{"id":155481,"date":"2019-11-16T23:20:48","date_gmt":"2019-11-17T02:20:48","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=155481"},"modified":"2019-11-16T23:20:50","modified_gmt":"2019-11-17T02:20:50","slug":"por-que-achamos-que-os-gatos-sao-antissociais","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/11\/16\/155481-por-que-achamos-que-os-gatos-sao-antissociais.html","title":{"rendered":"Por que achamos que os gatos s\u00e3o \u2018antissociais\u2019"},"content":{"rendered":"\n
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Algumas pessoas acreditam que os gatos s\u00f3 s\u00e3o simp\u00e1ticos com os humanos para obter comida<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Cachorros parecem quase que biologicamente incapazes de esconder seus sentimentos: o abanar dos rabos, tremedeiras, pequenos sons de excita\u00e7\u00e3o ou descontentamento entregam se o animal est\u00e1 com raiva, feliz, triste ou ansioso.<\/p>\n\n\n\n

Gatos tamb\u00e9m t\u00eam uma linguagem corporal sofisticada: o humor deles pode ser inferido pelo movimento dos rabos, os pelos ouri\u00e7ados, a posi\u00e7\u00e3o das orelhas e dos bigodes. O ronronar do gato, por exemplo, normalmente (mas nem sempre) indica contentamento.<\/p>\n\n\n\n

Observar o comportamento desses bichos costuma ser um m\u00e9todo seguro para detectar se eles est\u00e3o num momento soci\u00e1vel ou se \u00e9 melhor deix\u00e1-los em paz.<\/p>\n\n\n\n

Mas, enquanto podemos ter certa seguran\u00e7a dos la\u00e7os de um cachorro conosco, gatos ainda gozam de uma imagem relativamente negativa, embora j\u00e1 sejam usados como animais dom\u00e9sticos h\u00e1 milhares de anos.<\/p>\n\n\n\n

A independ\u00eancia deles, que muitos enxergam como b\u00f4nus, \u00e9 frequentemente associada a ego\u00edsmo e individualismo. Os detratores dos felinos argumentam que eles s\u00f3 mostram afei\u00e7\u00e3o para obter comida.<\/p>\n\n\n\n

Donos de gatos replicam que nada disso \u00e9 verdade e que os seus la\u00e7os com o animal s\u00e3o t\u00e3o fortes quanto a conex\u00e3o entre cachorros e seus donos. Por que, ent\u00e3o, a imagem de que os gatos n\u00e3o s\u00e3o bichos amig\u00e1veis permanece? <\/p>\n\n\n\n

Impacto da domestica\u00e7\u00e3o<\/h2>\n\n\n\n

No Brasil, existem 22 milh\u00f5es de gatos dom\u00e9sticos, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domic\u00edlios (PNAD) realizada em 2013 pelo IBGE. Isso representa 17,5% dos domic\u00edlios.<\/p>\n\n\n\n

Mas os cachorros s\u00e3o bem mais populares. Est\u00e3o em 44,3% dos lares brasileiros. No total, h\u00e1 52,2 milh\u00f5es de c\u00e3es de estima\u00e7\u00e3o no Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Uma pista sobre como a imagem dos gatos se consolidou entre n\u00f3s vem da forma como foram domesticados. Foi um processo muito mais gradual que aquele dos cachorros. Os primeiros gatos domesticados come\u00e7aram a aparecer nos vilarejos neol\u00edticos do Oriente M\u00e9dio cerca de 10 mil anos atr\u00e1s.<\/p>\n\n\n\n

Eles n\u00e3o dependiam dos humanos para comida\u2014 eram encorajados a buscar alimentos por si pr\u00f3prios e a armazenar a comida em locais seguros de ratos e outros animais. Portanto, nosso relacionamento com gatos j\u00e1 come\u00e7ou com a imposi\u00e7\u00e3o de um distanciamento maior que no caso dos c\u00e3es.<\/p>\n\n\n\n

