n\n

Procurada pela BBC News Brasil, a estatal afirma que sempre teve uma pol\u00edtica de “portas abertas” e que suas atividades em Caetit\u00e9 s\u00e3o repletas de “desinforma\u00e7\u00e3o e os mitos” em torno da minera\u00e7\u00e3o de ur\u00e2nio.<\/p>\n\n\n\n

A INB afirma ainda que “desenvolve permanentemente programas de monitomento ambiental e de prote\u00e7\u00e3o radiol\u00f3gica para assegurar a qualidade do meio ambiente e preservar a sa\u00fade de seus empregados e da popula\u00e7\u00e3o das proximidades”.<\/p>\n\n\n\n

Acidentes ‘mal explicados’<\/h2>\n\n\n\n

Acidentes dentro das instala\u00e7\u00f5es da INB nem sempre foram devidamente divulgados \u00e0 sociedade.<\/p>\n\n\n\n

Segundo relat\u00f3rio de 2009 feito pela Superintend\u00eancia de Vigil\u00e2ncia e Prote\u00e7\u00e3o \u00e0 Sa\u00fade da Bahia, \u00e0 \u00e9poca j\u00e1 havia ocorrido pelo menos cinco acidentes “mal explicados ou ainda sigilosos”. Um exemplo foi o vazamento de 5 milh\u00f5es de m3 de licor de ur\u00e2nio e lama radioativa no solo e no Riacho das Vacas por mais de dois meses, sem parar, em 2000.<\/p>\n\n\n\n

“S\u00f3 ap\u00f3s um ano [ou seja, em 2001] a Comiss\u00e3o Nacional de Energia Nuclear (CNEN) admitiu o acidente, estimando que 67 quilos de concentrado de ur\u00e2nio vazaram por 76 dias”, consta no documento do \u00f3rg\u00e3o estadual baiano.<\/p>\n\n\n\n

Ainda segundo a secretaria estadual, t\u00e9cnicos da CNEN chegaram a recomendar o fechamento da mina de Cachoeira “por risco de desabamento e contamina\u00e7\u00e3o da \u00e1gua”. A extra\u00e7\u00e3o, por\u00e9m, seguiu at\u00e9 2014.<\/p>\n\n\n\n

\"Vista
Em 2000, cerca de 5 milh\u00f5es de m3 de lama radioativa e licor de ur\u00e2nio vazaram de uma mina do complexo de Caetit\u00e9, em um riacho durante dois meses, sem parar<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Por causa das irregularidades, a empresa estatal enfrenta processos na Justi\u00e7a federal e do Trabalho.<\/p>\n\n\n\n

Hoje, o Minist\u00e9rio P\u00fablico Federal mant\u00e9m aberto um inqu\u00e9rito civil para “fiscalizar as atividades [da INB], em especial quanto \u00e0 eventual contamina\u00e7\u00e3o de fontes de abastecimento humano ou reservat\u00f3rios de \u00e1gua pelas atividades de extra\u00e7\u00e3o, transporte ou beneficiamento de ur\u00e2nio”.<\/p>\n\n\n\n

Contamina\u00e7\u00f5es e falta de seguran\u00e7a<\/h2>\n\n\n\n

Em janeiro de 2019, a INB foi condenada pela Justi\u00e7a do Trabalho por manter funcion\u00e1rios terceirizados trabalhando por anos sem prote\u00e7\u00e3o em locais com alto risco de contamina\u00e7\u00e3o radioativa.<\/p>\n\n\n\n

Segundo a decis\u00e3o da Vara do Trabalho de Guanambi (BA), “em 2011 a \u00e1rea [da mina da Cachoeira] foi interditada, justamente porque a opera\u00e7\u00e3o de embalagem ou reembalagem de tambores, contendo material radioativo, era realizada sem a prote\u00e7\u00e3o adequada do pessoal envolvido”.<\/p>\n\n\n\n

Na mesma decis\u00e3o, a Justi\u00e7a determinou que a INB pague R$ 100 mil de indeniza\u00e7\u00e3o por danos morais. O processo foi movido pelo Minist\u00e9rio P\u00fablico do Trabalho na Bahia, que tamb\u00e9m pediu a elabora\u00e7\u00e3o de estudos independentes sobre a incid\u00eancia de radia\u00e7\u00e3o na \u00e1rea.<\/p>\n\n\n\n

