{"id":155709,"date":"2019-11-28T09:00:00","date_gmt":"2019-11-28T12:00:00","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=155709"},"modified":"2019-11-27T21:32:52","modified_gmt":"2019-11-28T00:32:52","slug":"os-riscos-do-fim-da-moratoria-da-soja","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/11\/28\/155709-os-riscos-do-fim-da-moratoria-da-soja.html","title":{"rendered":"Os riscos do fim da morat\u00f3ria da soja"},"content":{"rendered":"\n
\"Planta\u00e7\u00e3o
Planta\u00e7\u00e3o de soja perto de Santar\u00e9m: Amaz\u00f4nia responde por 13% do plantio de gr\u00e3o no Brasil<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Um acordo envolvendo grandes exportadores de soja e sociedade civil, em vigor desde 2006 e que reduziu em cerca de 80% o desmatamento de \u00e1reas na Amaz\u00f4nia para plantar o gr\u00e3o, est\u00e1 sob press\u00e3o de produtores agr\u00edcolas para ser revogado, com o apoio de integrantes do governo Jair Bolsonaro.<\/p>\n\n\n\n

Reconhecida por grandes empresas brasileiras e europeias como uma iniciativa volunt\u00e1ria de sucesso para reduzir o desmatamento, a chamada morat\u00f3ria da soja foi estabelecida para atender a uma press\u00e3o de consumidores cr\u00edticos a produtos que pudessem estimular a derrubada de floresta na regi\u00e3o amaz\u00f4nica.<\/p>\n\n\n\n

Para evitar danos de reputa\u00e7\u00e3o e assegurar a entrada da soja em mercados exigentes, especialmente o europeu, as empresas que compram o gr\u00e3o dos produtores brasileiros e o processam e exportam, como Amaggi, Cargill e Bunge, se juntaram a entidades da sociedade civil. Com o objetivo de estabelecer um mecanismo de monitoramento, as empresas se comprometeram a n\u00e3o comprar soja de \u00e1reas da Amaz\u00f4nia desmatadas ap\u00f3s julho de 2008, data limite para anistia de desmatamentos ilegais estabelecida pelo C\u00f3digo Florestal.<\/p>\n\n\n\n

Agora, parte dos produtores de soja contr\u00e1rios \u00e0 morat\u00f3ria articulam uma forma de derrub\u00e1-la, com o aval de membros do alto escal\u00e3o do governo Bolsonaro. Eles s\u00e3o representados pela Associa\u00e7\u00e3o Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil).<\/p>\n\n\n\n

No in\u00edcio do m\u00eas, o presidente da entidade, Bartolomeu Braz Pereira, anunciou em entrevista ao jornal Valor Econ\u00f4mico<\/em> que sua entidade apresentaria uma reclama\u00e7\u00e3o ao Conselho Administrativo de Defesa Econ\u00f4mica (Cade), \u00f3rg\u00e3o de defesa da concorr\u00eancia, alegando que a morat\u00f3ria era um mecanismo de reserva de mercado e que deveria ser revogada.<\/p>\n\n\n\n

O C\u00f3digo Florestal autoriza propriet\u00e1rios de \u00e1reas na Amaz\u00f4nia legal a desmatarem at\u00e9 20% de suas propriedades. Os produtores argumentam que a morat\u00f3ria impede que aqueles que plantam soja em \u00e1reas desmatadas legalmente a coloquem no mercado.<\/p>\n\n\n\n

Braz se reuniu em 11 de setembro com o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e no m\u00eas seguinte o secret\u00e1rio-especial de relacionamento externo da pasta, Abelardo Lupion, declarou, em entrevista ao site Not\u00edcias Agr\u00edcolas, que as grandes exportadoras de soja que patrocinam a morat\u00f3ria “cometem um crime quando fazem distin\u00e7\u00e3o entre produtores rurais” e que o governo iria “jogar muito pesado” para reverter o instrumento.<\/p>\n\n\n\n