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Em alguns casos, a fama de independente estimula humanos a ter gatos como animais de estima\u00e7\u00e3o em vez de cachorros<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Desde o in\u00edcio da domestica\u00e7\u00e3o dos cachorros, eles foram usados para ajudar os humanos a ca\u00e7ar e compartilhavam os resultados da empreitada com seus “donos”. Portanto, diferentemente dos gatos, os c\u00e3es foram ensinados desde o princ\u00edpio da domestica\u00e7\u00e3o a depender dos homens para comer e a participar de atividades conjuntas.<\/p>\n\n\n\n

O gato que est\u00e1 enrolado no seu sof\u00e1 e olhando para voc\u00ea do topo da estante de livros compartilha muitos dos instintos de seu seus ancestrais pr\u00e9-dom\u00e9sticos, como o desejo de ca\u00e7ar sozinho e de patrulhar o territ\u00f3rio, protegendo-o de outros gatos.<\/p>\n\n\n\n

O processo mais recente de domestica\u00e7\u00e3o de felinos, que implica em torn\u00e1-los dependentes de n\u00f3s para alimenta\u00e7\u00e3o, n\u00e3o retirou deles todas as suas caracter\u00edsticas selvagens.<\/p>\n\n\n\n

“H\u00e1 uma desinforma\u00e7\u00e3o dos humanos em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 esp\u00e9cie”, diz Karen Hiestand, veterin\u00e1ria integrante da ONG International Cat Care.<\/p>\n\n\n\n

“C\u00e3es e humanos s\u00e3o muito similares e convivem h\u00e1 muito tempo. De certa maneira, houve uma coevolu\u00e7\u00e3o (quando h\u00e1 a evolu\u00e7\u00e3o simult\u00e2nea de duas ou mais esp\u00e9cies). Com gatos, (essa conviv\u00eancia) \u00e9 mais recente. Eles v\u00eam de um ancestral solit\u00e1rio que n\u00e3o era uma esp\u00e9cie social”, explica.<\/p>\n\n\n\n

O gato selvagem africano Felis lybica,<\/em> que adaptamos como gato dom\u00e9stico, tende ter a uma vida solit\u00e1ria e a se relacionar com outro animal da mesma esp\u00e9cie apenas para procriar.<\/p>\n\n\n\n

“Gatos s\u00e3o um dos \u00fanicos animais antissociais que foram domesticados. Os outros animais que domesticamos formam la\u00e7os sociais com outros membros da mesma esp\u00e9cie”, ressalta Hiestand.<\/p>\n\n\n\n

O que torna um gato mais soci\u00e1vel?<\/h2>\n\n\n\n

A velocidade da vida moderna, que deixa pouco tempo para que possamos cuidar de diferentes afazeres e de outros animais, tem favorecido a popularidade dos gatos como bichos dom\u00e9sticos.<\/p>\n\n\n\n

“Porque eles s\u00e3o t\u00e3o autossuficientes e capazes de tomar conta de si mesmos, gatos est\u00e3o se tornando cada vez mais populares. Ao mesmo tempo, por\u00e9m, os humanos esperam que gatos ajam como n\u00f3s e como cachorros em v\u00e1rios aspectos. Mas eles n\u00e3o s\u00e3o assim.”<\/p>\n\n\n\n

Pesquisas sobre as emo\u00e7\u00f5es e a sociabilidade dos gatos est\u00e3o muito menos desenvolvidas que aquelas que versam sobre cachorros, embora tenham ganhado espa\u00e7o nos \u00faltimos tempos. Alguns estudos j\u00e1 mostram que a sociabilidade dos gatos em rela\u00e7\u00e3o a humanos \u00e9 um espectro complicado.<\/p>\n\n\n\n

