{"id":155674,"date":"2019-11-26T09:00:00","date_gmt":"2019-11-26T12:00:00","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=155674"},"modified":"2019-11-25T22:29:09","modified_gmt":"2019-11-26T01:29:09","slug":"estranho-terremoto-abre-rachadura-na-franca","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/11\/26\/155674-estranho-terremoto-abre-rachadura-na-franca.html","title":{"rendered":"Estranho terremoto abre rachadura na Fran\u00e7a"},"content":{"rendered":"\n
\"Um
Um terremoto de magnitude 4.8 atingiu o sudeste da Fran\u00e7a em 11 de novembro, danificando constru\u00e7\u00f5es e ferindo quatro pessoas. A pequena cidade de Le Teil sofreu alguns dos piores estragos, com centenas de estruturas rachadas e em ru\u00ednas, como a mostrada aqui no bairro Rouviere da cidade.
FOTO DE\u00a0JEFF PACHOUD, AFP VIA GETTY IMAGES<\/strong> <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Pouco antes do\u00a0meio-dia, Cl\u00e9ment Bastie e sua fam\u00edlia preparavam o almo\u00e7o na pequena cidade francesa de Le Teil quando as paredes come\u00e7aram a tremer. Copos e pratos ca\u00edram no ch\u00e3o. Ent\u00e3o, um estrondo reverberou pela cidade.<\/p>\n\n\n\n

Temores de explos\u00f5es na usina nuclear vizinha vieram \u00e0 sua mente. Bastie, professor de biologia e geologia do ensino m\u00e9dio, correu para fora esperando ver uma nuvem em formato de cogumelo. Mas, como logo descobriu, o abalo veio de algo menos devastador, mas ainda surpreendente para a regi\u00e3o: um terremoto abriu uma rachadura no solo.<\/p>\n\n\n\n

Registrando\u00a0magnitude 4.8, o tremor danificou numerosas constru\u00e7\u00f5es e feriu quatro pessoas. Tamb\u00e9m provocou alvoro\u00e7o entre os cientistas por uma s\u00e9rie de caracter\u00edsticas curiosas. Por exemplo, embora a Fran\u00e7a esteja acostumada a tremores de terra, estes geralmente s\u00e3o muito pequenos, explica\u00a0Jean-Paul Ampuero, sism\u00f3logo da Universidade C\u00f4te d’Azur, na Fran\u00e7a. O fen\u00f4meno de segunda-feira apresentou intensidade moderada apenas para os par\u00e2metros globais, mas foi \u201cmuito forte para os padr\u00f5es franceses\u201d, afirma ele.<\/p>\n\n\n\n

Ainda mais surpreendente \u00e9 que o tremor abriu um buraco cont\u00ednuo na superf\u00edcie, quebrando a crosta terrestre como uma casca de ovo. Essas rachaduras s\u00e3o comuns em terremotos fortes, como o\u00a0terremoto de Landers\u00a0de magnitude 7.2 que atingiu a Calif\u00f3rnia em 1992. Por isso, a abertura de uma rachadura na superf\u00edcie durante o tremor de Le Teil deixou os pesquisadores sem entender, iniciando uma busca pela curiosa origem do terremoto.<\/p>\n\n\n\n

Ao estudar a geodin\u00e2mica passada e atual da regi\u00e3o, os cientistas esperam encontrar ind\u00edcios sobre o que desencadeou esse fen\u00f4meno, por que foi t\u00e3o inesperado e o que ele pode revelar, em termos gerais, sobre a ocorr\u00eancia de terremotos em nosso planeta.<\/p>\n\n\n\n

\u201cQuando um terremoto \u00e9 surpreendente, \u00e9 uma grande oportunidade para aprender algo novo\u201d, afirma Ampuero.<\/p>\n\n\n\n

Espiando do c\u00e9u<\/h3>\n\n\n\n

Terremotos em todo o mundo s\u00e3o produto da lenta movimenta\u00e7\u00e3o das placas tect\u00f4nicas do planeta. Esses blocos da crosta e do manto superior disputam posi\u00e7\u00f5es continuamente, o que eleva a tens\u00e3o at\u00e9 a ruptura do solo, enviando as ondas que sentimos na forma de terremotos.<\/p>\n\n\n\n

As placas tect\u00f4nicas da Fran\u00e7a s\u00e3o particularmente complexas. O pa\u00eds fica sobre a placa tect\u00f4nica da Eur\u00e1sia, adjacente \u00e0 placa africana ao sul. Mas a fronteira entre as duas \u00e9 complexa e possui v\u00e1rios fragmentos de placas menores, conhecidos como\u00a0microplacas. As varia\u00e7\u00f5es nos movimentos das colis\u00f5es desses blocos da Terra esmagam a Fran\u00e7a a partir de diversas dire\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

\u201cN\u00e3o possu\u00edmos uma falha grande, simples e bem definida de rejeito direcional como a falha de San Andreas\u201d, afirma\u00a0Lucile Bruhat,\u00a0 geof\u00edsica da Escola Normal Superior em Paris, por mensagem direta do Twitter. Embora grandes terremotos sejam poss\u00edveis na regi\u00e3o, megatremores como os da Calif\u00f3rnia s\u00e3o mais raros.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, rupturas moderadas n\u00e3o costumam abrir fraturas na superf\u00edcie de nenhum local, explica\u00a0Raphael Grandin, geodesista do Instituto de F\u00edsica Global de Paris. Quando o tremor de segunda-feira ocorreu, Grandin n\u00e3o esperava encontrar nada na superf\u00edcie.<\/p>\n\n\n\n

