{"id":155136,"date":"2019-11-04T00:48:38","date_gmt":"2019-11-04T02:48:38","guid":{"rendered":"http:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=155136"},"modified":"2019-11-04T00:48:39","modified_gmt":"2019-11-04T02:48:39","slug":"pesquisa-mostra-diversidade-das-minhocas-e-sua-distribuicao-no-planeta","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/divulgacao\/2019\/11\/04\/155136-pesquisa-mostra-diversidade-das-minhocas-e-sua-distribuicao-no-planeta.html","title":{"rendered":"Pesquisa mostra diversidade das minhocas e sua distribui\u00e7\u00e3o no planeta"},"content":{"rendered":"\n
A ocorr\u00eancia e a distribui\u00e7\u00e3o de comunidades de minhocas pelo planeta dependem principalmente do clima, em especial das chuvas. Essa foi uma das principais conclus\u00f5es do maior estudo j\u00e1 realizado sobre esses animais respons\u00e1veis pela estrutura\u00e7\u00e3o do solo e por boa parte da reciclagem da mat\u00e9ria org\u00e2nica nele contida.<\/p>\n\n\n\n
Recentemente\u00a0publicado na revista\u00a0Science<\/em>,\u00a0 o trabalho reuniu e analisou enorme base de dados produzidas em 6.928 locais de 57 pa\u00edses, por 134 institui\u00e7\u00f5es de pesquisa, entre elas quatro brasileiras: Universidade Estadual do Maranh\u00e3o (Uema), Universidade Positivo (UP), Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de S\u00e3o Paulo (Esalq-USP) e\u00a0Embrapa. O objetivo foi mapear os padr\u00f5es de distribui\u00e7\u00e3o espacial das comunidades de minhocas e identificar os fatores que moldam a riqueza e a quantidade das esp\u00e9cies.<\/p>\n\n\n\n \u201cFoi uma surpresa perceber que o tipo de solo e suas caracter\u00edsticas, por exemplo, n\u00e3o t\u00eam tanta influ\u00eancia sobre a distribui\u00e7\u00e3o das minhocas quanto a precipita\u00e7\u00e3o\u201d, conta o pesquisador da\u00a0Embrapa Florestas\u00a0George Gardner Brown, coautor da pesquisa. Ele revela que j\u00e1 se esperava que a umidade fosse um dos principais influenciadores da ocorr\u00eancia desses animais, uma vez que sua respira\u00e7\u00e3o se d\u00e1 pela pele e necessitam de solo \u00famido para estarem ativos. \u201cNo entanto, a precipita\u00e7\u00e3o mostrou-se mais importante que fatores como temperatura e cobertura vegetal, al\u00e9m das caracter\u00edsticas do solo\u201d, admira-se o cientista.<\/p>\n\n\n\n Uma das consequ\u00eancias da descoberta \u00e9 que as minhocas podem ser fortemente afetadas pelas mudan\u00e7as clim\u00e1ticas no planeta. Brown explica que esses animais reduzem suas atividades fisiol\u00f3gicas durante os per\u00edodos de seca, quando entram em diapausa ou ficam inativos. Para retomar a rotina biol\u00f3gica mais ativa, elas s\u00e3o \u201cdespertadas\u201d pelo retorno das chuvas. \u201cIsso significa que qualquer altera\u00e7\u00e3o clim\u00e1tica que interfira nesse processo pode prejudic\u00e1-las. Um per\u00edodo de estiagem mais longo pode exaurir as popula\u00e7\u00f5es de minhocas ao longo dos anos. Chuvas isoladas no meio da seca tamb\u00e9m podem confundi-las e faz\u00ea-las voltar \u00e0 atividade antes do tempo e deixa-las expostas \u00e0 escassez de \u00e1gua logo depois\u201d, exemplifica o pesquisador.<\/p>\n\n\n\n De olho nesse problema, Helen Philips, pesquisadora do German Centre for Integrative Biodiversity Research (iDiv), em Leipzig, Alemanha, pretende aprofundar as pesquisas a respeito dos efeitos das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas sobre as minhocas. Philips \u00e9 a primeira autora do trabalho. J\u00e1 se sabe, por exemplo, que esses animais s\u00e3o sens\u00edveis n\u00e3o somente \u00e0 quantidade, mas, principalmente, \u00e0 regularidade das chuvas.