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Quando o gato olha para o dono com piscadas lentas, isso pode ser uma demonstra\u00e7\u00e3o de afeto<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“A sociabilidade varia muito conforme a gen\u00e9tica e, em parte, adv\u00e9m da experi\u00eancia de cada bicho nas suas primeiras seis ou oito semanas. Se tiverem experi\u00eancias positivas no come\u00e7o da vida, provavelmente v\u00e3o gostar mais de humanos e viver perto de n\u00f3s.”<\/p>\n\n\n\n

Mesmo os gatos domesticados ou que convivem em centros urbanos e vilas povoadas integram um amplo espectro. Os gatos ariscos de rua costumam se esconder e fugir de humanos, se comportando mais como seus ancestrais selvagens.<\/p>\n\n\n\n

Mas, em locais como o Mediterr\u00e2neo e o Jap\u00e3o, col\u00f4nias de “comunidades de gatos” povoam vilas de pescadores e socializam com qualquer pessoa que se interesse em aliment\u00e1-los.<\/p>\n\n\n\n

Em Istambul, capital da Turquia, gatos de rua s\u00e3o alimentados por locais e se tornaram parte da identidade da cidade, tornando-se inclusive personagens principais de um document\u00e1rio.<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 ainda os gatos que vivem nas casas, mas mesmo dentre este grupo h\u00e1 grandes varia\u00e7\u00f5es. Alguns mant\u00eam uma relativa dist\u00e2ncia, enquanto outros parecem gostar muito da companhia humana.<\/p>\n\n\n\n

Se quisermos um la\u00e7o forte com nossos gatos, o que podemos fazer?<\/p>\n\n\n\n

Lendo o olhar do gato<\/h2>\n\n\n\n

Assim como fazemos com cachorros, observar a linguagem corporal dos gatos pode nos ajudar a compreender melhor o animal. O corpo dos felinos fala mais do que os sons que eles emitem.<\/p>\n\n\n\n

“Mas costuma ser mais dif\u00edcil para as pessoas ler a linguagem corporal dos gatos que a dos c\u00e3es”, diz Kristyn Vitale, que faz um doutorado na Universidade de Oregon State sobre comportamento felino. E dificuldade n\u00e3o \u00e9, necessariamente, culpa do gato.<\/p>\n\n\n\n

Um aspecto vital pode ter permitido aos cachorros desbancar os gatos na conquista pela nossa afei\u00e7\u00e3o. Estudo da Universidade de Portsmouth revelou que cachorros aprenderam a mimetizar express\u00f5es de crian\u00e7as, atraindo a aten\u00e7\u00e3o e a simpatia de seus donos.<\/p>\n\n\n\n

Essa mudan\u00e7a se revela na capacidade que os cachorros adquiriram de desenvolver um m\u00fasculo na \u00e1rea da sobrancelha. E essa caracter\u00edstica n\u00e3o existia nos ancestrais lobos dos cachorros.<\/p>\n\n\n\n

Os “olhar de filhote” \u00e9 um truque evolutivo que fortaleceu a conex\u00e3o entre c\u00e3es e humanos. A m\u00e1 not\u00edcia para os gatos \u00e9 que eles n\u00e3o possuem esse m\u00fasculo. Portanto, o olhar do gato pode parecer frio e n\u00e3o amig\u00e1vel.<\/p>\n\n\n\n

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A forma como gatos foram domesticados h\u00e1 milhares de anos tem impacto at\u00e9 hoje no comportamento independente deles<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Mas o olhar com piscadas lentas que o seu gato te lan\u00e7a de perto ou do lado oposto da sala \u00e9 a forma que ele tem de expressar amor. At\u00e9 o fato de virar a cabe\u00e7a para o lado pode ser o oposto de desd\u00e9m\u2014 \u00e9 um sinal de que o animal est\u00e1 relaxado.<\/p>\n\n\n\n

Numa pesquisa conduzida por Vitale, gatos e cachorros s\u00e3o deixados sozinhos numa sala, com o dono retornando de repente algum tempo depois.<\/p>\n\n\n\n

