{"id":155048,"date":"2019-11-02T04:00:09","date_gmt":"2019-11-02T07:00:09","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=155048"},"modified":"2019-10-31T22:19:58","modified_gmt":"2019-11-01T01:19:58","slug":"conheca-as-origens-desses-cristais-do-tamanho-de-uma-pessoa","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/11\/02\/155048-conheca-as-origens-desses-cristais-do-tamanho-de-uma-pessoa.html","title":{"rendered":"Conhe\u00e7a as origens desses cristais do tamanho de uma pessoa"},"content":{"rendered":"\n
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O ge\u00f3logo Milagros Carretero em manobra pelo gigantesco Geodo de Pulp\u00ed, na Espanha, em agosto de 2019.
FOTO DE\u00a0JORGE GUERRERO, AFP, GETTY IMAGES<\/strong> <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Essas cavidades reluzentes, repletas de lustrosos cristais, apelidas de geodos, costumam passar por pequenos artigos que cabem em uma prateleira. Algumas, no entanto, assemelham-se mais a gigantescas catedrais ornadas com torres de vidro.<\/p>\n\n\n\n

O Geodo de Pulp\u00ed, descoberto em 1999 no interior de uma mina de prata abandonada, na prov\u00edncia de Almer\u00eda,\u00a0Espanha, \u00e9 um dos maiores do mundo. Trata-se de uma cavidade de cerca de 11 metros c\u00fabicos de volume, adornada de imponentes cristais de gipsita de quase dois metros de comprimento. Por conta das impressionantes dimens\u00f5es desse templo de espirais transparentes, os cientistas j\u00e1 h\u00e1 muito anseiam por conhecer sua origem.<\/p>\n\n\n\n

Conforme relatado\u00a0na revista cient\u00edfica\u00a0Geology<\/em>,\u00a0Juan Manuel Garc\u00eda-Ruiz, da Universidade de Granada, e seus colegas suspeitam que a forma\u00e7\u00e3o do local tenha envolvido um misto de canibalismo qu\u00edmico \u2014 cristais min\u00fasculos sendo devorados pelos irm\u00e3os maiores \u2014 e mudan\u00e7as clim\u00e1ticas primitivas.<\/p>\n\n\n\n

No novo estudo,\u00a0Garc\u00eda-Ruiz tamb\u00e9m empregou as t\u00e9cnicas de detetive utilizadas em uma an\u00e1lise anterior que realizou\u00a0em um s\u00edtio com esp\u00e9cimes ainda maiores \u2014 a\u00a0Caverna dos Cristais, que ostenta cristais de gipsita de 10 metros de altura, na mina de Naica, no\u00a0M\u00e9xico. Com mais pesquisa, nossa compreens\u00e3o acerca dos geodos gigantes se expandir\u00e1 com o tempo \u2014 e isso \u00e9 importante.<\/p>\n\n\n\n

\u201cPara mim, os cristais gigantes de Naica, ou o geodo de Pulp\u00ed, s\u00e3o como as pir\u00e2mides do Egito\u201d, diz Garc\u00eda-Ruiz. Todos eles s\u00e3o monumentos memor\u00e1veis, mas esses geodos j\u00e1 est\u00e3o h\u00e1 eras em forma\u00e7\u00e3o, sendo efetivamente insubstitu\u00edveis.<\/p>\n\n\n\n

Ao decifrarmos os mist\u00e9rios que os envolvem, afirma ele, poderemos apreci\u00e1-los melhor e preserv\u00e1-los por muitas eras mais.<\/p>\n\n\n\n

Receita para um geodo<\/strong><\/h3>\n\n\n\n

\u201cN\u00e3o se pode fazer um geodo\u201d, diz\u00a0Gabriela Farfan, mineralogista ambiental do Museu Nacional de Hist\u00f3ria Natural do Instituto Smithsoniano, que n\u00e3o participou do estudo. No caso de alguns geodos, no entanto, a ci\u00eancia envolvida \u00e9 basicamente a mesma.<\/p>\n\n\n\n

Uma cavidade rochosa \u2014 buracos que foram em algum momento bolhas de g\u00e1s escapando do magma, rachaduras criadas pelo movimento tect\u00f4nico e assim por diante \u2014 recebe a infiltra\u00e7\u00e3o de fluidos hidrotermais. Uma vez dentro, os elementos que se dissolvem a partir deles acabam se cristalizando nas paredes internas. A combina\u00e7\u00e3o de temperaturas est\u00e1veis, a abund\u00e2ncia de ingredientes e a passagem de um grande per\u00edodo costuma resultar em cristais maiores.<\/p>\n\n\n\n