A BBC News Brasil teve acesso a parte desses relat\u00f3rios. Os estudos s\u00e3o da Comiss\u00e3o de Pesquisa e Informa\u00e7\u00e3o Independentes sobre a Radioatividade (CRIIRAD), que acompanha h\u00e1 anos o caso no sert\u00e3o baiano, em parceria com a Funda\u00e7\u00e3o Oswaldo Cruz (Fiocruz) e outras institui\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

Os pesquisadores estiveram em Caetit\u00e9 entre 7 e 14 de novembro de 2018, percorrendo locais como Baixa da On\u00e7a, Bela Vista, Gameleira e Pega Bem – todos nos arredores do complexo da INB. Os t\u00e9cnicos mediram os n\u00edveis de radia\u00e7\u00e3o no solo, na \u00e1gua e no ar, al\u00e9m de ouvir moradores, promotores de justi\u00e7a e autoridades sobre a minera\u00e7\u00e3o de ur\u00e2nio ali.<\/p>\n\n\n\n

O relat\u00f3rio assinado pelo diretor da CRIIRAD, o engenheiro nuclear Bruno Chareyron, traz dados preocupantes sobre os impactos da extra\u00e7\u00e3o do min\u00e9rio radioativo na regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

No documento, h\u00e1 medi\u00e7\u00f5es que apontam uma concentra\u00e7\u00e3o de ur\u00e2nio em cursos d’\u00e1gua que superam em quase 10 vezes o que \u00e9 considerado aceit\u00e1vel para o corpo humano, segundo padr\u00f5es estabelecidos pela Organiza\u00e7\u00e3o Mundial da Sa\u00fade (OMS) e pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).<\/p>\n\n\n\n

Dependendo do n\u00edvel de exposi\u00e7\u00e3o \u00e0 radia\u00e7\u00e3o, o corpo humano pode apresentar sintomas como n\u00e1useas e vermelhid\u00e3o no corpo, ou danos mais graves, como problemas no sistema cardiovascular, cerebral, hemorragias internas, muta\u00e7\u00f5es gen\u00e9ticas, queimaduras e aumento no risco de c\u00e2ncer.<\/p>\n\n\n\n

Em seu relat\u00f3rio, a equipe francesa tamb\u00e9m demonstra preocupa\u00e7\u00e3o com os restos do ur\u00e2nio extra\u00eddo pela INB. A concentra\u00e7\u00e3o radioativa nos rejeitos \u00e9 muito alta: cerca de 80% da radia\u00e7\u00e3o inicialmente encontrada no ur\u00e2nio no subsolo se mant\u00e9m nas sobras da minera\u00e7\u00e3o, descartadas e armazenadas perto das instala\u00e7\u00f5es em Caetit\u00e9.<\/p>\n\n\n\n

\"Vista
T\u00e9cnicos da Comiss\u00e3o Nacional de Energia Nuclear chegaram a recomendar o fechamento da mina de Cachoeira, em Caetit\u00e9, ‘por risco de desabamento e contamina\u00e7\u00e3o da \u00e1gua’<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Em pontos como ao sul da mina do Engenho – rec\u00e9m-liberada pelo governo – a radia\u00e7\u00e3o chega a \u00edndices que superam em at\u00e9 10 vezes o que \u00e9 considerado seguro para a sa\u00fade. Por isso, o diretor da comiss\u00e3o francesa recomenda cuidados redobrados na prote\u00e7\u00e3o dos trabalhadores e terceirizados que circulem nessa \u00e1rea.<\/p>\n\n\n\n

No po\u00e7o Baixa da On\u00e7a, ao norte da hoje desativada mina de Cachoeira, h\u00e1 veios d’\u00e1gua que seguem para comunidades pr\u00f3ximas. Esse cen\u00e1rio, segundo os pesquisadores, \u00e9 ainda mais preocupante. Foram encontrados rastros de escava\u00e7\u00f5es recentes em busca de ur\u00e2nio, feitas sem cuidados com o meio ambiente.<\/p>\n\n\n\n

“Um trabalho recente de prospec\u00e7\u00e3o consistiu na abertura de valas, po\u00e7os explorat\u00f3rios, perfura\u00e7\u00f5es profundas. No final do trabalho, os prospectores\/garimpeiros deixaram um terreno completamente devastado”, diz o diretor da comiss\u00e3o francesa.<\/p>\n\n\n\n