<\/p>\n\n\n\n A perda ou redu\u00e7\u00e3o das popula\u00e7\u00f5es de minhocas significaria o desaparecimento de muitos servi\u00e7os ambientais valiosos que elas realizam, de acordo com Brown, o que afetaria tamb\u00e9m a agricultura. Elas estimulam a atividade microbiana e agem como engenheiras, formando a estrutura do solo que permite a aera\u00e7\u00e3o e a penetra\u00e7\u00e3o da \u00e1gua e das ra\u00edzes. \u201cN\u00e3o \u00e9 \u00e0 toa que agricultores e jardineiros a consideram um importante indicador de qualidade do solo, o que, em boa parte, se confirma em nossos estudos”, declara.<\/p>\n\n\n\n O n\u00famero m\u00e9dio de esp\u00e9cies encontradas em cada local avaliado variou entre um e quatro, mas curiosamente houve um aumento da riqueza local de esp\u00e9cies conforme o aumento da latitude. A riqueza de esp\u00e9cies encontradas foi maior em latitudes m\u00e9dias do que em baixas latitudes na regi\u00e3o tropical. Isso \u00e9 o oposto do que ocorre com os organismos da superf\u00edcie, tanto animais como vegetais, os quais apresentam maior diversidade nas regi\u00f5es tropicais. Os cientistas ainda n\u00e3o descobriram o motivo dessa peculiaridade, mas especulam que ela pode estar relacionada a fatores clim\u00e1ticos como o potencial de evapotranspira\u00e7\u00e3o, ao teor de mat\u00e9ria org\u00e2nica no solo, \u00e0 glacia\u00e7\u00e3o que ocorreu no per\u00edodo quatern\u00e1rio e a atividades humanas que promoveram a dispers\u00e3o de minhocas, especialmente esp\u00e9cies ex\u00f3ticas, na regi\u00e3o de clima temperado.<\/p>\n\n\n\n No entanto, o cientista da Brown chama a aten\u00e7\u00e3o para o fato de que a diversidade de esp\u00e9cies \u00e9 maior somente nos locais de coleta e n\u00e3o nas regi\u00f5es como um todo. Ou seja, na Fran\u00e7a, por exemplo, pode-se encontrar, comumente, um maior n\u00famero de esp\u00e9cies de minhocas em um determinado local de coleta do que em um s\u00edtio brasileiro. Por\u00e9m, h\u00e1 uma chance bem maior de essas mesmas esp\u00e9cies francesas se repetirem em outros lugares na Europa. Nos tr\u00f3picos, por sua vez, apesar de haver menos esp\u00e9cies coabitando uma mesma \u00e1rea, a diversidade de esp\u00e9cies \u00e9 maior, pois elas se repetem bem menos entre um local e outro, o que \u00e9 conhecido como diversidade beta. Al\u00e9m disso, nos tr\u00f3picos o n\u00famero de esp\u00e9cies end\u00eamicas (encontradas em somente um local, ou \u00e1reas reduzidas) tende a ser maior.<\/p>\n\n\n\n O estudo mensurou as comunidades de minhocas por meio de tr\u00eas par\u00e2metros: riqueza de esp\u00e9cies (quantas esp\u00e9cies diferentes foram encontradas no local); abund\u00e2ncia (quantidade de indiv\u00edduos) e biomassa (peso, registrado em gramas, de todas as minhocas encontradas). Brown detalha que esse \u00faltimo par\u00e2metro \u00e9 importante porque o tamanho dos animais est\u00e1 diretamente ligado \u00e0 modifica\u00e7\u00e3o da estrutura do solo. Uma comunidade numerosa de indiv\u00edduos pequenos pode ser menos impactante nesse aspecto do que um grupo menor formado por animais maiores, por exemplo.<\/p>\n\n\n\n Para cada um dos par\u00e2metros foram analisadas as influ\u00eancias de seis vari\u00e1veis: cobertura vegetal, altitude, tipo de solo, precipita\u00e7\u00e3o, temperatura e reten\u00e7\u00e3o de \u00e1gua. Foi esse comparativo que revelou a import\u00e2ncia das chuvas para a esp\u00e9cie. Enquanto a temperatura e a reten\u00e7\u00e3o de \u00e1gua foram determinantes para garantir a abund\u00e2ncia das minhocas e a cobertura vegetal esteve fortemente associada \u00e0 biomassa, a precipita\u00e7\u00e3o mostrou-se uma forte influenciadora dos tr\u00eas par\u00e2metros ao mesmo tempo.