A gipsita n\u00e3o \u00e9 exce\u00e7\u00e3o. Sua composi\u00e7\u00e3o qu\u00edmica cont\u00e9m sulfato de c\u00e1lcio, junto a diversas mol\u00e9culas de \u00e1gua. H\u00e1 tamb\u00e9m o anidrido, que \u00e9 o sulfato de c\u00e1lcio sem a \u00e1gua. Abaixo dos 57\u00baC, a gipsita transforma-se no composto mais est\u00e1vel, com o anidrido se dissolvendo na \u00e1gua sem qualquer esfor\u00e7o, criando o que seriam os tijolos da gipsita. Quando a \u00e1gua se vai, a gipsita se cristaliza.<\/p>\n\n\n\n

A gipsita, contudo, tem uma particular aptid\u00e3o para a forma\u00e7\u00e3o de cristais de porte colossal, afirma\u00a0Mike Rogerson, cientista de sistemas terrestres da Universidade de Hull, que n\u00e3o participou do trabalho. A composi\u00e7\u00e3o cristalina da gipsita pode receber muita \u00e1gua, produzindo um grande volume com uma massa relativamente pequena de anidrido.<\/p>\n\n\n\n

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A Depress\u00e3o Danakil, na Eti\u00f3pia, \u00e9 a defini\u00e7\u00e3o do in\u00f3spito. A funda paisagem vulc\u00e2nica \u00e9 repleta de \u00e1guas termais \u00e1cidas, lava borbulhante, areia salgada e vapores t\u00f3xicos.Entretanto, micro-organismos prosperam entre aspiscinas sulf\u00faricas e chamin\u00e9s minerais da regi\u00e3o. Cientistas dizem que este inferno na Terra \u00e9 um excelente an\u00e1logo de Marte.
FOTO DE\u00a0ROBERT HARDING PICTURE LIBRARY, NAT GEO IMAGE COLLECTION<\/strong> <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n
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A cerca de trezentos metros abaixo da superf\u00edcie da Terra, gigantescos cristais de selenita se encontram numa caverna quente, \u00famida e escura na mina Naica, no M\u00e9xico. Algumas das vigas t\u00eam mais de 9 metros de comprimento; as maiores alcan\u00e7am 3 metros de largura. Embora a \u201cCaverna dos Cristais\u201d tenha sido encontrada apenas no ano 2000, cientistas que procuravam por vida em lugares improv\u00e1veis logo a colocaram em seu radar. Em 2017, Penelope Boston, da Nasa, anunciou a descoberta de micr\u00f3bios nos cristais, alguns dos quais podem estar presos ali h\u00e1 50 mil anos.
FOTO DE\u00a0CARSTEN PETER, SPELEORESEARCH & FILMS\/NAT GEO IMAGE COLLECTION<\/strong> <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n
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Se os humanos algum dia habitarem a Lua ou Marte, morar em tubo de lava n\u00e3o seria uma ideia terr\u00edvel. As estruturas do subsolo oferecem um ref\u00fagio natural contra o perigo da radia\u00e7\u00e3o, tempestades de areia, micrometeoritos e temperaturas extremas, e elas podem ter tamanho suficiente para abrigar cidades inteiras. Na verdade, na Terra, astronautasj\u00e1 est\u00e3o treinando para miss\u00f5es em tubos de lava.
FOTO DE\u00a0CARSTEN PETER, NAT GEO IMAGE COLLECTION<\/strong> <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

S\u00f3 que essa caracter\u00edstica n\u00e3o explica sozinha os cristais do tamanho de um ser humano encontrados no Geodo de Pulp\u00ed.<\/p>\n\n\n\n

Clima favor\u00e1vel aos cristais<\/strong><\/h3>\n\n\n\n

O anidrido encontrado em Pulp\u00ed teve in\u00edcio h\u00e1 cerca de 250 milh\u00f5es de anos, durante o\u00a0per\u00edodo Tri\u00e1ssico, quando ainda existia o\u00a0supercontinente Pangeia\u00a0e j\u00e1 se iniciara a era dos dinossauros. \u00c9 dif\u00edcil estabelecer o momento do crescimento da gipsita, porque os cristais cont\u00eam poucas impurezas dat\u00e1veis, mas a manta de carbonato que cobre os cristais, submetida \u00e0 data\u00e7\u00e3o radiom\u00e9trica, revela que eles se formaram h\u00e1, pelo menos, 60 mil anos. Com base no tempo da deforma\u00e7\u00e3o tect\u00f4nica presente no s\u00edtio, acredita-se que come\u00e7aram a crescer h\u00e1, no m\u00e1ximo, dois milh\u00f5es de anos.<\/p>\n\n\n\n

Os minerais de alta temperatura, como a barita e a celestina, apareceram primeiro. O sistema hidrot\u00e9rmico quente, contudo, acabou se esvaindo. As temperaturas ca\u00edram para baixo do limite m\u00ednimo cr\u00edtico dos 57\u00baC e, por fim, estabilizaram-se em 20\u00baC por um longo per\u00edodo. Tendo \u00e0 disposi\u00e7\u00e3o tais condi\u00e7\u00f5es perfeitas, houve uma cristaliza\u00e7\u00e3o em massa da gipsita.<\/p>\n\n\n\n

