{"id":155751,"date":"2019-11-29T11:31:00","date_gmt":"2019-11-29T14:31:00","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=155751"},"modified":"2019-11-29T09:39:52","modified_gmt":"2019-11-29T12:39:52","slug":"arvore-gigante-rara-de-535-anos-foi-derrubada-em-santa-catarina-para-virar-cerca","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2019\/11\/29\/155751-arvore-gigante-rara-de-535-anos-foi-derrubada-em-santa-catarina-para-virar-cerca.html","title":{"rendered":"\u00c1rvore gigante rara de 535 anos foi derrubada em Santa Catarina para virar cerca"},"content":{"rendered":"\n
\"policiais
‘\u00c9 um problema cultural do nosso pa\u00eds, onde as pessoas n\u00e3o sabem o valor de uma \u00e1rvore’, diz especialista sobre derrubada de imbuia, esp\u00e9cie que \u00e9 s\u00edmbolo de Santa Catarina <\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Era alta como um pr\u00e9dio de dez andares, larga a ponto de s\u00f3 poder ser abra\u00e7ada por seis pessoas juntas e mais antiga que a chegada do navegador Pedro \u00c1lvares Cabral ao Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Essa gigante imbuia, \u00e1rvore s\u00edmbolo de Santa Catarina, foi derrubada para virar cerca, segundo o cen\u00e1rio encontrado por policiais militares ambientais.<\/p>\n\n\n\n

O crime ambiental foi cometido em um terreno na via Linha Cora\u00e7\u00e3o, em Vargem Bonita (SC), em fevereiro de 2018, mas s\u00f3 agora uma an\u00e1lise ainda in\u00e9dita apontou a idade da imbuia gigante: ao menos 535 anos.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 um problema cultural do nosso pa\u00eds, onde as pessoas n\u00e3o sabem o valor de uma \u00e1rvore. Aquelas que caem por a\u00e7\u00e3o da natureza deveriam ser exploradas de forma mais nobre, virar pe\u00e7a de museu. Mas fazer uma derrubada de uma \u00e1rvore rara saud\u00e1vel para fazer palanque de cerca \u00e9 duplamente criminoso”, afirmou o professor Marcelo Scipioni, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), especialista em \u00e1rvores gigantes.<\/p>\n\n\n\n

A idade foi estimada por Scipioni e outros dois pesquisadores a partir da an\u00e1lise dos an\u00e9is de crescimento das \u00e1rvores, que servem de base para a data\u00e7\u00e3o por meio da ci\u00eancia chamada dendrocronologia.<\/p>\n\n\n\n

Como a umidade e outras varia\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas interferem no tamanho desses an\u00e9is de um modo distinto ao longo do tempo, pesquisadores agora buscam outras imbuias antigas para uma an\u00e1lise de constru\u00e7\u00e3o clim\u00e1tica dos \u00faltimos s\u00e9culos que permita determinar com mais exatid\u00e3o a idade da \u00e1rvore.<\/p>\n\n\n\n

Essa \u00e1rvore, de nome cient\u00edfico Ocotea porosa<\/em>, pode ser encontrada em florestas de arauc\u00e1ria no Paran\u00e1, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. A esp\u00e9cie tem madeira de cor que varia do pardo-claro-amarelado ao pardo-acastanhado, folhas de at\u00e9 10 cm, casca grossa, tronco tortuoso e copa arredondada.<\/p>\n\n\n\n

E, por causa da explora\u00e7\u00e3o desenfreada, entrou para a lista de esp\u00e9cies da flora brasileira amea\u00e7adas de extin\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Ou seja, s\u00e3o proibidos “coleta, corte, transporte, armazenamento, manejo, beneficiamento e comercializa\u00e7\u00e3o” da imbuia, \u00e0 exce\u00e7\u00e3o dos “exemplares cultivados em plantios devidamente licenciados”.<\/p>\n\n\n\n

O policial militar ambiental Teylor Comunello, que d\u00e1 nome a uma esp\u00e9cie de flor que descobriu em sua pesquisa sobre orqu\u00eddeas, relata ter sentido tristeza ao ver \u00e1rvores raras no ch\u00e3o \u2014 foram derrubadas uma imbuia e 16 arauc\u00e1rias.<\/p>\n\n\n\n