<\/p>\n\n\n\n O estudo global originou-se da compila\u00e7\u00e3o e an\u00e1lise de 180 trabalhos do mundo todo, 16 deles ainda n\u00e3o publicados. \u201cTrata-se de uma contribui\u00e7\u00e3o valiosa da pesquisa, pois hoje sabemos muito pouco sobre os organismos do solo e sua distribui\u00e7\u00e3o no mundo\u201d, pondera o pesquisador da Embrapa.<\/p>\n\n\n\n Brown lembra que o volume de informa\u00e7\u00f5es produzidas n\u00e3o \u00e9 homog\u00eaneo em todas as regi\u00f5es do planeta. \u201cComo em diversas \u00e1reas de pesquisa, h\u00e1 abund\u00e2ncia de dados para as regi\u00f5es temperadas e lacunas para as tropicais\u201d, revela ele, frisando que entre os v\u00e1rios motivos dessa disparidade est\u00e3o as facilidades de acesso a recursos financeiros, humanos, infraestrutura e materiais presentes em pa\u00edses com climas temperados no planeta.<\/p>\n\n\n\n Al\u00e9m das pesquisas realizadas em seus campos experimentais, a Embrapa abriga uma importante biodiversidade embaixo deles. Pesquisadores brasileiros e estrangeiros j\u00e1 descreveram 13 novas esp\u00e9cies de minhocas em \u00e1reas da Embrapa (veja abaixo) e outras 20 aguardam a descri\u00e7\u00e3o formal. As mais recentes s\u00e3o a Fimoscolex nivae, a Glossoscolex maschio e a Glossoscolex embrapaensis. As tr\u00eas foram encontradas em \u00e1reas da Embrapa Florestas e seus nomes remetem a participantes da descoberta. A F. nivae \u00e9 uma homenagem a C\u00edntia Niva, pesquisadora da Embrapa Cerrados; a G. maschio alude a Wilson e Wagner Maschio, pai e filho propriet\u00e1rios de uma \u00e1rea vizinha \u00e0 Embrapa Florestas na qual a esp\u00e9cie foi encontrada; e a G. embrapaensis homenageia a pr\u00f3pria Empresa de pesquisa.<\/p>\n\n\n\n \u201c\u00c9 bom que o Brasil saiba que a Embrapa tamb\u00e9m \u00e9 um importante patrim\u00f4nio biol\u00f3gico para o Pa\u00eds, j\u00e1 que suas unidades de pesquisa, campos e esta\u00e7\u00f5es experimentais possuem uma enorme riqueza de animais, incluindo insetos e outros invertebrados como a minhoca, por exemplo\u201d, afirma o pesquisador George Brown.<\/p>\n\n\n\n Veja as esp\u00e9cies de minhocas descobertas nas Unidades da Embrapa:<\/p>\n\n\n\n 1. Righiodrilus amazonius <\/em>(Zicsi & Csuzdi, 1999) e<\/p>\n\n\n\n 2. Pontoscolex franzi Zicsi & Csuzdi<\/em>, 1999, ambas coletadas na esta\u00e7\u00e3o de Capit\u00e3o Po\u00e7o, da Embrapa Amaz\u00f4nia Oriental;<\/p>\n\n\n\n 3. Righiodrilus moju<\/em> Bartz, Santos & James, 2017, coletada na esta\u00e7\u00e3o experimental de Moju, da Embrapa Amaz\u00f4nia Oriental;<\/p>\n\n\n\n 4. Cirodrilus righii Zicsi<\/em>, R\u00f6mbke & Garcia, 2001, coletada na \u00e1rea experimental da Embrapa Amaz\u00f4nia Ocidental, em Manaus,<\/p>\n\n\n\n 5. Righiodrilus ortonae <\/em>(Righi, 1988),<\/p>\n\n\n\n 6. Pontoscolex cuasi <\/em>Righi, 1988,<\/p>\n\n\n\n 7. Eukerria guamais<\/em> Righi, 1971,<\/p>\n\n\n\n 8. Urobenus gitus <\/em>(Righi, 1971),<\/p>\n\n\n\n 9. Atatina puba<\/em> Righi, 1971 e<\/p>\n\n\n\n 10. Liodrilus ipu (<\/em>Righi, 1975), sendo essas seis \u00faltimas esp\u00e9cies coletadas na \u00e1rea experimental da Embrapa Amaz\u00f4nia Oriental, em Bel\u00e9m;<\/p>\n\n\n\n 11. Fimoscolex nivae<\/em> Feijoo & Brown, 2018,<\/p>\n\n\n\n 12. Glossoscolex maschio<\/em> Feijoo & Brown, 2018 e<\/p>\n\n\n\n 13. Glossoscolex embrapaensis<\/em> Feijoo & Brown, 2018, coletadas na Embrapa Florestas, em Colombo, Paran\u00e1.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"Mais sujeitas \u00e0s mudan\u00e7as clim\u00e1ticas<\/strong><\/h3>\n\n\n\n
O mist\u00e9rio das latitudes<\/strong><\/h3>\n\n\n\n
Quantas minhocas?<\/strong><\/h3>\n\n\n\n
Uma minhoca chamada Embrapa<\/strong><\/h3>\n\n\n\n