Como base de compara\u00e7\u00e3o, Chareyron afirma que, se uma pessoa ficar por apenas 2 minutos por dia durante um ano inteiro nessa \u00e1rea, a quantidade de radia\u00e7\u00e3o \u00e0 qual foi exposta exceder\u00e1 os limites considerados aceit\u00e1veis \u00e0 sa\u00fade humana.<\/p>\n\n\n\n

“Isso ilustra a falta de treinamento das empresas de perfura\u00e7\u00e3o sobre os riscos associados \u00e0 radia\u00e7\u00e3o ionizante”, dizem os peritos franceses, antes de afirmarem que “tal situa\u00e7\u00e3o n\u00e3o \u00e9 aceit\u00e1vel”.<\/p>\n\n\n\n

Procurada pela BBC Brasil News, a INB diz que “n\u00e3o possui informa\u00e7\u00f5es sobre como esse levantamento [do CRIIRAD] teria sido feito, nem qual base de compara\u00e7\u00e3o de n\u00edveis de ur\u00e2nio foi utilizada para fundamentar os supostos resultados, e por isso n\u00e3o tem como se manifestar a respeito”.<\/p>\n\n\n\n

Gases t\u00f3xicos e discrimina\u00e7\u00e3o<\/h2>\n\n\n\n

Quando a minera\u00e7\u00e3o de ur\u00e2nio come\u00e7ou em Caetit\u00e9, todos os aspectos do cotidiano dos pequenos agricultores e moradores do entorno da usina mudaram radicalmente. No total, o Movimento Paulo Jackson – organiza\u00e7\u00e3o civil que acompanha o caso desde 2000, batizada em nome de um dos fundadores da Central \u00danica dos Trabalhadores, nascido em Caetit\u00e9 – estima que 12 mil pessoas vivam em \u00e1reas diretamente afetadas pelas opera\u00e7\u00f5es da INB em Caetit\u00e9, Lagoa Real e tamb\u00e9m no munic\u00edpio de Livramento.<\/p>\n\n\n\n

Rachaduras nas casas tornaram-se comuns por causa da alta concentra\u00e7\u00e3o de gases t\u00f3xicos como o rad\u00f4nio, segundo pesquisas de campo conduzidas pelo Greenpeace e pela Plataforma Brasileira de Direitos Humanos.<\/p>\n\n\n\n

\u00c0 BBC News Brasil, a INB diz que implantou, entre 1989 e 1999, um programa de monitoramento ambiental que mostrou “as caracter\u00edsticas do solo, dos sedimentos, das \u00e1guas, da poeira, e da radia\u00e7\u00e3o ambiente na regi\u00e3o antes do in\u00edcio das atividades”. Segundo seus estudos, a atual concentra\u00e7\u00e3o do g\u00e1s t\u00f3xico rad\u00f4nio se mant\u00e9m dentro do padr\u00e3o observado antes de seus trabalhos em Caetit\u00e9.<\/p>\n\n\n\n

O complexo da INB fica em um plat\u00f4, cercado por comunidades agr\u00edcolas e esparsos cursos d’\u00e1gua – localizado no semi\u00e1rido baiano, o lugar tem baixa oferta h\u00eddrica. Por sua geografia, h\u00e1 grandes riscos de contamina\u00e7\u00e3o radioativa do pouco de \u00e1gua que ali existe. Na inspe\u00e7\u00e3o mais recente, a comiss\u00e3o francesa confirmou o risco.<\/p>\n\n\n\n

Regi\u00f5es como Baixa da On\u00e7a e Gameleira s\u00e3o fontes de radia\u00e7\u00e3o gama \u2013 com alto risco n\u00e3o apenas no uso humano da \u00e1gua, mas tamb\u00e9m de exposi\u00e7\u00e3o radioativa aos moradores pelo contato com o solo, usado inclusive na constru\u00e7\u00e3o de casas e barracos.<\/p>\n\n\n\n