Tamb\u00e9m se acredita que as enormes propor\u00e7\u00f5es desses cristais tenham, como culpado parcial, um estranho fen\u00f4meno qu\u00edmico conhecido como Amadurecimento de Ostwald. Na fervura dessa sopa qu\u00edmica, os cristais menores de gipsita se dissolvem na mistura e, ent\u00e3o, t\u00eam seus ingredientes canibalizados pelos cristais maiores, o que alavanca o crescimento destes.<\/p>\n\n\n\n

Ao mesmo tempo, o ambiente subterr\u00e2neo passou por oscila\u00e7\u00f5es t\u00e9rmicas ao longo dos per\u00edodos geol\u00f3gicos, alternando para mais ou para menos de 20\u00baC. Em \u00e9pocas levemente mais quentes, esses cristais menores se dissolvem com mais facilidade. Em tempos um tanto mais frios, os cristais maiores conseguem crescer mais. O efeito final disso tudo, diz Garc\u00eda-Ruiz, \u00e9 a amplifica\u00e7\u00e3o do processo de amadurecimento.<\/p>\n\n\n\n

Quanto ao que teria causado essas pequenas varia\u00e7\u00f5es t\u00e9rmicas ao longo de per\u00edodos t\u00e3o longos, a equipe aponta para os ciclos naturais de aquecimento e resfriamento do planeta, orientados pelas varia\u00e7\u00f5es na circunavega\u00e7\u00e3o da Terra em torno do Sol.<\/p>\n\n\n\n

Sinal dos tempos<\/strong><\/h3>\n\n\n\n

Estabelecer uma narrativa da evolu\u00e7\u00e3o de Pulp\u00ed foi mais desafiador que a da Caverna dos Cristais de Naica, que ainda \u00e9 um s\u00edtio hidrot\u00e9rmico ativo, afirma Garc\u00eda-Ruiz. Os cristais de l\u00e1 ainda est\u00e3o crescendo, o que torna um pouco mais f\u00e1cil fazer a engenharia reversa da evolu\u00e7\u00e3o deles. A atividade hidrot\u00e9rmica de Pulp\u00ed j\u00e1 est\u00e1 extinta, fazendo o local assemelhar-se mais a um f\u00f3ssil.<\/p>\n\n\n\n

Talvez em fun\u00e7\u00e3o dessa dificuldade, nem toda a verdade sobre a hist\u00f3ria do Geodo de Pulp\u00ed est\u00e1 “cristalina”.<\/p>\n\n\n\n

Um trabalho experimental com cristais em laborat\u00f3rio sugere que essas oscila\u00e7\u00f5es na temperatura, e n\u00e3o o amadurecimento de Ostwald, consistem no mecanismo dominante por tr\u00e1s dos grandes cristais, observa Farfan. Dito isso, os cristais de Pulp\u00ed se formaram com temperaturas diferentes e s\u00e3o significativamente maiores que os cristais de laborat\u00f3rio, de modo que \u00e9 dif\u00edcil afirmar se valem sempre as mesmas regras.<\/p>\n\n\n\n

Rogerson salienta que as varia\u00e7\u00f5es na temperatura clim\u00e1tica podem n\u00e3o ter a capacidade de alterar significativamente o ambiente em torno de um geodo subterr\u00e2neo. Na verdade, \u00e9 mais plaus\u00edvel que as oscila\u00e7\u00f5es no pr\u00f3prio ambiente geot\u00e9rmico tenham causado as pequenas mudan\u00e7as t\u00e9rmicas que acabaram sendo vetores do crescimento.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 poss\u00edvel, por\u00e9m, que as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas tamb\u00e9m tenham desempenhado algum papel. As \u00e9pocas mais quentes e \u00famidas mergulhariam o s\u00edtio numa maior quantidade de \u00e1gua e promoveriam a dissolu\u00e7\u00e3o do anidrido, ele afirma. As \u00e9pocas mais frias e secas permitiram a cristaliza\u00e7\u00e3o de grandes volumes de gipsita.<\/p>\n\n\n\n

Rogerson acrescenta que aprecia a tentativa de revelar a hist\u00f3ria original desse geodo \u2014 ali\u00e1s, de qualquer geodo gigante. Pelo fato de o desenvolvimento desses cristais ter uma hist\u00f3ria incerta, a ci\u00eancia por tr\u00e1s dele, e o que se comunica ao p\u00fablico, \u00e0s vezes apresenta lacunas.<\/p>\n\n\n\n

\u201c\u00c9 animador poder pegar esses peda\u00e7os de celebridade geol\u00f3gica e dar um pouco mais de subst\u00e2ncia”, ele afirma.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Robin George Andrews National Geographic
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Novas pistas sobre as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas em eras primitivas revelam a poss\u00edvel origem do Geodo de Pulp\u00ed, na Espanha, um dos maiores do mundo. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":155052,"comment_status":"closed","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[3200,96,875],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/155048"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=155048"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/155048\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":155054,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/155048\/revisions\/155054"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/155052"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=155048"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=155048"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=155048"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}