{"id":154981,"date":"2019-10-30T09:00:21","date_gmt":"2019-10-30T12:00:21","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=154981"},"modified":"2019-10-29T21:59:18","modified_gmt":"2019-10-30T00:59:18","slug":"o-que-aconteceria-se-toda-a-amazonia-virasse-pasto","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/10\/30\/154981-o-que-aconteceria-se-toda-a-amazonia-virasse-pasto.html","title":{"rendered":"O que aconteceria se toda a Amaz\u00f4nia virasse pasto?"},"content":{"rendered":"\n
\"Foto

Foto a\u00e9rea mostra trecho desmatado da Floresta Amaz\u00f4nica em territ\u00f3rio brasileiro, em setembro de 2017
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Na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, um centro de pesquisas se especializou em criar modelos matem\u00e1ticos do clima no planeta Terra, a partir de in\u00fameras vari\u00e1veis, como o Sol, as correntes mar\u00edtimas, a superf\u00edcie dos terrenos, a din\u00e2mica de florestas tropicais e a emiss\u00e3o de gases por meio da atividade humana. O\u00a0laborat\u00f3rio, conhecido pela sigla GFDL, desenvolveu as primeiras simula\u00e7\u00f5es num\u00e9ricas da atmosfera e dos oceanos do mundo, e hoje ajuda a ONU a estimar o aquecimento global nas pr\u00f3ximas d\u00e9cadas, al\u00e9m de prever trajet\u00f3rias de furac\u00f5es e outros fen\u00f4menos.<\/p>\n\n\n\n

Stephen Pacala, professor de mudan\u00e7as clim\u00e1ticas e sistemas ecol\u00f3gicos de Princeton, e Elena Shevliakova, especialista em modelagem clim\u00e1tica, decidiram aplicar esse sistema sofisticado, que roda em supercomputadores com milhares de processadores simult\u00e2neos, para estimar como o desmatamento da floresta afetaria o clima da regi\u00e3o amaz\u00f4nica e adjac\u00eancias. Eles ent\u00e3o programaram seu modelo para calcular o que ocorreria se toda a \u00e1rea da Amaz\u00f4nia virasse pasto \u2013 uma previs\u00e3o dr\u00e1stica, mas que ajuda a esclarecer os efeitos do desmatamento.<\/p>\n\n\n\n

Segundo o resultado, apresentado em um semin\u00e1rio em outubro, em Princeton,  a temperatura da regi\u00e3o ficaria de 2 a 3 graus cent\u00edgrados mais quente, al\u00e9m da alta j\u00e1 esperada em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 era pr\u00e9-industrial.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, o volume anual de chuvas seria reduzido em at\u00e9 800 mil\u00edmetros \u2013 65% do que costuma chover em Porto Alegre num ano. Parte dos efeitos seria sentido tamb\u00e9m no bioma vizinho \u00e0 Amaz\u00f4nia, o Cerrado, onde hoje se planta boa parte dos gr\u00e3os exportados pelo Brasil, como a soja.<\/p>\n\n\n\n

A conclus\u00e3o do laborat\u00f3rio de Princeton confirmou estimativas feitas anos antes por outros cientistas, como a indiana Jayashri Shukla e o brasileiro Carlos Nobre, que usaram t\u00e9cnicas mais simples \u2013 um sinal de que o resultado \u00e9 “muito robusto”, disse Pacala em entrevista \u00e0 DW Brasil, na qual ele detalha o sistema utilizado e os efeitos do desmatamento.<\/p>\n\n\n\n

DW Brasil: Como funciona o modelo em se baseou sua proje\u00e7\u00e3o?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Stephen Pacala:<\/strong> \u00c9 a mesma matem\u00e1tica que prev\u00ea as condi\u00e7\u00f5es meteorol\u00f3gicas e de clima. Temos um modelo do planeta inteiro, que inclui a atmosfera, os oceanos, os terrenos, a geoqu\u00edmica que controla os gases causadores do efeito estufa e diversos outros fatores. Basicamente, voc\u00ea inicia o modelo ligando o Sol, e ent\u00e3o o clima, as correntes oce\u00e2nicas, os fen\u00f4menos El Ni\u00f1o e La Ni\u00f1a e os ecossistemas do mundo emergem espontaneamente, a partir da l\u00f3gica da matem\u00e1tica.<\/p>\n\n\n\n

Quando voc\u00ea inclui no modelo fatores dos \u00faltimos 200 anos, como vulc\u00f5es, mudan\u00e7a do uso da terra pelo homem, emiss\u00f5es de gases do efeito estufa pelo uso de combust\u00edveis f\u00f3sseis e localiza\u00e7\u00e3o das florestas, entre outros, ao chegarmos no dia de hoje, obtemos uma previs\u00e3o com varia\u00e7\u00e3o de apenas 1% em rela\u00e7\u00e3o ao clima atual no mundo. E esse mesmo instrumento pode ser adaptado para prever a trajet\u00f3ria de furac\u00f5es e outros fen\u00f4menos.<\/p>\n\n\n\n