\"Pedra
Ur\u00e2nio extra\u00eddo do complexo de Caetit\u00e9, no sert\u00e3o da Bahia<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Tivemos acesso a estudos que mostravam a contamina\u00e7\u00e3o nas \u00e1guas que os moradores bebiam e tamb\u00e9m usavam na agricultura. Por isso, a Justi\u00e7a determinou o abastecimento da regi\u00e3o por meio de carros-pipa, como no caso da comunidade do Juazeiro, por exemplo”, diz Marijane Vieira Lisboa, relatora de Direito Ambiental da Plataforma Brasileira de Direitos Humanos, que desenvolve a\u00e7\u00f5es em defesa dos Direitos Humanos.<\/p>\n\n\n\n

Professora na Pontif\u00edcia Universidade Cat\u00f3lica de S\u00e3o Paulo (PUC-SP), ela fez parte de uma equipe independente que foi a Caetit\u00e9 em 2011 para relatar os problemas em torno do complexo da INB.<\/p>\n\n\n\n

“Encontramos irregularidades, do come\u00e7o ao fim”, diz a pesquisadora, que integrou o Minist\u00e9rio do Meio Ambiente entre 2003 e 2004, e tamb\u00e9m \u00e9 uma das cofundadoras do Greenpeace Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Em defesa das atividades na regi\u00e3o, INB afirmou \u00e0 BBC News Brasil que o complexo em Caetit\u00e9 tem sua licen\u00e7a de opera\u00e7\u00e3o renovada continuamente desde 2009, e que a empresa “comprova ao \u00f3rg\u00e3o licenciador o cumprimento das condicionantes impostas para a manuten\u00e7\u00e3o da autoriza\u00e7\u00e3o”.<\/p>\n\n\n\n

Os altos n\u00edveis de radia\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m resultam em problemas socioecon\u00f4micos aos vizinhos da INB no sert\u00e3o baiano. Segundo Lisboa, os agricultores n\u00e3o conseguem escoar seus produtos, como mandioca, geleia e queijo, ou vender crias vivas, como aves e gado \u2013 tudo gra\u00e7as \u00e0 m\u00e1 fama da regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Outras organiza\u00e7\u00f5es que acompanham o caso t\u00eam a mesma percep\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“Os comunit\u00e1rios tinham suas t\u00e9cnicas de prote\u00e7\u00e3o das nascentes e constru\u00e7\u00e3o de cisternas. Mas, hoje, com sua produ\u00e7\u00e3o muito reduzida e estigmatizada, em sua maioria sobrevivem da ‘aposentadoria rural’, com tristeza e medo de serem as pr\u00f3ximas v\u00edtimas de um c\u00e2ncer qualquer”, diz Zoraide Vilas Boas, membro do Movimento Paulo Jackson e da Articula\u00e7\u00e3o Antinuclear Brasileira, e que acompanha a minera\u00e7\u00e3o de ur\u00e2nio em Caetit\u00e9 h\u00e1 quase duas d\u00e9cadas.<\/p>\n\n\n\n

\u00caxodo em busca da cura<\/h2>\n\n\n\n

Como a minera\u00e7\u00e3o de ur\u00e2nio implica riscos \u00e0 sa\u00fade, era de se esperar que os munic\u00edpios da regi\u00e3o tivessem uma infraestrutura capaz de prevenir e tratar casos de c\u00e2ncer e outros problemas relacionados \u00e0 radia\u00e7\u00e3o. N\u00e3o \u00e9 o que acontece em Caetit\u00e9 e Lagoa Real.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 comum que moradores percorram centenas de quil\u00f4metros em busca do tratamento de c\u00e2ncer. Muitos s\u00e3o for\u00e7ados a viajar os mais de 600 km at\u00e9 Salvador. O an\u00fancio da constru\u00e7\u00e3o do centro especializado em oncologia, feito em setembro de 2019, s\u00f3 veio depois de muita insist\u00eancia da popula\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

As obras ainda n\u00e3o t\u00eam previs\u00e3o de in\u00edcio ou inaugura\u00e7\u00e3o – segundo o governo do Estado, ser\u00e3o gastos mais de R$ 13 milh\u00f5es na constru\u00e7\u00e3o e aquisi\u00e7\u00e3o de equipamentos para o hospital.<\/p>\n\n\n\n