“Nunca tinha visto uma \u00e1rvore assim, desse tamanho, cortada desse jeito. \u00c9 bem triste porque, al\u00e9m de ser uma esp\u00e9cie amea\u00e7ada de extin\u00e7\u00e3o, \u00e9 centen\u00e1ria e rara. Um desperd\u00edcio”, afirmou \u00e0 reportagem. Ele participou do trabalho de remo\u00e7\u00e3o da \u00e1rvore, que agora est\u00e1 exposta na sede da Pol\u00edcia Ambiental para fins educativos.<\/p>\n\n\n\n

\"\u00c1rvore
\u00c1rvore exposta pela Pol\u00edcia Militar Ambiental de SC na cidade de Joa\u00e7aba para fins educativos<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O uso em cercas ocorre porque a madeira \u00e9 bastante resistente a intemp\u00e9ries, e pode resistir no solo por nove anos, em m\u00e9dia.<\/p>\n\n\n\n

Comunello estima que no mercado ilegal o valor dessa imbuia poderia girar em torno de R$ 4 mil, caso fosse transformada em estaca de cerca, ou passar de R$ 20 mil se fosse vendida \u00e0 ind\u00fastria madeireira.<\/p>\n\n\n\n

A madeira dessa \u00e1rvore \u00e9 moderadamente densa e pode ser usada no manejo autorizado como viga, porta e m\u00f3veis finos de alta qualidade.<\/p>\n\n\n\n

O valor de mercado poderia superar, portanto, a multa de R$ 12.750 aplicada ao propriet\u00e1rio do im\u00f3vel, em raz\u00e3o da derrubada desta \u00e1rvore junto de outros 16 exemplares da tamb\u00e9m amea\u00e7ada arauc\u00e1ria (Araucaria angustifolia<\/em>, ou pinheiro-brasileiro).<\/p>\n\n\n\n

\"amostra
Amostra da \u00e1rvore sob an\u00e1lise da ci\u00eancia chamada dendrocronologia<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Os agentes chegaram ao local do desmate ilegal ap\u00f3s uma den\u00fancia, mas n\u00e3o encontraram pessoas ou equipamentos ali. Nenhum suspeito foi identificado desde ent\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Segundo a Pol\u00edcia Ambiental de SC, a derrubada de \u00e1rvores teria sido feita \u00e0 revelia dos donos do terreno, mas estes acabaram multados por serem, em \u00faltima inst\u00e2ncia, os respons\u00e1veis pela \u00e1rea. A recupera\u00e7\u00e3o ambiental do local come\u00e7ou em maio deste ano.<\/p>\n\n\n\n

A reportagem n\u00e3o conseguiu localizar os donos do terreno.<\/p>\n\n\n\n

\"estudiosos
Derrubada ilegal de 17 \u00e1rvores raras rendeu multa de R$ 12.750<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Mapeamento de \u00e1rvores gigantes<\/h2>\n\n\n\n

Se n\u00e3o tivesse sido derrubada, essa imbuia de Vargem Bonita teria entrado para o mapeamento de \u00e1rvores gigantes no sul do pa\u00eds conduzido pelo professor Scipioni, da UFSC, com aux\u00edlio tamb\u00e9m da Pol\u00edcia Ambiental de Santa Catarina.<\/p>\n\n\n\n

Publicado em 2017, um trabalho liderado por ele percorreu mais de 6,8 mil km ao longo de tr\u00eas anos e identificou as \u00faltimas 13 arauc\u00e1rias gigantes (acima de 2 metros de di\u00e2metro nessa esp\u00e9cie) da regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“Essas \u00e1rvores gigantes s\u00e3o importantes para os ecossistemas porque geram v\u00e1rias cavidades que s\u00e3o habitats para v\u00e1rios animais, como insetos, aves e mam\u00edferos, e outros seres vivos, como as ep\u00edfitas, al\u00e9m de contribuir para entendermos o ciclo de vida da esp\u00e9cie e podermos tamb\u00e9m fazer um manejo sustent\u00e1vel para a explora\u00e7\u00e3o madeireira”, explica Scipioni.<\/p>\n\n\n\n

\"professor
Professor Marcelo Scipioni com parte da imbuia coletada no local<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A maior das arauc\u00e1rias, conhecida como “Pinheir\u00e3o”, fica em S\u00e3o Joaquim (SC) e \u00e9 a \u00fanica que supera os 3 metros de di\u00e2metro. Ou seja, precisaria de seis pessoas para ser abra\u00e7ada.<\/p>\n\n\n\n