Para a simula\u00e7\u00e3o da Amaz\u00f4nia, quais vari\u00e1veis voc\u00eas consideraram?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Todas as vari\u00e1veis que controlam a troca de mat\u00e9ria e energia entre a superf\u00edcie da terra e a atmosfera. Na Amaz\u00f4nia, por exemplo, inclu\u00edmos o mecanismo pelo qual uma gota de chuva que cai \u00e9 aquecida pelo sol ou se move por meio de uma \u00e1rvore at\u00e9 chegar \u00e0 atmosfera, e depois cai novamente durante a chuva da tarde. H\u00e1 tamb\u00e9m os ventos chegando do oceano, carregando umidade, e tamb\u00e9m o vento que leva umidade da Amaz\u00f4nia para fora, al\u00e9m da circula\u00e7\u00e3o interna. Todas essa for\u00e7as s\u00e3o inclu\u00eddas.<\/p>\n\n\n\n

Estamos em contato com cientistas brasileiros que monitoram o desmatamento e nosso modelo est\u00e1 equipado para considerar detalhes do uso da terra, incluindo toda a hist\u00f3ria de desmatamento da Amaz\u00f4nia at\u00e9 o presente. Como quer\u00edamos oferecer uma met\u00e1fora cient\u00edfica para o tema do semin\u00e1rio, fizemos a proje\u00e7\u00e3o mais simples: removemos metade e toda a floresta, e perguntamos o que aconteceria.<\/p>\n\n\n\n

O que aconteceu com o volume de chuvas na regi\u00e3o no cen\u00e1rio de toda a floresta ser substitu\u00edda por pasto?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Houve uma redu\u00e7\u00e3o da precipita\u00e7\u00e3o de 700 a 800 mil\u00edmetros por ano. Esse n\u00famero j\u00e1 estava no estudo de [Jayashri] Shukla, de Carlos Nobre e em diversos outros posteriores, e estava certo. Nossos resultados confirmaram o que j\u00e1 era conhecido.<\/p>\n\n\n\n

Acrescentemos mais detalhes e processos, e deixamos o modelo mais pr\u00f3ximo da realidade, mas o resultado n\u00e3o se alterou, se trata de uma conclus\u00e3o bastante robusta. E \u00e9 algo bastante significativo para a agricultura, especialmente se voc\u00ea combinar com a alta nas temperaturas, que faz a \u00e1gua deixar o solo mais rapidamente.<\/p>\n\n\n\n

Como isso afetaria a temperatura na regi\u00e3o?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m do aumento de dois graus cent\u00edgrados [comparado com a era pr\u00e9-industrial], do qual o mundo est\u00e1 tentando ficar abaixo por meio do Acordo de Paris, a regi\u00e3o teria um acr\u00e9scimo extra de dois a tr\u00eas graus.<\/p>\n\n\n\n

Por que substituir a Amaz\u00f4nia por pasto aumenta as temperaturas e reduz as chuvas?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Isso est\u00e1 ligado a como as \u00e1rvores funcionam. As folhas s\u00e3o cobertas por pequenos poros, dentro dos quais est\u00e1 o interior \u00famido das folhas. Somadas, todas as folhas da floresta representam uma enorme superf\u00edcie de evapora\u00e7\u00e3o. E as ra\u00edzes t\u00eam contato com a \u00e1gua do solo. As \u00e1rvores s\u00e3o muito eficientes para mover \u00e1gua do solo para a atmosfera, e essa evapora\u00e7\u00e3o tem um efeito de resfriamento, como num ar-condicionado. Depois que \u00e9 injetada na atmosfera, a \u00e1gua sobe, e boa parte dela cai novamente como chuva na Amaz\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n

Se voc\u00ea tira as \u00e1rvores e as substitui por plantas menos eficientes em fazer isso, voc\u00ea tem uma redu\u00e7\u00e3o das chuvas e um aumento da temperatura. H\u00e1 menos resfriamento por meio da evapora\u00e7\u00e3o e menos reciclagem da chuva. Al\u00e9m disso, h\u00e1 efeitos mais complicados, a circula\u00e7\u00e3o global nos tr\u00f3picos muda.<\/p>\n\n\n\n

Como essa mudan\u00e7a na Amaz\u00f4nia afetaria as \u00e1reas cultivadas no Cerrado?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Estamos falando de uma \u00e1rea de interesse bem grande, e que repercute no Cerrado. Faremos uma an\u00e1lise geogr\u00e1fica ainda, e esse trabalho ser\u00e1 continuado, vamos rodar novas simula\u00e7\u00f5es para termos uma amostra maior. Mas isso deve ser motivo de preocupa\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Existe um desejo de transformar a Amaz\u00f4nia em uma \u00e1rea agricultur\u00e1vel para aumentar a produ\u00e7\u00e3o, mas o efeito vai na dire\u00e7\u00e3o contr\u00e1ria se voc\u00ea fizer isso tirando a floresta, pois reduz as chuvas e o solo \u00famido que sustenta a agricultura. Voc\u00ea reduz a produtividade agr\u00edcola, e os efeitos ser\u00e3o extremos. \u00c9 algo que os brasileiros e os outros pa\u00edses da regi\u00e3o devem analisar seriamente, pelo seu pr\u00f3prio interesse.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Modelo que roda em supercomputadores e ajuda ONU a estimar aquecimento global aponta que, com desmatamento total, temperatura da regi\u00e3o subiria, e volume anual de chuvas cairia 800 mm, com impacto no Cerrado. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":154982,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[32,79,509,802,745],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/154981"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=154981"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/154981\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":154983,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/154981\/revisions\/154983"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/154982"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=154981"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=154981"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=154981"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}