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, informou em nota \u00e0 DW Brasil que a morat\u00f3ria da soja \u00e9 uma quest\u00e3o entre entes privados, mas que pessoalmente, a considera um “absurdo”.<\/p>\n\n\n\n

“O produtor brasileiro cumpre o C\u00f3digo Florestal, que, no caso da Amaz\u00f4nia, determina a prote\u00e7\u00e3o de 80% da \u00e1rea da propriedade”, afirmou. At\u00e9 o momento, por\u00e9m, o governo ainda discute o tema e n\u00e3o anunciou medida concreta a respeito.<\/p>\n\n\n\n

O mercado para a soja livre de desmatamento<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Uma das dificuldades de atender \u00e0 demanda da Aprosoja \u00e9 que, hoje, n\u00e3o h\u00e1 instrumentos para exportadores e compradores avaliarem se um determinado produtor agr\u00edcola est\u00e1 em terras da regi\u00e3o amaz\u00f4nica desmatadas regularmente.<\/p>\n\n\n\n

O outro empecilho \u00e9 que h\u00e1 uma demanda consolidada, especialmente em pa\u00edses europeus, por soja que n\u00e3o seja ligada a qualquer tipo de desmatamento na Amaz\u00f4nia, mesmo que autorizado pela lei.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00e3o h\u00e1 como comprovar nem demonstrar para nossos compradores se houve desmatamento seguindo ou n\u00e3o o rito legal”, afirmou \u00e0 DW Brasil Andr\u00e9 Nassar, presidente da Associa\u00e7\u00e3o Brasileira das Ind\u00fastrias de \u00d3leos Vegetais (Abiove), uma das signat\u00e1rias da morat\u00f3ria da soja. Mesmo que um instrumento desse tipo seja estabelecido, a Abiove diz que seguiria com o monitoramento da morat\u00f3ria para atender aos consumidores que desejam a soja livre de desmatamento.<\/p>\n\n\n\n

Segundo Paulo Ad\u00e1rio, estrategista s\u00eanior de florestas do Greenpeace, o crit\u00e9rio temporal, que autoriza a compra de soja de \u00e1reas desmatadas antes de julho de 2008, \u00e9 ben\u00e9fico para muitos produtores. “H\u00e1 uma barafunda legal. Se a morat\u00f3ria fosse discutir legalidade, muitos produtores que n\u00e3o conseguem comprovar que est\u00e3o em \u00e1reas legais ou em dia com suas obriga\u00e7\u00f5es de reflorestamento ficariam de fora”, afirma.<\/p>\n\n\n\n

De 2006 a 2018, a \u00e1rea de soja plantada na regi\u00e3o da Amaz\u00f4nia subiu de 1,4 milh\u00e3o de hectares para 5 milh\u00f5es de hectares, mas apenas 2% dessa \u00e1rea foi desmatada com esse fim ap\u00f3s julho de 2008. “A morat\u00f3ria foi um sucesso, a \u00e1rea plantada aumentou, a produ\u00e7\u00e3o aumentou, e o desmatamento caiu”, diz Ad\u00e1rio.<\/p>\n\n\n\n

Impacto nas exporta\u00e7\u00f5es<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Compradores internacionais t\u00eam a preocupa\u00e7\u00e3o de verificar se a soja foi plantada em \u00e1rea desmatada na Amaz\u00f4nia porque o desmatamento \u00e9 um vetor do aquecimento global, por meio da queima ou decomposi\u00e7\u00e3o de material vegetal, no alvo do Acordo de Paris.<\/p>\n\n\n\n

Nassar, da Abiove, afirma que, caso o Cade aceite abrir uma investiga\u00e7\u00e3o sobre a morat\u00f3ria, haver\u00e1 “preocupa\u00e7\u00e3o enorme” no setor. “Quem importa e n\u00e3o quer comprar soja de \u00e1rea desmatada vai atribuir maior risco de isso ocorrer com a soja brasileira, e vai aumentar a exig\u00eancia de garantias”, diz, apontando que a derrubada da morat\u00f3ria traria preju\u00edzo n\u00e3o apenas aos que hoje plantam na Amaz\u00f4nia, mas aos produtores de todo o pa\u00eds.<\/p>\n\n\n\n