“A escassez dessa madeira no mercado tornou essas \u00e1rvores muito atraentes porque o volume de madeira em posi\u00e7\u00f5es altas do tronco seria suficiente para viabilizar economicamente a explora\u00e7\u00e3o na \u00e9poca do ciclo madeireiro. Ela certamente teria sido explorada se o dono atual da fazenda e seus antepassados n\u00e3o tivessem recusado ofertas de madeireiras”, escrevem os autores do mapeamento.<\/p>\n\n\n\n

\"professor
Professor argentino Fidel Roig tamb\u00e9m atuou na an\u00e1lise da idade da imbuia<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

As imbuias gigantes passam atualmente por levantamento semelhante, mas, at\u00e9 agora, s\u00f3 foi identificado um exemplar acima de 2 metros de di\u00e2metro.<\/p>\n\n\n\n

Essa esp\u00e9cie costuma ser a mais longeva da floresta de arauc\u00e1ria, viver mais de 500 anos e superar os 30 metros de altura. Mas o tamanho n\u00e3o tem necessariamente rela\u00e7\u00e3o com a idade de uma \u00e1rvore, j\u00e1 que h\u00e1 esp\u00e9cies que crescem rapidamente, como o Eucaliptus regans<\/em> (que passa de 80 metros de altura), mas n\u00e3o s\u00e3o multisseculares.<\/p>\n\n\n\n

Scipioni afirma que o levantamento por enquanto se at\u00e9m \u00e0 identifica\u00e7\u00e3o dessas \u00e1rvores, mas a an\u00e1lise da longevidade delas demanda mais tempo. Mais informa\u00e7\u00f5es podem ser encontradas no\u00a0site do projeto.<\/p>\n\n\n\n

O pesquisador tamb\u00e9m mapeou como esses enormes troncos de \u00e1rvores se tornaram monumentos em cidades do interior do pa\u00eds. “A maioria das pessoas valoriza mais as \u00e1rvores mortas do que vivas”, critica Scipioni.<\/p>\n\n\n\n

\"mapeamento
Mapeamento de arauc\u00e1rias gigantes feito no Sul do pa\u00eds<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O ‘assassinato’ da \u00e1rvore de quase 5 mil anos<\/h2>\n\n\n\n

O estudo da idade das \u00e1rvores tamb\u00e9m oferece riscos.<\/p>\n\n\n\n

Como a an\u00e1lise passa pela contagem dos an\u00e9is associada a diversas outras t\u00e9cnicas, identificar a idade de uma \u00e1rvore viva envolve um tipo de furadeira que permite remover parte do n\u00facleo da \u00e1rvore sem mat\u00e1-la.<\/p>\n\n\n\n

Mas as coisas podem n\u00e3o ocorrer como esperado.<\/p>\n\n\n\n

Nos EUA, em 1964, o ent\u00e3o universit\u00e1rio Donald Rusk Currey coletava uma amostra de um pinheiro do tipo bristlecone, mas\u00a0conta-se que a broca ficou presa na enorme \u00e1rvore\u00a0localizada no Estado de Nevada.<\/p>\n\n\n\n

Como o equipamento \u00e9 caro, ele e um guarda florestal teriam derrubado a \u00e1rvore para recuperar a broca. H\u00e1 tamb\u00e9m uma vers\u00e3o da hist\u00f3ria que aponta que a derrubada visava a retirada por completo de uma amostra da \u00e1rvore.<\/p>\n\n\n\n

De todo modo, autoridades do servi\u00e7o florestal \u00e0 \u00e9poca avaliaram que o exemplar n\u00e3o tinha nada de especial e autorizaram a derrubada dele.<\/p>\n\n\n\n

\"Pinheiro
Pinheiro bristlecone na Grande Bacia, no oeste dos Estados Unidos<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

S\u00f3 depois \u00e9 que o estudante de geografia descobriu que aquele exemplar de Pinus aristata<\/em>, batizado de Prometeu, tinha quase 5.000 anos, vindo a ser a \u00e1rvore mais antiga j\u00e1 registrada at\u00e9 ent\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

O epis\u00f3dio tr\u00e1gico teve ao menos dois grandes efeitos positivos: gerou uma onda de medidas de preserva\u00e7\u00e3o em torno das \u00e1rvores gigantes e levou a muitos achados cient\u00edficos que contribu\u00edram para a pesquisa da flora e do clima.<\/p>\n\n\n\n

“Em raz\u00e3o da idade, essas \u00e1rvores funcionam como cofres clim\u00e1ticos, armazenando dados de milhares de anos em seus an\u00e9is”, explica o Servi\u00e7o Nacional de Parques dos Estados Unidos.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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