“As informa\u00e7\u00f5es e registros de casos de c\u00e2ncer na regi\u00e3o s\u00e3o bastante limitadas, e sabemos que \u00e9 um problema subnotificado”, diz Let\u00edcia Nobre, a diretora de Vigil\u00e2ncia da Sa\u00fade do Trabalhador da Bahia.<\/p>\n\n\n\n

Para a secretaria de Sa\u00fade da Bahia, o \u00eaxodo em busca de tratamento pode levar a uma no\u00e7\u00e3o equivocada dos \u00edndices de morte por c\u00e2ncer em Caetit\u00e9. Pesquisadores tamb\u00e9m lembram que muitas pessoas morrem longe dali, durante o tratamento, causando distor\u00e7\u00e3o nos dados e na rela\u00e7\u00e3o da doen\u00e7a com os trabalhos da INB.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 comum que as causas de morte sejam classificadas como ‘n\u00e3o identificadas’, o que inviabiliza uma estat\u00edstica mais pr\u00f3xima da realidade que conhecemos em Caetit\u00e9”, diz Zoraide Vilas Boas.<\/p>\n\n\n\n

Ressabiada com o atual avan\u00e7o da mina do Engenho, ela duvida que o problema seja resolvido daqui em diante.<\/p>\n\n\n\n

“A popula\u00e7\u00e3o rural da regi\u00e3o que n\u00e3o teve condi\u00e7\u00e3o de sair dali sabe que ter\u00e1 de tolerar o lixo at\u00f4mico [da mina de Cachoeira] e preparar-se para conviver com os mesmos preju\u00edzos de sempre”, diz Vilas Boas.<\/p>\n\n\n\n

\"Min\u00e9rio
Entre 2000 e 2014, a Ind\u00fastria Nuclear Brasileira extraiu 3.750 toneladas de min\u00e9rio de ur\u00e2nio em Caetit\u00e9 \u2013 uma opera\u00e7\u00e3o que agora volta a funcionar<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

\u00c0 BBC News Brasil, a INB nega que suas opera\u00e7\u00f5es tenham rela\u00e7\u00e3o com os casos de c\u00e2ncer na regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

A estatal afirma que “a atividade de minera\u00e7\u00e3o [em Caetit\u00e9] n\u00e3o aumenta a radia\u00e7\u00e3o emitida pelo ur\u00e2nio porque ela trabalha com esse mineral em estado natural” e que “pesquisas realizadas em diversas partes do mundo demonstraram que o ur\u00e2nio natural n\u00e3o contribui para o aumento do n\u00famero de casos de c\u00e2ncer ou de qualquer outra doen\u00e7a decorrente da radia\u00e7\u00e3o do ur\u00e2nio”.<\/p>\n\n\n\n

Ao longo dos anos, o governo federal j\u00e1 usou argumentos inusitados para defender-se da rela\u00e7\u00e3o entre a minera\u00e7\u00e3o de ur\u00e2nio e a incid\u00eancia de c\u00e2ncer no sert\u00e3o baiano.<\/p>\n\n\n\n

Em uma audi\u00eancia p\u00fablica realizada na C\u00e2mara dos Deputados em 2005, Nelson Valverde – m\u00e9dico indicado pela comiss\u00e3o nuclear brasileira – disse que h\u00e1 subst\u00e2ncias mais perigosas que as oriundas da energia nuclear. O m\u00e9dico citou o \u00e1lcool e at\u00e9 mesmo dietas alimentares mal elaboradas como exemplos mais perigosos.<\/p>\n\n\n\n

“O mesmo profissional [Nelson Valverde] ainda levantou a tese de que existe a possibilidade de que uma baixa dose de radia\u00e7\u00e3o possa ‘defender’ a c\u00e9lula contra uma outra dose maior. Isto \u00e9, que radia\u00e7\u00e3o em baixas doses podem servir como ant\u00eddoto a doses maiores!”, relata um grupo de trabalho sobre o tema, formado por deputados federais em 2007.<\/p>\n\n\n\n

As licen\u00e7as provis\u00f3rias \u2013 um ‘jeitinho’<\/h2>\n\n\n\n

Os problemas da minera\u00e7\u00e3o de ur\u00e2nio s\u00e3o conhecidos pelo poder p\u00fablico brasileiro h\u00e1 mais de uma d\u00e9cada. A C\u00e2mara dos Deputados instaurou o Grupo de Trabalho Fiscaliza\u00e7\u00e3o e Seguran\u00e7a Nuclear para tratar do tema, cujas atividades foram conclu\u00eddas em 2017.<\/p>\n\n\n\n