“Uma coisa interessante \u00e9 que a os gatos que se sentiam seguros com os donos o cumprimentavam e voltavam a explorar o ambiente. E, em intervalos curtos de tempo, voltavam para os donos. Os c\u00e3es agiram de maneira similar”, diz Vitale.<\/p>\n\n\n\n

“Se o cachorro corre pela sala, brinca com os brinquedos e, ocasionalmente, retorna ao dono, isso n\u00e3o costuma nos preocupar.”<\/p>\n\n\n\n

Pesquisadores chamam isso de “conex\u00e3o segura”, ou seja, uma aparente calma diante do retorno do dono que sugere uma forte conex\u00e3o emocional.<\/p>\n\n\n\n

Gatos relaxados tendem a querer fazer amigos<\/h2>\n\n\n\n

“A expectativa dos humanos impacta no comportamento dos animais”, diz Vitale. Ao tentar for\u00e7ar gatos a se comportar mais como cachorros, inundando o animal de aten\u00e7\u00e3o, o humano o est\u00e1 pressionando a se afastar de seu comportamento natural.<\/p>\n\n\n\n

Hiestand diz que nossa inabilidade hist\u00f3rica de perceber o temperamento dos gatos como diferente do de cachorros \u00e9 parte do problema. Mesmo especialistas com anos de treinamento n\u00e3o s\u00e3o imunes a esse erro.<\/p>\n\n\n\n

“Eu fui a uma confer\u00eancia em 2007 e me senti uma completa idiota”, diz ela.<\/p>\n\n\n\n

“Havia v\u00e1rias informa\u00e7\u00f5es b\u00e1sicas sobre gatos que eu n\u00e3o conhecia, como o fato de que eles gostam que os recipientes de \u00e1gua e comida fiquem em locais diferentes. Todas essas pesquisas s\u00e3o bem recentes, mas quando voc\u00ea tem a humildade de assumir que o que voc\u00ea pensava saber sobre os gatos estava errado, voc\u00ea come\u00e7a a aprender muita coisa interessante.”<\/p>\n\n\n\n

Preste aten\u00e7\u00e3o na forma como gatos se esfregam nos donos. Isso costumava ser interpretado como uma maneira de marcar territ\u00f3rio, assim como gatos selvagens fazem em \u00e1rvores e outros marcos naturais.<\/p>\n\n\n\n

Na realidade, quando os felinos domesticados fazem isso com pessoas, \u00e9 um sinal de afilia\u00e7\u00e3o\u2014 o gato est\u00e1 transferindo seu cheiro para a sua pele, ao mesmo tempo em que atrai o seu cheiro para o pelo dele.<\/p>\n\n\n\n

Isso \u00e9 o que felinos fazem com outros gatos que consideram aliados. \u00c9 uma maneira de criar um “cheiro comum”, que distingue amigos de rivais.<\/p>\n\n\n\n

E h\u00e1 uma quest\u00e3o chave, aponta Hiestand: gatos relaxados e tranquilos tendem a querer fazer amigos. “Eles querem sua comida, seu local de dormir e sua \u00e1gua nos lugares certos. Quando conseguem isso, abrem espa\u00e7o para explorar la\u00e7os sociais.”<\/p>\n\n\n\n

Portanto, da pr\u00f3xima vez que voc\u00ea chegar em casa e encontrar o gato silenciosamente te olhando do sof\u00e1 ou pregui\u00e7osamente bocejando enquanto caminha pelo corredor, n\u00e3o fique desapontado.<\/p>\n\n\n\n

Da sua maneira silenciosa, ele est\u00e1 demonstrando felicidade em te ver.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Cachorros parecem quase que biologicamente incapazes de esconder seus sentimentos: o abanar dos rabos, tremedeiras, pequenos sons de excita\u00e7\u00e3o ou descontentamento entregam se o animal est\u00e1 com raiva, feliz, triste ou ansioso. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":155482,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[405,3701,4146],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/155481"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=155481"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/155481\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":155483,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/155481\/revisions\/155483"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/155482"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=155481"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=155481"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=155481"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}