\u201cMas como \u00e9 na Fran\u00e7a, temos que estud\u00e1-lo\u201d, conta ele. \u201c\u00c9 o nosso pa\u00eds.\u201d Grandin e outros come\u00e7aram a examinar os dados de radar dos sat\u00e9lites ativos durante o terremoto, atrav\u00e9s dos quais \u00e9 poss\u00edvel identificar os\u00a0diminutos movimentos\u00a0da superf\u00edcie do solo em dire\u00e7\u00e3o ou para longe dos sat\u00e9lites em \u00f3rbita. Isso produz um mapa colorido que retrata deforma\u00e7\u00f5es na paisagem causadas pelo fen\u00f4meno.<\/p>\n\n\n\n

Para sua surpresa, surgiu um sinal n\u00edtido, indicando n\u00e3o apenas uma deforma\u00e7\u00e3o de terra, mas tamb\u00e9m uma ruptura na superf\u00edcie.<\/p>\n\n\n\n

A raz\u00e3o, em parte, \u00e9 a profundidade surpreendentemente superficial deste terremoto. A maioria dos terremotos maiores come\u00e7a muito abaixo da superf\u00edcie, irradiando a partir de uma ruptura nas placas a uma profundidade de pelo menos quatro a dez quil\u00f4metros. Mas as an\u00e1lises sugerem que esse \u00faltimo tremor sacudiu a crosta a apenas dois quil\u00f4metros de profundidade aproximadamente.<\/p>\n\n\n\n

\u201c\u00c9 um terremoto muito, muito superficial, at\u00e9 mesmo para padr\u00f5es globais\u201d, afirma Ampuero.<\/p>\n\n\n\n

Perto da superf\u00edcie, o peso das rochas sobrepostas \u00e9 menor, o que faz com que as tens\u00f5es sejam menores e os terremotos geralmente sejam mais fracos, observa Grandin. As falhas tamb\u00e9m se comportam de maneira diferente a diferentes profundidades, acrescenta Ampuero. A tens\u00e3o sob profundidades geralmente \u00e9 liberada com um solavanco, ao passo que a tens\u00e3o superficial \u00e9 liberada paulatinamente ao longo do tempo.<\/p>\n\n\n\n

\u201cEssas tens\u00f5es costumam ser graduais e n\u00e3o provocam rachaduras\u201d, conta ele.<\/p>\n\n\n\n

Tais abalos s\u00edsmicos n\u00e3o s\u00e3o in\u00e9ditos, Grandin cita um\u00a0tremor superficial de magnitude 4.7\u00a0que abriu uma rachadura na Austr\u00e1lia. Contudo, s\u00e3o considerados raros e n\u00e3o se sabe como o terremoto na Fran\u00e7a p\u00f4de ser moderado e superficial ao mesmo tempo.<\/p>\n\n\n\n

Procurando uma explica\u00e7\u00e3o<\/h3>\n\n\n\n

Para obter mais ind\u00edcios, os pesquisadores foram a campo em 13 de novembro, de posse das an\u00e1lises de sat\u00e9lite, para demarcar a rachadura que se estendia pelas estradas. Agora, est\u00e3o estudando o local de v\u00e1rias maneiras, inclusive com a instala\u00e7\u00e3o de sism\u00f3grafos para rastrear a atividade da falha e o registro de quaisquer outros sinais de deforma\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Ampuero e sua equipe tamb\u00e9m coletaram uma pedra diferente localizada perto da falha e planejam testar suas propriedades em laborat\u00f3rio para verificar se h\u00e1 algo peculiar que possa explicar a ruptura incomum. Outros cientistas est\u00e3o estudando imagens de sat\u00e9lite mais antigas da regi\u00e3o para descobrir qualquer deforma\u00e7\u00e3o passada que possa oferecer mais ind\u00edcios sobre a fonte do tremor.<\/p>\n\n\n\n

E j\u00e1 surgiu uma possibilidade intrigante: o terremoto misterioso poderia ser devido \u00e0 atividade de uma pedreira nas proximidades, observa Robin Lacassin, do Instituto de F\u00edsica Global de Paris,\u00a0por Twitter. O plano da falha provavelmente se estende por baixo da pedreira, de modo que uma\u00a0remo\u00e7\u00e3o significativa de rochas\u00a0poderia ter reduzido a tens\u00e3o tect\u00f4nica normal na regi\u00e3o e for\u00e7ado a superf\u00edcie a se reacomodar. Ampuero e seus colegas est\u00e3o investigando essa possibilidade.<\/p>\n\n\n\n

Talvez ningu\u00e9m esteja mais intrigado com o peculiar fen\u00f4meno do que Bastie, que mora a menos de 800 metros de um segmento n\u00edtido da fratura e que se juntou aos cientistas na explora\u00e7\u00e3o da quarta-feira.<\/p>\n\n\n\n

\u201cS\u00f3 tinha visto esses vest\u00edgios de atividade s\u00edsmica da Terra nos livros (…), nunca tinha visto pessoalmente em campo\u201d, afirma ele. \u201cFoi assustador e emocionante.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Maya Wei-Haas – National Geographic
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