No relat\u00f3rio final, constam epis\u00f3dios que permanecem pouco conhecidos ainda hoje. Entre eles, o vazamento radioativo ocorrido h\u00e1 quase 20 anos, com a infiltra\u00e7\u00e3o de algo como 5 milh\u00f5es de litros de material radioativo no solo baiano.<\/p>\n\n\n\n

“Este acidente ocorreu em abril de 2000, mas somente foi descoberto seis meses depois devido a uma queixa trabalhista que chamou a aten\u00e7\u00e3o do promotor p\u00fablico de Caetit\u00e9, Jailson Trindade. Foi ele quem deu o alerta \u00e0 Comiss\u00e3o Nacional de Energia Nuclear sobre o acontecido, pois a INB n\u00e3o havia informado a ocorr\u00eancia do acidente”, informam os deputados no relat\u00f3rio final do grupo.<\/p>\n\n\n\n

\"Vista
Agricultores de comunidades vizinhas ao complexo de Caetit\u00e9 afirmam que os acidentes com material radioativo e a m\u00e1 fama dessa ind\u00fastria os impedem de vender seus produtos<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Em sua defesa \u00e0 \u00e9poca, representantes da estatal garantiram que o epis\u00f3dio n\u00e3o causou danos relevantes. Segundo a INB, a contamina\u00e7\u00e3o n\u00e3o atingiu len\u00e7\u00f3is fre\u00e1ticos da regi\u00e3o gra\u00e7as \u00e0 conten\u00e7\u00e3o por uma esp\u00e9cie de manta, instalada para reter o material.<\/p>\n\n\n\n

Na \u00e9poca, por\u00e9m, n\u00e3o houve consenso sobre como divulgar esse vazamento.<\/p>\n\n\n\n

“Aquilo foi uma burrice terr\u00edvel. Era muito mais f\u00e1cil admitir, abrir o jogo, explicar tudo, inclusive que n\u00e3o havia perigo”, disse Jo\u00e3o Manoel Barbosa, ex-assessor de comunica\u00e7\u00e3o da INB, em 2004, em entrevista ao jornal A Tarde.<\/p>\n\n\n\n

No mesmo relat\u00f3rio, h\u00e1 uma se\u00e7\u00e3o dedicada a problemas de legisla\u00e7\u00e3o em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 seguran\u00e7a nuclear. O grupo de trabalho criticou o desrespeito da comiss\u00e3o nuclear \u00e0s normas estabelecidas por ela pr\u00f3pria em complexos como Angra 2 e em Caetit\u00e9.<\/p>\n\n\n\n

O maior problema seria a manuten\u00e7\u00e3o dos trabalhos apenas por meio de um tipo de licen\u00e7a preliminar, a Autoriza\u00e7\u00e3o para Opera\u00e7\u00e3o Inicial. Para os deputados, as instala\u00e7\u00f5es n\u00e3o conseguiram atingir n\u00edveis m\u00ednimos de prote\u00e7\u00e3o e seguran\u00e7a nuclear \u00e0 \u00e9poca \u2013 por isso, n\u00e3o tinham licen\u00e7as de opera\u00e7\u00e3o definitivas.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00e3o deixa de ser lament\u00e1vel que, para se manter uma instala\u00e7\u00e3o nuclear que n\u00e3o cumpre as condicionantes de seguran\u00e7a impostas pela legisla\u00e7\u00e3o, sempre se d\u00ea um jeitinho de renovar a autoriza\u00e7\u00e3o”, apontaram os deputados do grupo de trabalho em seu relat\u00f3rio final.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Um dos objetivos do governo de Jair Bolsonaro \u00e9 retomar projetos da ind\u00fastria nuclear. Em 26 de setembro, foi anunciada a constru\u00e7\u00e3o de seis novas usinas no pa\u00eds at\u00e9 2050, como parte do Plano Nacional de Energia, com investimentos previstos de R$ 30 bilh\u00f5es. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":154770,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[2881,21,212,311,1562],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/154769"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=154769"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/154769\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":154771,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/154769\/revisions\/154771"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/154770"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=154769"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=154769"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=154769"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}