Segundo ele, 50% do farelo de soja exportado pelo Brasil vai para a Europa. Somadas, as exporta\u00e7\u00f5es de farelo e do gr\u00e3o cru representam 12,5% da produ\u00e7\u00e3o de soja brasileira. Caso o Brasil perca esse mercado, Nassar aponta que haveria um aumento dos estoques de soja no pa\u00eds e uma queda do pre\u00e7o.<\/p>\n\n\n\n

“Essa iniciativa dos produtores conspira contra os interesses do pr\u00f3prio agroneg\u00f3cio. A morat\u00f3ria \u00e9 uma guardi\u00e3 de um mercado para soja. Esses produtores n\u00e3o conseguem entender a m\u00e1xima de que o consumidor tem sempre raz\u00e3o”, diz Ad\u00e1rio, do Greenpeace.<\/p>\n\n\n\n

A soja na Amaz\u00f4nia representa 13% da soja plantada no pa\u00eds. A maior parte da produ\u00e7\u00e3o do gr\u00e3o ocorre hoje no\u00a0Cerrado, que n\u00e3o \u00e9 abrangido pela morat\u00f3ria. Organiza\u00e7\u00f5es ambientalistas est\u00e3o pressionando os grandes exportadores a aplicarem a mesma regra a esse bioma, mas n\u00e3o h\u00e1 consenso no setor. Segundo Ad\u00e1rio, a iniciativa da Aprosoja seria tamb\u00e9m uma estrat\u00e9gia preventiva para se opor \u00e0 aplica\u00e7\u00e3o da morat\u00f3ria no Cerrado.<\/p>\n\n\n\n

Rea\u00e7\u00e3o da Europa<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Nathalie Lecocq, diretora geral da Fediol, que representa a ind\u00fastria europeia de \u00f3leos vegetais e de prote\u00edna animal, afirmou \u00e0 DW Brasil que a entidade recebeu com preocupa\u00e7\u00e3o a proposta de acabar com a morat\u00f3ria da soja, “atualmente o \u00fanico instrumento que oferece garantias de que n\u00e3o h\u00e1 desmatamento no bioma amaz\u00f4nico”.<\/p>\n\n\n\n

Segundo ela, empresas europeias importam e processam soja do Brasil no valor de 4,2 bilh\u00f5es de euros por ano (cerca de 20 bilh\u00f5es de reais), que seriam “colocados em risco’ com o fim da morat\u00f3ria.<\/p>\n\n\n\n

“As exig\u00eancias ambientais se tornaram mais importantes para as companhias, e o consumidor europeu espera que a Uni\u00e3o Europeia aja para enfrentar o desmatamento no fornecimento [de mat\u00e9rias-primas]”, diz Lecocq.<\/p>\n\n\n\n

Ela aponta que os \u00faltimos dados sobre o aumento do\u00a0desmatamento na Amaz\u00f4nia, associados ao debate sobre o fim da morat\u00f3ria, podem levar consumidores europeus a aumentarem sua rejei\u00e7\u00e3o a produtos que possam conter desmatamento e for\u00e7ar legisladores e governos a adotarem medidas para evitar que esses produtos entrem no mercado europeu.<\/p>\n\n\n\n

A DW Brasil tentou ouvir um representante da Aprosoja Brasil desde o dia 19 de novembro, sem sucesso.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Ruralistas v\u00eam pressionando, com o apoio de integrantes do governo, pelo fim de pacto contra plantio de soja em \u00e1reas desmatadas da Amaz\u00f4nia. Al\u00e9m do impacto ambiental, revoga\u00e7\u00e3o da medida poderia afastar compradores. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":155710,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[32,54,509,2181,396],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/155709"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=155709"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/155709\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":155711,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/155709\/revisions\/155711"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/155710"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=155709"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=155709"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=155709"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}